O Presente e o Futuro dos Engenheiros – Nick Chavez

Original in English: The Present and Future of Engineers

Traduzido por Jane Helen Gomes de Lima e revisado por Thiago Papageorgiou. Publicado em The Brooklyn Rail, Outubro/2021.

Nick Chavez é engenheiro mecânico nos Estados Unidos. Atualmente trabalha na empresa P&D engenharia.

Sou engenheiro. Recentemente, participei de uma feira focada na fabricação de plásticos. Como a maioria dos outros participantes, meus colegas de trabalho e eu estávamos presentes para nos mantermos informados sobre a situação da indústria de plásticos, no que se refere especificamente aos produtos que projetamos para nosso empregador. O piso da convenção estava repleto de braços robóticos altamente articuláveis, moldadores de injeção, empacotadores de linha de produção adaptáveis, impressoras SLA de ponta, enchedores de garrafas ultrarrápidos e todos os outros tipos de robôs manufatureiros cujos vendedores de ‘olhos grandes’ não queriam nada mais do que uma fatia do orçamento de Investimentos em Bens de Capitais do nosso empregador; os estandes fazendo propaganda – umas mais e outras menos explícitas – do acesso à mão de obra de manufatura barata eram tão numerosos quanto. Impulsionadores do desenvolvimento industrial em certos países detalharam como nossas necessidades de fabricação podem ser atendidas de forma barata e eficaz por trabalhadores altamente qualificados, mas com salários baixos, na América Latina ou no Caribe. As empresas chinesas e taiwanesas promoveram bens manufaturados a preços baixíssimos, com a implicação de que não é necessariamente o produto que deve chamar sua atenção, mas sim o acesso à mão de obra barata de alta tecnologia. Empresas norte-americanas e europeias nos garantiram que suas redes globais de fábricas, sejam elas na Malásia, Costa Rica ou no cinturão da ferrugem americano[1], poderiam atender às nossas necessidades técnicas, financeiras e logísticas. A diversidade de mensagens tinha uma unidade clara: aumente o resultado final da fabricação exercendo controle sobre a força de trabalho que monta seu produto; contrate os trabalhadores mais exploráveis e racionalize seu trabalho através da robótica. O tema comum em toda a convenção foram os modelos de negócios que dependem do controle dos trabalhadores e suas ações. Esta é a essência da engenharia moderna.

Submeter a engenharia à análise marxista produz resultados complexos. A maioria dos engenheiros são proletários: realizamos trabalho em troca de um salário que precisamos para arcar com uma vida confortável no sistema capitalista global. Apesar disso, as origens da engenharia moderna residem tanto na gestão da fábrica taylorista quanto no suado[2] trabalho assalariado do chão de fábrica. Na totalidade social que é o capitalismo, somos simultaneamente dominados pelos imperativos da lógica abstrata do capital, ao mesmo tempo em que concretizamos essa dominação abstrata contra massas de outros trabalhadores. Isso coloca uma questão difícil para os engenheiros comunistas: de que lado estamos? Para complicar ainda mais as coisas, os comunistas também devem considerar não apenas o papel que os engenheiros desempenham no capitalismo, mas quais papéis eles podem desempenhar na dissolução revolucionária do capitalismo e no estabelecimento de uma sociedade comunista.

Essas questões merecem ser consideradas agora, mesmo quando o movimento real por uma nova sociedade está retomando apenas agora o curso histórico do qual foi descarrilado no decorrer do século anterior. Há limites em quais conclusões úteis podem ser obtidas a partir de profundas reflexões; as respostas reais só serão determinadas por esse movimento no curso de sua ação para abolir o estado atual das coisas. Dentro desses limites, meu objetivo aqui é identificar, de modo geral, as dinâmicas que moldam a engenharia moderna e usar esses conceitos para especular sobre o que o futuro pode reservar à medida que emerge da crisálida do presente.

Engenharia e Divisão do Trabalho: A Atividade Produtiva Hoje

A automação capitalista é historicamente única em sua obsessão por uma redução generalizada do tempo de trabalho por mercadoria produzida. O tempo de trabalho por unidade é reduzido limitando-se a complexidade das tarefas que um trabalhador executa durante o processo de fabricação. Essa redução na complexidade das tarefas envolve uma divisão do trabalho em que cada trabalhador realiza um conjunto menor de tarefas, cada uma agora tão simples que pode ser realizada com pouco ou nenhum risco de erros de produção. Ao remover a necessidade de ações complexas do trabalhador e colocar essa responsabilidade na máquina significativamente mais exata, precisa, confiável e dócil, a expertise exigida do trabalhador é drasticamente reduzida. O torno CNC, o moldador de injeção e o soldador a laser robótico de hoje realizam a mesma redução e simplificação (por unidade de mercadoria) que a máquina de fiar, o motor a vapor e a debulhadora de eras anteriores.

