Quem Somos Nós?

Em fins de março de 2020, surgiu o Portal Crítica Desapiedada (CD) como mais um espaço virtual de luta cultural na perspectiva marxista autogestionária. O Portal é promovido por militantes marxistas, organizados de forma autônoma e horizontal, cujo princípio em comum é ser expressão teórica do movimento revolucionário do proletariado. As tarefas desse espaço estão voltadas para a difusão do marxismo, o desenvolvimento do intercâmbio intelectual com tendências políticas contemporâneas[1], a divulgação de materiais críticos e a colaboração com simpatizantes que defendam o projeto de transformação radical e total dessa sociedade. Somos, portanto, mais um espaço virtual e, principalmente, de divulgação teórica e propagandística que possui o intuito de contribuir com a autoformação e acesso aos materiais do que consideramos marxismo através do seu conteúdo principal: Manifesto Inaugural, os Vídeos presentes no canal do YouTube, os Guias de Autoformação, os Guias de Leitura, os Cursos de Formação, a divulgação de Artigos Marxistas Autogestionários Brasileiros, as Entrevistas com militantes autogestionários e Podcasts.

Em complemento ao objetivo central, a difusão do marxismo, também objetivamos divulgar material crítico, ou seja, as tendências contemporâneas (Barbaria, Fredo Corvo, etc.) e do passado (marxismo autogestionário francês, autonomismo, comunismo de conselhos, anarquismo revolucionário etc.). Tal trabalho pode ser visto nas atividades de tradução/transcrição produzidos pelo Portal em colaboração ou não com outras pessoas e nas publicações (artigos, traduções, etc.) de outros grupos e páginas na internet que possuem proximidade conosco[2]. A divulgação de todo esse material é realizada através das redes sociais, via Instagram, Facebook e Twitter, que são importantes meios de comunicação na atualidade e responsáveis por atingir uma grande quantidade da população. Através desse trabalho de divulgação, várias pessoas podem entrar em contato com o material disponibilizado no Portal, acessando um material crítico e que possibilita avanço teórico e político. 

Por ser um Portal na internet que possui como propósito central o trabalho de divulgação, existe da nossa parte uma proximidade com as necessidades das redes sociais virtuais, já que estamos presentes nos canais mencionados anteriormente. De um lado, buscamos publicar com uma frequência maior do que revistas acadêmicas, jornais, etc., porque nosso público, o caráter do site (de divulgação mensal/quinzenal) e as necessidades das redes virtuais exigem, em alguma medida, um alto número de postagens. Por outro lado, a alta frequência pode prejudicar o conteúdo do que propomos divulgar, o que nem sempre ocorre, mas reconhecemos que é uma situação bastante comum hoje em dia. No entanto, diante do grande número de informações, mal-entendidos, deficiência teórica e falta de formação política das pessoas, etc., o Portal mantém certo rigor e coerência com a sua proposta política[3]. Dessa maneira, a maioria das atividades do Crítica Desapiedada segue o propósito de divulgar material teórico, aprofundado e analítico, não cedendo ao grande número de informações superficiais, simplificadas, ao anti-intelectualismo, irracionalismo, etc., comumente encontrados na internet.

Dentre as atividades críticas do CD, consideramos importante traduzir, transcrever e divulgar artigos de duas das principais correntes marxistas que se desenvolveram durante a história da luta operária no século XX: o comunismo de conselhos e o marxismo autogestionário francês. O comunismo de conselhos está representado em publicações de autores como Anton Pannekoek, Cajo Brendel, Karl Korsch, Paul Mattick, Otto Rühle, etc., e organizações revolucionárias como o GIC (Grupo de Comunistas Internacionalistas). A respeito do marxismo autogestionário francês, nos dedicamos a divulgar, sobretudo, o pensamento de Yvon Bourdet. Em conjunto com essas duas correntes mencionadas acima, objetivamos divulgar também materiais do passado que consideramos relevante em nossa perspectiva política, como as organizações políticas marxistas e autonomistas dos anos 1960-1970, destacando-se o Solidarity (Solidariedade), a ICO (Informations Correspondance Ouvrières – Informações e Correspondências Operárias), a Root and Branch (Raiz e Ramo) e o Socialismo ou Barbárie[4]. Outros autores históricos considerados próximos de nossa perspectiva, vinculados ao propósito de divulgação do Portal, são Serge Bricianer, Maurice Brinton, Cornelius Castoriadis e Willy Huhn[5].

