A paz é a guerra – Gilles Dauvé

Original in French: La paix, c’est la guerre

[Nota do Crítica Desapiedada]: Confiram todos os textos listados pelo Portal que debatem o conflito na Ucrânia na seguinte publicação: Dossiê: Guerra da Ucrânia (2022) – A Perspectiva Proletária – Crítica Desapiedada.


“Os pequenos países como a Bélgica seriam sábios em ficar do lado do país mais forte se desejassem manter sua independência”. (O imperador Guilherme II ao rei dos belgas, novembro de 1913)

“Uma grande guerra é inevitável nas primeiras décadas do século XXI, mas implicará uma crise econômica amadurecida, um largo excesso de produção, uma forte baixa das rentabilidades, uma exacerbação dos conflitos sociais e dos antagonismos comerciais, exigindo ao mesmo tempo recompartilhar o mundo e regenerar todo o sistema. […] Não mais do que no passado, nenhum reformismo impedirá a marcha para um conflito, senão planetário, pelo menos mais que regional”. (10 + 1 questions sur la guerre du Kosovo)[10 + 1 questões sobre a guerra do Kosovo], 1999)

“Não acredite na propaganda, eles mentem para você aqui”. (Marina Ovsiannikova, interrompendo o jornal televisivo de um dos principais canais russos, 14 de março de 2022)

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“A guerra para a paz”… “a causa do fraco contra o forte”… “crimes contra a humanidade perpetrados no coração da Europa… um combate pela civilização”… “um genocídio em andamento na Ucrânia“.

A primeira citação é extraída do Droit du Peuple, jornal socialista, e a segunda do Times de Londres, jornal burguês, ambos escritos em 1914; a terceira provém do primeiro-ministro francês durante a guerra do Kosovo, em 1999, e a última do primeiro-ministro ucraniano, em 9 de março de 2022.

A imprensa francesa nunca falará da ditadura chadiana (apoiada pela França) como o fazem da ditadura bielorrussa (apoiada pela Rússia). Também não evocarão os milhões de civis mortos pelo exército francês e estadunidense nas guerras da Indochina e do Vietnã da mesma forma que os massacres de civis pelo exército russo na Ucrânia.

Nada de novo na lavagem cerebral, além da propaganda que se intensifica quando a guerra se aproxima do coração da Europa. A Rússia nega, proibindo as palavras “guerra” e “invasão” (o Estado francês esperaria muito tempo até 1999 para reconhecer oficialmente que entre 1945 e 1962 teria feito na Argélia uma “guerra” e não apenas “operações”). Os ocidentais eufemizam, entregando à Ucrânia armas por intermédio do “Mecanismo Europeu de Apoio à Paz”.

Quando as palavras incham, seus sentidos explodem. Em particular, genocídio se torna sinônimo de massacre, enquanto que a palavra designa a exterminação de um povo enquanto povo: Hitler o fez com os judeus, mas nem Stalin visava a eliminação do povo ucraniano no início dos anos 1930, nem mais tarde Pol Pot a do povo cambojano. Nem Putin a do povo ucraniano.

Mas, antes de ser mental, a confusão é na prática. Se os ideólogos estão confusos, se todo mundo pôde se reivindicar do socialismo, do comunismo, do proletariado, da revolução (título do livro publicado em 2017 pelo atual presidente da república francesa), é porque até aqui os movimentos sociais não realizaram um programa que rompesse com a ordem das coisas. Então, na mitologia política e no discurso, tudo é permitido. O socialismo tendo sido nacional em 1914, os nazistas puderam se reivindicar dele: o nazista é o “nacional-socialista” (Nationalsozialist).

É quando somos reduzidos à passividade pelas lutas fracassadas ou desviadas que recebemos informações e imagens como espectadores de uma realidade contra a qual não podemos reagir provisoriamente.

Previsão impossível, certeza teórica

Quem teria previsto que em 2022 a Rússia lançaria uma operação de uma amplitude tão vasta contra uma também grande parte do território da Ucrânia?

“Nós vamos diretamente em direção a um conflito armado entre a Inglaterra e os Estados Unidos [e] esse conflito pode ser datado com exatidão máxima”, declara Trotsky no III° Congresso da Internacional comunista em 1921.

Um século mais tarde, ignoramos as linhas de uma fratura e a delimitação dos “campos” engajados em futuros conflitos. Mas nós sabemos que as rivalidades entre grandes potências capitalistas – Estados Unidos hoje dominantes, China, Rússia renascente, União Europeia até aqui incapaz de se constituir enquanto entidade política – acumulam as condições para guerras regionais e um dia mundiais.

Tudo é feito para nos persuadir de que os Estados contemporâneos cedem à violência militar por motivos exteriores à natureza profunda de um sistema capitalista que supostamente é promovedor de paz. No século XIX, se a Rússia parte em guerra, a causa seria o retorno de um nacionalismo felizmente ultrapassado no oeste mas revivido no leste por um poder ditatorial de ambições desmesuradas.

Na realidade, a concorrência entre empresas capitalistas nunca foi doce, nem o comércio internacional fator de paz durável. Ao contrário de uma opinião corrente antes de 1914, e retomada por certos socialistas como Kautsky, a interdependência econômica das grandes potências não os impede de guerrearem. O dinamismo industrial e mercantil desenvolve uma zona dependente de outra, cria polos rivais, cada um baseado sobre um território e apoiado sobre uma foça estática que é também militar.  

Ocidente pacífico, Rússia belicosa

O capitalismo estadunidense raramente teve a necessidade de ocupar países: sua superioridade econômica, sua produtividade mais elevada, seus investimentos estrangeiros diretos permitem aos Estados Unidos um controle suficiente sobre grandes partes do mundo sem enviar tropas. Na Itália ou na França depois de 1945, e no leste da Europa depois de 1991, a potência estadunidense baseava-se pelo menos tanto nas multinacionais quanto nos soldados. Alemanha e Japão foram ocupados somente em consequência da Segunda Guerra Mundial, e a manutenção de tropas estadunidenses tinha por objetivo primeiro conter o rival russo. Os Estados Unidos não se privam de intervir militarmente em suas fronteiras, como no México em 1914, mas somente para tentar instalar ou restabelecer ali os dirigentes políticos que lhes convém: eles não têm necessidade de ultrapassar o rio Grande para promover seus investimentos nas empresas maquiladoras.

Ainda que seja uma superpotência, a Rússia, ao contrário, como antigamente a URSS, se baseia em uma dinâmica capitalista muito inferior à dos Estados Unidos, da Europa Ocidental (e da China), e o essencial de sua força sobre o mercado mundial de exportações de gás e de petróleo. Também ela tende a procurar um controle sobre seus vizinhos para se assegurar de que eles permaneçam em sua órbita. Não somente, como os países da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), ela faz de seu papel de grande produtora de matérias-primas uma arma econômica e política, mas sua potência militar lhe permite também (por enquanto) tornar os países da Ásia central dependentes, e de desempenhar um papel internacional do qual poucos países no mundo têm os meios (a China é incapaz – no momento). Não é ilógico para os dirigentes de uma Rússia em posição de fraqueza no mercado mundial acreditarem na garantia da potência do país (e sua perpetuação no poder) recorrendo mais diretamente que seus rivais às forças do exército. Até porque, ao contrário da época em que a influência da URSS era mundialmente transmitida pelos PC stalinistas, a Rússia do século XXI não dispõe do soft power do qual desfrutam os Estados Unidos.

