Política Revolucionária e a Guerra no Oriente Médio – Crítica Desapiedada

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[Nota do Crítica Desapiedada]: Divulgamos a primeira análise do Crítica Desapiedada publicada nesse Portal. O foco foi o conflito atual entre Israel e Palestina, intensificado após o ataque do Hamas no dia 7 de outubro de 2023. Esperamos retornar no ano que vem com análises sobre outros eventos.
Agradecemos às pessoas que colaboraram com várias ideias e sugestões que foram incorporadas ao longo do desenvolvimento deste texto. O resultado final, no entanto, é de responsabilidade exclusiva do Crítica Desapiedada.
Obs.: Uma versão em pdf do presente artigo pode ser acessada aqui.


Nas relações internacionais, a burguesia representa a política da guerra e da conquista e, na fase atual, o sistema de direitos alfandegários e da guerra econômica, enquanto o proletariado representa a política da paz universal.
Rosa Luxemburgo, A Questão Nacional e Autonomia (1909).

A questão judaica é insolúvel na barbárie capitalista de hoje. Não faz sentido fechar os olhos para a realidade: por mais difícil que seja (…) impedir as atrocidades especiais contra a população judaica, a Palestina não tem solução. O capitalismo significa o prolongamento dessa situação bárbara. A tarefa dos trabalhadores judeus é a tarefa de todos os trabalhadores: acabar com o sistema internacional de exploração capitalista.
Paul Mattick & Walter Auerbach, Uma Abordagem “Marxiana” da Questão Judaica (1938).

Um ano e meio após o início da guerra interimperialista entre Rússia e Ucrânia, assistimos a um novo (velho) conflito entre o Estado de Israel e as organizações paramilitares islamitas que controlam a Faixa de Gaza no território da Palestina. Em uma sociedade que se fundamenta na acumulação de capital, em detrimento das necessidades humanas, a guerra é utilizada pela burguesia para combater a instabilidade atravessada pelo ciclo de acumulação vigente, apoiando-se principalmente no capital bélico (“indústria de armas”)[1][2] para retomar o aumento do lucro. Portanto, não nos surpreende que num intervalo curto de tempo rebente outra guerra entre Estados capitalistas, prenunciando a escalada para sua generalização mundial que caminha a passos largos.

Em escrito de março de 2022 publicado neste Portal[3], o autor, Maurício Cunha, advertiu que o evento na Ucrânia se tratava de um conflito interimperialista e reforçar qualquer lado da guerra significava contribuir com uma política colaboracionista, portanto, contrarrevolucionária. E, no caso do conflito Israel-Palestina, o que há de novo? Seria este o momento para que setores da sociedade civil, que se pretendem revolucionários, abandonem a perspectiva do proletariado e o projeto histórico de emancipação humana, trocando-os pela defesa do “povo palestino” e sua ilusória autodeterminação nacional? Para responder estas questões, começaremos esclarecendo o significado desse problema recente.

As políticas neoliberais, as novas relações de trabalho e a intensificação da exploração internacional, elementos que caracterizam o regime de acumulação integral (contemporâneo)[4], permitiram um aumento do processo de exploração e certa margem de estabilidade em vários países durante o momento de constituição e formação desse regime (anos 1980 até o início dos anos 2000). De 2008 em diante, o ritmo de acumulação capitalista começou a mostrar sinais de desaceleração, resultando em instabilidade política e econômica[5] em vários países e dificuldade[6] para retomar essa acumulação. Entre 2020 e 2022, o declínio da acumulação de capital foi acentuado pela situação mundial de pandemia do coronavírus e a eclosão da guerra na Ucrânia, recrudescendo o processo de pauperização mundial. Nas regiões que abarcam o Estado de Israel e a sociedade palestina (Faixa de Gaza e Cisjordânia) a situação não foi diferente. As classes inferiores[7] (proletários, prestadores de serviços, o imenso exército de desempregados, etc.) que sobrevivem nestas áreas passaram a sofrer com maior intensidade os efeitos do encarecimento do “custo de vida” (energia, alimentos, etc.), do aumento do desemprego, aumento da inflação e outros processos que foram agravados pela dificuldade cada vez mais crescente de reprodução ampliada do capital ao redor do mundo.

Tratando-se das zonas bombardeadas por Israel, a faixa de Gaza está sob constante disputa e nela a situação é realmente dramática para os trabalhadores devido o bloqueio econômico e comercial (aéreo, marítimo e terrestre) imposto pelo governo de Israel e Egito desde 2006, ano em que o Hamas venceu as eleições e assumiu o controle do território[8]. Nessa região, os trabalhadores são enquadrados como “cidadãos de segunda classe”: a classe trabalhadora de origem palestina não é apenas dominada pela burguesia israelense e seus aliados, como é discriminada (étnica e nacionalmente) e excluída de diversos outros direitos supostamente garantidos pelos regimes democrático-burgueses. Há uma dimensão histórica e profunda de luta de classes que perdura durante décadas nessa região[9].

O Estado sionista de Israel cumpre a função – como qualquer outro Estado capitalista – de garantir a reprodução das relações de produção capitalistas, interferindo no processo de valorização e nas relações de exploração internacionais. No caso desse Estado sionista, a dinâmica se fundamenta em um regime político democrático burguês que se metamorfoseia constantemente conforme as necessidades do capital nacional e transnacional. Em tempos de guerra, o Estado israelense amplia a repressão e assume uma face “autoritária” com o discurso de combater o “inimigo exterior” (Fatah, Hamas, etc.) enquanto, na realidade, quem sofre as principais consequências são as classes inferiores palestinas e israelenses.

