O Nascimento do GIC (1927-1933) (Parte II) – Philippe Bourrinet

[Nota do Crítica Desapiedada]: Disponibilizamos ao leitor o sexto capítulo da parte 3 do livro “A Esquerda Comunista Germano-Holandesa (1900-68)” [The Dutch and German Communist Left (1900–68)], que possui o seguinte título: “O Nascimento do GIC (1927-1933)” [The Birth of the GIC (1927–33)].
Para ler a Parte I, confira: O Grupo de Comunistas Internacionalistas na Holanda.


O Nascimento do GIC (1927-1933)[1]

O período de 1927 até a chegada de Hitler ao poder é um período chave na história da esquerda comunista holandesa. Na Alemanha, o que restava da corrente de Essen havia literalmente se desintegrado: a KAI [Kommunistische Arbeiter-Internationale; Internacional Comunista Operária] era apenas uma sombra do que era, ao ponto em que seu executivo se mudou para a Holanda em 1927[2]. Mas o KAPN – que era, na prática, a única seção real do KAI – morreu lentamente. Na Holanda, a tendência de Essen, que não tinha mais nem sequer o respaldo de Gorter, estava efetivamente moribunda.

Este período não foi favorável ao desenvolvimento do comunismo de esquerda entre a classe trabalhadora. Após a derrota da greve dos mineradores na Grã Bretanha em 1926 e depois a derrota do proletariado chinês em 1927, a onda revolucionária do pós-guerra estava quebrada. A abordagem da Internacional Comunista havia sido uma política consciente de derrota que destruiu as aspirações revolucionárias dos trabalhadores em todos os países. A formação do Comitê Anglo-Russo[3] na época da greve dos mineiros ingleses e da aliança da Internacional Comunista com o Kuomintang de Chang Kai-Chek foram tantos marcos na derrota do proletariado mundial, levando diretamente ao triunfo de Hitler em 1933. A adoção definitiva do “socialismo em um só país” pela Internacional Comunista em 1927 assinou sua sentença de morte[4]. O stalinismo triunfou, junto de sua política de defesa da URSS. A política stalinista na Alemanha provou ser o golpe fatal para o proletariado internacional. Com o esmagamento do proletariado alemão pelo nazismo, incentivado pela política da Internacional Comunista e do KPD [Kommunistische Partei Deutschlands; Partido Comunista Alemão], o caminho da revolução foi bloqueado por décadas. A contrarrevolução triunfou mundialmente e o caminho foi aberto para a Segunda Guerra Mundial. No entanto, este período, com a explosão brutal da crise em 1929, também foi uma confirmação surpreendente da teoria da “crise mortal do capitalismo” defendida pela corrente comunista holandesa-alemã. As “condições objetivas” para a revolução proletária estavam realizadas: a crise que havia sido tão fortemente esperada e prevista agora havia chegado. Mas as “condições subjetivas” para a revolução estavam ausentes. Os grupos na tradição do comunismo de esquerda holandês-alemão continuavam desconhecendo esta contradição entre as condições “subjetivas” e “objetivas” da revolução.

1. O rompimento com o KAPD

Por motivos que eram tão políticos como circunstanciais, a partir de 1927 o GIC se separou do KAPD [Kommunistische Arbeiterspartei Deutschlands; Partido Comunista Operário da Alemanha], eventualmente rachando dele.

1.1 A Evolução do KAPD depois de 1923

O meio político revolucionário à esquerda do KPD ainda estava longe de ser desprezível em 1923. Ele totalizava perto de 20 mil membros, organizados tanto nas Unionen como no KAPD e em seus vários rachas[5]. O KAPD, que tinha cerca de 2 mil membros, permaneceu estável. Em 1923, ele foi um dos poucos grupos revolucionários a se opor à política nacionalista e até mesmo antissemita do KPD[6]. Ele se opôs fortemente à política dos “governos operários”, que ele caracterizou como governos antitrabalhadores[7]. Além disso, ele condenou a formação pelo KPD dos “Séculos Proletários (Proletarische Hundertschaften) como um empreendimento putschista, dada a ausência de conselhos operários[8].

Depois de 1923, durante o período da “relativa estabilização do capitalismo” que durou de 1924 a 1928, o KAPD continuou sua propaganda. Ele estava convicto de que embora uma primeira onda revolucionária tivesse fracassado na Alemanha, sob os golpes da inevitável crise econômica global, uma segunda onda varreria mais uma vez o país. Isto era um tanto simplista. O Proletarier, o órgão teórico do KAPD, escreveu em janeiro de 1926: “Se 1924 foi o ano da estabilização e 1925 o ano da crise, 1926 será o ano das lutas[9]”.

Na verdade, 1926 foi um ano de intensa atividade do KAPD dirigida à esquerda do KPD, que rejeitava a bolchevização. O KAPD de modo algum considerava o KPD um “partido burguês”, mas sim um “partido centrista” a partir do qual os militantes revolucionários poderiam surgir, graças à crise nas seções nacionais da Internacional Comunista[10]. Como o KAPD notou, não era uma questão de formar uma oposição dentro do KPD, mas sim de começar a preparar uma avaliação política a fim de enveredar a estrada revolucionária.

Como Dom Quixote de Cervantes, [a oposição] luta contra os efeitos, em que é uma questão de revelar aquelas causas que são de importância fundamental para a estrutura e o campo de atividade do movimento revolucionário dos trabalhadores […] Ao invés de jogar a luva para o presidente do partido, com uma crítica positiva, esta esquerda luta pela legalização de sua oposição […] A esquerda no KPD deve decidir logo se ela quer correr atrás do vagão da história se lamentando ou fazendo barulho ou se ela quer se opor à frente única do capitalismo de Moscou a Washington com a luta do proletariado revolucionário[11].

Em oposição a um reagrupamento de “descontentes” sem princípios, o KAPD esperou que a oposição do KPD fosse excluída para começar o trabalho de esclarecimento. De maio de 1926 em diante, uma grande variedade de grupos, frequentemente politicamente heterogêneos, que haviam sido constituídos como frações com o KPD, haviam sido de fato excluídos:

– o grupo Entschiedene Linke (Esquerda Resoluta) de Ernst Schwarz e Karl Korsch, com cerca de 7 mil membros;

– o grupo de Ivan Katz que formou, junto do grupo de Franz Pfemfert, uma organização de 6 mil membros, próxima da AAU-E [Allgemeine Arbeiter-Union – Einheitsorganisation; União Geral dos Trabalhadores – Organização Unitária], sob o nome do cartel das organizações comunistas da esquerda, e que publicava a revista Spartakus. Esta última se tornou o órgão da Spartakusbund [Liga Espartaquista] nº 2;

– O grupo de Ruth Fischer e Arkadij Maslow, que englobava 6 mil militantes;

– o grupo de Hugo Urbahns (1890-1947), que tinha 5 mil membros: a futura Leninbund [Liga Lenin][12];

– a oposição de Wedding, excluída em 1927-1928: junto com parte da Leninbund criada por Urbahns, mais tarde ela formaria a oposição trotskista alemã.

O trabalho conjunto entre a Entschiedene Linke e o KAPD só se desenvolveu com o grupo de Schwarz (Schwarz ainda era Membro do Parlamento) tão logo o último rachara com Korsch (que depois publicou a Kommunistische Politik [Política Comunista]).

Para o KAPD, não havia chances de trabalhar com Korsch, que defendia políticas sindicalistas e parlamentaristas. Para o KAPD, o slogan de uma “nova Zimmerwald[13]” promovido por Korsch era apenas uma “frase sem conteúdo[14]”. Além disso, uma vez que a Kommunistische Politik aprovou a política da Internacional Comunista de 1921 a 1925, mal se podia sujeitá-la a uma crítica rigorosa:

Aqueles que consideram a tática da Terceira Internacional correta de 1921 a 1925 não podem considerar aquela de 1926 como falsa porque a tática da Terceira Internacional em 1926 é a continuação lógica de sua linha [política] […] A Terceira Internacional está construída sobre um terreno pantanoso, aquele do reformismo, em uma época em que o capitalismo vai de catástrofe a catástrofe e na qual a revolução está na agenda: ela construiu sua casa na areia[15].

Havia um problema diferente com o grupo de Ivan Katz, que havia se reunido com a AAU-E e um pequeno sindicato independente em um cartel heterogêneo[16]. A questão principal era a aceitação de uma organização revolucionária centralizada. Considerando que o grupo de Katz era um “tipo peculiar de anarquismo”, o KAPD recusou qualquer trabalho conjunto com ele, na medida em que a questão do partido ainda não havia sido resolvida:

A luta por táticas revolucionárias não é uma luta contra o partido revolucionário, mas, pelo contrário, uma luta pelo partido revolucionário, como líder da classe […] Para vocês, a questão é: a favor ou contra o KAPD[17].

No fim, apenas a Entschiedene Linke de Schwarz respondeu, mas com hesitações sobre o KAPD. Eles empreenderam uma campanha intensa de denúncias conjuntas do “escândalo das granadas” entregues pelo governo russo à Reichswehr; o KAPD usou os discursos de Schwarz no Parlamento para denunciar tanto o tratado de amizade entre a Alemanha e a URSS como o imperialismo russo[18].