Enquanto um grande número de trabalhadores é despojado da necessidade de conhecimento técnico avançado (e do poder de barganha que o acompanha), não é como se essa expertise desaparecesse. Ela está simplesmente concentrada na proporção muito menor de trabalhadores que projetam e configuram as máquinas e processos para criar o produto. A expertise no produto específico não só está concentrada em menos mãos, mas também a nova expertise no projeto, criação e manutenção dessas máquinas e processos. É também cada vez mais imperativo o acúmulo de saber[3] técnico no avanço dos princípios científicos a partir dos quais novos avanços nas forças produtivas são evocados. O domínio da engenharia é essa concentração de conhecimentos técnicos entre aqueles que não utilizam as máquinas para produzir diretamente bens, mas que fazem o trabalho intelectual de desenvolvimento dessas máquinas e de seus processos.

No entanto, a concentração de conhecimentos técnicos não acontece simplesmente por si só. O ponto da empresa capitalista é a geração de lucro. O trabalho de “racionalizar” o processo produtivo implica que os ditos processos se tornem mais racionais, mas mais racionais para quem, ou por meio de qual medida? A racionalidade é definida aqui principalmente em termos de dinheiro obtido para os acionistas da empresa. Embora normalmente não seja responsabilidade dos engenheiros gerenciar as finanças da empresa, o trabalho dos engenheiros envolvidos na produção de mercadorias está, em última análise, a serviço dos resultados da empresa, seja gerando receita ou eliminando custos. Os engenheiros envolvidos na produção de mercadorias acumulam expertise técnica enquanto a retiram dos trabalhadores comuns porque a concentração de expertise é crítica para a sofisticação perpétua dos meios de produção que, por si só, é crucial para a geração contínua de lucro. É precisamente nesta conjuntura do técnico com o financeiro que os efeitos sociais de amplo alcance dos engenheiros são mais evidentes.

Os engenheiros envolvidos no processo de produção de mercadorias podem ser divididos, grosso modo, em duas categorias: aqueles que projetam e desenvolvem a mercadoria em si e aqueles que desenvolvem e supervisionam o processo de fabricação que leva a mercadoria à fruição física e ao mercado.

O último grupo, cujos títulos ou descrições de cargos podem ser algo como “Engenheiro de Manufatura”, “Engenheiro de Processos” ou “Engenheiro Industrial”, é o que realiza o trabalho que perpetua mais visivelmente a dinâmica da polarização da expertise técnica. O que esses engenheiros fazem especificamente varia de acordo com o tipo de mercadoria que está sendo produzida, as operações e a cultura específicas da empresa em questão e seu cargo específico. Isso inclui, mas não se limita a: criar instruções de trabalho, desenvolver padrões escritos, realizar análise estatística sobre gastos de tempo ou sobra de materiais, selecionar e qualificar máquinas para uso dos trabalhadores, definir processos para o trabalhador seguir, projetar gabaritos e acessórios para acelerar a produção ou melhorar a capacidade de repetição, gerenciar o controle de qualidade, solucionar problemas/interrupções da produção, coordenar com fornecedores externos, rastrear materiais, defender a facilidade de fabricação para os engenheiros de projetos e treinar trabalhadores. Esses engenheiros têm intimidade com o processo de produção em si e, portanto, estão próximos da confluência na qual as necessidades abstratas de capital encontram a subjugação concreta do trabalhador, técnico ou operador. A proliferação da mecanização e da automação retira a expertise e o know-how dos trabalhadores como um subproduto necessário da simplificação de seu trabalho na busca por lucro. Esse know-how, agora concentrada nas mãos dos engenheiros, é implantada por eles para garantir que a quantidade máxima de valor trabalho seja extraída de cada unidade de tempo de trabalho gasto pelo trabalhador, o que se materializa em uma maximização do dinheiro extraído por unidade de tempo de trabalho. No entanto, isso geralmente não aparece dessa maneira direta para os engenheiros e trabalhadores envolvidos, mas geralmente é entendido em termos como: “reduzir o desperdício” (material desperdiçado ou tempo desperdiçado), “simplificar as coisas” ou na forma “melhoria contínua”/“kaizen[4]”, como é conhecido no jargão de fabricação enxuta.

Os engenheiros do outro grupo, que podem ser chamados de algo como “Engenheiro de Design”, “Engenheiro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)”, “Engenheiro de Produto” ou “Engenheiro de Sistemas”, desempenham um papel mais sutil, mas igualmente crítico, na manutenção da divisão técnica do trabalho. Em algumas indústrias, este grupo também inclui cientistas cuja expertise é necessária para o desenvolvimento de produtos. Esses engenheiros podem não participar diretamente no processo produtivo e, portanto, não são diretamente responsáveis por realizar a dominação do capital por sobre trabalhadores, técnicos e operadores, mas perpetuam essa dinâmica à distância de uma maneira mais abstrata.