Mas por que se engajar hoje em uma guerra na Europa?

Depois de 1945, a URSS dispunha de um império, e os Estados Unidos da metade do planeta. Os Estados Unidos lançados em uma nova era de expansão não sentiam nenhuma necessidade de recuperar o mercado polonês e chinês, e a Rússia consolidava seu acúmulo do capital sem poder oferecer nada além da ideologia para a Europa Ocidental.

O confronto se desenrolava na periferia (Coreia, Indochina, Oriente Médio, África), e quando eles se aproximavam de um precipício (crise dos mísseis de Cuba, 1962), os Estados Unidos e a URSS recuavam. Cada superpotência reconhecia a hegemonia do adversário sobre sua zona onde agia quase como queria (Guatemala, 1954; Hungria, 1956; Muro de Berlim, 1961; Tchecoslováquia, 1968, etc.). As crises, numerosas, foram controladas sem confrontos na Europa, sem recurso aos exércitos durante o bloqueio de Berlim (1948 – 1949), por exemplo. Dois campos se opunham, relativamente iguais no sentido em que cada um era forçado a respeitar o território do outro, mas muito diferente no plano socioeconômico.

O capitalismo “burocrático” tinha conseguido promover a industrialização e criar uma potente economia de armamentos, mas se mostrava incapaz de organizar trabalho e capital de forma produtiva. A dominação de uma classe coletivamente proprietária tanto do capital quanto do Estado travava a concorrência – motor do capitalismo – e tinha resultado em criar feudos que tinham a sua força não de uma melhor produtividade industrial e comercial, mas de ligações privilegiadas com o Estado. A crise do capitalismo “burocrático” russo terminou por se resolver em um sistema em que as “oligarquias” são apenas os detentores de monopólios totalmente dependentes do poder político[1]. Inapto a rivalizar com o mercado mundial e a investir no estrangeiro (como conseguiu a China), a classe dirigente russa tem por única garantia de continuidade apenas a prioridade à potência militar. Não importa o que pensem do “Produto Interno Bruto”, suas estatísticas dão uma ordem de grandeza: em dólares, o PIB é de cerca de 20 trilhões para os Estados Unidos, 13para a China, 4 para a Alemanha, e 1,6 para a Rússia, sendo o equivalente da Coréia do Sul ou da Itália. A Rússia é apenas uma (grande) potência regional.

Depois de 1989, o dinamismo superior dos Estados Unidos e da Europa Ocidental acabou por reganhar pacificamente sobre a Rússia o espaço leste-europeu que a URSS tinha conquistado pela guerra em 1945.

O equilíbrio do terror foi também um equilíbrio social em cada um dos dois campos: a emergência ou o ressurgimento de novos concorrentes (Alemanha, Japão, China…) veio romper esse status quo, abrindo ao fim a possibilidade de conflito armado no coração da Europa.

O gigante soviético não tinha antigamente nenhum interesse em se lançar em uma reconquista da Europa Ocidental: no século XXI, a – relativa – fraqueza da Rússia cria um risco de guerra em toda a região europeia. Depois das secessões forçadas de regiões periféricas (Transnístria, Abecásia e Ossétia) e a ocupação da Crimeia, a invasão da Ucrânia é uma nova tentativa da Rússia em preservar o que ela tem dificuldade de manter junto.

É frequentemente a grande potência mais fraca que toma a iniciativa da ofensiva. No século XIX, quando a Inglaterra dominava o mundo, ela atacava apenas países “subdesenvolvidos”, conduzindo guerras coloniais na Índia e na África. No início do século XIX, outros imperialismos questionaram sua hegemonia: a potência econômica alemã veio prejudicar o famoso “equilíbrio europeu”, e a do Japão ameaçou a Ásia. Depois de 1945, tudo se acalmou por algumas décadas graças à partilha russo-estadunidense do mundo (a Índia e a China permanecendo separadas). Mas hoje, o peso da União Europeia recai sobre os ex-stalinistas russos, e o da China sobre a Ásia.

A URSS era imperialista em sua zona de influência e em suas margens, compensando sua fraqueza social ao se proteger atrás de satélites limítrofes que serviam de tampão entre os dois blocos separados, mas nunca impermeáveis: essa margem quase não existe mais.

Da Coreia ao Afeganistão, passando pelo Vietnã e pela Angola, Estados Unidos e URSS não tinham deixado de combater por procuração, mas dessa vez a periferia está próxima.

Se os outros imperialistas fazem guerra apenas no Oriente Médio e na África, a OTAN se expandiu progressivamente ao leste europeu, e Finlândia e Suécia se prepararam para se juntar à aliança.

Em 1998, Georges Kennan (1904 – 2005), diplomata e arquiteto depois de 1945 da contenção (containment) da URSS, julgava essa expansão pouco prejudicial: “Nós nos engajamos em proteger todo o conjunto de países sem ter nem os meios nem a intenção de fazê-lo seriamente”. Dez anos mais tarde, um relatório da CIA alertava contra a entrada da Ucrânia na OTAN: isso seria ultrapassar a linha vermelha mais grave aos olhos não apenas de Putin, mas de toda a elite russa, e encorajava a interferência russa na Criméia e no leste da Ucrânia.

Os pregadores de moderação esquecem que a contenção e a repressão (roll back) caminham juntas quando os Estados Unidos estimam necessário e possível, como praticaram e reconheceram Truman e Eisenhower em seu tempo. Depois de mais de vinte anos, a OTAN contém e reprime ao mesmo tempo a Rússia. É normal que um Estado ou uma aliança se beneficie de um recuo do concorrente para avançar seus próprios peões. A URSS fazia assim antigamente (tentativa abortada de criar uma República autônoma do Azerbaijão no norte do Irã em 1945, de se estabelecer na Ásia, na África…). Em 2022, como antigamente a URSS armando o Vietnã do Norte, a OTAN conduz por sua vez uma guerra por procuração contra a Rússia.

O que quer que ela seja, a paz russo-ucraniana será uma continuação da guerra por outros meios. Ao nível da Europa, o desafio é saber se a União Europeia se limitará a uma zona de livre comércio, ou se dará uma direção política em torno de um pivô franco-alemão, dispondo de um exército “europeu” – hipótese cada vez menos provável em vista da presente evolução, que conforta a dominação estadunidense sobre a OTAN. Ganhar (ou não perder) não tem de toda forma o mesmo sentido para a Rússia (potência forte mas regional) e para os Estados Unidos levados a concentrar sua potência mundial contra o que se tornou seu principal adversário: a China. Mas nós evitaremos de imitar Trotsky em previsões aventurosas.