De outubro a novembro de 1926, se desenvolveu uma colaboração mais próxima entre as duas organizações. A Entschiedene Linke (EL), o órgão do grupo de Schwarz, foi inclusive impressa na imprensa do KAPD. Em dezembro de 1926, a EL reconheceu que defendia as mesmas posições que o KAPD em todas as questões principais (sindicalismo, parlamentarismo, capitalismo de Estado na Rússia, reconhecimento da necessidade de um partido). Por fim, em uma sessão do comitê central da EL – de 4 a 6 de junho de 1927 – houve uma decisão unânime de se fundir com o KAPD antes do outono. Ao mesmo tempo, os militantes da EL tiveram de deixar qualquer tipo de sindicato e se filiar à AAU [Allgemeine Arbeiters Union; União Geral dos Trabalhadores]. Mas o bacilo do “parlamentarismo antiparlamentarista” ainda estava presente na EL. Uma exceção substancial foi feita, liberando-a de abandonar seus assentos parlamentares remanescentes: Schwarz permaneceu um membro do parlamento no Reichstag. Oficialmente, seu estipendo parlamentar financiava a propaganda da EL. Isto demonstrava uma atitude inconsistente, dado que toda participação eleitoral havia sido definitivamente rejeitada, e isso levou a protestos vívidos dentro da EL: uma minoria da liderança, apoiada pela maioria do grupo local em Berlim, exigiu o abandono imediato do assento que Schwarz ainda mantinha[19]. Foi neste contexto um tanto desfavorável que a fusão entre a EL e o KAPD finalmente ocorreu em julho de 1927. Após suspender a revista EL, cerca de 2 mil a 3 mil militantes se filiaram ao KAPD, que tinha menos membros. A fusão provocou uma séria crise interna.

De fato, no “caso Schwarz” o KAPD demonstrou certa ambiguidade. Ele afirmou que Schwarz abandonar seu assento parlamentar não era uma “questão de princípio”, mas uma questão de conveniência, na medida em que o partido podia usar sua remuneração parlamentar: “O partido pode, sem contradizer sua atitude antiparlamentar, colocar e resolver a questão do mandato do ponto de vista da oportunidade dada. Nesta situação, se deve considerar se um abandono demonstrativo seria mais útil para o movimento do que um uso financeiro do mandato[20]”.

No entanto, o KAPD foi claro de que Schwarz “não poderia se tornar membro do partido enquanto não abandonasse seu assento[21]”. Consequentemente, o KAPD considerava Schwarz um simpatizante ativo que apoiava privadamente o partido financeiramente através de suas contribuições.

A insistência em “oportunidades” possíveis parecia uma concessão ao oportunismo. Ainda mais porque os adversários políticos do KAPD afirmavam que o partido havia abandonado suas posições antiparlamentares. Logo, a partir de julho de 1927, se desenvolveu uma forte oposição dentro do KAPD denunciando a política de “poucas vantagens” que se escondia por detrás da “neutralidade” da liderança do partido no “caso Schwarz”. Isso resultou – ainda que o KAPD não tivesse de modo algum abandonado o terreno antiparlamentar – em um racha dentro do próprio partido. A oposição não tentou permanecer no partido de modo a conduzir sua batalha política. Sua atitude foi irresponsável, equivalente a submergir o KAPD: ela lançou um apelo para uma “greve de encargos” e evitou a distribuição da KAZ[22]. Por fim, a oposição em Berlim – que reuniu quase metade do distrito – se separou, ainda que sem o apoio das seções de Weissenfels, Leipzig, Hamburgo e da Renânia, que queriam lutar dentro do KAPD.

Ela publicou seu próprio órgão, o Kommunistischer Arbeiter [Trabalhador Comunista], e trouxe com ela parte da AAU, que publicava a Klassenfront [Frente de Classe]. Esta situação durou de 1927 até abril de 1928. Foi necessária uma longa discussão para convencer a oposição (liderada por Ernst Lincke) a se refiliar ao KAPD, de que o racha não se justificava por uma questão de princípios e de que o partido não havia abandonado o antiparlamentarismo.

A situação era muito grave. A maioria dos antigos membros da EL não haviam sido adequadamente integrados ao KAPD. Muitos deles saíram rapidamente ou se dedicaram a atividades fracionárias com a oposição. Ao invés de fortalecer o partido, a entrada de 2 mil membros da EL havia, em última instância, o enfraquecido. Sua adesão, não como indivíduos, mas pela fusão das seções locais da EL com aquelas do KAPD, tinha sido rápida demais[23]. O bacilo do racha, identificado muito antes em 1921, tinha finalmente atingido o partido. Ele tinha, no entanto, uma forte audiência entre a oposição do KPD de 1925 em diante.

O KAPD tinha, de fato, resolvido o “caso Schwarz”: o último se afastou do KAPD e da vida política; ele abriu mão de seu assento, que aguardava reeleição. Ele viria a confessar que, intoxicado com sua nova audiência, ele havia deixado sua crítica menos incisiva e caído no oportunismo. Mas acima de tudo, a atitude da oposição revelou não só uma falta de educação marxista por parte dos elementos que entraram no partido, guiados por “sentimento e entusiasmo”, mas também os resquícios da ideologia “antiautoritária”, perigosa para própria existência do KAPD: “os rachas e a formação de diferentes tendências e sua decomposição são prova suficiente de que nosso partido também era, em sua grande maioria, composto de membros que se permitiam ser guiados não por conhecimento claro, mas por sentimento e entusiasmo […] O primitivismo e a falta de compreensão marxista entre estes elementos sempre leva a um espírito antilíder “antiautoritário”, que, em última instância, leva, e só pode levar, à negação da organização […][24]”.

1.2 O GIC, Pannekoek e o KAPD

A crise do KAPD foi de fato profunda, revelando poderosas tendências antiorganizacionais no movimento da esquerda comunista. Foi o ponto de partida de uma crise no relacionamento entre a AAU e o KAPD. De um lado, havia os defensores de uma “política flexível” (beweglich), que queriam transformar as Unionen em organizações para lutas econômicas e rejeitavam “políticas de partido” em favor de “políticas de classe”. Do outro lado, o KAPD queria manter e inclusive desenvolver sua atividade como uma organização política, enquanto mantinha sua “liderança” da AAU. Esta política “rígida” (starr) se opunha a todas as táticas “flexíveis” que levariam o KAPD a se desviar de seus princípios e a minimizar a importância da organização política.

A crise do KAPD havia revelado a evolução do GIC rumo a posições mais claramente comunistas de conselhos. Isto não aconteceu sem hesitações e contradições dentro do próprio GIC.

O GIC interveio na crise do KAPD desde o início. Ele se alinhou resolutamente com a oposição. Canne Meijer, que representou o grupo na sessão do comitê central do KAPD realizada em 29 e 30 de outubro de 1927, corretamente avisou contra “o perigo de uma destruição total do KAPD” pelo oportunismo[25]. Isto havia penetrado inclusive no “centro do partido”. Segundo o GIC, havia agora uma possibilidade real de que o KAP participaria das eleições. O prestígio do KAPD estava em risco e não poderia ser pesado contra os 600 marcos mensais do estipendo de Schwarz.

Ao passo que considerava a recusa da oposição em pagar encargos como justificada “até certo ponto”, os holandeses exigiram a unificação do partido e avisaram a oposição para que ela não cometesse “o grande erro de destruir o partido em pedacinhos[26]”. Mas, significativamente, o grupo holandês via na crise interna os resultados da “política de líder” como praticada pela liderança do KAPD.

Esta crítica da “política de líder” rapidamente levou o GIC a pôr em causa a função política do partido como defendida pelo KAPD. Em uma carta ao KAPD escrita em fevereiro de 1928, Canne Meijer repreendeu o KAPD por passar da “política da classe” à “política do partido”[27]. Ele não só criticou o oportunismo da política de “pequenas vantagens”, mas também o fato de que o partido “concentrava praticamente toda sua atividade em disputas com o KPD e suas diversas ramificações”. A luta política por fim levou a uma divisão do partido: aqueles que “sabem” e aqueles que “levam as coisas a cabo”, “mais abaixo” na linha política. Além disso, “o centro de gravidade da atividade do partido [deveria ser] nas fábricas”, mas também na AAU e na “construção de organizações de fábrica[28]”. Como a resposta do KAPD a esta carta observou, isto era julgar mal a realidade, na qual lutas partidárias eram “inevitáveis e necessárias”, e suas conclusões significariam se privar das “armas da crítica” ao “afastar os obstáculos ao desenvolvimento da ideologia revolucionária[29]”. Sobretudo, isso significaria encorajar a indiferença política dos trabalhadores, ao se retirar do terreno da luta política. Por fim, exigir a criação de organizações fabris de luta era meramente um “grito de guerra”: tais organizações só poderiam nascer da luta em si e ser “criadas a partir da luta dos trabalhadores”. O KAPD rejeitou forçosamente qualquer visão “antipolítica”, seja expressa pelo GIC ou por qualquer parte do movimento Unionista. Era a função do partido revolucionário que estava em jogo.

Em um texto publicado na Proletarier no mesmo período, sob o pseudônimo de Karl Horner, Pannekoek colocou as questões mais claramente[30]. Sua visão estava bastante afastada de qualquer ideologia antilíder e, assim, um tanto diferente da visão do GIC. Era uma questão de situar a atividade do KAPD dentro do curso histórico atual.

Em Princípios e Táticas, Pannekoek demonstrou que a onda revolucionária mundial havia se encerrado na Europa. A derrota se devia, em primeiro lugar, à imaturidade do proletariado.