Uma política que tem sido executada pelo Estado de Israel é o confinamento na Faixa de Gaza[10] de milhões de árabes palestinos como parte de um longo processo histórico de ocupação, deixando-os em constante vigilância e sob controle na entrada e saída das fronteiras. Soma-se a esse confinamento, o apoio internacional que Israel recebe dos Estados Unidos (EUA) para ocupar militarmente os territórios palestinos na Cisjordânia, próxima do Rio Jordão, e outras regiões. Neste emaranhado de interesses e conflitos, situa-se o Hamas como uma força política reacionária que governa a região de Gaza[11], enquanto as áreas da Cisjordânia são controladas pelas forças de ocupação e pela Autoridade Palestina, dirigida pelo Fatah, uma organização política e militar fundada em 1959.

Quem esteve por trás do ataque de 7 de outubro foi o Hamas, essa organização islâmica reacionária, que é também responsável pela repressão das classes inferiores e controle na Faixa de Gaza, evitando o surgimento de qualquer oposição política e radicalização dos setores descontentes. O grande aliado militar do Hamas é o Hezbollah[12] e seu apoio financeiro vem de diversos países, como o Qatar. Nos últimos anos, o governo sionista de Israel começou a atravessar uma crise política, ameaçando o cargo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, acusado de corrupção e outros crimes. Essa crise política gerou pressão e divisões internas no bloco dominante, intensificando os protestos de vários setores progressistas que ocorreram nos últimos meses. Neste cenário de um governo enfraquecido, as forças de segurança israelenses foram (supostamente) surpreendidas pela ofensiva militar do Hamas, que já vinha planejando este ataque há pelo menos um ano, o que coloca a responsabilidade do ataque sobre o próprio governo e o deixa sob suspeita.

Por trás da guerra entre Israel e Hamas, o que se apresenta é uma guerra maior no Oriente Médio, uma região historicamente fornecedora de energia (gás, petróleo) e com rotas marítimas estratégicas. Os governos de Israel e Arábia Saudita iniciaram negociações nos últimos anos a fim de firmar um acordo diplomático, mediado pelos EUA, que envolveria a construção e atualização de portos marítimos e ferrovias para acelerar a circulação de mercadorias entre a região da Índia, Arábia Saudita, Jordânia, Israel e Europa. O acordo integraria principalmente os Estados de Israel e Arábia Saudita, aproximando-os militarmente, o que significa uma ameaça para o Irã e demais nações capitalistas (Líbano, Síria, etc.), inimigos antigos dos EUA. Deste modo, as negociações entre israelenses, estadunidenses e sauditas estavam quase concluídas nas últimas semanas e, após o ataque do Hamas, o acordo foi frustrado e adiado indefinidamente, com a Arábia Saudita recuando para não arriscar a sua autoridade e influência no mundo árabe.

Assim, uma tendência que se encontra em andamento é o acirramento das hostilidades entre Israel e Hamas para os demais países vizinhos, como Líbano e Síria, envolvendo países como o Irã e EUA. As consequências neste caso são drásticas para os trabalhadores palestinos, pois as suas vidas (na região de Gaza e Cisjordânia) estão sendo ceifadas e em processo de deterioração. Em relação aos trabalhadores israelenses, as condições de vida também pioram com o aumento da exploração, da vigilância e repressão, e em uma situação de guerra – que pode se prolongar durante meses ou anos -, milhares de reservistas são convocados a ocupar as frentes de batalha, gerando descontentamento e protestos contra o governo de Israel.  

A longo prazo, não se pode descartar uma escalada militar com um conflito direto entre Israel e Irã, e participação dos Estados Unidos, o que poderia envolver futuramente a Rússia e a China, colocando em disputa os dois grandes blocos imperialistas[13] que estão em processo de formação e transformando o conflito bélico em um problema que trará consequências mundiais. O agravamento dos problemas econômicos, ambientais, etc. e o fortalecimento de discursos nacionalistas, irracionais e bélicos são elementos que já vêm enfraquecendo os setores oposicionistas[14] e o desenvolvimento da luta proletária[15]. Estas são possibilidades que demonstram que a guerra interimperialista serve única e exclusivamente aos interesses da burguesia, incrementando o capital bélico e outros setores do capital nacional, renovando o domínio e a redistribuição de poder entre os Estados nacionais por todo o planeta. No final, quem paga os custos dessa guerra é o proletariado, a classe explorada nos locais de trabalho que produzem todo tipo de armamento utilizado em campos de batalha para exterminar seus camaradas – outros trabalhadores.

As guerras apresentam assim a face mais agressiva, nua e opressiva do capitalismo contemporâneo. Nas frentes de batalha, os trabalhadores de várias nacionalidades e etnias são descartados, enquanto a burguesia (e sua principal aliada, a burocracia) regozija com o aumento do seu poder e de suas conquistas. A guerra interimperialista, em sua forma atual, acirra a competição entre os Estados nacionais e busca estabelecer uma nova divisão do mundo com países que querem expandir o domínio do mercado mundial e do poder militar (China, por exemplo); que não querem perder a sua posição dominante (os Estados Unidos); e que ambicionam uma redistribuição do poder (Rússia, por exemplo). Por isto, reafirmamos que não há nada de novo na contenda no Oriente Médio, exceto o velho dilema que se coloca para a humanidade desde o último século: Autogestão Social ou Barbárie!