Racionalidade = 600 milhões de mortos

Contudo, a invasão russa surpreendeu. Em 2014, a fraqueza dos rebeldes do leste do país tinha impulsionado a Rússia a intervir militarmente ali para ajudar no nascimento das “repúblicas populares” de Donetsk e de Lugansk. Mas dali a tentar invadir uma grande parte do país e cercar Kiev…

Em 1982, foi “racional” para a Grã-Bretanha expedir uma armada ao fim do mundo a fim de conservar algumas ilhotas a priori sem valor econômico ou importância estratégica? Pode-se racionalmente estimar que Hitler não tinha nenhuma chance de triunfar contra a coligação anglo-russo-estadunidense, mas julgava possível vencer a URSS antes que os Estados Unidos mobilizassem toda sua potência industrial. A guerra, como se sabe, é “o reino da incerteza”. Em 1914, os estados-maiores imaginavam terminar em seis meses. Quando eles entraram no Afeganistão, russos (1979) depois estadunidenses (2001) acreditavam que uma intervenção massiva permitiria vencer um adversário considerado tanto logica quanto militarmente muito inferior. Através dele, o objetivo real visava consolidar um império – econômico para os Estados Unidos, quase colonial para a URSS – contra o rival, a um custo inicial julgado razoável. Os dois imperialismos podiam se tranquilizar se lembrando de suas operações bem sucedidas: na Hungria (1956) e em São Domingos (1965).

Mas o caso nunca é essencialmente militar. Em 1918, os beligerantes eventualmente pararam, menos constrangidos pela estagnação no terreno que pela desintegração do front interior, na Alemanha e sobretudo na Áustria-Hungria. Contrariamente, o regime nazista deixava uma guerra “total”, uma vez que foi feita de início para a dominação do povo alemão, e se este não se mostrava à altura do destino que os nazistas lhe designavam, para Hitler a Alemanha mereceria perecer. Geralmente, não se faz guerra para destruir, muito menos para destruir tudo – mas a lógica nazista aceita a autodestruição da Alemanha em 1945. A guerra opõe duas forças das quais nenhuma decide o que fará o outro, e a reciprocidade das ações contém a possibilidade da exacerbação. A autolimitação (evitar destruir o que se quer conquistar) encontra seus próprios limites. É uma coisa ser um assassino, uma outra ser um suicida, frequentemente um exclui o outro, entretanto Hitler fez os dois: para ele, a política estava no “tudo ou nada”.

Putin não é Hitler, mas também para ele o limite entre um objetivo parcial (modificar uma fronteira), e um objetivo total (forçar uma modificação de política, neutralizar o país) é facilmente ultrapassado: as vezes a direção política de um país o impulsiona a ir até o ponto em que ultrapassa seus riscos e perigos.

Mas o que é uma guerra vitoriosa ou perdida? E sobretudo, quais são suas consequências? Repete-se que as intervenções estadunidenses no Iraque e no Afeganistão se esgotam pelos erros, mas, tanto em Bagdá quanto em Kabul, trata-se de operações policiais de um grande país contra um pequeno. Nem os maiores interesses dos Estados Unidos, muito menos sua sobrevida, não estavam na balança. Ganhar, não é – no Vietnã de qualquer forma, não o era – necessariamente ocupar o país, é deixar de não mais estar ameaçado por ele: os Estados Unidos perderam no Vietnã em 1975, enquanto o país está há mais de 20 anos aberto aos capitais estrangeiros em busca de baixos salários…

Independentemente da conclusão que tenha o caso russo-ucraniano, em seu conflito com a Rússia, os Estados Unidos – e em seguida a União Europeia – buscam também se colocar em posição de força frente à China. Haviam duas superpotências nucleares: elas são agora três (quatro ou cinco contando a Índia e o Paquistão), e apesar de um uso futuro de armas atômicas não ser certo, seria ingênuo excluir a possibilidade alegando que teria efeitos catastróficos para a humanidade, mas igualmente para os mestres do mundo, ligados a suas posições e seus privilégios.

O único juiz dos “interesses vitais” de um país, e dos meios que ele escolherá para defendê-los, não é nem a humanidade, nem uma razão abstrata, nem uma definição da soberania: são os dirigentes que se encontram à frente do Estado. Se tivesse a bomba atômica, o nazista Hitler não teria hesitado em usá-la. O democrata Truman hesitou (eis aí uma das diferenças entre fascismo e democracia), e a usou duas vezes.

Cinco anos mais tarde, frente aos contratempos sofridos na Coreia, o presidente estadunidense declara considerar todas as possibilidades, “o que inclui todas as armas que nós temos”, inclusive a arma nuclear: “nós pensamos seriamente nisso”. A ameaça nuclear seria reiterada por Nixon contra o Vietnã do Norte (1969) e por Trump contra a Coreia do Norte (2017).

Nos anos 1960, estimando que a URSS era incapaz de sobreviver a um primeiro golpe atômico e de reagir com represálias importantes, o comando estadunidense considera um ataque atômico contra a URSS e a China, que causaria por volta de 400 milhões de mortes, mais de 100 milhões nos países vizinhos e tanto quanto na Europa Ocidental, sendo ao todo 600 milhões. Absurdo, tudo isso, diriam, o preço seria caro demais… Mas para quem? Os governantes não são loucos, nem os militares sedentos de sangue. Sua loucura não carece de método, diria Shakespeare: um monstruoso adversário exige o emprego contra ele de meios mais terríveis que os seus.

No início do século XXI, os Estados Unidos colocaram seus planos em prática, e a Rússia e a China os deles. A racionalidade estatal é agir segundo o interesse do país e o interesse de seus dirigentes, que coincidem. O objetivo é de se perpetuar, e não de se suicidar, mas exagero e excesso fazem parte da equação. Em 1914, os impérios não agiam irracionalmente, nem os nazistas em 1939 ou 1941. No Vietnã, a teoria dos dominós tinha sua própria racionalidade. Da mesma forma, a “estratégia do terror” ou para limitar sua própria destruição (Mutually Assured Destruction: MAD [Destruição mútua assegurada]), os Estados Unidos buscavam regularmente obter e proteger uma superioridade sobre a URSS, logo uma chance de prevalecer. Ao preço de centenas de milhões de mortos, mas é um preço que estamos prontos a pagar, pois, por mais horrível que seja, ele poderá ser julgado preferível à escravização por “inimigos do gênero humano” que nos trariam o pior.

Durante a guerra sino-japonesa, em 1938, o governo nacionalista destruiu diques do rio Amarelo para atrasar o avanço das tropas nipônicas: objetivo alcançado, e a enchente mata 500.000 chineses. Provavelmente o maior crime de guerra de toda a história, com essa particularidade de ter sido infligido por um exército contra sua própria população. No dia em que um governo, qualquer que seja, estimar razoavelmente matar 500 milhões para salvar um bilhão, ele o fará.

Os Estados Unidos disporão de cerca de 1.350 mísseis nucleares prontos ao uso (das quais uma centena em bases da Alemanha, na Itália, na Bélgica e nos Países Baixos), contra 1.400 do lado russo. Nesse nível de “sobredestruição”, a disparidade entre respectivas capacidades de overkill perde seu sentido.

Quando a nação está incompleta

Não importa o que se repita sobre uma globalização que teria absorvido estados e fronteiras sob a dominação de uma oligarquia financeira cosmopolita e de multinacionais trans-estatais, o planeta não é desterritorializado. Ele permanece organizado em entidades estatais: sem no entanto parecer com o “caldeirão” estadunidense, uns funcionam muito bem como estados nacionais, outros não, e os países que dominam o mundo pertencem ao primeiro grupo. Estados Unidos, China, Rússia, Índia são estados nacionais, e uma fraqueza até aqui não superada da União Europeia é não ser um conjunto nacional – federal ou não.