Todo capítulo da história da Europa de 1918 até hoje pode ter o título de “A derrota da revolução” […] O proletariado mostrou que mal estava no nível de sua missão histórica, ao passo que a burguesia sabia como explorar suas deficiências ao máximo. O poder da burguesia se deve essencialmente à falta de maturidade, aos medos, às ilusões do proletariado, à ausência da consciência de classe dentro de suas fileiras, uma visão clara de seus objetivos, ou de unidade e coesão[31].

Diferentemente do KAPD e da AAU, Pannekoek – e, igualmente, o GIC antes de 1929 – via o novo período como um de estabilização econômica e política e negava qualquer possibilidade de uma “crise mortal do capitalismo”. Dois anos antes da crise de 1929, ele se recusava a imaginar uma crise de superprodução. Segundo ele, o capitalismo ainda tinha possibilidades substanciais de expansão: “Não é totalmente impossível que o capitalismo amplie a produção e assim supere uma conjuntura extremamente desfavorável[32]”. Pelo contrário, a recuperação econômica era possível – como no século XIX – graças à descoberta de novos escapes. A Ásia oferecia um novo campo de acumulação para o capital, graças à sua promoção à posição de um “elemento autônomo da produção capitalista” no nível mundial. Isto queria dizer que o “capitalismo está longe de estar em seu último suspiro”. Pannekoek adiou a crise e a revolução para um futuro distante:

Nós estamos apenas no pé da montanha. Hoje, é difícil prever desenvolvimentos econômicos no curto prazo. Se uma fase de expansão está chegando, é igualmente certo que ela será acompanhada por uma crise de proporções comparáveis. E, com a crise, a revolução vai reaparecer. A velha revolução acabou; nós temos que preparar a nova[33].

Disso resultava que a função do KAPD e da AAU deveria ser modificada. Diferentemente do GIC, Pannekoek ainda não rejeitava a função política do partido revolucionário: ele cada vez mais o fez, sob a influência do GIC, no final dos anos 1930 (ver abaixo). Em 1927, Pannekoek ainda era fiel às posições que expressara em 1920 em Revolução Mundial e Tática Comunista. Ele reiterou a posição clássica dos comunistas de esquerda: “não é o partido que faz a revolução, mas a classe como um todo[34]”. Ele relembrou que o partido revolucionário, necessário como vanguarda, não pode substituir a si mesmo pela, nem se dissolver na, classe trabalhadora. Ele insistiu no papel indispensável deste partido, antes e durante a revolução, essencialmente, no terreno político:

Toda ação demanda uma luta espiritual permanente das massas a fim de alcançar a lucidez, uma luta travada na forma de um combate entre partidos e tendências opostos, e o partido deve perseguir esta luta para os trabalhadores e sob seu olhar. Em cada fase da luta de classes o partido tem um papel primordial, um tipo de espírito da revolução […][35].

Isto rejeitava implicitamente a posição de Canne Meijer que contrapunha uma “política de classe” antipolítica à “política partidária” e confrontava a atividade de outros partidos entre o proletariado.

O período de prosperidade caracterizado pela reação – como em 1848 na Alemanha – trazendo consigo “declínio, confusão e decepção” no movimento operário inevitavelmente provocou mudanças nas táticas do movimento revolucionário, no qual a ação de massas não estava mais em pauta. O KAPD teria, portanto, de permanecer um partido pequeno para se defender melhor contra a reação predominante. Para ele, era uma questão de preservar “a qualidade e a correção de seus princípios” e não estender cegamente seu campo de atividade. Pannekoek alertou o KAPD contra a intoxicação do sucesso: a tática “flexível”, que só poderia servir como uma tentativa de paliar a fraqueza numérica do partido, tinha de ser rejeitada. O preço de sair de seu isolamento provavelmente seria o oportunismo. Consequentemente, Pannekoek aconselhou: mais propaganda, menos agitação inflamatória e menos ativismo verbal na imprensa do KAPD.

As advertências de Pannekoek foram ainda mais severas para a AAU, que mais expressava a tática de “flexibilidade”. Ela tinha que se resguardar contra se transformar em uma organização sindical – “as pessoas se deparariam com outra Zentrale, nada mais”[36]. Seu papel não era liderar lutas, mas apoiá-las através de sua clareza. Isto era outra maneira de dizer – implicitamente – que a existência da Union era supérflua em um período de reação.

Como o KAP, a AAU é essencialmente um órgão para a revolução. Em outros momentos, em uma fase do refluxo da revolução, ninguém pensaria em fundar uma organização assim. Mas ela é tudo que resta dos anos revolucionários[37].

As críticas de Pannekoek estavam fundamentadas, em parte, na crítica do oportunismo. Implicitamente, elas demonstravam o perigo da organização dupla. Ou o KAPD dissolvia a Union, a qual não era mais do que um resquício glorioso da revolução, ou a Union dissolvia o partido, ao se colocar como uma organização híbrida político-econômica. Em todo caso, não havia espaço para dois partidos baseados nas mesmas posições.

A fraqueza do texto Princípios e Táticas de Pannekoek estava em certo fatalismo, o que foi ressaltado pelo KAPD[38].

De certo modo, ao especular sobre um novo período de prosperidade capitalista, Horner – o pseudônimo de Pannekoek – tinha uma tendência de enterrar a revolução muito rapidamente. Ele não entendia, como o KAPD demonstrou, que as crises não eram mais cíclicas como haviam sido no século XIX. Sua comparação com a situação depois de 1848 não era válida. Na época da “crise mortal do capitalismo”, os breves períodos de “estabilização relativa” de modo algum preveniram o surto de movimentos de classe na forma de greves selvagens, nas quais o partido teria de intervir ativamente. A preparação do KAPD para novas lutas que nasceriam da crise imediata estava assim perfeitamente justificada: “o capitalismo em sua fase monopolista é como um barril de pólvora”.

Dois anos depois, o Grande Crash e a crise que o acompanhou refutaram brutalmente as previsões otimistas de Pannekoek de um novo período de “prosperidade” capitalista e confirmaram aquelas do KAPD. A crise econômica viu o triunfo de “táticas flexíveis” e a Union levou consigo o partido, à custa de desmembrar o KAPD. O GIC, seguido por Pannekoek, cujas posições haviam evoluído nesse meio tempo, assumiu uma posição em apoio à AAU, da qual ele [o GIC] se considerava parte, dentro do reagrupamento internacional do comunismo de conselhos.

2. O GIC e o reagrupamento internacional dos comunistas de conselho (1929-1932)

2.1 O GIC e o movimento comunista de conselhos alemão – o nascimento da KAU [Kommunistische Arbeiters Union] (União Comunista dos Trabalhadores)

Em 1929, a 9ª Conferência Nacional da AAU decidiu romper todo contato com o KAPD. O objetivo era pôr um fim à liderança exercida pelo KAPD. Significativamente, usando o pretexto de “atividade faccionária”, a conferência decidiu excluir Adam Scharrer, o principal líder do KAPD, e seu cunhado, Heinz Helm (Heinzelmann). Isto queria dizer que um militante do KAPD não podia mais ser membro da AAU. Disso resultou um racha que enfraqueceu tanto o movimento revolucionário alemão como o internacional, já que em diversos países (ver abaixo), grupos estavam ligados à organização dupla KAU-AAU.

Pode se dizer que o racha deu luz ao comunismo de conselhos no nível internacional. O KAPD – a corrente revolucionária que encarnava o espírito do partido e que havia sido o único polo real de reagrupamento da corrente comunista de esquerda internacionalista – foi empurrado para o segundo plano. Algumas centenas de militantes permaneceram na organização, que se isolou do resto do meio político revolucionário agora dominado por uma ideologia “antilíder” antiautoritária.

A evolução da AAU era confusa e contraditória. Por um lado, a Union adotava uma tática cada vez mais “flexível”, ao ponto em que, pela primeira vez na história, ela liderou uma greve – exatamente como um sindicato. Em 1929, a Union de Cuxhaven liderou uma greve de marinheiros. O KAPD viu isto como o triunfo de uma “política de regateio”, que consistia de pechinchar com os capitalistas à volta da mesa, enquanto se esperava que o proletariado se tornasse forte o bastante para realizar o assalto final”[39]. Por outro lado, a AAU queria permanecer uma vanguarda política na luta de classes. Discussões com o que restava da AAU-E foram conduzidas com isto em mente: uma conferência de fusão seria realizada em Berlim em dezembro de 1931. Todos os grupos comunistas de conselho “estrangeiros” foram convidados para contribuir ao esforço de esclarecimento – entre eles, principalmente Pannekoek e o GIC.

Junto ao grupo de Mattick, que ainda trabalhava com a IWW nos Estados Unidos (Chicago), o GIC era um dos poucos grupos que realizava contribuições sérias ao debate interno sobre o programa do movimento comunista de conselhos internacional. A principal contribuição teórica do GIC foi a elaboração coletiva do trabalho de Jan Appel sobre Os Princípios Fundamentais da Produção e Distribuição Comunista: este foi publicado pela AAU em Berlim em 1930. Era o primeiro esboço de um texto no qual o GIC continuou a trabalhar durante os anos 1930[40]. Os textos sobre a função das organizações revolucionárias eram mais imediatamente relevantes em criticar o programa da AAU.