Temos, portanto, um panorama geral do material crítico divulgado pelo CD. De um lado, focalizamos nas duas principais tendências históricas do marxismo (comunismo de conselhos e marxismo autogestionário francês), e, por outro lado, estamos interessados em outras expressões políticas históricas (Brinton, Root and Branch, ICO, Bricianer, etc.) próximas da nossa perspectiva, cujos textos são marginais e desconhecidos do debate marxista no Brasil. Outra preocupação do CD é o intercâmbio intelectual[6] com o que chamamos de tendências contemporâneas, ou seja, as expressões políticas existentes no regime de acumulação integral e que possuem contribuições próximas de nosso projeto político. Isto quer dizer que manifestamos interesse em estimular o debate, o confronto político e a aproximação com as expressões políticas da atualidade que convergem (parcialmente, momentaneamente ou totalmente) com nosso projeto político. Insere-se nesse debate contemporâneo as produções de autores como Charles Reeve, David Adam, Emanuel Santos, Fredo Corvo, Gilles Dauvé, Mikhail Magid, Paul Mattick Jr., Tristan Leoni, etc., e organizações como Barbaria, Chuǎng, etc[7]. Intencionamos divulgar essas expressões políticas para também aproximarmo-nos politicamente dos componentes que consideramos pertencentes ao bloco revolucionário.

À primeira vista, o trabalho de divulgação (o que envolve transcrição de textos publicados, pesquisa e seleção dos textos para tradução e posteriormente revisão[8]) não significa concordância total dos organizadores do Portal com a posição política presente nos artigos. Significa apenas o primeiro momento do trabalho, o que, posteriormente, será sucedido (sem prazo definido) por análises fundamentadas sobre essas tendências. Para citar um exemplo: traduzimos diversos textos históricos do Maurice Brinton, divulgamos a sua perspectiva e compilamos um material significativo do autor em português[9]; daqui um tempo, postaremos artigos na perspectiva do marxismo autogestionário que realizarão uma análise crítica (e desapiedada) do pensamento do Brinton[10]. Portanto, não estamos fazendo concessões ou concordando plenamente com Brinton quando divulgamos seus textos, mas assumimos que o trabalho de analisar um autor demanda tempo e o CD não conseguirá fazer isso em um prazo curto.

Deste modo, grande parte do trabalho do Portal Crítica Desapiedada concentra-se na divulgação de artigos de outras tendências políticas (históricas ou contemporâneas), alguns com introduções críticas – quando é possível[11] – que apontam para determinados limites do texto, e outras com apenas a tradução inédita, em português. O importante é perceber que todo o material divulgado, excetuando-se os casos dos textos que não correspondem à nossa posição política fundamental, o marxismo autogestionário, está subordinado ao nosso conteúdo principal. Dessa maneira, o Portal é um espaço orientado pelo marxismo autogestionário, concepção que nem sempre aparece em certos trabalhos divulgados (traduções e/ou transcrições) mas que, como dito no começo, está visível para os leitores que acessam à página do Portal, bem como declarada em nosso Manifesto Inaugural e reforçada novamente neste texto Quem Somos Nós? Em certos aspectos, existem limites, ambiguidades e ecletismos, que, no entanto, estão subordinados ao objetivo e compromisso principal do Portal: a divulgação da perspectiva revolucionária.

Outro ponto para ser lido no CD é o acervo que construímos, visto nas páginas que possuem breves descrições sobre seus propósitos: Biblioteca e Biblioteca Secundária. Assumimos nestes espaços o compromisso de disponibilizar um simples acervo para consulta e pesquisa àqueles leitores que nos acompanham e não necessariamente concordam com a nossa perspectiva política. No acervo Biblioteca, pode-se encontrar diversos textos de tendências políticas que correspondem ou possuem proximidade com a posição do Portal: marxismo original (Karl Marx & Friedrich Engels), comunismo de conselhos, marxismo autogestionário, etc. No acervo Biblioteca Secundária, pode-se encontrar tendências políticas opostas e até mesmo antagônicas (como o pseudomarxismo, o bordiguismo, a psicanálise freudiana, etc.), que não possuem material de fácil acesso na internet. O acervo é um instrumento de pesquisa, fornece atalhos para travar o conhecimento desse material não tão acessível e indica obras que possuem contribuições em nossa formação política e intelectual (por exemplo, a psicanálise). Em várias dessas obras, existe discordância em relação ao núcleo essencial que pode ser considerado como falso, o que é o caso de toda ideologia. Para nós, a Biblioteca (Geral e Secundária) trata-se de um acervo, uma forma de listar obras, textos e autores que possuem importância política e intelectual e, em alguns casos, importância ideológica, desde que seja lido com criticidade e destacado os momentos de verdade que existem em toda ideologia[12].