Um estado é um poder político capaz de se impor sobre um território que ele controla. O que um estado nacional tem de específico é “reunir componentes muitas vezes muito diversos pela língua, pela origem ou pela religião, graças à possibilidade de um desenvolvimento capitalista autocentrado sobre um território conquistado, tanto militar quanto fiscalmente. […] A nação pressupõe essa criação moderna, o indivíduo, um ser desembaraçado dos laços do nascimento e em princípio “livre” de se tornar burguês ou proletário, e ela responde à necessidade de religar esses indivíduos em uma comunidade nova enquanto as anteriores foram deslocadas. […] Para além dos indivíduos, a nação reúne classes […] por uma circulação fluída tanto do capital quanto do trabalho, uma relativa igualdade entre os níveis de produtividade das regiões […] Por si só, um mercado não é o suficiente: a adição de consumidores não faz coesão”. (La Nation dans tout son état [A Nação em todo seu estado], 2019)

Porque eles não se limitavam a exportar matérias-primas, ou a acolher capitais estrangeiros, mas dispunham de uma força industrial competitiva, os Estados Unidos foram capazes de integrar os territórios conquistados sobre o México em 1845-1848, que acrescentaram seis novos estados à União. É a capacidade de se inserir no sistema capitalista mundial que permitiu englobar o conjunto da população lhe dando uma aparência de “Estados Unidos da América”, além dos critérios de língua, de nascimento ou de religião. Portanto a hispanofonia não é a princípio ou essencialmente “espanhola” ou “latina”, ela é americana. Nós escrevemos o conjunto da população, não a totalidade, e esse conjunto mesmo flutuou: “nativismo” hostil aos novos imigrantes, limitação da imigração asiática, quotas antijudeus nas universidades de elite até os anos 1950, e melhor ser branco que African American… Apesar disso, o capitalismo promete uma (muito relativa) igualdade, inclusive no topo (homens e mulheres de cor se tornaram secretários de Estado, comandante de exércitos ou presidente dos Estados Unidos).

Onde uma tal unificação socioeconômica do país, e logo uma pacificação política, são impossíveis, ou incompletas, as disparidades de desenvolvimento entre as diferentes regiões encorajam o centro político a ignora-los, até mesmo discrimina-los, favorecendo forças centrífugas que tendem a se dissociar de um centro em si mesmo incapaz de domina-los.

Os países nascidos no século XIX a partir de regiões sucessivamente separadas do Império Otomano viveram uma instabilidade permanente, especialmente a Grécia, e a Sérvia, onde em 1903 a família real foi massacrada e substituída por uma nova dinastia. Essas nações incompletas estão presas no jogo de potências mais fortes que elas, a começar pela França e pela Inglaterra. Não sem inversões de alianças, a Grã-Bretanha temia que a independência de novos estados eslavos reforçasse a Rússia: na Guerra da Crimeia (1853 – 1856), ontem como hoje península de importância estratégica para a marinha russa, França e Inglaterra se aliaram à Turquia contra a Rússia.

No Oriente e nos Balcãs, as “minorias” representam um problema. Engels escreveu a Bernstein, em 22 de fevereiro de 1882: “Os sérvios foram divididos em três religiões. […] Mas para essas pessoas, a religião conta mais que a nacionalidade e cada crença quer dominar. Também uma Grande Sérvia só significará uma guerra civil, desde que não tenha progresso cultural, que tornará possível ao menos a tolerância”. A anexação austríaca em 1909 da Bósnia e da Herzegovina, onde viviam um milhão de sérvios, alimenta uma oposição entre o império austro-húngaro e a Sérvia – situação explosiva de onde virá a faísca de 1914, e que ressurgirá no final do século XX.

O movimento das “nacionalidades” de outrora, depois as lutas de liberação nacional no século XX, era uma novidade histórica de amplitude mundial, mas a criação de um conjunto nacional só é possível onde existir um desenvolvimento capitalista relativamente homogêneo e coerente: senão, “a religião [ou qualquer outro critério de identidade] conta mais que a nacionalidade”.

Não apenas a maioria dos novos estados sofrem com a desunião, mas, como Guilherme II destacava em 1913 ao rei dos belgas, se é frequentemente necessário para um pequeno país se pôr em campo, o jogo é arriscado.

Geralmente, a independência é adquirida graças a uma grande potência, e frequentemente em seguida garantida por uma outra, rival da precedente. Em 1948, o estado israelense nascente beneficiou exércitos checos, entregues com o acordo de uma URSS desejosa por enfraquecer a dominação inglesa na região: em seguida, Israel se virou para outros apoios. Da mesma forma, o Egito foi armado por um lado, depois por outro. Com o risco de reviravolta, os curdos foram apoiados pelos Estados Unidos em seu combate contra o Estado Islâmico, mas o que será do Curdistão Sírio se os estadunidenses derem a prioridade para a Turquia, pilar da OTAN na região?

A proteção de um “pequeno” país por um “grande” país não é necessariamente garantia de segurança. Em abril de 2008, a OTAN anuncia estar pronta para acolher a Geórgia e a Ucrânia: em agosto, a Rússia ataca a Geórgia. A distinção agressor/agredido indica o local de ruptura de um conflito, não sua causa nem sua lógica.

“Há muitos aspectos econômicos, financeiros, políticos e militares que determinam a política interior e exterior de um estado que este – sobretudo se ele se encontra em uma zona geopolítica de grande importância nas rivalidades inter-imperialistas, como a Europa do Leste – é obrigado a vender sua “independência”, e logo seu território, sua economia e seu governo a um dos polos imperialistas que pode melhor favorecer seus interesses nacionais ou pelo menos protege-lo das cobiças dos países inimigos”. (Partido Comunista Internacional, 24 de fevereiro de 2022)       

O que é um “ucraniano”? O que é um “russo”?   

“Nossa história é diferente!”, dizia um ucraniano para explicar por que derrubavam as estátuas de Lênin, enquanto por todo lado florescia o retrato de Stepan Bandera. O líder bolchevique simbolizaria ditadura e dominação estrangeira. Ao contrário, qualquer que seja sua responsabilidade na morte de centenas de milhares de judeus (e de vários civis poloneses), o militante nacionalista encarnava a aspiração ucraniana pela liberdade. Nascido em 1909, ele representa sobretudo as curvas e retornos inerentes a todo movimento nacional. Sucessivamente aliado e depois contrário aos alemães, que o prendem em 1941 porque não querem uma Ucrânia independente, depois combatendo ao seu lado, em seguida brevemente contra os soviéticos, colaborando depois de 1945 com os serviços secretos alemães e ingleses que até 1955 fomentam resistências antigovernamentais na Ucrânia, Bandera morre em 1959, provavelmente assassinado pela KGB: de início defensor de um nacionalismo ético, ele acaba adepto de uma certa social-democracia. Ideologia de circunstância, busca de aliados incompatíveis… o nacionalismo utiliza os apoios que ele encontra e troca, as vezes com sucesso, eventualmente às suas custas.

Tal como ela existe hoje, a Ucrânia não é a única realidade estatal recente na região: antes de 1914, poucos pensavam que existia um povo bielorrusso justificando criar um estado independente, e em Vilnius, capital da atual Lituânia, apenas uma pequena porcentagem de habitantes falavam lituano. Transcarpátia, Galícia (ex-austríaca) no oeste, Crimeia do Sul… os componentes da Ucrânia variaram ao longo do século XX, como o é chamado hoje de Rússia, Ucrânia, Polônia, Bielorrússia e Lituânia conheceram fronteiras em movimento desde 1917.