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Diante do que foi discutido até aqui, como avaliar o significado de questões levantadas por setores da sociedade civil no Brasil em relação à guerra capitalista no Oriente Médio? Iniciaremos a discussão com breves apontamentos às posições do bloco progressista (ou reformista).

No campo reformista, constata-se que o PT (Partido dos “Trabalhadores”), o principal partido neoliberal neopopulista no Brasil, ganhou força durante o governo Bolsonaro e conseguiu – nas eleições de 2022 – garantir o seu retorno ao bloco dominante, particularmente na ala governamental. Os setores reformistas que realizavam uma oposição ao espantalho fascista personificado no governo Bolsonaro, acomodaram-se novamente ao governo lulista e o conservadorismo de suas posições tornou-se cristalino. Em todas essas expressões políticas vinculadas às classes burguesa e suas auxiliares (burocracia e intelectualidade), o que reina é a hipocrisia: condena-se os ataques de Israel ao “povo palestino” e celebra-se os discursos e o papel diplomático de Lula no conselho da ONU (Organização das Nações supostamente Unidas), ao mesmo tempo que a “guerra” contra classe trabalhadora daqui é convenientemente esquecida. Desta forma, o vínculo da ONU com os interesses das potências imperialistas é obliterado e o apoio irrestrito à coalização petista de “centro-esquerda” oculta que, concomitante com a participação do Brasil no Conselho de “Segurança” (sala de guerra) da ONU, o governo Lula prossegue com as operações militares no Haiti e internamente aprova políticas que endurecem o caráter repressivo do Estado neoliberal brasileiro com a privatização de presídios, manutenção de uma política fiscal que restringe políticas sociais (educação, saúde, etc.) e outras medidas que correspondem aos interesses da classe capitalista (nacional e internacional), o que não poderia ser diferente.   

Deste modo, a ala moderada do bloco reformista demonstra que sua posição em relação ao Estado de Israel e o “povo palestino” não passa de um discurso que simula uma ilusória preocupação humanitária para, na verdade, dissimular seus interesses e vínculo com a manutenção da sociedade capitalista e o governo neoliberal de Lula, em detrimento de uma preocupação real com a emancipação dos trabalhadores (brasileiros, palestinos, israelenses, etc.). No outro lado do bloco progressista, encontra-se a ala extremista, representada por grupos ligados ao leninismo, trotskismo, maoísmo, entre outros que vão da defesa do Hamas ao apoio do “povo palestino” e de seu Estado-nação, que deveria ser protegido e reconhecido efetivamente por todos os países da ONU. Este apoio já era de se esperar. O controverso aqui é que esta última posição tornou-se presente entre aqueles que seriam aparentemente revolucionários, ou seja, pertencentes ao bloco revolucionário (anarquistas de diversas correntes, autonomistas e suas subdivisões, etc.).

Em relação à intervenção política de organizações e militantes que se colocam como revolucionárias, o primeiro tema que chama a atenção nessa intervenção é a reivindicação de solidariedade ao “povo palestino”. Por trás da terminologia “povo”, um falso conceito que cria mais obstáculos do que esclarece a realidade, o que se esconde é a oposição e luta entre as classes sociais. A ideia de “povo”, “nação” e outras similares representam uma forma de abstratificação que oculta a base real que as classes sociais estão assentadas: atividades fixas na divisão social do trabalho da sociedade capitalista, o que gera modos de vida comuns, interesses similares e oposição e luta comuns contra as outras classes. Os interesses, o modo de vida e a luta da classe trabalhadora palestina são diferentes dos interesses, modo de vida e luta empreendida pela burguesia palestina. Para ilustrar esta discussão, constataremos exemplos de questões reais presentes na população palestina que reside na Faixa de Gaza. 

Os habitantes de Gaza que estão em situação de desemprego não possuem um esconderijo (bunker) para se protegerem dos ataques de Israel. Os indivíduos que possuem trabalhos precários, vivendo no limite entre o desemprego e o emprego temporário, moram em espaços pequenos onde residem as suas famílias que, em caso de ataques militares, morrem em sua quase totalidade ou são feridas. Tal situação vivida por alguns indivíduos das classes inferiores é distinta de outros indivíduos das classes superiores de origem palestina. Vários dirigentes (burocratas) do Hamas podem se proteger da guerra e para isso acessam bunkers subterrâneos profundos em relativa segurança, conectados a uma rede de túneis no Egito que possibilita uma saída de refúgio em caso de aumento dos conflitos com Israel.

Além disso, a maioria dos habitantes de Gaza vive em regiões com aglomeração urbana densa e grande parte dos jovens não têm emprego. Por sua vez, o Hamas agrupa dirigentes em postos burocráticos e vários funcionários que usufruem de uma maior margem de segurança em comparação aos chamados “civis”. São estes “civis”, os trabalhadores palestinos, que estão em situação de maior vulnerabilidade e são eles que desenvolvem ações de resistência, apoio mútuo, protegendo suas famílias e o que pode restar após os bombardeios das forças israelenses.

Assim, entre o “povo” palestino existem diferenças de modo de vida, condições de segurança, financeiras, etc., o que produz a existência de divisões e subdivisões entre o “povo palestino”, e, em linhas gerais, gera um antagonismo de interesses entre as classes superiores (exemplificado na condição de dirigentes do Hamas pertencentes à burocracia) e as classes inferiores (exemplificado na condição de desempregados ou subempregados pertencentes ao lumpemproletariado). Portanto, não há motivo para se iludir em relação a quem sofre mais com a guerra[16]: os trabalhadores palestinos.