O caráter específico de um item produzido para a venda em uma economia capitalista possui tanto um componente concreto (sua utilidade/aplicação prática) e um componente abstrato (sua utilidade para o capitalista: o fato de ele poder ser vendido por dinheiro). É fácil ver o uso concreto de uma mercadoria e sua vendabilidade abstrata como estando em eixos ortogonais (qualitativos) que se cruzam no item em questão, mas essa abstração não enxerga o todo. Na realidade, os caracteres concreto e abstrato de uma mercadoria assemelham-se mais a duas malhas tecidas em conjunto para formar uma corda, na qual os dois aspectos fundamentais da mercadoria formam um todo entrelaçado. Uma mercadoria só tem valor abstrato, ou seja, é vendável, porque tem um uso concreto, não abstrato. Um par de sapatos vende porque as pessoas podem e querem usá-los. Um item não seria fabricado se o capitalista não esperasse que ele vendesse, e as mercadorias só vendem se alguém quiser comprá-las, o que só acontece se a mercadoria servir a algum propósito ou preencher uma necessidade do comprador. O fato de a utilidade de um item ser crucial para seu valor no mercado é óbvio, mas a relação determinante que o valor abstrato tem com a utilidade concreta de uma mercadoria é menos óbvia. Afinal, os bens produzidos eram certamente úteis antes da generalização histórica da produção de mercadorias e do valor abstrato mediador da economia que a acompanha, então como o valor abstrato pode desempenhar um papel determinante no caráter concreto de uma mercadoria?

Para o capitalista, o aspecto mais importante de uma mercadoria é que ela pode ser vendida por dinheiro. Ao contrário do engenheiro, que está principalmente preocupado em gastar dinheiro para transformar materiais em uma mercadoria, o acionista de uma empresa está preocupado em usar as mercadorias para transformar dinheiro em uma quantia maior de dinheiro. O lucro não é apenas a consequência de produzir uma mercadoria, mas a razão para produzi-la em primeiro lugar. O proprietário do capital deve empregar esse capital a serviço da geração de lucro e, assim, acumular mais capital, a menos que queira ser superado por outros capitalistas. Na medida em que o capital é investido na produção de mercadorias, a criação da mercadoria deve ser empreendida de maneiras receptivas às necessidades do capital, ou seja, maneiras que maximizem a receita e minimizem os custos para atingir a maior margem de lucro. As necessidades de capital estão inscritas em todas as mercadorias, sejam bens de consumo ou produtos vendidos de uma camada da indústria para outra. Alguns exemplos comuns e visíveis disso incluem a obsolescência planejada em eletrônicos de consumo, o uso de materiais inferiores (mais baratos) e incompatibilidades entre mercadorias funcionalmente semelhantes devido a diferenças proprietárias. No entanto, a dinâmica é mais profunda do que isso. Todas as mercadorias fabricadas devem primeiro ser projetadas, e as mercadorias devem ser projetadas com o processo de fabricação em mente. Um bom engenheiro de projetos está familiarizado com os processos necessários para que seu projeto seja fabricado e pode, assim, minimizar a quantidade de dinheiro gasto em custos de fabricação sem comprometer a utilidade do produto. Uma peça usinada que requer menos configurações em uma fresadora, um componente de plástico moldado de modo que uma quantidade máxima possa ser feita a partir de um único molde de injeção e um conjunto elétrico projetado para tirar proveito da colocação automatizada de componentes exigem que o engenheiro de projetos entenda o processo de fabricação a um nível suficiente para tirar o máximo proveito dos processos de produção racionalizados e desenvolvidos por engenheiros de fabricação, industriais e de processos.

Um gostinho do nosso próprio remédio

Ser engenheiro na produção de mercadorias é desempenhar um papel duplo no capitalismo. A implantação da ciência e da tecnologia para simplificar o trabalho industrial está inequivocamente ligada à redução dos salários, à diminuição da autonomia no local de trabalho, ao tédio e monotonia no local de trabalho e a uma redução geral da qualidade de vida de um grande número de trabalhadores. Nesse sentido, os engenheiros estão aliados à gestão e abstratamente alinhados ao capital como força social. Os engenheiros, no entanto, também são trabalhadores. Trabalhamos em troca de dinheiro, que buscamos para atender as mesmas necessidades que todos os outros têm. Como nosso trabalho está, em última análise, a serviço do lucro, não somos imunes às dinâmicas racionalizantes que impingimos a outros trabalhadores. O trabalho de engenharia é dividido em diferentes disciplinas e gradações, com o resultado de que muitas vezes lhe é atribuído um trabalho repetitivo, maçante e estruturado fora do controle do engenheiro que o executa. Isso se soma à violência social inerente ao trabalho, como horas extras obrigatórias (muitas vezes sem pagamento adicional), salários estagnados, demissões, deslocamentos frustrantes, rastreamento invasivo de tempo, chefes abusivos e funcionários do RH incompetentes ou hostis.