No entanto, os países que saíram dos impérios russo e otomano não sofrem somente de fronteiras exteriores frequentemente postas em causa, mas também, senão mais, do que poderíamos chamar de separações interiores.

O modo de produção capitalista reúne e unifica populações ali onde a relação salarial, uma circulação do trabalho como capital, e um desenvolvimento endógeno o permite. Em países como a França, a Grã-Bretanha, ou os Estados Unidos, coexistem diferentes línguas e religiões, mas uma língua domina, as vezes duas (o francês e o alemão na Suíça). O espanhol é a língua materna de 40 milhões de estadunidenses em 330 milhões, e eles professam uma religião católica em um país majoritariamente protestante, sem dar no entanto nascimento a um “etnoconfessionalismo”, sem que isso divida uma sociedade caracterizada pela “mobilidade mais forte dos operários, […] e uma incessante migração de um ramo de indústria ao outro […] uma contínua criação de modos de trabalhos novos […] em suma, uma divisão do trabalho crescente no conjunto da sociedade” (Marx, Um capítulo inédito do Capital, 1867)

Na falta dessas condições, os estados europeus nascidos depois de 1914-1918 sofrerão no período entreguerras (e, apesar das transferências de população, ainda sofrem) de um “problema de nacionalidades” minoritárias.

Nós não resumiremos os episódios, depois de 1918, opondo os bolcheviques, russos brancos, poloneses e diversos partidos e regiões do que é hoje a Ucrânia, sob a influência dos vencedores de 1914-1918, particularmente a França. Em 1920, com o apoio de uma parte da população local, a Polônia invadia o território ucraniano esperando ali criar um país-tampão a protegendo da Rússia. Ela fracassa, mas anexa as regiões ocidentais do país e uma parte da Lituânia e da Bielorrússia.

Em 1945, a fronteira polonesa é deslocada mais ao oeste, causando o deslocamento de milhões de habitantes: partida forçada dos “alemães” em direção à Alemanha, e de poloneses residentes na Ucrânia, na Bielorrússia ou na Lituânia para uma Polônia que acaba de receber a Prússia Oriental, a Pomerânia e a Silésia. Um dos objetivos é de constituir estados tendo uma população homogênea: “todos os países são construídos sobre princípios nacionais, e não multinacionais”, declara em maio de 1945 Gomulka, dirigente da nova Polônia.

Federada à URSS, a República Socialista Soviética da Ucrânia tinha então fornecido um terço da produção industrial da União, e sua economia permanecia dependente demais da Rússia para um desenvolvimento autocentrado favorecendo uma coesão social e política do país. A URSS desaparecida, a maioria dos cidadãos ucranianos tem uma boa prática da língua russa e milhões entre eles trabalham e residem na Rússia. Mas se, na bacia do Donets, alguns milhões de habitantes se dizem “russos” – diferentemente daqueles de Kiev –, e se a Rússia pôde manipular um “etnonacionalismo” separatista, é porque essa região e sua população foram apenas parcialmente integrados ao resto da Ucrânia.

A incompletude nacional se reflete na vida política. Os célebres “oligarcas” russos têm seus equivalentes na Ucrânia. Uma “princesa do gás” (Iúlia Timochenko) foi sua primeira-ministra, e um “rei do chocolate” (Petro Poroshenko) o presidente da república. O parlamentarismo ucraniano está longe das práticas da Europa Ocidental. Apesar da Ucrânia possuir uma indústria militar importante e uma agricultura exportadora, monopólios, por vezes reforçando impérios midiáticos, disputam e repartem o poder econômico-político entre si, e acontece do Estado nomear diretamente um oligarca governador de uma região. A Revolução Laranja de 2004 não acabou com isso, nem o Euromaidan em 2014.

Há vinte anos, Emmanuel Todd escrevia: “mesmo que se beneficie de capacidades para se distinguir culturalmente da Rússia, a Ucrânia é desprovida de dinâmica própria. Ela só conseguiria escapar da Rússia passando para a órbita de uma outra potência. Mas a América é longe demais e a Europa não tem uma potência militar e política. Mesmo que a Europa se tornasse uma, ela não teria interesse de colocar a Ucrânia em sua órbita. O caso da Ucrânia revela a inexistência concreta dos Estados Unidos no centro da Eurásia. Suas ligações econômicas com a Ucrânia são fracas. A única ligação real consiste em dar a ilusão da potência financeira através do papel ideológico e político do FMI. As trocas comerciais revelam na verdade a dependência da Ucrânia para com a Rússia e a Europa. Não sendo mais distribuidores do “plano Marshall” e não tendo nada a vender para a Ucrânia, os Estados Unidos não podem desempenhar nenhum papel no resgate do país”.

Para ganhar sua independência, depois de 1914-1918, o movimento nacional ucraniano estava sucessivamente apoiado na Alemanha, na Entente, ou seja, nos vencedores da guerra, depois, em 1920, na Polônia. Um século mais tarde, “a Ucrânia por muito tempo explorou as contradições entre a Rússia e o Ocidente, mas isso finalmente se mostrou um jogo perigoso. A Ucrânia contava mais para a Rússia que para qualquer outro país”. (Richard Sawka)

Em 2014, a Rússia tinha tentado federalizar a Ucrânia para sua vantagem, mas a anexação da Crimeia “não conseguiu mobilizar o apoio dos russos nativos fora da zona diretamente controlada pelo exército russo” (Id.). Em 2022, o Kremlin esperava reparar esse erro expandindo suas ambições para além da Bacia do Donets: o erro foi ter subestimado o fator nacional – no adversário.

As repúblicas populares de Lugansk e Donetsk foram adicionadas aos microestados nascidos sob a pressão armada da Rússia: Transnístria separada da Moldávia, Abecásia e Ossétia do Sul tomadas para a Geórgia.

Na ex-Iugoslávia, Belgrado havia criado entidades separatistas: na Croácia, a República Sérvia de Krajina (hoje desaparecida), e na Bósnia-Herzegovina, a Republika Srpska [República Sérvia] hoje parte integrante do país, mas onde o separatismo permanece bem vivo. Tornado independente em 2008, graças à ação da OTAN, o Kosovo não é, por sua vez, reconhecido como Estado nem pela ONU, nem pela União Europeia.

Mas se esses estados “fantoches” devem sua existência à guerra, outros tentam emergir sob a pressão de um dinamismo econômico e social que lhes dá uma capacidade de autonomia impulsionando a separação: a Catalunha, a Escócia, a Flandres e a Padânia (somente os dois primeiros têm chance de conseguirem). A potência socializadora mundial extraordinária do capitalismo é também uma força desagregadora, compondo, desfazendo e reformando conjuntos de populações.

A guerra na Ucrânia terminará provavelmente em um acordo reconhecendo na Bacia do Donets (talvez aumentado por um cordão ao longo do Mar Negro) um grau de autonomia mais ou menos elevado, até mesmo a independência. Quanto à “União sagrada” ucraniana, ela terá conseguido “ucranizar” a população, incluindo “russófonos”, exceto no sudeste, provando o pouco de viabilidade de uma nação ucraniana tal como existia em suas fronteiras traçadas em 1945 e confirmadas em 1991.