Sob outro ângulo, vamos assumir que existe uma intenção honesta por parte de alguns naquela reivindicação e o “povo” refere-se à classe trabalhadora palestina, e não às classes superiores (burgueses, burocratas etc.). O que se segue dessa posição (a defesa do slogan abstratificado “povo palestino”) é outra bandeira igualmente ilusória: a reivindicação da “Palestina Livre”. Ao lado desta ideia de “liberdade” palestina, junta-se outro slogan com a seguinte frase: “Do rio ao mar, a Palestina será livre”.

Neste último caso, o slogan “Do rio ao mar, a Palestina será livre” poderia ser interpretado como o fim do Estado de Israel e a “expulsão dos judeus para o mar”. Outra interpretação é desenvolvida pelo grupo Alerta Comunista, no texto “On the Never-Ending Israel-Palestine Conflict”[17], que coloca a seguinte contextualização histórica. A frase “Do rio ao mar, a Palestina será livre” quer dizer que o Rio é o Jordão e o Mar é o Mediterrâneo. O uso desse chavão começou com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e sua principal ala, o Fatah. Mais tarde, o slogan foi adotado pelo Hamas. Não é segredo que o propósito dessas organizações é o reconhecimento por todos os Estados capitalistas, membros da ONU, do Estado da Palestina como membro, e não só como observador sem direito à voto, o que configuraria outro status à burguesia (e seus aliados) palestina na divisão do mercado mundial. A “Palestina Livre” teria outro status e continuaria assentada em um Estado capitalista com as suas instituições, divisões entre classes, exploração de mais-valor e todo o conjunto de relações que são garantidas por esse aparato privado do capital.

Poderíamos assumir, novamente, que existe um fundo de sinceridade em alguns militantes aparentemente revolucionários e a presença da reivindicação da “Palestina Livre” seria uma proposta política temporária, alterando a correlação de forças (a luta de classes) na região, o que provocaria uma diminuição dos problemas dos trabalhadores palestinos. Desta forma, a defesa dessa proposta visaria garantir mais “direitos civis” aos palestinos em seus territórios, o que se configura como uma forma “democrática” de garantir a sua sobrevivência a longo prazo, afinal, a democracia (burguesa) é uma forma de dominação mais suave que a ditadura (burguesa).

O problema é que a imposição da forma estatal e do regime político que garantirão a dominação burguesa não é uma “escolha” do proletariado. A decisão é da burguesia (nacional e transnacional) e de suas classes aliadas (como a burocracia). Os aspirantes a “revolucionários” que apoiam o nacionalismo palestino não podem sugerir de forma razoável que estão defendendo a “democracia”, pois trata-se, na verdade, de uma defesa para que o proletariado palestino apoie as frações “democráticas” da classe capitalista, e os frutos da “democracia” seriam uma promessa vazia para uma suposta situação após a vitória desse setor “democrático” da burguesia. Por outro lado, os frutos da democracia burguesa de Israel (e dos EUA) estão caindo sobre suas cabeças na forma de bombas e balas. Este dilema “democrático” está, portanto, desligado da análise da luta de classes e dos seus antagonismos, e em uma perspectiva geral, da crítica às condições sociais que geram a exploração, a dominação e a existência de Estados-nações. A posição internacionalista se afoga então em dilemas nacionais.

É nesta seara do problema nacional que precisaremos confrontar. Em contextos de guerra interimperialista e conflitos entre Estados capitalistas, a classe capitalista difunde o nacionalismo como uma arma que combate o proletariado, justificando ideologicamente as suas disputas territoriais que estão vinculadas à necessidade de expansão do modo de produção capitalista e partilha do mundo[18]. O discurso nacional serve como ideologia que legitima[19] diversas ilusões: a ideia de “nação”, “pátria”, “identidade nacional”. A difusão da ideologia nacional busca assim integrar as classes inferiores em uma falsa unidade, amortecendo a luta de classes. Temos, portanto, a substituição da finalidade real (o lucro) da burguesia por discursos falsos em torno do “bem comum”.

A estratégia da burguesia ao reivindicar o nacionalismo nos contextos de guerra serve assim para camuflar seus verdadeiros interesses e jogar os trabalhadores para os campos de batalha e regiões que são bombardeadas, separando-os em uma luta que serve a interesses contrários aos seus. No caso da “nação palestina” e sua possível libertação, o que existe efetivamente é a população de origem palestina que habita os territórios da Cisjordânia, Faixa de Gaza, os campos de refugiados e todos aqueles que emigraram. Em uma hipotética reconfiguração do Estado Palestino, reunindo toda essa população, o resultado da guerra interimperialista poderia levar à concretização dessa tendência. No entanto, a autodeterminação nacional é impossível.

O motivo para isto é que a Palestina possui classes sociais e frações de classes com interesses distintos que não são solucionáveis com nenhuma proposta nos parâmetros da sociedade capitalista. A burguesia palestina, embora frágil neste momento, não hesitará – em seu próprio Estado ou território – em realizar alianças futuras com outros Estados capitalistas para melhorar sua posição, garantindo a ampliação do domínio sobre a classe trabalhadora palestina e deixando-a em condições ainda mais miseráveis. No plano internacional dos conflitos entre as diversas burguesias, uma população (ou uma sociedade com suas classes sociais e demais elementos) sempre dependerá da decisão das potências imperialistas e dos conflitos regionais entre as classes burguesas. Assim como foi impossível a concretização da suposta autonomia e libertação da classe trabalhadora em território cubano e vietnamita na metade do século XX, a emancipação dos trabalhadores palestinos, curdos, sírios, etc. dependerá da revolução proletária em diversos países (especialmente as potências imperialistas) para se tornar uma realidade.