Diante dessas colocações sobre o trabalho do Portal, visto em seu acervo (Bibliotecas), em seu conteúdo principal e nas traduções de materiais críticos, corroboramos que nosso compromisso é pela transformação social, vinculada à autoemancipação humana através da revolução proletária. Em relação à forma de organização, situamo-nos em posição distinta comparada às organizações políticas. Não possuímos a pretensão de ser uma organização política e isto significa que não realizamos atividades de intervenção prática (participação em protestos, propaganda pelo voto nulo, etc.), nem recrutamos membros através de condições de adesão, estatutos, etc. visando o “crescimento organizativo”. As atividades internas do Portal são organizadas “informalmente” e coordenadas pelos militantes marxistas que em reuniões elaboram o planejamento das tarefas e, eventualmente, convidam os simpatizantes a participarem. A nossa principal atividade externa é a divulgação teórica e propagandística e estamos abertos à colaboração de pessoas que tenham interesse em contribuir conosco nesse sentido. Este último ponto é importante para ser frisado. Quem tiver interesse em colaborar conosco no trabalho de tradução e revisão, em textos listados de acordo com as nossas diretrizes, pode enviar e-mail e conversar conosco. Além disso, quem tiver interesse em conversar e debater sobre o conteúdo postado no Portal pode também enviar e-mail que sempre responderemos quando tivermos condições. Também estamos abertos a divulgar o seu artigo ou projeto (blog, site, etc.), desde que concordemos com a sua perspectiva política.

Assim, concluímos o nosso breve texto de esclarecimento sobre Quem Somos Nós? com a intenção de deixar o caráter do Portal transparente a todos os leitores que nos acompanham. Esperamos manter a existência desse projeto e a continuidade do trabalho, com o rigor e criticidade, durante muitos anos.


[1] Em relação ao termo contemporaneidade, podemos defini-lo como “o atual estágio do capitalismo, marcado pela instauração do regime de acumulação integral. Este é instaurado a partir dos anos 80 e caracterizado pela reestruturação produtiva, neoliberalismo e hiperimperialismo, que provoca mudanças culturais, ideológicas e políticas e faz emergir um movimento de resistência que conta com uma diversidade de tendências políticas e organizações”. Esta discussão está presente no artigo Os Efeitos do Contemporâneo de Nildo Viana, e uma explicação do conceito de regime de acumulação integral pode ser vista no ensaio A Teoria do Regime de Acumulação Integral, de Lisandro Braga.

[2] As traduções de outros blog’s e páginas da internet foram citadas no informe do site de 1 aniversário do Crítica: Proelium Finale, Humanaesfera e Sobinfluência. Foram traduções de artigos que consideramos de qualidade e próximos da nossa posição política. No decorrer do tempo, publicações concedidas por outras páginas da internet serão disponibilizadas no CD, quando houver convergência política.

[3] O Portal defende o marxismo e este é um saber teórico, complexo, cuja profundidade não é acessível imediatamente à consciência do indivíduo. Desta maneira, o marxismo – como qualquer outra forma de saber complexo – exige tempo de estudo, dedicação, esforço intelectual e psíquico, características que se tornaram escassas nas postagens presentes nas redes sociais. Portanto, não buscamos divulgar textos simplórios, pouco aprofundados, e, pior ainda, distantes da nossa perspectiva. O anti-intelectualismo e a falta de aprofundamento dos textos são duas armadilhas comumente vistas na internet e, geralmente, estão relacionados com a abundância de informações disponíveis em vários sites, de um lado, e com a falta de rigor e criticidade, por outro lado. Para uma discussão sobre esse assunto, conferir: Os Dilemas da Formação na Contemporaneidade, escrito por Nildo Viana. Pode-se acrescentar que os textos divulgados são, na maioria das vezes, produto de pesquisa, leitura, depois tradução e revisão. O trabalho segue determinado critério, apesar de que no começo do Portal nem sempre isso ocorreu.