O GIC, não sem motivos, rejeitou a pretensão da AAU, expressa em seu programa preliminar, de se tornar uma “organização de massa”. A AAU não podia ser nem um sindicato nem um partido. Ela deveria ser considerada uma coleção de “núcleos de fábrica revolucionários”, cuja principal tarefa era propagandear “uma associação de produtores livres e iguais”[41]. Em momento algum os “núcleos de fábrica” podiam competir com os sindicatos ao apresentar demandas econômicas. Sua tarefa era, no surto das greves selvagens, contribuir com a formação de uma “frente de classe” unida em todos os ramos, “livre de qualquer partido ou sindicato”. Apenas na luta de massa as “organizações de fábrica” podiam se tornar uma real “organização de classe”.

Apenas estas organizações de fábrica (Betriebs-Organisation), e não os “núcleos de fábrica”, podiam “liderar a luta”. Em geral, elas desapareceriam quando a luta acabasse. Em todo caso, eles não podiam se tornar organizações permanentes. Sua permanência estava condicionada somente pela escalada da revolução.

Após a luta, apenas os “núcleos de fábrica” permaneceriam como um local de propaganda para a organização da classe, da qual eles eram a semente. Eles seriam a parte mais ativa e mais consciente da classe. Logo, a Union sempre permaneceria um pequeno núcleo.

Se a luta de classes tinha de ser “livre de todo partido”, então logicamente qualquer organização política na forma-partido deveria ser rejeitada em favor de um órgão de tipo sindicalista-revolucionário, como o IWW. Mas para o GIC, este não era o caso de modo algum. Logo, o GIC rejeitou energicamente a proposta de Mattick de tornar a AAU uma seção do IWW na Europa[42]. Isto estava fora de questão, uma vez que o IWW rejeitava toda ação de partido. Na verdade, o GIC rejeitava a existência não de uma organização política, mas de partidos de massa “liderando” a luta de massa, o que ele via como uma sobrevivência de um período passado. É significativo que Pannekoek tenha modificado rapidamente sua posição sobre a questão do partido. Para ele, o partido de vanguarda aspirando “liderar a classe” havia dado lugar a “grupos de núcleo” que cumpriam o papel de “organizações de ideias[43]”. É neste sentido que se pode chamá-los de “partidos”. Eles eram necessários apenas como uma expressão da “luta espiritual dentro do movimento”. Como o KAPD ressaltou, no entanto, esta teoria parecia uma rejeição do partido[44]. Era o começo de um processo que levaria o GIC e Pannekoek a rejeitarem todos os partidos, até mesmo os revolucionários[45].

De fato, o GIC realizou uma separação completa entre as duas funções principais de um partido revolucionário: a luta teórica (“esclarecimento”) e a intervenção na luta de classes. A AAU era uma organização de intervenção e os partidos – grupos de reflexão política – coexistiam com ela. Como a “organização” unitária “da classe”, a AAU tinha que prevenir a formação de frações políticas dentro de si mesma[46], e deixar seus membros livres para se organizarem fora, nos partidos[47]. Esta era a opinião de uma maioria do GIC, que enquanto rejeitava a oposição da AAU-E a qualquer tipo de “partido”, acreditava que a existência de uma “organização dupla” era necessária. Mas as duas organizações tinham de ser rigorosamente separadas e, em todo caso, a AAU não deveria ser dominada politicamente por um partido. Esta também era a opinião da AAU.

Foi com base nisso que a fusão da AAU e da AAU-E ocorreu na conferência de unificação realizada em Berlim, de 24 a 27 de dezembro de 1931. A nova organização, a KAU (União dos Trabalhadores Comunistas) reuniu os 343 membros da AAU e os 57 membros da AAU-E[48]. Como o KAPD, ela se enxergava como uma “vanguarda”, uma “elite” proletária[49].

Era um partido que não ousava falar seu nome. Era um segundo “partido”, ao lado do KAPD. Sua formação era a expressão não de unidade, mas de um processo de rachas dentro do movimento revolucionário alemão.

2.2 O Reagrupamento Internacional dos Comunistas de Conselho

Após a conferência de dezembro de 1936, o GIC se juntou a uma federação muito informal de grupos nacionais como sua cabeça teórica. Ele abandonou a publicação de seu Presse Material [Material de Imprensa] em alemão (PIK) em favor da revista Unionista INO (International Novaj-Officejo) Presse-Korrespondenz [(Novo Escritório Internacional) Correspondência de Imprensa]. A última era editada pelo escritório de informações internacional da KAU em Frankfurt, cuja tarefa era informar e reagrupar os grupos comunistas de conselho ao redor do mundo[50].

Estes grupos tinham a peculiaridade de estar separados do KAPD, rejeitando a concepção deste do partido, para se filiar à KAU alemã e ao GIC holandês:

– o KAPD dinamarquês, que havia existido desde a metade dos anos 20, se tornou o Grupo de Comunistas Internacionalistas (GIC) em 1930[51]. Inicialmente, ele publicou a revista Mod Strømen (“Contra a Corrente”), então, no final de outubro de 1931, a revista mensal Marxistisk Arbejder-Politik (“Política dos Trabalhadores Marxistas”). O grupo era constituído de 12 membros e tinha contato com as oposições dentro do PC dinamarquês[52]. Sua orientação era estritamente conselhista, já que rejeitava qualquer partido. Seus chamados à “greve geral” e à “ação direta” mostram inclusive uma similaridade com a corrente anarquista, um pouco distante do comunismo de conselhos.

– os comunistas de esquerda na Hungria (MBKSZ) trabalhavam sob condições difíceis. O grupo era ilegal e enfrentava a perseguição da polícia, de grupos fascistas e das organizações do PC e da social-democracia[53]. Sua propaganda encontrou eco em pequenas frações do Partido Socialista e do Partido Comunista. Dentro do movimento comunista de conselhos, o MBKSZ era sem dúvida o grupo que insistia mais num urgente reagrupamento internacional das forças existentes.

– Nos Estados Unidos, o grupo unionista de Chicago se formou dentro do IWW ao redor de Paul Mattick. Ele trabalhou muito entre os imigrantes alemães e no meio comunista de esquerda estadunidense. Mattick havia tentado formar uma fração KAP dentro do pequeno Proletarian Party of America [Partido Proletário dos Estados Unidos], o terceiro partido comunista formado em 1919. O Partido Operário Unificado [United Workers’ Party] surgiu deste “partido” no começo dos anos 1930 e publicou a revista Correspondência Conselhista. Mattick, editor do jornal operário Chicagoer Arbeiter Zeitung [Gazeta Operária de Chicago], era bastante ativo no movimento dos desempregados. O grupo de Mattick estava longe de rejeitar a necessidade de um partido revolucionário. Ele era o único que insistia na unidade entre o KAPD e o KAU[54]

– Na França, os grupos Réveil communiste [Alarme Comunista], depois Ouvrier communiste [Operário Comunista] e Spartacus, o primeiro composto de italianos, o último de trabalhadores alemães (o grupo de A. Heinrich), se desintegraram no final de 1931[55]. Com eles, o comunismo de conselhos desapareceria da França por bastante tempo. Isto realçou a impossibilidade de elos entre as esquerdas comunistas teuto-holandesa e a italiana[56].

– Fora destes grupos, mal se pode falar de uma influência real do comunismo de conselhos. O racha entre o KAPD e a AAU havia levado certos grupos nacionais a se aliarem apenas com o KAPD. Embora o KAPD na Áustria[57] tivesse um pequeno grupo ativo em Viena, ele estava presente, acima de tudo, entre trabalhadores falantes de alemão na Tchecoslováquia. No norte industrial da Bohemia, se desenvolveu uma forte oposição dentro do PC Tcheco. No final de 1928 e começo de 1929, se formou um grupo que se identificava com a luta do KAPD contra o “oportunismo da Internacional Comunista” desde seu Terceiro Congresso. O KAP tcheco Propaganda-Gruppe [Grupo Propaganda] – liderado pelo jornalista sudeta Kurt Weisskopf – tinha uma forte presença na região industrial de Gablonz (Jablonec); ele publicava o Kampfruf [Grito de Luta], direcionado ao movimento unionista da Bohemia, e depois seu órgão político Spartakus de 1929 a 1932. Ele teve um grande impacto no movimento de desempregados: sua propaganda antissindicatos era ouvida muito mais prontamente porque trabalhadores tchecos tinham de se filiar aos sindicatos a fim de receber o seguro desemprego. Em janeiro de 1932, cinco delegados do KAP foram eleitos pelos comitês de ação e pelas assembleias de desempregados para uma conferência regional dos desempregados[58]. Atacado pela polícia, o KAP tcheco era virtualmente ilegal desde 1931. Consciente da necessidade de trabalho clandestino, com o crescimento do nazismo na Região dos Sudetas, ele se aliou ao grupo Rote Kämpfer [Lutadores Vermelhos] alemão de Schwab, Schröder, Reichenbach e Goldstein. Estes últimos entraram na clandestinidade em 1932 para preparar seus “quadros” para a luta ilegal.

A dispersão de todos estes grupos – que, tomados como um todo, não tinham homogeneidade política – tornou um real reagrupamento internacional impossível. A proposta dos comunistas de esquerda russos em 1932 de realizar uma conferência internacional dos grupos comunistas de conselhos urgentemente foi aceita pela KAU, mas nunca realizada. A ditadura nazista pôs este projeto em espera. Sobrou para o GIC, em 1935, levar a cabo a primeira e única tentativa de reagrupamento dos comunistas de conselho[59].