Neste sentido, as expressões políticas presentes nesses setores “revolucionários” que se vinculam a reivindicações nacionalistas e estatistas representam um obstáculo para a luta proletária, o que os coloca em uma perspectiva contrarrevolucionária semelhante ao bloco reformista. Tais mistificações precisam ser seriamente discutidas, confrontadas e superadas para que a intervenção política esteja efetivamente favorecendo a luta por uma sociedade radicalmente diferente. Neste sentido, desenvolveremos um último tópico que visa oferecer breves apontamentos acerca das tendências que poderão emergir a partir dessa guerra.

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Palavras Finais

A situação no território palestino está em ruínas. A maior parte das classes inferiores que sobrevive na Faixa de Gaza recebe migalhas enviadas de Israel e de outros países e organismos internacionais, a chamada “ajuda humanitária”. Os conflitos entre facções rivais colocam a região sob um constante estado de guerra civil aberta e as consequências visíveis são o sofrimento diário dessas classes, atacadas com os bombardeios e violência sistemática exercidas por todos os lados na guerra interimperialista.  

Nestas condições, a luta do proletariado, a classe capaz de destruir as relações de produção capitalistas, aparece como um objetivo distante. O que aparece imediatamente é a necessidade de sobrevivência no escombro dessas ruínas, o que pode depender da “boa vontade” das potências imperialistas. Diante de questões urgentes, observa Gilles Dauvé[20], os revolucionários não têm capacidade de fazer mais do que podem os próprios trabalhadores nas situações e países em que se encontram. Isto não significa que devemos nos abster e deixar de avaliar as ações e justificativa daqueles que apoiam a guerra, de um lado ou do outro, ou protestam pelo fim da guerra, manifestando solidariedade e apoio de acordo com a respectiva estratégia política.

Quando a situação é sombria, a vontade de agir se torna mais premente e as pessoas sentem-se tentadas a tomar algum lado na questão para mostrar uma forma de compromisso político. A pressão para se posicionar pode ser assim uma forma de abandonar completamente certos princípios que aparentam pouco razoáveis, e em certo sentido, irrealizáveis, pelo menos na situação momentânea. Para esta questão, gostaríamos de retomar uma discussão que envolve dilemas que passam da estratégia política para os princípios que várias organizações e militantes revolucionários reivindicaram em outras guerras entre Estados capitalistas, seja em 1914 ou 1940. Essa discussão se impõe a nós ainda hoje, permanecendo válida na análise da luta de classes.

No plano estratégico, o que se configura de imediato é o vínculo com o problema específico, momentâneo, que os trabalhadores de origem palestina foram arrastados e onde não há muita margem de escolha para se fazer. Não levantamos ilusões sobre o estado de guerra civil e de dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores palestinos, e no outro lado da trincheira, em menor grau, pelos trabalhadores israelenses. No caso do lado palestino, o fim ou o cessar-fogo poderia levar à ampliação dos “direitos civis” dos árabes palestinos, colocando em xeque uma alteração na correlação de forças políticas nacionais, que, no entanto, continuariam dependentes da guerra interimperialista entre as grandes potências imperialistas e de conflitos regionais. Frente a essa alternativa que se assemelha à ideia do “mal menor”, a substituição do reacionário Hamas por outras forças mais “democráticas” e a trégua com o Estado de Israel, o que se impõe com maior possibilidade é a consolidação dessa organização burocrática, apoiada por vários trabalhadores palestinos.

Temos, neste apoio parcial, um véu ilusório que cria obstáculos às ações de resistência. O Hamas, inimigo dos trabalhadores palestinos, assegura a hegemonia burguesa com a difusão de ideologias nacionalistas, valores e doutrinas religiosas conservadoras (sunitas), articulando-as com o projeto de “libertação” (dominação) da Palestina e fortalecimento de uma nação baseada nos princípios da Sharia, ampliando assim o seu controle político territorial. Estes obstáculos podem levar ao reforço do patriotismo, o último refúgio da burguesia, e, consequentemente, as duas alternativas mencionadas (emergência de outras forças “democráticas” ou ampliação do controle do Hamas sobre o território palestino) garantiriam – em maior ou menor grau – os fundamentos dessa sociedade (a propriedade privada, a exploração de mais-valor, o racismo, a violência, etc.).

Por outro lado, os trabalhadores israelenses já demonstraram em vários protestos a insatisfação com o governo de Netanyahu e, em vários casos, com o tratamento dado aos trabalhadores palestinos. Mas, neste momento, a perspectiva burguesa em defesa do aprofundamento das “liberdades democráticas” e pelo fim dos ataques militares de Israel são as pautas que hegemonizam as manifestações em curso. Uma queda do governo atual e sua substituição por outro, “mais democrático”, não mudaria radicalmente as relações mantidas por Israel com os Estados Unidos. O interesse na retomada e desenvolvimento do bloco regional capitalista permanece, como visto na tentativa de fortalecimento da aliança Israel-Estados Unidos-Arábia Saudita no Oriente Médio, e, por sua vez, as condições de dominação dos trabalhadores palestinos e israelenses pelas burguesias nacionais e suas aliadas não seriam alteradas em quase nada nesse cenário.