[4]Socialismo ou Barbárie (SoB) [consultar: Socialismo ou Barbárie (1948-1965)] é a organização política mais conhecida e antiga dessa lista. Trata-se de uma organização que iniciou suas atividades no final da década de 40 na França, encerrou sua existência em meados da década de 60 e gerou enorme influência no chamado autonomismo, uma corrente política que surgiu nos anos 1950 e ganhou força nas lutas operárias dos anos 1970, para depois reemergir décadas depois sob outras formas. Tendo em vista que a SoB recebeu diversas análises, traduções para o português e expressa maior ambiguidade política, não divulgaremos tal organização com tanta frequência no CD. Dentre as correntes políticas inspiradas pelo SoB, a principal é a Solidarity [consultar: Solidarity (1960-1992)], uma organização fundada no início dos anos 1960 na Inglaterra, que permaneceu ativa até o início dos anos 1990 e ainda é pouco conhecida no Brasil. Por conta da maior radicalidade política da Solidarity, estaremos divulgando-a frequentemente no Portal, dando destaque aos seus panfletos, análises políticas e artigos críticos dos seus principais membros (Maurice Brinton, Bob Potter, Ian R. Mitchell, etc.). Sob outra perspectiva, as organizações ICO [consultar: ICO (Informations Correspondance Ouvrières) (1958-1973)] e Root and Branch [consultar: Root & Branch (1970-1981)] tiveram grande importância para a luta cultural revolucionária nos anos 1960-1970. Em sua carta de declaração, a Root e Branch considera-se marxista “libertária”, próxima do “comunismo de conselhos” e do “autonomismo radical” e, em suas fileiras, agrupou nomes como Paul Mattick, Jeremy Brecher, Ernest Jones, Paul Mattick Jr. e outros. A ICO foi produto de uma dissidência de membros que passaram pela SoB, especialmente Claude Lefort, que formaram em seguida a Information & Liaisons ouvrières (Informações e Ligações Operárias) e, em uma nova dissidência, criaram a ICO. Nas fileiras desta última, esteve presente o militante histórico Henri Simon que continua vivo até hoje. Henri participou do Socialismo ou BarbárieICO e depois o Échanges et Mouvement, uma rede de luta cultural que foi criada em 1975 e segue na atividade.
Deve-se ressaltar que todas essas informações são sumárias, descrições incompletas de organizações complexas que pouco receberam análises sobre sua história, suas contribuições, sua perspectiva política, etc., com exceção da SoB. Deste modo, as indicações aqui não devem ser vistas como uma conclusão pronta e acabada, mas como um esboço bastante parcial e preliminar que estamos procurando aprofundar com novas leituras, análises e acesso aos materiais.      

[5] Em nossa visão, o militante Cornelius Castoriadis não possui tanta importância, especialmente em sua fase pós-estruturalista, da década de 1970 em diante. As considerações que fazemos ao Castoriadis são semelhantes àquelas feitas ao SoB. Castoriadis é um autor bastante divulgado, analisado, influente e que não merece tanta atenção da nossa parte, não só pelos elementos citados, como também devido à ambiguidade do seu pensamento e afastamento da perspectiva revolucionária, situação que se agravou após o Maio de 68. Por isso, divulgamos apenas pontualmente os textos de Castoriadis. Em uma perspectiva mais radical, menos ambígua e demonstrando certa coerência com o projeto revolucionário, Maurice Brinton é um autor que tornou-se ao longo da vida pupilo de Castoriadis, mantendo ideias deste autor e diferenças em seu posicionamento político. Brinton, comparado a Castoriadis, é pouco divulgado, conhecido e analisado. Permanecendo na década de 1960, Serge Bricianer é outro marxista [consultar: Serge Bricianer: Biografia e Bibliografia], menos conhecido até do que Brinton, que recebeu pouca – ou praticamente nenhuma – divulgação e análise. Bricianer foi tradutor dos textos de Korsch, Paul Mattick e Anton Pannekoek para o francês, estabeleceu vínculo pessoal com Henk Canne Meijer, traduzindo e divulgando seus textos na França e participou de inúmeras atividades vinculadas à perspectiva revolucionária (como a ICO). Estaremos em breve publicando material em português a seu respeito.
Por fim, o militante Willy Huhn é considerado por determinados autores como um comunista de conselhos, o que ainda exigiria novas leituras e análises para realizar essa interpretação. Huhn é um autor alemão que, em sua obra mais conhecida, escreveu uma crítica radical ao Trotsky. Nos únicos textos em português disponibilizados no CD, é possível visualizar que ele é um autor crítico e realmente próximo de posições do comunismo de conselhos.
Reforçamos nesta nota, bem como na anterior (nota de rodapé 3), que todas essas informações elencadas são preliminares, estão em fase de desenvolvimento e, eventualmente, poderão ser revistas ou atualizadas.