2.3 A Tentativa de Reagrupamento dos Comunistas de Conselho na Holanda (1932-1933)

O reagrupamento dos comunistas de conselho na Alemanha teve um efeito dinâmico na Holanda. Diferentes grupos começaram a intervir juntamente do GIC. A seriedade da situação teve um grande papel nisso. Foi menos o crescimento do nazismo do que a oposição às políticas da Internacional Comunista que serviram para catalisar o reagrupamento.

A Internacional Comunista havia decidido realizar um “congresso antiguerra” em Amsterdã em setembro de 1932[60]. Oficialmente, a ideia deste congresso pacifista havia sido lançada por escritores como Henri Barbusse, Romain Rolland, Gorky e Dos Passos. Este congresso foi um ponto de virada para a Internacional Comunista. Uma ideologia pacifista e antifascista se desenvolveria dentro do movimento operário para “defender a URSS”. Ao apelar a “democratas”, ele anunciou a política da frente popular.

Os comunistas de conselho da Alemanha, França, Holanda, Hungria e Dinamarca distribuíram um apelo ao proletariado internacional[61] durante este congresso, bem como nas fábricas de seus respectivos países. Sob o título de “Lembrem-se, Proletários!”, o apelo denunciava a política externa do Estado russo e da Internacional Comunista desde 1920, “uma política de aliança com os Estados imperialistas” que nada tinha a ver com “a luta revolucionária do proletariado russo em 1917”. Os comunistas de conselho internacionalistas distinguiram diversos estágios do abandono do internacionalismo pela Internacional Comunista:

– 1920: a guerra russo-polonesa, travada não pela “revolução mundial”, mas “pelo apoio da Rússia aliado ao imperialismo alemão”;

– 1922: a declaração de Bukharin no Quarto Congresso da Internacional Comunista em favor da “defesa nacional” e de “uma aliança militar com Estados burgueses”[62];

– 1923: a elaboração da teoria da “nação alemã explorada” e a entrega de granadas pelo Estado russo à Reichswehr; a teoria da “libertação nacional” contra o Tratado de Versalhes, levando a uma aliança com os fascistas na Alemanha;

– 1927: durante o conflito entre a Polônia e a Lituânia, a Internacional Comunista convocou trabalhadores lituanos para “defender a independência de seu país”[63].

O apelo, dirigido contra a política da Terceira Internacional, também denunciava aquela política de Trotsky. Ele espalhou a ilusão de que o “Campo Vermelho ainda” era “um fator para a revolução mundial”. Agora, no entanto, a Rússia não viria ao auxílio do “proletariado ameaçado pelo fascismo”. Para os trabalhadores, a questão não era nem de lutar pela paz nem de defender a URSS, mas lutar pela revolução proletária contra sua própria burguesia, pela ação de revolucionária de massa e a sabotagem da produção de guerra. A estrada da revolução mundial, com a criação de conselhos operários, era o único caminho para evitar a guerra mundial.

Este apelo comum dos comunistas de conselhos internacionalistas foi um dos poucos a ser distribuído simultaneamente. No mesmo ano, ele levou a uma das raras tentativas de reagrupamento da corrente comunista de conselhos na Holanda. O apelo foi assinado pelo GIC e pela LAO [Linksche Arbeiders Oppositie; Oposição de Esquerda dos Trabalhadores] e apoiado por outros grupos holandeses.

Uma conferência conjunta dos comunistas de conselho holandeses (seria tanto a primeira como a última) ocorreu em Haia em 12 e 13 de novembro de 1932[64]. Vários grupos estavam presentes para tomar posições sobre a luta de classes e sobre a intervenção na luta econômica:

– o que restava do KAPN: esse partido estava profundamente dividido sobre a participação nas lutas salariais. A maioria, em Amsterdã, ao redor de Bram e Emanuel Korper e Frits Kief, considerava que lutas econômicas levavam os trabalhadores à derrota após derrota. A minoria em Haia[65], como o GIC, afirmava vigorosamente que “toda luta salarial, por causa da crise capitalista, carrega em si a semente de um movimento revolucionário[66]”. No começo de 1933, ele se separou do moribundo KAPN para publicar a De Radencommunist (“O Comunista de Conselhos”). Esta última era a expressão do Grupo de Conselhos em Haia;

– a Linksche Arbeiders Oppositie (LAO – Oposição de Esquerda dos Trabalhadores) apareceu em julho de 1932 com a publicação de seu órgão Spartacus[67]. Ela era ativa em Rotterdam e Leiden. A LAO era muito obreirista e defendia implicitamente a teoria da “violência da minoria”. Sua preocupação era “provocar conflitos de classe”. Esta organização conselhista era dominada pela personalidade de Eduard Sirach (1895-1937). Durante a Primeira Guerra Mundial, ele fora um dos líderes dos motins que irromperam nos encouraçados Regent e Zeven Provienciën. Por isso, ele havia sido condenado a um longo período na prisão. Ele fugiu da prisão e foi para a Alemanha em dezembro de 1918, onde ele participou das lutas revolucionárias. Subsequentemente, morando em Amsterdã e Rotterdam e sem nenhum trabalho estável, em 1924 ele se filiou ao CPN [Communistische Partij Nederland; Partido Comunista Holandês] – que o lançou como candidato nas eleições – e ao NAS [Nationaal Arbeids Secretariat; Secretariado Nacional do Trabalho]. Ele se filiou ao RSP [Revolutionaire Socialistische Partij; Partido Socialista Revolucionário] de Sneevliet, mas foi expulso. Em Leiden, a LAO matinha contato íntimo com Van der Lubbe, que participava de suas atividades. Claramente seduzido pela teoria da violência da minoria, ele queimou o Reichstag alguns meses depois. A questão dos “atos exemplares” provocou debates vívidos no movimento comunista de conselhos (ver abaixo).

Outros grupos e indivíduos não-organizados também estavam presentes. Em conjunto com a concentração de comunistas de conselho em Utrecht, havia uma organização anarquista: a Bond van Anarchisten-Socialisten (BAS) [Liga de Anarquistas-Socialistas]. Estas forças dispersas eram típicas de um movimento fortemente localista, alérgico a qualquer ideia de centralização. A presença de um grupo anarquista como a BAS era característica: provava que a demarcação entre o comunismo de conselhos e o anarquismo não era muito acentuada. Isto estava claro para o GIC, mas não para os outros grupos.

No entanto, a conferência realmente teve resultados positivos imediatamente senão no longo prazo. Ela estabeleceu critérios delineando o movimento comunista de conselhos: a participação em lutas econômicas era o critério principal. Como resultado, a maioria do KAPD deixou o movimento para lançar sua própria revista: De Arbeidersraad (O Conselho Operário) em 1933. Embora defensor do partido, como o velho KAPN, este grupo gradualmente evoluiu em direção a posições trotskistas e até mesmo antifascistas[68]. O segundo resultado positivo foi a publicação de textos nas diferentes revistas, vindo do movimento como um todo, bem como a distribuição conjunta de panfletos[69]. Finalmente, a eleição de uma comissão conjunta dos grupos aparentemente mostrou uma preocupação ativa em se reagrupar no futuro.

Contudo, esta tentativa única de unir grupos com uma orientação “conselhista” seria um fracasso. A abertura de uma trajetória contrarrevolucionária, após a ascensão de Hitler ao poder em 1933, apenas acentuaram as tendências centrífugas dentro do movimento holandês, como em outros lugares no movimento conselhista “internacional”.

3. A Chegada de Hitler ao Poder e Suas Consequências – O GIC e a Situação Alemã

Exclusivamente preocupado com as questões que agitavam o movimento Unionista na Alemanha, o GIC prestou pouca atenção ao crescimento do nazismo, um sinal notável da contrarrevolução em marcha. As questões de organização das Unionen, da crise econômica e as questões mais teóricas do campesinato e do período de transição (ver abaixo) pareciam mais importantes. Esta fraqueza, quando diante de um problema político tão urgente quanto o crescimento da contrarrevolução, foi o resultado de um fracasso em avaliar minuciosamente o período histórico. Para eles, os movimentos de classe nasceriam inevitavelmente da crise mundial, na forma de greves selvagens, que levariam diretamente à revolução.

Como uma corrente da esquerda comunista, o GIC considerou o movimento nazista a expressão da ofensiva do “capitalismo monopolista” contra o proletariado, cuja base social era a pequena burguesia proletarizada pela crise. Para combater o nazismo, a única tática proletária era o ressurgimento da luta de classes maciça, na forma de movimentos espontâneos contra os sindicatos. Qualquer tentativa de aliança antifascista com os partidos de esquerda levaria à traição dos princípios proletários. Para derrotar o nazismo, o proletariado alemão só poderia contar consigo mesmo e, acima de tudo, no ressurgimento da luta de classes internacional nos principais centros do capitalismo. O GIC, como os grupos revolucionários alemães (KAPD, KAU) e os grupos comunistas de conselho nos Estados Unidos e em outros lugares rejeitaram intransigentemente a frente única antifascista[70]. Para eles, a Social-Democracia alemã e o KPD haviam participado do esmagamento do proletariado: o SPD fisicamente, em 1919, e o KPD ideologicamente ao competir com o movimento nazista no terreno nacionalista, de 1923 em diante. No final de 1932, o KAPD enfatizou que “Hitler englobava a herança de Noske[71], o partido de Hitler a herança da Social-Democracia”[72]. Quando ao KPD, “ele elevou a demagogia a um princípio e foi derrotado pelo mestre da demagogia, Hitler[73]”. O resultado desastroso desta política de desvio ideológico foi que “uma grande parte dos apoiadores do KPD passaram para o lado de Hitler”[74].