À primeira vista, portanto, a defesa dos interesses imediatos do proletariado de ambos os lados leva a um beco sem saída. Se em um primeiro momento, os trabalhadores palestinos e parte dos israelenses demonstram indignação com os ataques do Estado sionista, e realizam manifestações espontâneas, em regiões próximas o contexto é marcado também por insatisfação, aliada ao número crescente de protestos em inúmeros países contra essa guerra. A pressão pelo fim da guerra existe, bem como a solidariedade ao “povo palestino”. No entanto, restringir a solidariedade e a estratégia política às ações defensivas, cria uma oposição ao que podemos chamar de interesses históricos do proletariado.

Deste modo, a solidariedade à resistência dos trabalhadores palestinos e o reconhecimento dos seus problemas particulares são questões para lidar, que, no entanto, não podem ser separadas do significado que a luta de classes pode assumir e tem desenvolvido em sentido mundial. A guerra interimperialista amplia o conflito para outras regiões e pode gerar consequências devastadoras para a classe trabalhadora em todo mundo. É por isso que, mais do que nunca, a posição internacionalista enunciada por Marx em 1848, em seu Manifesto Comunista, permanece atual. De acordo com Marx, os revolucionários devem fazer prevalecer os interesses comuns, independentes da nacionalidade, e representam os interesses do conjunto do proletariado em suas diversas fases de desenvolvimento na luta contra a burguesia. Atualmente, o conflito assume a forma de guerra entre vários Estados capitalistas, o que pode, em um futuro próximo, tornar-se uma nova guerra mundial.

Assim, a solidariedade somente poderá ser efetiva com o desenvolvimento da luta do proletariado contra a sua classe dominante e sua união como classe revolucionária, um princípio que muitos denominam de derrotismo revolucionário. Este princípio se torna ainda mais presente em situações de guerra nas quais os trabalhadores estão envolvidos diretamente (palestinos e israelenses) e indiretamente (as potências imperialistas como os EUA). Ações como sabotagem na produção de armamentos, deserção nos campos de batalha e solidariedade entre os soldados de ambos os lados se configuram como formas de enfrentamento às classes capitalistas envolvidas na guerra interimperialista, abrindo a possibilidade para a radicalização de lutas em outros países. É em direção à radicalização da luta de classes, a constituição do novo ou do ainda-não-existente[21], que defendemos o combate a toda forma de nacionalismo, Estado nacional, guerra e de outros problemas que são derivados do modo de produção capitalista.

O proletariado (israelense e palestino) pode não ter apresentado seus interesses históricos e se colocado como classe autodeterminada nos últimos anos. Esperar assim a luta contra a sua burguesia é um exercício distante das condições históricas e sociais que se apresentam concretamente. Mas quando o fizer, todo o apoio será necessário. Enquanto essa luta revolucionária em Palestina-Israel não se mostra uma tendência realizável, não podemos ignorar o movimento subterrâneo amplo que carrega consigo a potencialidade da revolução proletária. Nos últimos anos, houve avanços de lutas proletárias em outros países (Turquia, Irã, China, etc.), o que demonstra que a classe operária não foi varrida da história e sua luta ocorre diariamente.

As lutas operárias no processo de produção, em seu caráter defensivo e cotidiano, demonstram a recusa das relações capitalistas na prática, mas ainda carecem de consciência e projeto revolucionários. Há momentos que a espontaneidade, a recusa prática, se desdobra em lutas autônomas, articulando ações coletivas que ganham maior nível de radicalidade e de consciência, embora essas lutas ainda manifestem vários limites e dificuldades.

Por fim, a lutas autônomas podem chegar ao estágio revolucionário, o momento em que a luta é hegemonizada pelo movimento operário e a recusa do capital é acompanhada pela afirmação de outra sociedade radicalmente diferente, a autogestão social. Há a união entre prática e consciência, são criados os conselhos revolucionários que se generalizam por toda a sociedade e a contrarrevolução burguesa é combatida para garantir a vitória da revolução. São estas lutas autogestionárias, cujo núcleo empurra as classes sociais inferiores e setores descontentes da sociedade, que poderão colocar um fim às guerras e, em última instância, um fim à sociedade capitalista.

Tendo em vista a luta autogestionária, os militantes e organizações que se pretendem revolucionários[22] devem apoiar e reforçar as condições para a concretização da autogestão social, combatendo os falsos representantes do proletariado (partidos, sindicatos[23], etc.) e não o deixando cair nas mãos da burguesia. A estratégia revolucionária pressupõe a análise dos problemas específicos, sem abandonar o objetivo final de emancipação humana. Essa unidade estratégica aponta para uma política revolucionária prática e consciente, que não se prende a problemas imediatos (a situação particular dos trabalhadores palestinos, israelenses, árabes, judeus), nem abandona o objetivo final (a emancipação de todos os trabalhadores com a abolição do capitalismo).

Diante do massacre que se encontra a classe trabalhadora em uma região dividida por muros de concreto, separando palestinos e israelenses, a luta pela construção de uma vida nova, livre de divisões e da exploração, opressão e violência, não pode ser substituída pelo abandono da revolução proletária. Esta vida nova é o que chamamos de autogestão social, um mundo com seres humanos livremente associados que estabelecem conscientemente relações de produção e distribuição autogeridas. Desta forma, a única proposta concreta que pode efetivar a paz mundial se encontra na política revolucionária do proletariado.