A racionalização do trabalho de engenharia é inegavelmente impulsionada pela lógica do capital de busca pelo lucro. Essa lógica, não apenas na engenharia, mas também em outros aspectos da sociedade, muitas vezes se mina ao cultivar fenômenos emergentes que podem desfazer as estruturas sociais que os geraram em primeiro lugar. É extremamente comum que engenheiros de todos os tipos sintam que seu trabalho é dificultado pela estrutura organizacional ou pela dinâmica da empresa para a qual trabalham, especialmente em empresas maiores, onde há uma divisão mais rigorosa do trabalho de engenharia e do trabalho em geral.

Uma divisão rígida entre os deveres de engenharia (por exemplo, projeto elétrico vs. projeto mecânico, ou engenharia de processos vs. engenharia de controle de qualidade) garante que o tempo de engenharia seja gasto de maneiras que a administração tenha forte controle, o que é necessário para a conclusão de grandes projetos envolvendo muitas pessoas. Essa divisão do trabalho, no entanto, prejudica simultaneamente a capacidade de uma empresa de extrair o trabalho da mais alta qualidade de seus engenheiros. É muito raro que um engenheiro precise apenas entender uma pequena área de conhecimento para fazer seu trabalho adequadamente. A esmagadora maioria dos engenheiros se beneficia fortemente da familiaridade com as tarefas de outras áreas de engenharia envolvidas na produção de uma mercadoria, especialmente aquelas adjacentes às deles no processo de produção. Um engenheiro/cientista de pesquisa deve ter uma compreensão suficiente das necessidades práticas do campo a fim de garantir que suas pesquisas e achados sejam úteis e aplicáveis. Um engenheiro de projetos deve entender o suficiente sobre os processos de fabricação e a aplicação de seu projeto para garantir que ele seja eficiente em termos de custo de fabricação e possa ser utilizado conforme pretendido. Da mesma forma, o engenheiro de produção e o engenheiro de aplicações não podem fazer seu trabalho corretamente se não entenderem a intenção do projeto da mercadoria com a qual trabalham. Um engenheiro de produção deve garantir que a produção que supervisiona seja capaz de produzir mercadorias que funcionem como pretendido; e o engenheiro de aplicações não pode desenvolver de maneira mais apropriada uma aplicação de produto para o cliente se não tiver uma compreensão completa das capacidades e limites do projeto. A melhor maneira de esses engenheiros entenderem os detalhes pertinentes do trabalho uns dos outros é estando diretamente envolvidos com o trabalho uns dos outros para que possam desenvolver uma forte compreensão intuitiva do mesmo. Isso representa um problema para a administração: permitir que os engenheiros tenham muita liberdade e autonomia dificulta o controle do caráter e da linha do tempo do que é produzido, mas restringir todos eles a seus cubículos e exigir que toda a comunicação passe pela administração matará rapidamente a eficácia e o moral dos engenheiros. Um bom gerente é capaz de equilibrar essa tensão; no entanto, a divisão do trabalho dificulta a interação significativa dos engenheiros com outros departamentos, especialmente em empresas maiores.

Aqui está a chave para a disfunção da engenharia sob o capitalismo: o capital é simultaneamente o fator impulsionador por trás do trabalho de engenharia e a principal obstrução para fazer esse trabalho bem.

Engenheiros e Ideologia

Em 2021, praticamente ninguém vive fora da influência do capitalismo. Mesmo aqueles cujos trabalhos não estão totalmente integrados à racionalidade do capital ainda devem viver em um mundo dominado pelos mercados capitalistas. Depois de centenas de anos do capital terra formando a paisagem social da experiência humana, em geral, e do trabalho, em particular; deve ser incontroverso sugerir que o capitalismo está no cerne da ideologia da engenharia, exceto que não existe uma única “ideologia da engenharia”, pois a “experiência da engenharia” é incrivelmente vasta e diversificada. Embora as tendências descritas nesta seção sejam um desenvolvimento da dinâmica de produção global, os detalhes são mais específicos para a engenharia em economias industriais altamente desenvolvidas, com as quais estou pessoalmente mais familiarizado.