1914 e 2022

Nas décadas precedentes a 1914, Engels não era o único a visualizar a possibilidade de uma guerra europeia onde “nosso partido na Alemanha seria, imediatamente, submergido pelo fluxo do chauvinismo e destruído; de fato, aconteceria o mesmo com a França”. (carta à Bebel, 22 de dezembro de 1882). Esse conflito, “de uma amplitude e de uma violência nunca imaginadas até aqui”, onde combaterão milhões de homens, levará a queda de impérios, “o esgotamento geral e o estabelecimento das condições da vitória final da classe operária. […] A guerra vai talvez nos jogar momentaneamente para trás, ela poderá nos tirar muitas posições já conquistadas. Mas […] não importa o lado que as coisas tomem, no fim da tragédia […] a vitória do proletariado estará já conquistada, ou é, ao menos, inevitável” (Introdução a um folheto de Sigismund Borkheim, 1888). Apesar de “um recrudescimento de chauvinismos em todos os países” e de “um período de reação baseado na inanição de todos povos” (carta a Paul Lafargue, 25 de março de 1889), o capitalismo seria então perturbado ao ponto que sua perpetuação se torne impossível.

Frente ao militarismo, o movimento operário e socialista não permanecia inativo. Como ele agia na empresa e na rua (e no parlamento…), ele tentava intervir no interior da instituição militar: a CTG enviava uma pequena quantidade (o “tostão do soldado”) aos seus membros sindicalizados recrutados, para manter sua ligação com a classe operária. Mas partidos e sindicatos não consideravam outra ação que não uma “luta pela paz” que deveria tornar a guerra impossível: nada estava previsto no caso – supostamente improvável – onde mesmo assim ela aconteceria. Acreditando nisso ou não, a ameaça de desencadear uma greve geral (pacífica para os moderados, insurrecional para os radicais) tinha também tão pouca realidade quanto intenção proclamada de fazer uma revolução… um dia.

Também, na maioria dos futuros beligerantes, o mês que separa o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando em Saraievo e a declaração de guerra da Áustria-Hungria à Sérvia, foi marcada por diversas manifestações massivas contra a ameaça de guerra: mas seu objetivo é pressionar os governos burgueses, não agir por si mesmo enquanto proletariado. Era lógico: a imensa maioria dos socialistas e dos sindicalistas (e uma parte dos anarquistas) se comportavam como adversários e parceiros operários de um mundo burguês. Aceitar de fato (o que quer que se pense ou diga) o essencial de uma sociedade, prepara para que seja aceito também as decisões majoritárias tomadas por seus dirigentes – particularmente a guerra. No verão de 1914, a IIª Internacional traia talvez sua ideologia, não sua prática.

Frente ao que o proletariado não pôde ou quis impedir, para Lênin, cada revolucionário deve desejar a derrota de seu próprio país, e contribuir para isso na medida do possível. Na Rússia, do ponto de vista da classe operária e das massas trabalhadoras, o “menor mal” seria a derrota da monarquia czarista. Lênin pensava ser possível revoltas futuras no exército, como em 1905. Irrealista? Não, se considerarmos o mundo capitalista em crise grave, crise superada provisoriamente pela União Sagrada, mas que inevitavelmente ressurgirá, exacerbada pela continuação da guerra. Da visão habitual de um capitalismo fator de guerra, Lênin passa à de um capitalismo causa de guerra, logo, de revolução.

Uma vez a guerra iniciada, no início, somente uma fraca minoria podia agir se baseando na convicção expressa por Liebknecht que para cada um o inimigo está em seu próprio país. Pois para que um “derrotismo revolucionário” se torne força material, seria necessário que o impasse de combates use as energias militares e patrióticas, possibilidade que Engels havia pressentido: “É um fato evidente que a desorganização dos exércitos e um relaxamento completo da disciplina foram ao mesmo tempo a condição prévia e a consequência de todas as revoluções bem-sucedidas até aqui” (carta a Marx, 26 de setembro de 1851). “O melhor seria uma revolução russa que, entretanto, só se pode esperar depois de várias derrotas severas do exército russo” (carta a Bebel, 13 de setembro de 1886). A estratégia bolchevique só tinha sentido quando fundada na certeza racional “que a guerra cria na Europa uma situação revolucionária” (Lênin, 1915): ele apelava para uma cisão (julgada então prematura por Rosa Luxemburgo) de um vasto movimento político que tinha falido, sem dúvidas, mas cujas partes “sãs” deviam se separar para (re)criar partidos revolucionários, aproveitando a crise geral devido à guerra para derrubar o capitalismo.

A situação não é a mesma um século depois, particularmente pela ausência de minorias substanciais radicais às quais Lênin se dirigia. E a oposição às guerras imperialistas (a de 2003 contra o Iraque, por exemplo) é ou simplesmente pacifista, ou incapaz de ter um impacto sobre a situação.

“Os apelos às deserções, ao derrotismo e à sabotagem da guerra de ambos os lados, lançados nesses dias por muitos milhares, são certamente a única posição viável, do ponto de vista da classe. Eles são então louváveis e compartilháveis – e certamente bem mais dignos que o anti-imperialismo unilateral daqueles que se sentem obrigados cada vez a apoiar um imperialismo “mais fraco”. Isso, ao menos, a princípio. Mas tais apelos correm o risco de ser, no fundo, senão ‘ideológicos’, pelo menos completamente estéreis”. (Lato Cattivo, 2 de março de 2022).

Derrotismo revolucionário?

“Ao que pode servir um princípio internacionalista quando sua vila está sob o ataque de um tanque russo? Até onde os trabalhadores ucranianos devem ir para simplesmente se defender contra uma agressão militar? Àqueles que se encontram nos guetos da Varsóvia, na Srebrenica ou no momento de um ataque do Estado Islâmico, seria possível dizer para não pegarem as armas porque elas poderiam lhes ser fornecidas por nacionalistas, ou que sua resistência se alinhe aos interesses de uma das grandes potências imperialistas?”, perguntava um participante em um debate organizado pelos Angry Workers, em 12 de março de 2022, ao que ele respondia: “Não acredito que isso seja possível”.

(a propósito, é abusivo comparar os ucranianos forçados a encontrar meios para se proteger contra a invasão e os insurgentes do gueto de Varsóvia em 1943. Com as costas contra a parede, quase sem apoio externo e condenados a uma morte certa, os judeus do gueto preferiram perecer com as armas nas mãos. Os ucranianos de 2022 têm felizmente mais de uma única opção).

Se a questão é legítima, ela se colocava também no verão de 1914, sob o fogo de canhões alemães, aos habitantes de vilas belgas, onde o invasor fuzilava milhares de civis, forçando milhões de pessoas a se refugiarem nas regiões da França não ocupadas.

Responder no lugar dos ucranianos seria impossível, e aliás quase sem nenhuma consequência prática. Para as urgências do mundo, não temos solução imediata, e as minorias comunistas não têm a capacidade de fazer mais do que podem os próprios proletários nas situações e países em que se encontram.

Frente ao agressor russo, foi-se implementada uma resistência coletiva, uma ajuda mútua de vilas e de bairros, com aspectos de democracia na base, criando batalhões de voluntários, centros de formação militar e de enfermagem, acolhendo refugiados, às vezes contornando as hierarquias oficiais, também com permutas (trocas de um estoque de armas por um veículo), sem descontinuidade entre uma solidariedade material “civil” e a autodefesa “armada” de sua cidade ou de sua própria vida.