Crítica Desapiedada (Outubro de 2023)


[1] A expansão do capital bélico aquece com a ameaça de guerra, pois a compra de armamentos é incentivada e justificada. Neste contexto particular, o capital bélico, como toda empresa capitalista que precisa de lucro, vende para os seus principais compradores, os Estados nacionais, realizando a acumulação de capital. Em sentido geral, a guerra favorece também outras frações do capital, uma vez que ela é determinada pela própria essência do modo de produção capitalista: o lucro. Quando a taxa de lucro médio atinge um patamar muito baixo, a competição entre os capitalistas se acirra e uma estratégia para combater esse declínio é o confronto violento entre os Estados com o objetivo fundamental de aumentar a exploração em novos territórios.

[2] Informações sobre o aumento do lucro do capital bélico nos últimos anos podem ser acessados aqui e aqui. Em 2021, o gasto militar mundial bateu recorde e superou US$ 2 trilhões. Os Estados Unidos dominam a maior fatia desse mercado.    

[3] O leitor poderá consultar esse texto no seguinte link: Política Revolucionária e Guerra Mundial: A capitulação ideológica frente ao conflito

[4] A discussão da teoria do regime de acumulação é baseada no livro O Capitalismo na Era do Regime de Acumulação Integral (2009) e nos artigos “Tendências do Regime de Acumulação Integral na Hodiernidade” (2023) e “A Acumulação Integral e a Dinâmica do Capitalismo Contemporâneo” (2022), todos escritos por Nildo Viana.

[5] Acompanhando a instabilidade política e econômica, o ano de 2008 ampliou uma onda de lutas sociais que vem impactando e criando rachaduras nos alicerces do regime de acumulação integral. Para uma compilação informativa das lutas de classes que datam dos últimos cinco anos (2018-2022), o texto “A maior onda de revoltas populares da história da humanidade (Parte 1)” (Granamir) é útil. Outra leitura informativa que aborda praticamente o mesmo período de lutas sociais (2018-2021) pode ser acessada nos blog’s Amanajé e Communismo Libertário.

[6] A dificuldade significa que o regime de acumulação integral passa por um momento de desestabilização, enfrentando vários problemas que estão contribuindo para o declínio da taxa de lucro. O que pode agravar ainda mais a dissolução do regime de acumulação integral é a ampliação de crises locais (políticas, fiscais, ambientais, etc.) que podem se generalizar e reforçar a radicalização das lutas sociais. Deste modo, as crises no capitalismo podem virar uma crise do capitalismo, o que abre as portas para fortalecer a luta pela tendência que aponta para uma sociedade comunista (autogerida), ou para a criação de um novo regime de acumulação que daria continuidade ao capitalismo.

[7] Existe na sociedade capitalista uma ampla divisão social do trabalho que cria uma complexa divisão de classes sociais. Para ilustrar essa composição social, o marxista Nildo Viana realiza uma distinção entre classes superiores e classes inferiores (ver: Classes Inferiores e Classes Superiores). As classes superiores e inferiores são as classes sociais agregadas (unidas) por sua situação de classe, vinculadas à posição e função exercidas na divisão social do trabalho e na pirâmide social. Existe a tendência das classes superiores se unificarem em torno da burguesia, e das classes inferiores se unificarem em torno do proletariado. No plano concreto, as classes superiores possuem maior poder e renda, como é o caso da burguesia, burocracia, intelectualidade, etc., embora a única classe detentora do capital seja a burguesia (a classe dominante). Por outro lado, as classes inferiores são destituídas de poder, possuem menor renda e correspondem às classes proletárias, serviçais (subalternos), lumpemproletários e outras que serão também consideradas em nosso texto como a classe trabalhadora ou simplesmente trabalhadores. Neste último caso, revezaremos o uso dos termos, empregando “classe trabalhadora”, “trabalhadores” e “classes inferiores” como sinônimos. Isto é feito aqui com um caráter didático, evitando a repetição. No entanto, alertamos que, em nossa concepção, a única classe trabalhadora assalariada produtiva é o proletariado. Uma discussão mais detalhada e profunda da teoria das classes sociais no capitalismo pode ser vista no artigo já mencionado anteriormente e em suas referências bibliográficas.

[8] Após eleições de 2006, o Hamas se tornou vitorioso, conquistando maioria para o CNP (Conselho Nacional da Palestina), e passou a governar a Faixa de Gaza, e o Fatah (principal partido político pertencente à Autoridade Nacional Palestina) a Cisjordânia, dividindo o território politicamente. Nosso propósito não é desenvolver todo esse contexto histórico mais amplo e por isso o apresentamos de forma resumida. O leitor poderá acessar informações detalhadas dessa disputa entre as principais facções políticas no território da Palestina, o acordo de Oslo em 1993, o início das sanções e bloqueio de Israel e outros aspectos nos seguintes artigos: On the situation in Gaza (Konflikt) e Israel’s crisis and the Palestinian resistance (Toufic Haddad e Ilan Pappé).

[9] Para uma análise das primeiras revoltas espontâneas (chamadas de Intifadas) iniciadas por trabalhadores palestinos nos anos 1987 e 1993, sugerimos conferir a análise desenvolvida pelo boletim Worldwide Intifada: Palestinian Autonomy or the Autonomy of our Class Struggle? (1992).

[10] Além desse confinamento na área de Gaza, os árabes palestinos na Cisjordânia vivem sob vigilância e em Israel “desfrutam” de direitos civis limitados.

[11] Há outra organização militar na Faixa que atua em um papel secundário: a Jihad Islâmica. O Hamas e a Jihad Islâmica são financiados pelo Irã. Várias informações utilizadas para explicar o contexto do ataque do Hamas foram retiradas do artigo “O “11 de setembro” de Israel mudará o Oriente Médio”, de Mikhail Magid.