Apesar de toda a diversidade na subjetividade dos engenheiros individuais, o trabalho efetivo realizado pelos engenheiros modernos é inextricável da lógica do capital. Apesar da alta retórica dos vigaristas do Vale do Silício, os engenheiros não fazem o que fazem para trazer mudanças positivas, ou para salvar o mundo, ou quaisquer outras banalidades ingênuas; mesmo que os engenheiros em questão acreditem sinceramente que estão fazendo isso. Como demonstrado anteriormente, a engenharia é principalmente uma elaborada máquina social que comanda vastas quantidades de pessoas, intelecto, trabalho e poder para servir à acumulação de lucro através da criação e venda de mercadorias. Os engenheiros não podem moldar o mundo através do poder de boas ideias e da engenharia inteligente; nós moldamos o mundo de acordo com as necessidades do capital. Mesmo os engenheiros que trabalham em organizações sem fins lucrativos, ou independentemente em suas garagens, não podem operar sem dinheiro e, mesmo assim, devem operar em um mundo moldado em torno do capitalismo.

Essa centralidade do capital para a engenharia é fundamental para entender o que molda a ideologia de qualquer engenheiro em particular. A posição privilegiada que os engenheiros ocupam em relação a uma grande parte da força de trabalho muitas vezes se manifesta em um elitismo tecnocrático entre os engenheiros. A divisão do trabalho técnico entre “qualificados” e “não qualificados” cria e justifica a noção de que os engenheiros são intelectualmente superiores a outros grupos de trabalhadores. Esta polarização da especialização não é uma lei de ferro, mas sim uma tendência. Operadores, trabalhadores de linha de produção e técnicos certamente acumulam expertise e know-how no processo prático da fabricação de mercadorias. Os engenheiros que são bons em seus trabalhos aprendem a respeitar e consultar a experiência que se desenvolve no ponto de produção, pois isso facilita a racionalização do trabalho “não qualificado” se o engenheiro entender exatamente o que eles estão racionalizando. Os efeitos macrossociais desse processo de racionalização são bastante opacos para aqueles que participam ativamente dele. Em vez disso, isso assume a aparência de melhoria da eficiência, redução de erros, eliminação do desperdício e economia de dinheiro. A hostilidade aberta para com os trabalhadores “não qualificados” cujo trabalho está sendo racionalizado pelos engenheiros é tipicamente desaprovada, mas a implicação por trás de todos esses descritores que soam positivos (eficiência é bom, né?) é que os trabalhadores “não qualificados” são uma parte indesejada do processo de fabricação e qualquer sucesso na redução de seus números ou de sua influência é um sucesso para o engenheiro e para a empresa.

Contraintuitivamente, não é incomum que os engenheiros mais responsáveis pela racionalização do trabalho de outros trabalhadores sejam os mais cordiais pessoalmente com a equipe de fabricação que ocupa posições “mais baixas” na hierarquia da produção. Esses engenheiros, normalmente engenheiros de produção ou engenheiros de processos, se saem melhor quando têm uma compreensão próxima do processo de produção e da atividade em nível humano que o engloba. Muitos engenheiros nesta posição realizaram eles mesmos esse trabalho como parte de sua formação ou como parte de suas funções de trabalho antes de trabalharem como engenheiros. Mesmo que esses engenheiros nunca tenham ocupado os cargos ocupados pelos trabalhadores cujo trabalho eles devem racionalizar, a simples proximidade com esses trabalhadores durante o horário de operação muitas vezes pode criar um sentimento de camaradagem, pois os departamentos de fabricação e operações são frequentemente confrontados com outros departamentos de uma forma que se assemelha a um nacionalismo departamental bizarro, onde os antagonismos entre “classes” (trabalhador vs. engenheiro) são suprimidos em nome do antagonismo entre “nações” (departamentos). Esta é obviamente uma analogia muito grosseira, mas o que incomoda os trabalhadores de manufatura (escassez de materiais, prazos acelerados, mudanças inesperadas, questões de controle de qualidade) também tende a incomodar os engenheiros responsáveis por racionalizar seu trabalho. Esta unidade particular entre os trabalhadores da manufatura e os engenheiros associados pode muitas vezes ser tão influente nos esquemas ideológicos individuais de um engenheiro quanto o processo de racionalização inerentemente antagônico.

Os engenheiros não são apenas conduítes através dos quais o capital domina os trabalhadores da linha de fábrica. Nosso próprio status como trabalhadores assalariados vem com muitas características da subjetividade construída em face do capital. A cultura de trabalho varia drasticamente com base no local, na indústria e até mesmo no local de trabalho individual. Para muitos engenheiros que recebem um salário em vez de um salário por hora não há proteção legal contra o empregador exigir mais horas de trabalho do que a semana de trabalho padrão sem compensação adicional. A divisão do trabalho entre os engenheiros muitas vezes cria situações de trabalho incrivelmente chatas, em que muito pouco do talento de um engenheiro é colocado em uso. Os engenheiros muitas vezes acham que nossa capacidade de realizar um bom trabalho é dificultada por fronteiras departamentais, burocracia da empresa, falta de experiência multifuncional e outros fenômenos enraizados na divisão capitalista do trabalho. Embora os engenheiros tendam a ser muito bem remunerados por nosso trabalho, quando comparado com a maioria das outras profissões, muitas empresas se recusam a manter os salários dos engenheiros competitivos após vários anos de emprego. Algumas indústrias passam por ciclos de crescimento e quebra que envolvem a demissão de grandes quantidades de engenheiros com pouco aviso prévio. O fato de os engenheiros serem imprescindíveis para a produção de mercadorias significa que os engenheiros, como um todo, quase seguramente nunca enfrentarão os níveis de abjeção aos quais a maior parte dos demais proletariados estão sujeitos. Apesar disso, os engenheiros ainda são capazes de experimentar o antagonismo entre nossa posição como trabalhadores e a posição de nossos patrões como agentes do capital.