Uma posição difundida entre os meios “radicais” consiste em defender e praticar uma forma de derrotismo revolucionário, mas somente em um dos dois campos, na Rússia, para enfraquecer seu esforço de guerra, apoiando e juntando no interior da Ucrânia uma resistência supostamente autônoma tentando, se possível, expandi-la.

Contudo, essa reação é paralela à ação militar do Estado, ela a completa, e poucos de seus participantes tem o objetivo de substituí-la. A esperança que uma democracia direta se propague na Ucrânia graças à auto-organização da resistência não se apoia em nenhum fato concreto. A situação sendo a que é, é impossível de proteger por armas a população sem se apoiar no Estado e em retorno, quer queira quer não, lhe dar um apoio. Não há um povo ucraniano combatendo ao lado do Estado sem ser dominado ou moldado por ele. Nesse contexto, a referência à Guerra da Espanha é particularmente infeliz: no verão de 1936, aqueles dos anarquistas que aceitaram a manutenção de um governo burguês sob o pretexto de que não havia um verdadeiro poder, que teria estado nas mãos das massas populares que conduziam a guerra anti-Franco através de suas organizações autônomas, foram cruelmente desmentidos menos de um ano depois. Maio de 1937 mostrou quem detinha o poder: a República reprimiu os mais radicais, derrotou as milícias operárias, transformou definitivamente o movimento insurrecional em guerra de frente, ganhando a partida contra os proletários antes de perdê-la contra Franco.

Em 1914, não foi por esse belicismo chauvinista que quase todo os partidos socialistas aceitaram a união nacional, mas em nome do interesse do povo (e do proletariado), portanto de seu direito de se defender contra o invasor. Em 2022, admitindo que na Ucrânia se opõem dois imperialismos, alguns recomendam apoiar um campo (por ser democrático e agredido) contra o outro (ditatorial e agressor). A história gagueja.

Nós não somos nem pacifistas nem não violentos: a perturbação revolucionária da sociedade necessita de uma utilização de armas. Mas uma luta armada, mesmo que seja auto-organizada, não é o suficiente para pôr em questão os fundamentos de uma sociedade. Por ele mesmo, um movimento de partidários, mesmo que tenha importância em número, contribuirá com a derrota inimiga, sem iniciar uma revolução por aí. Não é surpreendente que uma prioridade de alguns de nossos camaradas ucranianos seja a partida do invasor, mas se eles esperam em seguida uma profunda transformação social, é duvidoso que a união nacional lhe seja favorável: “o povo” reunindo todos os ucranianos, todas as classes confundidas (excluindo somente se for necessário os colaboradores do inimigo), o pós-guerra não irá contra os interesses dos possuidores. No máximo, sairá daí algumas reformas, certamente não uma grande democracia direta, nem mudanças estruturais.

Outra coisa seria a emergência de grupos assumindo a liderança da resistência para uma situação de “duplo poder”, resultando no afrontamento não apenas do exército russo (ele próprio enfraquecida interiormente por seus erros, até mesmo minado por motins), mas igualmente o de um Estado ucraniano contestado também pelo próprio interior. Ainda não chegamos lá. Não há na Ucrânia três forças presentes: o invasor russo, o exército oficial e ainda mais uma resistência popular autônoma em condições de se expandir. Aliás, na medida em que esta não se deixaria arregimentar nem pelas tropas regulares nem pela defesa territorial, ela não teria acesso às armas que decidem o destino dos combates (por exemplo, os mísseis antitanques), nem a uma logística que se torna indispensável (munições, combustíveis, alimentos, evacuação de feridos, etc.), e desempenharia apenas um papel auxiliar. Em 1944, a Resistência e os maquis contribuíram para a derrota alemã, mas a França foi liberada pelos exércitos aliados.

Como toda crise grave, uma guerra coloca em movimento os fundamentos de uma sociedade, mas ela consolida fraturas tanto quanto agrava divisões, e tudo pode sair na condição de parecer oferecer uma solução: o partido bolchevique na Rússia de 1917, os fascistas na Itália, em 1922. O choque de uma guerra não causa ipso facto uma reação antiguerra – a qual é suscetível de tomar as formas mais opostas, revolucionárias, conservadoras ou reacionárias. Há exatamente cem anos, Lênin, que em matéria de derrotismo revolucionário falava por experiência, afirmava que “a questão nacional” estava “destinada a ser inelutavelmente cortada pela classe operária em favor de sua burguesia”. O século decorrido lhe deu muita razão.

É no país agressor que a fórmula de Liebknecht tem um sentido prático. Depois de 1918, os estivadores de diversos países europeus interromperam entregas de armas aos russos brancos. Em uma menor escala, em 2003, durante a guerra contra o Iraque, na Grã-Bretanha, uma mobilização para bloquear bases militares coincidiu com a recusa dos operários ferroviários em transportar o material para o exército. Em 2022, anarquistas russos destruíram centros de recrutamento do exército, operários ferroviários bielorrussos sabotaram as ferrovias que transportam tropas e materiais russos para a Ucrânia, e estivadores estadunidenses, suecos e britânicos se opuseram ao descarregamento de navios russos. Se esses movimentos pudessem continuar, e que aumente na Rússia e entre as tropas de invasão uma rejeição de uma guerra impopular em razão do pisoteamento sobre o terreno e do retorno de diversos “caixões de zinco”, então deserções, motins, até mesmo confraternizações se tornariam possíveis. Hoje em dia (junho de 2022), não é (ainda?) o caso.

Em 1940, Otto Rühle escrevia: “A questão que se impõe a nós hoje é saber se o slogan de Liebknecht ‘O inimigo principal está em nosso próprio país‘ permanece também válido para a luta de classes que o era em 1915″. Ao que ele respondia: “Onde quer que o proletariado se apoie, ele estará entre os vencidos. Ele não deve então se encostar nem no campo dos democratas, nem no dos totalitários”.