Foi apenas no fim de 1932 que o GIC começou a avaliar as perspectivas que surgiam da onda fascista para o movimento operário. O movimento nazista correspondia à tentativa do grande capital de estabelecer “a ditadura absoluta das classes possuidoras” com o apoio das classes médias[75]. A análise do GIC era completamente banal e demonstrava uma falta de profundidade política que só seria superada após Hitler tomar o poder. Os holandeses permaneceram otimistas. Enquanto enfatizavam que o fascismo não tinha soluções a oferecer no nível econômico, eles pensavam que ele provocaria “a mais violenta luta de classes”.

A ascensão de Hitler ao poder finalmente forçou o GIC a adotar uma posição política mais definida. É significativo que Pannekoek tenha assumido a caneta para orientar a política comunista de conselhos mais concretamente[76]. Ele tentou analisar as causas e consequências da derrota proletária na Alemanha bem como as perspectivas imediatas e em longo prazo para os trabalhadores e revolucionários em todo o mundo:

A derrota do proletariado alemão: como a esquerda comunista italiana em 1933[77], Pannekoek demonstrou claramente que o triunfo final de Hitler completou a contrarrevolução Social-Democrata iniciada em novembro de 1918 com a chegada de Ebert e Scheidemann ao poder. Como uma revolução astronômica, a contrarrevolução havia completado sua rotação. Hitler não chegou ao poder para prevenir a explosão da revolução – a tese stalinista à época[78] –, mas para completar a contrarrevolução iniciada catorze anos antes pela social-democracia alemã:

Não se pode chamar de modo algum de “contrarrevolução” o movimento circular completo (“revolução”) na Alemanha, uma vez que isso pressupõe uma revolução que o preceda. A verdadeira contrarrevolução começou em 9 de novembro de 1918 em Berlim, quando Ebert e Scheidemann entraram para o governo[79]

A instituição de uma “sociedade de violência”, a substituição do parlamentarismo por um governo ditatorial, a “supressão das liberdades burguesas e dos direitos humanos mais elementares para certos grupos da população”, campos de concentração para membros do SPD e do KPD, a perseguição aos judeus, foram muitos dos fatos que demonstraram que a contrarrevolução havia fechado o círculo.

Foi a crise econômica global que permitiu que o grande capital completasse a contrarrevolução. Para liderar seu “ataque contra o proletariado”, o capital alemão encontrou suas tropas auxiliares no movimento nazista, cujos quadros eram oficiais do exército e estudantes pequeno-burgueses. Economicamente, o nazismo correspondia à tentativa do capital alemão de conquistar “certa autarquia”.

O outro fator na derrota do proletariado alemão foi, sobretudo, ideológico: o desvio de sua luta ao terreno eleitoral, o terreno da social-democracia. Essa foi a pior das derrotas: o colapso sem luta da força proletária. “Uma derrota por si só não é grave, a classe trabalhadora sofrerá derrotas frequentes se ela lutar com força insuficiente contra um capital mais forte e essas derrotas são a fonte de vitórias definitivas. Porém, aqui foi um colapso, sem luta, porque os trabalhadores apenas elegiam social-democratas e não haviam aprendido a lutar de uma maneira revolucionária[80]”.

A conclusão política de Pannekoek foi clara: o caminho de Ebert a Hitler foi o desdobramento da “catástrofe social-democrata”. A social-democracia não podia mais ser considerada parte do movimento operário. No entanto, como o GIC, Pannekoek hesitou em situar a social-democracia como uma fração política da burguesia. Esta hesitação sem dúvida está na origem de sua distinção posterior entre o “antigo” e o “novo” movimento operário: “A social-democracia é um velho galho da árvore do movimento operário e sob ela, praticamente invisível, até agora abafados por ele, estão nascendo novos brotos[81].

A responsabilidade do KPD na derrota do proletariado alemão foi igualmente importante. É significativo que Pannekoek tenha falado quase exclusivamente da adoção das táticas sindicalistas e parlamentares e da submissão ao capitalismo de Estado russo como as causas da falência do KPD em 1933. Denunciando o “fanatismo pelo partido” do KPD, Pannekoek ignorou o efeito decisivo de suas políticas no final dos anos 1920: as teorias do “fascismo social” e da “libertação nacional alemã”, a frente única com os nazistas nas greves. Ele notou, sem se aprofundar quanto às reais causas da derrota, que os comunistas jogados em campos de concentração eram “as vítimas das falsas políticas do KPD, que só podiam levar à impotência da classe trabalhadora alemã[82]”.

Autonomia proletária: o remédio para a derrota não podia ser encontrado no slogan de um boicote econômico à Alemanha, lançado pelos anarcossindicalistas holandeses[83]. Ao adotar este slogan, os trabalhadores só podiam agravar sua derrota reforçando o nacionalismo: um novo 4 de agosto de 1914 e uma nova guerra seriam a consequência derradeira, “sob o disfarce de boas intenções humanitárias”. “O único resultado seria o seguinte: na Alemanha, o nacionalismo é reforçado e a luta pelo esclarecimento comunista, inibida. Disto, nós obteríamos um segundo 1914 assim que os trabalhadores em todos os países beligerantes se resignassem ao belicismo imperialista de sua própria burguesia e o apoiassem[84]”.

A única linha proletária na luta contra o nazismo era, acima de tudo mais, a luta do proletariado alemão e internacional em seu terreno de classe:

A luta contra o nacional-socialismo é a luta contra o grande capital alemão. Apenas a classe trabalhadora alemã pode levar esta luta a cabo. Hitler só pode ser derrotado por trabalhadores alemães […] Os trabalhadores de outros países, aqueles da Europa Ocidental ou até mesmo dos Estados Unidos, não podem fazer nada para ajudar seus camaradas extremamente oprimidos na Alemanha? Claro que podem. Antes de mais nada, conduzindo clara e vigorosamente a luta contra sua própria burguesia. Todo exemplo de uma luta de classes vigorosa em um país tem um efeito estimulante e esclarecedor nos trabalhadores em outros países[85].

As perspectivas do movimento operário: Pannekoek e o GIC viam o futuro do movimento revolucionário alemão com certo otimismo. Eles consideravam que a “força espiritual” do antigo movimento operário estava “destruída”, subestimando seu peso ideológico, mesmo na clandestinidade. Segundo eles, “forças jovens” surgiriam e encontrariam na literatura da KAU, do KAPD e do Rote Kämpfer a fonte de seu esclarecimento. Esta esperança foi rapidamente frustrada. Pannekoek afirmou que o comunismo “seria construído sobre bases totalmente novas”. Isso queria dizer que não havia mais uma continuidade no movimento operário através de suas “frações de esquerda”. Em certo sentido, tudo tinha que começar mais uma vez do zero. Este método – totalmente diferente daquele da esquerda comunista italiana da época – anunciou a teoria do “novo movimento operário”, que se provaria fatal para o comunismo de conselhos[86].

4. O Comunismo de Conselhos Holandês e Van der Lubbe

Foi a importância da incineração do Reichstag (27 de fevereiro de 1933) por Van der Lubbe, mais do que a chegada de Hitler ao poder, que deu foco aos debates dentro do comunismo de conselhos holandês. Este último estava profundamente dividido sobre a questão dos “atos exemplares” e da violência individual contra símbolos da ordem burguesa.

Marinus van der Lubbe, nascido em 1909, era um jovem pedreiro de Leiden. Ele havia sido do PC holandês de 1925 a 1931. Ele saiu depois de adotar uma posição antiparlamentarista e comunista de conselhos. Ele era bastante ativo no movimento dos desempregados e nas greves de trabalhadores que irromperam em diversas cidades. Depois de deixar o Comitê de Agitação dos Desempregados (WAC) – liderado pelo CPN – em outubro-novembro de 1932, ele foi o principal editor da revista para pessoas desempregadas em Leiden, Werkloozenkrant [Gazeta dos Desempregados], que convocava comitês de ação autônomos, independentes de qualquer partido político. Van der Lubbe era um trabalhador completamente dedicado à causa proletária. Aposentado após uma lesão no trabalho que ameaçava cegá-lo eventualmente, ele devotou todo seu tempo à atividade militante. Logo ele estabeleceu contato com a LAO de Eduard Sirach e a auxiliou em seu trabalho de propaganda. Se ele tinha qualquer contato com o GIC em Leiden, eles permanecerem pessoais[87]. Van der Lubbe nunca foi membro do GIC, mesmo que simpatizasse com suas posições e fosse leitor do PIC.

Depois de várias viagens à Alemanha e ao redor da Europa (Hungria, Iugoslávia, Áustria) para descobrir por si mesmo o estado real da luta de classes, Van der Lubbe decidiu ir a Berlim em fevereiro de 1933, pouco após a nomeação de Hitler como chanceler (30 de janeiro). Ele chegou à cidade em 18 de fevereiro. Ele participou de reuniões do SPD e do KPD e buscou contato com os sem-teto (Obdachlosen) de Berlim. Ele conseguiu fazer contatos políticos (23 e 25 de fevereiro) com comunistas de conselho alemães, com Alfred Weiland e alguns membros da KAU, que olharam com suspeitas para o jovem trabalhador holandês. Ele estava – segundo Weiland[88] – muito entusiasmado com o motim recente perto da costa da Indonésia, liderado pelos marinheiros do encouraçado holandês Zeven Provinciën (4 a 10 de fevereiro) em protesto contra cortes de 10% nos salários. Ele foi finalmente esmagado sangrentamente por bombardeio aéreo, mediante ordens do gabinete de Colijn.