As facetas ideológicas do trabalho de engenharia são semelhantes ao próprio capital, na medida em que ambos são sistemas abstratos de lógica autoperpetuante que se perpetuam e também se enfraquecem pelos mesmos mecanismos. A maneira com que o nosso trabalho se enquadra nas necessidades do capital é o que nos mantém empregados, mas muitas vezes pode tornar esse emprego miserável.

A aplicação do conhecimento científico à modificação do nosso mundo é o coração do trabalho de engenharia. Esse tipo de trabalho muitas vezes exige criatividade, curiosidade intelectual, afinidade técnica, pensamento independente e paixão. A criatividade e a iniciativa que ajudam diretamente os resultados da empresa são normalmente incentivadas. Um senso de curiosidade e autodidatismo não é apenas útil para os engenheiros, mas muitas vezes necessário, pois a assimilação de conceitos e conjuntos de habilidades desconhecidas e tecnicamente desafiadoras é frequentemente necessária no local de trabalho. O trabalho de engenharia muitas vezes forja uma mentalidade de que tudo é passível de ser feito em que pode-se resolver qualquer problema com uma abordagem metódica, a aplicação de princípios científicos e a capacidade de aprender as informações relevantes. Embora essas atitudes sejam normalmente consideradas desejáveis, elas são a outra face de outros comportamentos comuns da engenharia que normalmente são recebidos com desdém por outros. Muitos engenheiros acreditam que sua capacidade de abordar problemas técnicos metodicamente no trabalho é facilmente transferida para outras áreas nas quais eles não têm experiência. Embora seja verdade que uma abordagem metódica e um amplo escopo de conhecimento técnico são frequentemente úteis fora do local de trabalho, essa atitude muitas vezes dá uma guinada rumo ao cientificismo grosseiro. Uma tendência de colapsar problemas complexos em variáveis quantificáveis manipuláveis por abordagens matemáticas ou científicas destrói muito facilmente a importante nuance que torna esses problemas tão difíceis de resolver em primeiro lugar. Isso é mais evidente com problemas sociais em larga escala, em que não é incomum que os engenheiros, com sua total falta de conhecimento sobre o que é relevante nesse caso, proponham soluções que tratem os sistemas sociais como constituídos por partes isoláveis e independentemente manipuláveis; reduzindo os fatores envolvidos a um nível de simplicidade não mais adequado para resolver o problema em questão. A capacidade e a autoridade para resolver problemas técnicos criam frequentemente uma arrogância que faz com que eles considerem aqueles que não possuem formação em engenharia ou científica como não tão inteligentes nem tão capazes quanto aqueles que possuem essas formações. Nos programas de engenharia universitária, não é incomum que os estudantes de outras formações fora das ciências duras (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) sejam objeto de piadas debochadas; e no local de trabalho essa atitude pode visar departamentos não engenheiros. Todos esses são estereótipos dos engenheiros; é claro, seria absurdo pensar que se aplicam a todos os engenheiros, mas os estereótipos geralmente não surgem do nada.

Fundamentalmente, a mente de um engenheiro pode ser tão ideologicamente imprevisível e idiossincrática quanto a de qualquer outro indivíduo. Dentro da subjetividade da pessoa que é ao mesmo tempo agente e objeto do capital, existe muito espaço para simpatia ao comunismo. Aos engenheiros que desejam aplicar suas perícias técnicas para o melhoramento legítimo da espécie humana, seu único recurso é a separação do capital e da engenharia, o que significa dizer que seu único recurso é a instauração do comunismo.

Engenheiros e Comunismo

A relação entre engenheiros e comunismo pode ser analisada em termos de duas categorias distintas, mas relacionadas: o papel dos engenheiros na destruição revolucionária do capitalismo e seu papel assim que se o comunismo for instaurado. Dado que ainda não existe um movimento revolucionário organizado disposto e capaz de desmantelar o capitalismo ainda não existe, grande parte disso é especulação. Meu objetivo aqui não é tentar prever o futuro, mas iluminar possíveis trajetórias para dinâmicas que existem hoje para que elas possam ser digeridas conceitualmente com antecedência, pelo menos de forma rudimentar.