[12] Hezbollah é um grupo libanês apoiado pelo Irã e com maior poderio militar. O Hezbollah também participou do ataque militar no dia de 7 de outubro e alertou que poderá entrar em guerra com Israel, caso este invada a Faixa de Gaza por terra.

[13] Os dois grandes blocos imperialistas em desenvolvimento são: o bloco que possui os Estados Unidos como principal potência e as suas principais alianças na União Europeia, em oposição ao bloco que possui a China como principal potência e aliados como o Irã e a Rússia.

[14] Os setores oposicionistas expressam uma parcela da sociedade civil que não inclui a classe proletária, a classe vinculada às relações de produção capitalistas. Essa parte descontente é composta de numerosos lumpemproletários, serviçais (ou subalternos), trabalhadoras domésticas, pequenos grupos de intelectuais, indivíduos burocratas e outros trabalhadores assalariados. É composta também pelos grupos sociais oprimidos, como jovens, estudantes e outros que, geralmente, possuem vínculo (direto ou indireto) com as classes inferiores. Os setores oposicionistas podem ser analisados nas manifestações populares com caráter policlassista que não exprimem a hegemonia proletária, ainda que indivíduos proletários possam participar dessas manifestações. Dois exemplos recentes que ilustram estes casos são os protestos de Junho de 2013 no Brasil e a revolta dos Coletes Amarelos na França em 2018.

[15] Uma crise no capitalismo contemporâneo com consequências mundiais pode resultar no retorno aos regimes de acumulação de exceção, como o nazifascismo, e na ampliação de ditaduras militares. Mas, em outros contextos, como a I Guerra Mundial, o agravamento da miséria gerou mudanças e descontentamento na frente de batalha (especialmente na Alemanha e Rússia) e assim surgiram os conselhos revolucionários. É esta a tendência que lutamos, como poderá ser visto no último tópico.

[16] Quem está presente no fogo cruzado são os trabalhadores palestinos. A burguesia palestina sequer está no fogo cruzado e vive no exílio ao lado da cúpula burocrática das organizações.

[17] Confira o texto no seguinte link: https://alertacomunista.wordpress.com/2023/10/09/on-never-ending-israel-palestine-conflict/?fbclid=IwAR0zG2uzXmWwOWjBWZBcqbQXHUegJwSql1d-OWgRd_zy-pPrWz593iBmh-w. Para uma tradução em português: Sobre o interminável conflito entre Israel e Palestina (2018).

[18] Conferir: Rússia, Guerra Estatal e Luta de Classes, de Nildo Viana.

[19] Nessa guerra no Oriente Médio, a ideologia nacionalista possui outra função que é reforçar as divisões étnico-nacionais entre os trabalhadores israelenses e palestinos, enfraquecendo a solidariedade e aumentando a discriminação e a competição.

[20] Em seu artigo “A Paz é a Guerra” (2022).

[21] De acordo com Ernst Bloch, o ainda-não-existente expressa o conteúdo da consciência que ainda não se manifestou nela de forma clara, que ainda está alvorecendo a partir do futuro. Seguindo as possibilidades que a realidade se coloca, não sabemos se a tendência que queremos necessariamente será concretizada. É a própria dinâmica da luta das classes que dirá quais as tendências que serão confirmadas ou não. No entanto, a tendência que defendemos é aquela que carrega uma dimensão utópico-concreta, expressa em diversos momentos históricos (Comuna de Paris, Revolução Russa, Alemã) que apontam para a consolidação uma sociedade radicalmente diferente.

[22] Não poderíamos deixar de mencionar alguns indivíduos e organizações que escreverem sobre o mesmo tema, manifestando em seus textos uma posição internacionalista proletária, embora com diferenças nos aspectos teóricos, metodológicos, nas proposições políticas e estratégicas, etc. Citamos os seguintes artigos: “A guerra entre Israel e o Hamas em uma perspectiva crítico-radical” (Pablo Jiménez – Chile), “Contra o nacionalismo palestino e israelense” (Barbaria – Espanha), “A última carnificina no Oriente Médio faz parte da marcha para a guerra generalizada” (Tendência Comunista Internacionalista), “Nenhuma guerra, senão a guerra de classes!” (Manifesto em conjunto com Editora Amanajé – Brasil) e “A classe trabalhadora e a guerra Israel-Palestina” (Fredo Corvo e Aníbal – Holanda/Espanha). Há, sem dúvidas, outras organizações políticas, militantes e páginas virtuais que manifestaram uma posição similar, mas estes exemplos são suficientes para ilustrar o que pretendemos dizer com um posicionamento internacionalista e proletário.

[23] Em nossa concepção, os partidos políticos e sindicatos são organização burocráticas, contrárias aos interesses históricos do proletariado. Isto não significa que somos contra a intervenção das organizações políticas revolucionárias (ou autárquicas) na luta de classes. Estas organizações podem fazer o que Marx considerou como o papel dos comunistas: não constituem uma organização separada dos interesses do conjunto do proletariado, nem estabelecem princípios particulares que buscam dirigir ou controlar o movimento. Há outras teses desenvolvidas por Marx nessa questão, mas estas que destacamos são suficientes para ilustrar nosso argumento de que as organizações revolucionárias não buscam substituir a classe operária em sua luta e defendem a autoemancipação, posições antagônicas ao caráter burocrático das organizações que buscam substituir a classe, dirigi-la e falsamente representá-la através dos mecanismos institucionais (ou ilegais) visando a conquista do aparato estatal.

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