G. D., junho de 2022

* * *

[1] Na URSS, a classe dominante possuía coletivamente os meios de produção. No entanto, como no “capitalismo de mercado” ocidental, no “capitalismo burocrático”, cada empresa tinha que valorizar melhor seus ativos do que as empresas rivais. Embora os preços fossem administrados a partir do topo, o planejamento estatal precisava ser capaz de comparar todos os insumos (minério de ferro, carvão, trabalho, etc.) e produtos (aço, tratores, etc.) entre si, de acordo com o que eles tinham em comum. Ou seja, era necessário reduzir todos esses elementos ao valor, à quantidade de tempo de trabalho necessário para produzi-los, expresso em termos monetários. Porém, como os preços eram baseados em decisões políticas, muitas vezes eles não tinham conexão direta com o custo de produção, o que gerava má alocação de recursos, desperdício, escassez crônica, até que todo o sistema entrou em declínio nas décadas de 70 e 80. Após 1991, a chegada de um novo regime político não resultou em uma classe dominante semelhante ao que existe na Europa ou América, nem (como na China) em uma mistura de poder político ditatorial, empresas estatais eficientes e um setor privado dinâmico e exportador (embora sob grande parte do controle do Estado). No século XXI, não há “livre empreendimento” russo para se falar: os “oligarcas” que dirigem as grandes empresas têm posições dominantes nos grandes setores econômicos, mas dependem totalmente do Kremlin, sem sequer a autonomia limitada de que gozam os empresários chineses. Para aprofundar no tema, confira: In This World, But Not Of this World [Neste mundo, mas não deste mundo] (2012): https://troploin.fr/node/15 [N. G. D.]
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In the USSR, the ruling class collectively owned the means of production. But as in Western “market capitalism”, in “bureaucratic capitalism”, each company had to valorise its assets better than rival firms. Though prices were administered from the top, State planning had to be able to compare all inputs (iron ore, coal, labour, etc.) and outputs (steel, tractors, etc.) between themselves according to what they had in common, i.e. to reduce all these elements to value, to the amount of labour time necessary to produce them, expressed in money terms. However, because pricing was based on political decisions, it often had no direct connection to manufacturing cost, which caused misallocation of resources, waste, chronic shortages, until the whole system entered into decline in the 1970s and 80s. After 1991, the coming of a new political regime did not result in a ruling class similar to what exists in Europe or America, nor (as in China) into a mixture of dictatorial political power, efficient State-owned companies, and a dynamic and exporting private sector (though under a large extent of State control). In the 21st century, there is no Russian “free enterprise” to speak of : the “oligarchs” running Big Business have dominant positions in major economic domains, but depend totally on the Kremlin, without even the limited autonomy enjoyed by Chinese entrepreneurs.
For more on the subject: In This World, But Not Of this World (2012): https://troploin.fr/node/15 [N. G. D.]

Leituras
Para uma análise precisa do desencadeamento e do desenvolvimento da guerra: Tristan Leoni, Adieu la vie, adieu l’amour… Ukraine, guerre et auto-organisation [Adeus à vida, adeus ao amor… Ucrânia, guerra e auto-organização]: https://ddt21.noblogs.org/?p=3424
E sua versão em inglês: Farewell to Life, Farewell to Love… Ukraine, War and Self-Organisation: https://ddt21.noblogs.org/?page_id=3460
[Em Português: Ucrânia, Guerra e Auto-organização – Tristan Leoni]

L’Appel du vide [O apelo do vazio], 2003: https://troploin.fr/node/18

Demain, orage. Essai sur une crise qui vient [Amanhã, tempestade. Ensaio sobre uma crise vindoura], 2007: https://troploin.fr/node/26

La Nation dans tout son état [A Nação em todo seu estado], 2019:
https://ddt21.noblogs.org/?page_id=2158
https://ddt21.noblogs.org/?page_id=2176

Tristan Leoni, Manu militari, nova edição aumentada, Le Monde à l’envers, 2020.

Lettres d’Ukraine [Cartas da Ucrânia], 1, 18 de março de 2022: http://dndf.org/?p=20012#more-20012

Jean-Numa Ducange, Quand la Gauche pensait la Nation: Nationalités et socialismes à la Belle-Époque [Quando a esquerda pensava a nação: nacionalidades e socialismos na Belle-Époque], Fayard, 2022.

Sobre os internacionalistas do 3° campo, 1940 – 1952 (“grupos que se distinguem pela recusa de todo apoio a um campo imperialista determinado”): https://archivesautonomies.org/spip.php?rubrique367

Lato Cattivo, Du moins, si l’on veut être matérialiste [Pelo menos, se quisermos ser materialistas], 2 março de 2022: https://dndf.org/?p=19975

Textos do Partido Comunista Internacional: https://pcint.org/

Fragments of a debate amongst AngryWorkers on the war in Ukraine [Fragmentos de um debate entre Angry Workers sobre a guerra na Ucrânia], 12 de março de 2022: https://libcom.org/article/fragments-debate-amongst-angryworkers-war-ukraine

Sobre as Primeira e Segunda Internacionais frente à guerra em 1870 e 1914, ver anexos I e II de 10 +  1 questions sur la guerre du Kosovo [10 + 1 questões sobre a guerra do Kosovo], (1999 – 2010): https://troploin.fr/node/31

Liebknecht:  L’ennemi principal est dans notre propre pays [O inimigo principal está em nosso próprio país] (maio de 1915): https://www.marxists.org/francais/liebknec/1915/liebknecht_19150500.htm

Engels, Introduction à la brochure de Sigismund Borkheim [Introdução a um panfleto de Sigismund Borkheim], 1887: https://www.marxists.org/francais/engels/works/1887/12/borkheim.htm

George Haupt, L’Historien & le mouvement social [O historiador e o movimento social], Maspéro, 1980. Capítulos 6 e 7.

Rosa Luxemburgo, La Crise de la social-démocratie [A crise da social-democracia] (Junius panfleto), 1915, capítulo 8: https://www.marxists.org/francais/luxembur/junius/rljhf.html

Lênin, À propos de la brochure de Junius [Sobre o folhetim de Junius], julho de 1916: https://www.marxists.org/francais/lenin/works/1916/07/vil191607001.htm

Timothy Snyder, The Reconstruction of Nations [A reconstrução de nações]. Polônia, Ucrânia, Lituania, Biélorrussia 1569 – 1999, Yale UP, 2003.

Serhic Plockty, The Gates of Europe. A History of Ukraine [Os portões da Europa. Uma história da Ucrânia], Basic Books, 2015.

Norman Davies,White Eagle, Red Star: The Polish-Soviet War 1919-20 [Águia Branca, Estrela Vermelha: a Guerra Polaco-Soviética, 1919-20], Pimlico, 2003.

Sobre Bandera: Stephen Dorril, MI 6. Inside the Covert World of Her Majesty’s Secret Service [Dentro do mundo oculto do serviço secreto de Sua Majestade], Simon & Schuster, 2002, capítulo 14.

Tim Judah, In Wartime. Stories from Ukraine [No tempo de guerra. Histórias da Ucrânia], Penguin, 2015.

Richard Sakwa, Frontline Ukraine: Crisis in the Borderlands [Vanguarda Ucrânia: crise nas fronteiras], Tauris, 2015.

Emmanuel Todd, Après l’empire [Depois do Império], Gallimard, 2002.

Max Hastings, Catastrophe 1914: Europe Goes to War [Catástrofe 1914: A Europa vai à guerra], W. Collins, 2014. Das origens da guerra até dezembro de 1914.

Sobre a ruptura dos diques do rio Amarelo em 1938: Rana Mitter, China’s War with Japan 1937-1945 [A guerra da China com o Japão 1937-1945], Penguin, 2014, pp. 157-162.

Sobre as relações entre OTAN, Rússia e Ucrânia: Tariq Ali, « Before the War » [“Antes da Guerra”], London Review of Books, 24 de março de 2022.

Sobre a estratégia militar dos Estados Unidos: Jerry Broown, « Washington’s Crackpot Realism » [Realismo excêntrico de Washington], New York Review of Books, 24 de março de 2022.

Sobre a possibilidade de uma guerra nuclear: Tom Stevenson,  « A Tiny Sun » [Um minúsculo sol], London Review of Books, 24 de fevereiro de 2022.

Otto Rühle, Which Side To Take? [Qual posição tomar?], 1940: https://www.marxists.org/archive/ruhle/1940/ruhle01.htm [Em português: Otto Rühle, Qual Posição Tomar?]

Traduzido por Lucca Lobato, a partir da versão disponível em: http://www.troploin.fr/node/104. Revisado por Breno Teles.

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