Como eu disse, não há apenas uma única subjetividade da engenharia, portanto, nenhuma ligação direta entre a engenharia e uma possível consciência revolucionária. O que pode ser dito com quase certeza é que uma revolução que não tem participação substancial de engenheiros está condenada a falhar na implementação do comunismo. A base material para o comunismo não é a raiva proletária ou a desapropriação em massa, são séculos de trabalho agora incorporados na forma de capital fixo: máquinas, edifícios, infraestrutura produtiva global e incontáveis mercadorias. Há uma ironia cruel no fato de que o comunismo foi possibilitado pela subjugação brutal da maioria da população do planeta ao trabalho assalariado, mas é de fato a fabricação em massa e a capacidade distributiva global que tornam possível um sistema social planejado, controlável pelo desejo humano coletivo de bem-estar. O capitalismo criou os meios técnicos para uma sociedade baseada na proteção e expansão racional do bem-estar humano, mas não necessariamente as formas sociais que são propícias a tal sociedade. A engenharia, como existe atualmente, representa a maior parte do conhecimento técnico existente dentro do capitalismo, mas é socialmente composta de uma forma que seria necessariamente dissolvida pela instauração do comunismo.

As duas últimas décadas assistiram a um renascimento da política de massas provocado pela diminuição do acesso do proletariado aos meios de subsistência. Essas lutas sinalizam o início de uma nova fase na atividade proletária qualitativamente diferente das mobilizações operárias de massa dos séculos XIX e XX. Ao contrário de muitas dessas lutas mais antigas, as mobilizações de massa de hoje tendem a ocorrer fora do local de trabalho e, na medida em que têm demandas ou queixas específicas, estão focadas principalmente na falta de meios de subsistência: em vez de questões do local de trabalho ou outras questões diretamente relacionadas à atividade produtiva capitalista. As razões para isso estão fora do escopo deste ensaio; no entanto, um fator causal significativo é o simples fato de que uma proporção muito menor da população proletária global é hoje empregada diretamente no processo de produção de mercadorias. É por isso que grande parte da teoria comunista contemporânea se concentra no papel da população excedente (o número crescente de pessoas supérfluas para a produção de mercadorias) nas lutas e revoltas de hoje; agora esta é a dinâmica definidora da auto-atividade proletária. O aspecto problemático dessa dinâmica é que esses movimentos não podem construir o comunismo sem o envolvimento dos trabalhadores com o know-how técnico da produção de mercadorias e a disposição de empregar esse conhecimento para fins comunistas.

Nos EUA, onde eu moro, falta muita auto-organização entre os engenheiros. Houve movimentações de sindicalização notáveis entre os funcionários de desenvolvimento de software (incluindo aqueles com títulos de Engenheiro de Software) nos últimos anos, incluindo os da Alphabet (Google), The New York Times e NPR.  Apesar de muitos dos participantes possuírem títulos contendo a palavra “engenheiro”, a engenharia e o desenvolvimento de software tendem a ser muito diferentes dos tipos de engenharia descritos neste ensaio. Os engenheiros de software desempenham o papel de racionalizar o especialista técnico e o artesão prático que possuem um conhecimento particular do meio de trabalho (código). Um engenheiro de software, apesar do título e do salário geralmente maior, é mais parecido com um técnico muito habilidoso e criativo do que com um engenheiro cujo trabalho é comandar, direta ou indiretamente, a mão de obra “pouco qualificada”. As tentativas de introduzir a divisão técnica tradicional do trabalho no domínio da engenharia de software simplesmente não são muito eficazes, pois esta é uma prática muito mais abstrata do que a maioria das outras formas de engenharia. A engenharia utiliza conceitos abstratos para manipular fenômenos concretos que requerem fundamentalmente tempo de trabalho humano. Um modelo CAD 3D de um componente de máquina é abstrato, mas o trabalho humano necessário para fabricar o componente é concreto. Um esquema de circuito é muito abstrato, mas, em última análise, inútil se não for fabricado em uma placa de circuito real por uma pessoa que opera uma máquina. A especificação de processo para uma célula de fabricação existe apenas para que a célula tenha sucesso na fabricação de bens concretos, caso contrário, a especificação é inútil. Em contraste, o software, com suas camadas de linguagens, compiladores e montadores em cascata, é muito mais abstrato. Embora o software controle o próprio fenômeno físico dos elétrons que correm em torno dos componentes do computador, esses processos concretos não dependem do tempo de trabalho humano para funcionar. Claro, alguém teve que fabricar a CPU, a placa-mãe e a memória, mas esse trabalho foi controlado por engenheiros mecânicos, elétricos e de fabricação. O software tende a controlar aquilo que não é humano; é uma ferramenta que pode ser usada para automatizar seus próprios processos de desenvolvimento. Onde ele não pode automatizar seu próprio desenvolvimento, não há ninguém qualificado para executar essas tarefas não automatizáveis, exceto os próprios engenheiros/desenvolvedores de software, pois a experiência necessária é muitas vezes muito alta para passar o trabalho para qualquer pessoa com menos conhecimento. Isso não quer dizer que não ocorram tentativas de racionalização. Elas são simplesmente muito menos eficazes do que aquelas que ocorreram historicamente na fabricação.