[6] Utilizamos a palavra “intercâmbio intelectual” para dizer que o CD busca entrar em contato com as tendências políticas contemporâneas mencionadas, com a intenção de debater, trocar correspondências via e-mail, compartilhar informações e convidar para atividades internas entre os militantes marxistas que promovem o Portal e simpatizantes que demonstram interesse nessa forma de atividade. Um exemplo de colaboração que mantemos é a correspondência frequente com um dos administradores do fórum Inter-Rev, Aníbal, militante que vive na Espanha. Aníbal, editor de vários livros e artigos, contribuiu com a tradução de vários textos do português para o espanhol que foram publicados no Portal, tais como: Marxismo crítico-revolucionario: 60 años después de la muerte de Karl Korsch (Gabriel Teles),  Milovan Djilas y la nueva clase (Cajo Brendel), Introducción a la Correspondencia Internacional de Consejos (Paul Mattick), entre diversos outros. Ele também contribui com a divulgação de atividades do CD no fórum Inter-Rev (exemplo: Live Experiências de Luta: 1918 – O Golpe Antissoviético de Lenin e a Resistência dos Trabalhadores ao Bolchevismo. Mikhail Magid), e desenvolve “comentários críticos” ao material que disponibilizamos em nosso espaço.

[7] No caso do debate contemporâneo, as informações são ainda mais escassas e vários nomes e organizações citadas podem ser pseudônimos, ou não escreveram nenhum documento a respeito de si mesmas. Por isso, esboçaremos indicações com um caráter bastante incipiente, reunindo uma síntese que foi produto de correspondências e leituras parciais das obras acessíveis das expressões políticas listadas. Evidentemente, não traremos informações sobre todas as tendências políticas.
Inicialmente, diríamos que autores como Gilles Dauvé [consultar: Relato Biográfico-Intelectual, Parte 1, Parte 2] e Tristan Leoni pertencem a uma tendência semi-proletária, próxima da herança do Bordiga e da chamada “esquerda italiana”. Os dois autores publicam frequentemente no Portal DDT21 e identificam-se com a corrente política denominada de comunização, cujas contribuições e limites ainda não foram analisados de forma mais profunda [consultar: análise crítica de uma obra do Barrot (Dauvé) e nota introdutória do CD no artigo “Jean Barrot e “O Movimento Comunista” – Lucas Maia”, e nota introdutória do CD no artigo do Leoni, “Abolir a Polícia?”]; David Adam é um autor atualmente progressista, vinculado a um pequeno partido político de “esquerda” nos EUA. Adam iniciou sua militância no anarquismo, posteriormente inspirou-se nas contribuições intelectuais do chamado “marxismo aberto”, Karl Marx e comunismo de conselhos, que é o período no qual produziu a maior parte dos seus artigos disponíveis na internet. Após 2016, Adam afastou-se da militância e da perspectiva marxista [diversas informações sobre o David foram fruto de correspondência por e-mail do CD com o autor]; Emanuel Santos é um autor marxista, inspirado em autores comunistas de conselhos, como Pannekoek e Mattick, contemporâneos como Paul Mattick Jr., entre outros [uma entrevista do CD com Emanuel por e-mail foi realizada e pode ser consultada parcialmente na nota introdutória ao artigo Estalinismo canavieiro: Capitalismo de Estado e Desenvolvimento em Cuba]; autores como Charles Reeve e Paul Mattick Jr. iniciaram a militância nos anos 1960, inspiraram-se na herança do comunismo de conselhos e, hoje em dia, buscam atualizar o marxismo, em maior ou menor grau, e com diferenças de posicionamento, o que exige análises e leituras que devem ser feitas com tempo [consultar: a entrevista de Mattick Jr. na década de 1990 publicada no Portal: O Comunismo de Conselhos e a Crítica do Bolchevismo; a  nota introdutória do CD sobre a trajetória política de Reeve na seguinte publicação: Contra a mumificação da Comuna: descobrir Leó Frankel]; Fredo Corvo é um militante marxista contemporâneo. Trata-se de um pseudônimo para um indivíduo holandês que começou sua trajetória no anarquismo, posteriormente começou a estudar Marx, Pannekoek e assim tornou-se um crítico radical do bolchevismo. Após encontrar publicações de dois grupos comunistas conselhistas remanescentes na Holanda nos anos 1970 (Spartacusbond e Daad & Gedachte), Fredo começou a contribuir com traduções e publicação de artigos e cristalizou vínculo íntimo com os autores comunistas de conselhos na Holanda, como Cajo Brendel [consultar: publicações do Corvo, como o artigo O G.I.C. e a economia do período de transição].
Assim, citamos somente estes exemplos para indicar elementos provisórios sobre a posição desses autores que serão divulgados no Portal nos próximos anos e fazem parte do conjunto de textos pertencentes às tendências políticas contemporâneas (e não antagônicas) que nos interessam. O intercâmbio intelectual com esse amplo espectro de autores e organizações é um elemento importante para avançar politicamente e criar aproximação com a produção teórica do bloco revolucionário na contemporaneidade.

