O taylorismo da exaustão – Anton Pannekoek

Original in German Das Taylorsystem der Abrackerung

O Taylorismo da exaustão[1]

Toda a história do capitalismo, considerada do ponto de vista técnico-econômico como um método de produção de todos os meios essenciais de subsistência, consiste em um aumento incessante da produtividade do trabalho. Esse aumento ocorre por dois meios diferentes: por um lado, pela melhoria das máquinas e dos métodos técnicos; por outro, pelo aumento da intensidade do trabalho. Ambos têm o objetivo imediato de aumentar o mais-valor e elevar o grau de exploração. Enquanto o primeiro diz respeito a uma melhor utilização do material morto, não afetando diretamente os trabalhadores, o segundo os atinge diretamente, pois eles próprios são o material vivo que deve ser melhor aproveitado. O sistema taylorista denota um novo método de exploração racional da força de trabalho.

O nome “administração científica”, que Taylor atribui ao seu método, já indica que ele o contrapõe aos métodos de trabalho habituais praticados até então. Antes, a execução do trabalho era deixada a cargo do trabalhador; ele dispunha dos conhecimentos técnicos e das regras de trabalho transmitidos ao longo do tempo, que eram estranhos à própria administração da fábrica. Assim, cabia a ele resolver a tarefa de acordo com sua habilidade pessoal, enquanto a administração limitava-se a “seduzi-lo”, por meio de sistemas salariais específicos, a alcançar a máxima rapidez e esforço possíveis. No sistema de Taylor, o trabalhador não organiza seu trabalho conforme sua própria percepção, mas cada um de seus movimentos é prescrito. Para isso, a atividade precisa primeiro ser decomposta em seus elementos individuais por meio de uma análise científica. O que antes ocorria na mente do trabalhador – a decomposição do trabalho em movimentos singulares que ele tem de executar sucessivamente – agora é transferido para o escritório da administração da fábrica. A atividade espiritual e a atividade física, que estiveram interligadas quase que inseparavelmente em qualquer processo de trabalho, combinando a aplicação instintiva e consciente do conhecimento técnico adquirido, são separadas nesse sistema. A parte espiritual passa a ser responsabilidade da administração, que realiza uma análise científica e uma reconstrução das operações de trabalho, enquanto ao trabalhador resta apenas a parte burramente física, puramente mecânica do trabalho.

Essa transformação é extraordinariamente semelhante à conversão anterior do artesanato em manufatura, que Marx descreveu em seu O Capital. A confecção dos bens, que para o antigo artesão era uma arte pessoal, aprendida durante longos anos de aprendizado e constituindo um todo inseparável de conhecimento espiritual, percepção e habilidade manual, foi então transferida para um mecanismo coletivo de trabalhadores parciais, cada um dos quais executava apenas movimentos específicos, enquanto a unidade espiritual do processo total ficava incorporada no capitalista. Assim como qualquer transformação, o sistema taylorista também representa uma degradação, uma degradação do trabalhador, cujo trabalho se torna ainda mais mecânico, mais destituído de espírito, mais monótono e, portanto, ainda mais insuportável do que antes. A antiga manufatura evoluiu para a indústria ao substituir o mecanismo humano pela maquinaria real. Onde o trabalhador apenas opera a máquina e segue seu funcionamento, não há espaço para o sistema de Taylor. Ele só entra em cena onde o trabalhador, seja qualificado ou não, ainda é o fator principal da produção e faz uso da máquina. Talvez também aqui a fragmentação e mecanização do trabalho sejam apenas um estágio preliminar para um processo totalmente automatizado. No entanto, essa futura evolução dependerá, em grande medida, da intervenção da luta proletária pelo controle do Estado[2] e da indústria.

Para Taylor, no entanto, essa transformação não é um fim, mas apenas um meio para alcançar uma maior produtividade. O que importa é que, dessa forma, pode-se obter um desempenho laboral muito maior. Parte disso acontece pela eliminação de movimentos supérfluos e gestos ineficientes que muitas vezes estão incorporados nas regras tradicionais herdadas do trabalho. Se, por exemplo, ao construir uma parede, os tijolos e a argamassa são colocados em andaimes em uma altura adequada para que o pedreiro não precise se curvar e possa acessá-los rapidamente, há nisso uma verdadeira economia de força de trabalho. No entanto, o principal objetivo não é apenas essa otimização, mas sim um aumento na intensidade da força de trabalho despendida.

Taylor rejeita expressamente a acusação de que seu sistema de administração levaria à exaustão dos trabalhadores; ele afirma que, ao contrário, introduz pausas sempre que percebe sinais de fadiga excessiva afetando o desempenho do trabalho. No entanto, suas longas discussões sobre a “retenção da força de trabalho” e a “evasão do trabalho” por parte dos trabalhadores mostram a realidade dessa questão. Ele está convicto de que os trabalhadores não se empenham ao máximo, não dão o seu melhor, mas, ao contrário, trabalham deliberadamente em um ritmo mais lento, apenas o suficiente para parecerem estar se empenhando. Erradicar esse mau hábito entre os trabalhadores é o principal objetivo de seu novo método de gestão. Ao decompor o trabalho em movimentos individuais e determinar sua duração exata por meio de um cronômetro, a administração obtém um controle rigoroso sobre o tempo, o que é necessário para uma execução ininterrupta do trabalho. Desde o início, ele define para o trabalhador uma tarefa específica e precisamente prescrita, uma carga de trabalho que ele precisa completar – “a característica mais marcante do novo sistema é a ideia de carga de trabalho”, diz o próprio Taylor. Quem atinge a meta recebe um bônus adicional em seu salário; quem não consegue cumprir a tarefa é considerado inapto e é dispensado. Com essa metodologia, Taylor conseguiu, em muitos casos, triplicar ou até quadruplicar a produção. Essa é a grande importância de seu sistema para os empresários, cujos lucros aumentam exponencialmente. Essa também é a importância para os trabalhadores, que passaram a ser submetidos a um esforço muito mais intenso do que antes.

