Subversão Internacional (1977-1979)

Com aproximadamente dois anos de refluxo do processo revolucionário e perante o clima de normalidade democrática instaurado pelo golpe de 25 de novembro de 1975, surge em Lisboa, em novembro de 1977, o primeiro número de Subversão Internacional (SI), uma “excelente revista pró-situacionista”, nas palavras de Phil Mailer. Seu primeiro número começou a ser produzido em fevereiro de 1977 “por três indivíduos, que entretanto se integraram num grupo que vinha procurando formas de actuação distintas da escrita” (1978a, p. 1). (…) A SI definia-se ora como o “partido sem fronteiras da subversão social”, ora como o “Partido do Mal”. Sua publicação trimestral pretendia “fazer circular informações e afirmações de subversão social que se produz nos nossos dias” (1977, p. 4).
Dois de seus editores e fundadores, José Maria Carvalho Ferreira e Júlio Henriques, como vimos, haviam já colaborado com duas publicações esquerdistas, os Cadernos de Circunstância e o Combate. Ferreira seria mais próximo dos Cadernos que do Combate (com o qual colaborou pontualmente na escrita de um editorial sobre conselhos operários), enquanto Henriques foi um membro muito ativo desde a formação do Combate, não tendo participado dos Cadernos. Ambos, entretanto, eram certamente os ativistas mais próximos das teorias situacionistas no esquerdismo português, juntamente a Carlos K. Debrito, Torcato Sepúlveda e António Ferreira, e diferentemente de João Bernardo ou Jorge Valadas, por exemplo, que mantinham-se mais afastados destas perspectivas. Enquanto Bernardo era mais próximo do Movimento Comunista Libertário, de Daniel Guérin, além da Corrente Comunista Internacional, e do milieu em torno de René Lefeuvre, criador da [editora] Spartacus, Valadas era mais próximo de grupos como ICO, 22 de Março e Noir et Rouge.
(…)
Consideramos, além disso, SI a primeira expressão portuguesa da tendência pós-situacionista surgida em França, somada a uma proximidade com o movimento da autonomia italiana, contemporâneo dela. No editorial de seu primeiro número, SI se inscreve em um movimento de negação das “actuais relações sociais”, e situa a “revolução comunista”, “ou qualquer outro nome que se lhe queira dar – anarquia, por exemplo”, no movimento prático de busca por um “mundo sem capital”. Não se trata, para eles, de uma negação abstrata, mas concreta:
O movimento social comunista existe, embora não seja este o nome que normalmente se dá às suas manifestações práticas, mais comumente apelidadas de comportamentos selvagens diversos, de loucura, de irresponsabilidade, de banditismo, de delinquência, de recusa do trabalho (1977, p. 4).
(…)
Mais concretamente, afirma SI em seu terceiro editorial:
O que um movimento subversivo terá de substituir à sociedade existente não são novas formas desta sociedade (as que nomeadamente a esquerda e a extrema-esquerda se propõem), mas uma sociedade sem trabalho assalariado, sem capital. A forma como este movimento se organizar será já o espelho directo do conteúdo dessa sua exigência de base (1978b p. 2).
O partido maldito: as origens do esquerdismo em Portugal (1968-1979), Erick Corrêa

Nº 1 (Outono, 1977)

SI – Introdução e Notas; O Fim da Tranquilidade: Delinquência e Progresso; Roubo de Bancos: um eterno problema?; Mulher: objecto de Cama e  Mesa; Aspectos do novo movimento operário em Espanha; Sobre o conteúdo do movimento social pós-franquismo; A reforma agrária em Portugal: um balanço; Notas e Informações de e sobre a Rote Armee Fraktion, dita ‘Grupo Baader-Meinhof’

Suplemento ao nº 1: Brochura:  A “Rote Armee Fraktion e a Alemanha Federal.

Nº 2 (1978)

Na Hora da Nossa Morte; Critica da IS; Da Comunidade Primitiva ao Primitivismo do Engate/1; Depois de Marx, Abril: a Itália; O movimento capitalista em Portugal; Discussão sobre a RAF e o Terrorismo; No Metropolitano; Portugal através de uma lupa; Grã-Bretanha: o Movimento Grevista, 1977; Correspondência: Espanha; O Brasil está pegando fogo

Nº 3 (Outono de 1978) [PDF]

Da falência da extrema esquerda ou de como é necessário ser inconformista para se ser revolucionário; Do terrorismo em Itália: as Brigate Rosse e o seu tempo; Da Comunidade Primitiva ao Primitivismo do Engate/2; O sexo da revolução; Correspondência; Alice Corinde: Fragmentos da Matança do Porto; Socialismo alentejano; Prisão com um depoimento; Delinquência Revolta; Anarquismo na região portuguesa; Para uma biblioteca da revolução social; Fernando Pessoa: Textos de inconformismo (Análise da vida mental portuguesa); Notas  Apontamentos; Resenha de Gazetas

Nº4 (Fevereiro de 1979) [PDF]

Abolir o Trabalho; Sindicalíssimo (Sindicatos & Sindicalismo em Portugal); Da Política; ‘Angola é Nova’; Fernando Pessoa: Textos Inéditos em Portugal; Trabalho, Vida & Morte made in Brasil; A Modernidade Polaca: – Crónica; Natal: a Festa da Morte (Lenta) de Cristo; Mercado Comum da Repressão; Notas

Nº 5 – (1979)

Refutação do Terceiro Mundo, Crítica da Consciência Subdesenvolvida; O Pesadelo Nuclear: Todos Vivemos na Pensilvânia; Poesia Popular Contemporânea, Classe Trabalhadora das Letras, Ana le Fabbet; Formação Sindical; A impossível Revolução portuguesa; Crítica de SI e do Marginalismo, Phil Mailer; Introdução ao Cimitério Sonoro, Alice Corinde; A guerrilha Social em França; O Planeta das Greves; Depoimento de um Prisioneiro; Correspondência; Resenha de Gazetas; Especial: Guia Turístico de Marrocos

Nº 6 – (Dezembro de 1979)

Circo Eleitoral; A China Moderna; Das Comunidades Beat aos Hippies; Os Esquerdistas morrem em Portugal; Abaixo o Proletariado; A Última Pena de Morte em Portugal; A Revolta da Miséria, Miséria da Revolta: Irão; Crítica de SI; Quem inventou o trabalho?; Depoimentos sobre o Trabalho e as Prisões; A Sociedade Contra o Estado.

[Mais informações sobre a revista Subversão Internacional em: https://memorialibertaria.blogs.sapo.pt/cronologia-anarquista-revista-subversao-25202]