Na noite de 25 de fevereiro, ele tentou incendiar um escritório para os desempregados e um castelo em Berlim, sem qualquer sucesso. Depois de deixar a capital, ele retornou a Berlim para incendiar o Reichstag. Sua decisão de queimar o Reichstag pode ter sido pessoal[89] motivada tanto pela crença ingênua de que sua “ação exemplar” ia “acordar” o proletariado alemão quanto por desespero pessoal (Van der Lubbe estava condenado à cegueira iminente). Porém, acima de tudo, este desespero pessoal expressava um crescente desespero político nas camadas mais profundas do proletariado.

Nós sabemos o que aconteceu com Van der Lubbe. Arrastado perante a “justiça” nazista, ele negou ter tido contatos com o KPD ou com o meio “conselhista” em Berlim. Ele foi condenado à morte (23 de dezembro de 1933) e decapitado em 10 de janeiro de 1934, uma das primeiras vítimas do terror nazista. Para seus amigos, esta execução foi a continuação lógica do terror burguês que havia atingido tantos trabalhadores sob os governos de Ebert a Hitler. Mas o pior para Van der Lubbe foi ter seu nome arrastado na lama pelos stalinistas, que o acusaram de estar a serviço do nazismo e começaram uma grande campanha de difamação. O PC holandês o acusou de estar a serviço da polícia holandesa e de ser um dos “capachos” da gangue de Röhm. Os stalinistas foram seus carrascos tanto quanto os nazistas e não hesitaram em exigir sua morte. Dimitrov (o suposto cúmplice de van der Lubbe), que seria absolvido e se tornaria um dos principais líderes da Internacional Comunista stalinizada, inclusive exigiu em audiência pública que Van der Lubbe deveria ser “condenado à morte por ter trabalhado contra o proletariado[90]”.

Na Holanda, o CPH – apesar de Van der Lubbe ter sido um membro ativo do partido – desenvolveu a mesma campanha de difamações. Ele propagou as mentiras contidas no “Livro Marrom” publicado pelo Münzenberg Trust[91] – este último sendo o grande mago financeiro da Internacional Comunista – com o apoio de “democratas” que incluíam um lorde inglês. Para defender Van der Lubbe, os comunistas de conselho produziram um “Livro Vermelho” (Roodboek), o qual usou uma grande variedade de testemunhos para demolir ponto a ponto as acusações contra ele[92]. Foi formado um comitê Van der Lubbe, composto por um membro do ex-KAPN, Lo Lopes-Cardoso; um membro do GIC, o psiquiatra Lieuwe Hornstra (1908-1990); e o escrito proletário Maurits Dekker (1896-1962). Este comitê tinha sucursais em diversos países, incluindo a França[93]. Ele era, de fato, um cartel de grupos e personalidades, não muito distintas do anarquismo, uma vez que anarquistas estavam inclusos nele[94].

A formação deste comitê não foi capaz de evitar que surgisse um debate dentro do comunismo de conselhos holandês sobre a importância de “atos pessoais” e do terrorismo em geral. Por um lado, havia aqueles que os consideravam “atos proletários” e, por outro lado, aqueles que rejeitavam por princípio toda ação terrorista.

A primeira tendência, apoiada pelos comunistas de conselho alemães[95], era motivada tanto por uma relutância em “ficar do lado dos caçadores” como por confusão política. Ela via no incêndio do Reichstag não um ato de desespero, mas uma façanha proletária que em outras circunstâncias poderia “acordar” o proletariado alemão e levá-lo à luta[96]. A reação de grupos como a LAO e o agrupamento Radencommunist foi típica quanto a isso.

A Spartacus, o órgão da LAO, ao passo em que exaltava Van der Lubbe – “um intrépido lutador, pronto a sacrificar a si mesmo pelo comunismo” – tinha uma posição intermediária sobre a importância de atos de terrorismo individuais. Por um lado, a LAO declarou que: “Nós não defendemos o terror individual como um método de luta da classe trabalhadora”. Por outro lado, ela o apoiava implicitamente: “isso não quer dizer que nós rejeitamos toda ação individual […]”. Com efeito, a LAO acabou defendendo a posição de que a ação terrorista individual poderia levar a classe trabalhadora à ação: “O gesto de Van der Lubbe poderia ser o sinal para a resistência generalizada dos trabalhadores sobre as cabeças dos figurões dos partidos Socialistas e Comunistas[97]”.

A posição do grupo Radencommunist era praticamente a mesma. Ele negava o fato de que o ato de Van der Lubbe era um de desespero individual, correspondendo a uma profunda desorientação do proletariado: “Além disso, este ato não deve ser considerado um ato individual, mas sim uma faísca que, nesta situação violentamente tensa, poderia levar à explosão[98]”. Neste sentido, os grupos rejeitavam a evidência da história: uma ação terrorista, individual ou não, pode ser usada pela classe dominante para reforçar sua opressão e sua repressão do proletariado. Em última análise, a posição deles era bastante próxima daquela dos Socialistas Revolucionários antes de 1917 na Rússia.

A segunda tendência rejeitou incisivamente o uso de atos individuais e do terrorismo como um método da luta de classes. Este era o caso do grupo Arbeidersraad [Conselho Operário] (o grupo de Korpers) – que veio do KAPN – e do GIC. Porém, seus motivos eram radicalmente diferentes. Para o De Arbeidersraad – se dizia que no julgamento de Van der Lubbe que ele era membro do KAPN – era mais uma questão de rejeitar a pessoa Van der Lubbe do que defender uma posição clássica do movimento marxista de que “a força motriz da revolução operária nunca foi o terror individual ou o putschismo, mas a própria crise do capitalismo[99]”. Ao insistir fortemente no fato de que ninguém entre eles havia “ouvido falar de Van der Lubbe” e de que seus atos poderiam ter “um efeito contrarrevolucionário”, eles claramente recusavam qualquer solidariedade elementar com uma vítima da repressão. Esta atitude ambígua anunciou uma evolução que levou determinados membros ao trotskismo e, finalmente, ao Partido Comunista[100].

A atitude do GIC foi muito menos ambígua. Ao passo que declarava sua solidariedade para com Van der Lubbe como uma vítima do nazismo e do stalinismo, o GIC insistia que o jovem trabalhador holandês havia claramente demonstrado uma “vontade de morrer em um ato assim”, mas que ninguém deveria repreendê-lo por isso[101]”. Assim que esta solidariedade foi claramente proclamada, o GIC repetiu a posição da esquerda comunista alemã nos anos 1920:

A tarefa de um real agrupamento revolucionário só pode ser fortalecer a classe ao disseminar uma concepção clara das relações sociais, das questões de organização e de tática. Não cabe a nós fazer as massas se movimentarem; isso só pode ser o resultado necessário das relações sociais. Nossa tarefa é apenas ajudar as massas em movimento a encontrar o caminho correto[102].

Mais profundamente, Pannekoek – em um artigo no PIC[103]– demonstrou que qualquer “ato pessoal” como esse de Van der Lubbe só poderia obscurecer a consciência de classe do proletariado. Este “ato pessoal” só poderia ter valor “como parte de um movimento de massas”: “Neste quadro, a audácia dos mais corajosos encontra expressão em atos pessoais de coragem, ao passo que a clara compreensão de outros dirige estes atos a seu objetivo de modo a não perderem seus frutos[104]”. Separados da ação de massa, todos os atos individuais, longe de enfraquecerem a burguesia, só podem reforçá-la. Foi precisamente este o caso com o incêndio do Reichstag: “A burguesia não foi afetada nem um pouco pelo incêndio do Reichstag; sua dominação não enfraqueceu de modo algum. O governo, pelo contrário, usou a oportunidade de reforçar consideravelmente seu terror contra o movimento operário[105]”.

Ideologicamente, essa ação não tinha nenhuma força “contra o eleitoralismo abjeto” e a democracia burguesa. As ilusões democráticas sempre poderiam tomar “outro caminho”; por exemplo, quando o “direito ao voto” é suprimido, então a mistificação da “conquista da democracia é avançada” pela burguesia “democrática”. Em segundo lugar, historicamente, a ação terrorista individual não teve efeito mobilizador sobre a luta de classes. Isso corresponde a uma era passada, aquela do “romantismo burguês” das revoluções do século XIX, nas quais alguns líderes achavam que podiam mobilizar as “massas passivas” ao fornecer a “faísca” para a explosão social. A revolução proletária, em contrapartida, “não tem nada em comum com a explosão de um barril de pólvora”. Por fim, a ação terrorista só pode confundir a consciência de classe dos trabalhadores: ela os reduz à passividade. A ação individual se torna uma substituta para a ação de massas. Seu efeito é, assim, completamente negativo: “Mesmo que tal ato atingisse e enfraquecesse efetivamente a burguesia, a única consequência seria desenvolver entre os trabalhadores a convicção de que tais atos pessoais poderiam libertá-los […] o que os conduziria para ainda mais longe da ação autônoma enquanto uma classe[106]”.

Consequentemente, o movimento proletário deve rejeitar todas as formas de ação terrorista, que não são nada senão um reavivamento do niilismo do final do século XIX. O GIC e Pannekoek assim mostraram claramente que o futuro do movimento revolucionário só poderia estar na ação de massa. Esta visão não foi sempre entendida por alguns militantes do movimento conselhista holandês[107].