[8] Não é demais lembrar que toda tradução está envolvida na perspectiva, valores, interesses, sentimentos, do indivíduo concreto, um ser humano social e histórico. Por isso, toda tradução é lida, revisada e avaliada por militantes autogestionários ou pessoas próximas de nossa perspectiva. Todas assumem o compromisso de manter as traduções de acordo com os pressupostos que consideramos adequados, em correspondência com a perspectiva marxista, ou seja, mantendo-se o rigor e a fidelidade às ideias do autor. Neste último caso, a fidelidade, priorizamos a tradução dos textos diretamente do original, seja em inglês, francês ou espanhol, para que assim possamos evitar o máximo possível as más traduções e deformações que podem ocorrer em traduções das traduções. No entanto, qualquer tradução pode ter equívocos, limites e imprecisões, o que pode ser reavaliado e corrigido futuramente pelo Portal, mantendo-se o contato com este através de seu e-mail: [email protected]

[9] Importante notar que a tradução de textos para o português possui grande relevância, uma vez que grande parte dos autores traduzidos são marginais, pouco traduzidos, e sabemos que vários indivíduos que acompanham o Portal não dominam outros idiomas, como o inglês, espanhol e francês. Desse modo, a tradução é relevante por divulgar material mais acessível e ampliar o material informativo disponível em português dos autores/organizações selecionados.

[10] Brinton é exemplar por ter sido o primeiro autor divulgado pelo Portal e o principal autor traduzido no ano de 2020, chegando ao número de 9 artigos e 1 entrevista traduzida. Em duas oportunidades, Gabriel Teles escreveu introduções críticas aos seus artigos: A Comuna de Paris, 1871 – Maurice Brinton & Philippe Guillaume e Maio de 68 Francês: Implicações Teóricas – Maurice Brinton. Trata-se, portanto, de um autor que em breve receberá novas análises, dado a grande quantidade de traduções que foi realizada até o momento.

[11] Novamente, reforçamos que o trabalho de tradução, revisão e divulgação é um, o trabalho de escrever uma introdução crítica é outro. Nem sempre – devido ao tempo curto com os afazeres cotidianos, compromissos profissionais, limites pessoais e teóricos, problemas de saúde, etc. – conseguiremos fazer os dois trabalhos ao mesmo tempo e fornecer ao leitor a divulgação de material com a melhor qualidade possível. A nossa intenção é sempre disponibilizar uma introdução crítica e/ou notas de rodapé críticas nas traduções inéditas publicadas, mas na maioria das vezes é impossível.

[12] Uma posição adequada do conceito de ideologia pode ser vista em: A Força da Ideologia, capítulo 1 do livro Cérebro e Ideologia de Nildo Viana.

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