No entanto, nem todo software existe no abstrato. Softwares embutidos em máquinas ou softwares usados para gerenciar o trabalho de outros certamente funcionam de forma semelhante ao tipo de abstrações de engenharia usadas para entrincheirar a divisão do trabalho em outras disciplinas da engenharia. Interfaces homem-máquina, algoritmos de ordenação e aplicativos de compartilhamento de viagens são exemplos de desenvolvimento de software que realmente usam abstrações para impor uma divisão técnica do trabalho de acordo com as disciplinas de engenharia mais antigas. Esse tipo de engenharia de software é diferente do trabalho dos desenvolvedores de software que estão começando a se organizar em seus locais de trabalho.

De maneira anedótica, eu posso identificar uma divergência na cultura entre engenheiros mais velhos e mais novos. A insatisfação com as condições de trabalho e a remuneração parecem ser mais prevalentes entre os engenheiros no início de suas carreiras.  Agora aposentadorias são extremamente raras, ao passo que costumavam ser comuns. Os salários, embora ainda mais altos do que os de muitos outros “profissionais”, muitas vezes estão estagnados ou até mesmo encolhendo em relação ao custo de vida. Não é segredo que a única maneira de garantir um aumento significativo é deixar uma empresa depois de um ano ou dois por outra que pagará mais; um processo que se deve repetir a fim de garantir um salário capaz do mitológico “estilo de vida de classe média”. Um engenheiro, anteriormente, poderia ter sido o único provedor de sua família (era quase sempre um homem). Uma proporção crescente de engenheiras muitas vezes se vê batendo cabeças com o machismo passível de ser assumido como enraizado em uma cultura de trabalho historicamente dominada por homens. Um mercado imobiliário cada vez mais hostil e uma determinação por parte dos empregadores em manter os salários estagnados está tornando muito mais fácil para os engenheiros mais jovens (trabalhadores mais jovens de todos os tipos, na verdade) verem o antagonismo entre eles próprios e os acionistas, mesmo que o trabalho real que eles realizam esteja diretamente na periferia do Capital com C maiúsculo.

Deixando de lado a questão de como os engenheiros participarão do desmantelamento revolucionário do capitalismo, existe a questão do que os engenheiros farão depois. Isto, obviamente, depende muito das especificidades do mundo que a revolução herda, e, não pode ser razoavelmente previsto aqui. No entanto, é provável que a divisão técnica do trabalho se dissolva. A separação da expertise da prática só é “racional” segundo a lógica do capital. Tendo em conta como essa divisão se torna impeditiva quanto mais granular, a dissolução do capital necessariamente dissolveria qualquer incentivo para dividir a expertise técnica tão severamente. A automação, liberada de ser simplesmente uma ferramenta para o capital, pode ser implantada para eliminar o trabalho pesado em vez de engendrá-lo no processo de fabricação. A destruição de muitas indústrias inúteis, da produção de armamentos ao seguro de saúde, significaria rigorosamente menos trabalho sujo e a abertura de recursos de aprendizagem a qualquer um que deseje acesso certamente mataria a distinção entre engenheiro e trabalhador. Aqueles que fazem terão a liberdade de pensar, e aqueles que pensam terão o poder de fazer. Isso melhorará a vida dos engenheiros tanto quanto a de todo mundo.


[1] O cinturão da ferrugem (Rust Belt, em inglês) é uma região dos Estados Unidos que abrange estados do nordeste, dos Grandes Lagos e do meio-oeste. É a área de industrialização mais antiga e extensa dos Estados Unidos. Mais informações em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cintur%C3%A3o_da_ferrugem [N. T.]

[2] Esta é uma referência meio torta do autor às sweatshops (fábricas de suor ou ateliers de miséria), fábricas com condições de trabalho bastante precárias, normalmente com longas jornadas de trabalho, salários baixos e até mesmo com trabalho infantil. [N. T.]

[3] Estamos utilizando “conhecimentos técnicos” e “saber técnico” como sinônimo de expertise [N.T.]

[4] Do japonês, melhoria ou mudança para melhor. Refere-se especificamente à filosofia ou ao conjunto de práticas associada a operações de manufatura, também presente na engenharia e outras áreas (Wikipédia). [N. T.]

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