É evidente que o trabalhador não se esforça ao máximo por livre e espontânea vontade. Em primeiro lugar, ele não tem nenhum motivo para isso, pois apenas o lucro do capitalista aumenta, enquanto, a longo prazo, seu salário permanece no mesmo nível, apesar dos incentivos temporários na forma de prêmios. Se ele fizesse isso, sua força de trabalho se esgotaria rapidamente, e ele ficaria desgastado e sem forças, como um limão espremido, incapaz de continuar sustentando sua esposa e filhos. Por uma questão de autopreservação e por dever com os seus, ele precisa administrar com cuidado seu único bem: sua força de trabalho. O industrial, por outro lado, que pode encontrar facilmente um substituto no mercado de trabalho, busca forçá-lo, por todos os meios, a explorar sua força de trabalho ao máximo; nessa guerra silenciosa pelos interesses mais básicos da vida, a administração taylorista se torna uma nova e temível arma nas mãos dos empresários. As pequenas pausas e os movimentos supérfluos e pouco econômicos derivam de uma necessidade natural do corpo humano de alternância entre descanso e movimento de todos os órgãos. Apenas porque existem esses respiros no trabalho é que é possível suportar uma jornada de 8 ou 9 horas. Se esses intervalos forem eliminados e todo o tempo for preenchido com um único movimento repetitivo e intenso – uma intensidade que normalmente só poderia ser sustentada por breves momentos –, o corpo sofrerá danos severos. O organismo humano não é uma máquina; se for exigido dele um desempenho equivalente ao de uma máquina, ele inevitavelmente se deteriorará e se tornará inutilizável mais cedo. Taylor acredita que pode evitar esse efeito introduzindo pausas nos momentos de fadiga. No entanto, isso apenas reprime a sensação de cansaço. Sabe-se bem que um corpo fatigado pode ser forçado a continuar funcionando por meio de forte excitação ou esforço de vontade, mas as consequências surgem depois. Não é a sensação de cansaço que determina o desgaste do corpo, mas a soma real do esforço despendido. A realidade é que, em todos os lugares onde o sistema de Taylor vem sendo aplicado há anos, os trabalhadores estão sendo consumidos e desgastados mais rapidamente do que antes.

Não é de se admirar que a classe trabalhadora acompanhe com temor o avanço implacável dessas novas metodologias. Esse avanço é ainda mais difícil de conter porque o sistema trata cada trabalhador de forma isolada, incentiva o egoísmo individual, enfraquece a solidariedade e elimina a organização coletiva. Na realidade, sua introdução dificilmente pode ser impedida; os trabalhadores não conseguem lutar de forma eficaz contra métodos de exploração mais avançados. No entanto, em um país com uma organização sindical desenvolvida e consolidada como a Alemanha, é possível adotar certas medidas para garantir influência e certo grau de participação na tomada de decisões, além de estabelecer um controle sobre sua implementação, de modo a minimizar os danos para os trabalhadores. Os meios técnicos para isso já estão sendo discutidos dentro dos sindicatos. O que é essencial, porém, é a conquista de poder, a única forma de impor a vontade e os interesses dos trabalhadores diante do empresariado. Assim, a principal exigência do momento é o fortalecimento desse poder, pois ele constitui a base da sobrevivência da classe trabalhadora. E esse poder só pode ser alcançado através do fortalecimento da organização[3] e por meio de uma luta revolucionária vigorosa contra toda a estrutura de dominação burguesa.


[1] O presente texto foi traduzido a partir de sua versão original em alemão, publicada no Leipziger Volkszeitung em 25 de julho de 1914. Para tanto, foram consultados o jornal digitalizado, a transcrição disponível na internet e a tradução para o holandês, disponibilizada no portal Arbeidersstemmen.

[2] Neste período, 1914, Pannekoek reproduzia a concepção política hegemônica que identificava o momento inicial do processo revolucionário com a tomada do Estado pela classe proletária e, consequentemente, a estatização dos meios de produção, em que pese o autor tivesse críticas a essa posição (ver o artigo “Socialismo de Estado”, de 1913). É somente com as experiências revolucionárias entre 1917 a 1923, notadamente a Revolução Alemã e Russa, que Pannekoek passará a defender, sem ambiguidades, o socialismo como um processo revolucionário que exige, em qualquer momento ou fase, a abolição do Estado e do conjunto das relações sociais capitalistas. (Nota do Crítica Desapiedada)

[3] Naquele contexto, Pannekoek compreendia por “organização” os sindicatos e os partidos que supostamente representavam a classe trabalhadora. Em outro momento, da década de 20 até a sua morte em 1960, a sua posição se altera. Pannekoek passa a se opor radicalmente aos partidos e sindicatos, afirmando, no lugar destas antigas organizações, os conselhos operários. Confira o artigo: Pannekoek: Das Organizações Burocráticas à Auto-Organização – Nildo Viana (Nota do Crítica Desapiedada)

Traduzido por Vinícius Posansky. Revisado por Thiago Papageorgiou.

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