Depois de fevereiro de 1933, o GIC na prática assumiu a liderança do movimento comunista de conselhos internacional. Os grupos alemães, reduzidos à clandestinidade mais estrita, confiaram a publicação da revista internacional Proletarier a Amsterdã, como a expressão de todo o movimento. Houve apenas uma edição. A Proletarier foi sucedida pela revista teórica em língua alemã Räte-Korrespondenz de 1934 a 1937.

Durante os anos 1930, esse foi um dos poucos órgãos – como a Bilan para a esquerda comunista italiana e a Correspondência Conselhista Internacional nos EUA – que tentaram elaborar uma avaliação da “longa noite de contrarrevolução” que caiu sobre todo o movimento operário revolucionário depois de 1933.

Referências

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[1] Tradução do capítulo The Birth of the GIC (1927-1933), de Philippe Bourrinet, retirado do livro The Dutch and German Communist Left (1900-68): ‘Neither Lenin nor Trotsky nor Stalin!’ ‘All Workers Must Think for Themselves!’, Leiden/Boston, Koninklijke Brill, 2017. Alteramos as menções de Bourrinet a outros capítulos deste mesmo livro no corpo do texto para notas de rodapé a fim de facilitar a leitura e posterior consulta; nestas notas, a referência aparece como Bourrinet (2017), seguida pelo número e nome do capítulo. Todos os colchetes com os significados dos acrônimos na primeira vez em que aparecem são inclusões nossas, assim como a tradução dos títulos de grupos, artigos e livros. [N. T.]

[2] O holandês Lo Lopes Cardoso (1892-1944), membro do KAPN [Kommunistische Arbeiders Partij in Nederland; Partido Comunista Operário nos Países Baixos], se tornou secretário da KAI, que realizou uma conferência em Amsterdã (20 a 26 de fevereiro de 1927). No começo dos anos 1930, a KAI não era mais do que um escritório em Amsterdã, administrado pelo editor Emanuel Querido (1871-1943), cuja casa editorial havia publicado a poesia de Gorter. O irmão de Emanuel, Israël (1872-1932) era um famoso romancista e crítico, que escreveu um romance, influenciado pelo naturalismo de Zola, sobre os trabalhadores do bairro Jordaan em Amsterdã, De Jordaan (1924).

[3] Por iniciativa de Stalin, foi criada uma aliança entre os sindicatos russos e as trade-unions britânicas.

[4] Stalin defendeu sua teoria em seu livro de 1926, Sobre os Fundamentos do Leninismo: “o socialismo em um só país” foi “a construção de uma sociedade completamente socialista em nosso país, com a simpatia e o apoio do proletariado em outros países, mas sem a vitória prévia do proletariado em outros países”.

[5] Ver Kool (1970), p. 145.

[6] Ver, por exemplo, Paul Fröhlich: “Aqueles que partilham do interesse nacional devem se aliar ao proletariado em luta, devem querer a revolução […] Nós não negamos a necessidade da defesa nacional, quando ela está em pauta […]” (Rote Fahne [Estandarte Vermelho], “Nationale Frage und Revolution” [Questão Nacional e Revolução], 3 de agosto de 1923). Ou Ruth Fischer, se dirigindo aos estudantes nazistas: “Aqueles que convocam uma luta contra o capital judeu já são, cavalheiros, lutadores de classe, mesmo sem saber. Vocês são contra o capital judeu e querem lutar contra os especuladores. Muito bem. Derrubem os capitalistas judeus, enforquem-nos postes de luz, pisem neles” (de uma reunião de 25 de julho de 1923, relatada no Die Aktion [A Ação], nº 14, 1923). O KAPD apresentou uma compilação deste tipo de prosa nacionalista em seu panfleto Die KPD im eigenem Spiegel. Aus der Geschichte der KPD und der 3. Internationale [O KPD em seu próprio espelho. Sobre a história do KPD e da 3ª Internacional]: ver KAPD (1926), p. 59-79.

[7] Ver KAZ [Kommunistische Arbeiter Zeitung; Gazeta dos Trabalhadores Comunistas], nº 75, setembro de 1923, “Zur Frage der Arbeiter und Bauernregierung” [Sobre a Questão do Governo Camponês e Operário]: “Nós não somos um partido legal e nunca atribuímos qualquer valor à legalidade. Se necessário, nós lutaríamos contra o ‘governo operário’ a partir de esconderijos conspiratórios, como os bolcheviques lutaram contra o czarismo”. Por fim, o KAPD, no KAZ, nº 71, setembro de 1923 (“Neues Blutbad der sächsischen Arbeiter und Bauernregierung” [Novo Banho de Sangue do Governo Camponês e Operário Saxônio]) relembrou que o “governo operário” na Saxônia havia começado a atirar contra uma manifestação dos desempregados, deixando três mortos e trinta feridos.

[8] Membros do KAPD que participaram dos “Séculos Proletários” (“Proletarische Hundertschaften”) do KPD foram expulsos.

[9] Proletarier, Heft [Caderno] 1, janeiro de 1926, “Dem Jahrgang 1926 zum Geleit” [Ao ano de 1926]. Segundo um relatório da polícia, a Proletarier tinha uma tiragem de 7 mil cópias. Ver Ritter (1979), R134/23, 16 de abril de 1924.

[10] Ver, por exemplo, o artigo de Carl Happ, sob o pseudônimo de Carl Schlicht, na Proletarier, nº 8, agosto de 1927: “Der Zentrismus in der KPD” [O Centrismo no KPD]. O stalinismo na Rússia também foi descrito como “centrista”: “a luta contra Moscou é primeiramente a luta contra este centrismo: desmascará-lo é a tarefa principal da política de classe proletária”.

[11] “Die Zukunft der Linken in der KPD” [O Futuro da Esquerda no KPD], de Carl Schlicht (Carl Happ), na Proletarier, nº 2/3, abril de 1926.

[12] Ver o bem documentado estudo sobre a esquerda no KPD, Langels (1984).

[13] Conferência realizada de 5 a 8 de setembro de 1915 na cidade de Zimmerwald, Suíça, por partidos socialistas antimilitaristas de países originalmente neutros durante a Primeira Guerra Mundial. [N. T.]

[14] KAZ (1926), nº 77, “Zimmerwald: eine Phrase ohne Inhalt” [Zimmerwald: uma frase sem conteúdo].

[15] Ibid.

[16] Em junho de 1926, foi formada a Spartakusbund Linkskommunistischer Organisationen [Organização Comunista de Esquerda da Liga Espartaquista]. Pfermfert foi seu mentor. Um sindicato de transportes independente (Industrie-Verband für das Verkehrsgewerbe [Associação da Indústria para o Setor de Transporte] se filiou a ela.

[17] KAZ, nº 69, agosto de 1926, “Der Weg der KPD-Opposition” [O Caminho da Oposição do KPD].

[18] Ver KAPD (1927). Em 1923, ao mesmo tempo em que o Estado russo proclamava sua solidariedade com os trabalhadores insurgentes de Hamburgo, navios russos traziam cartuchos, lança-granadas e metralhadoras que iam para a Reichswehr para esmagar a insurreição. Ver Castellan (1954).

[19] Ver Langels (1984), p. 122-126.

[20] Zur Information [Para Informação] (novembro de 1927), “Eine Frage, die keine sein dürfte” [Uma pergunta que não deveria ser uma pergunta]. Zur Information era um boletim interno publicado pela GHA [Geschäftsführender Hauptausschuß; Comitê Executivo Dirigente] do KAPD, iniciado em 1934.

[21] Hermann Remmele (1880-1939), na liderança do KPD, eventualmente morto por Stalin na Rússia, declarou ironicamente em 1927 que não demoraria muito para que o KAPD participasse das eleições. Não foi o caso com o KAPD nem com Schwarz.
Ernst Schwarz (1886-1958) era doutor em filosofia e professor. Ele se filiou ao USPD [Unabhängige Sozialdemokratische Partei Deutschlands; Partido Social-Democrata Independente da Alemanha] em 1920 e depois ao KPD. Ele foi membro do parlamento de 1924 a 1928 e deixou o partido junto de Korsch em 1926, se filiando ao KAPD em 1927. Em abril de 1928, “sob pressão”, ele deixou o KAPD e parece ter sido por pouco tempo membro do movimento Paneuropa de Richard Coudenhove-Kalergi (1894-1972). Ele saiu da Alemanha rumo aos Estados Unidos em 1933, retornando por volta de 1946, sem qualquer outra atividade política pública conhecida.
Ivan Katz (1889-1956) foi membro do SPD [Sozialdemokratische Partei Deutschlands; Partido Social-Democrata da Alemanha] a partir de 1906. Ele abandonou a social-democracia em 1919 para se filiar ao USPD e depois o KPD em 1920, liderando a seção comunal do partido. Como Schwarz, ele foi membro do parlamento de 1924 a 1928. Um dos líderes da esquerda do KPD em 1925, ele foi expulso do partido em 1926. Ele se filiou à Spartakusbund nº 2 fundada por Pfemfert por um período de dois anos. Depois, ele trabalhou para o Comitê de Assistência Nacional de Berlim-Wedding. Preso pelos nazistas em março de 1933, como “comunista” e “judeu”, ele foi libertado depois. Preso em mais três ocasiões, ele foi enviado para o campo de concentração Mauthausen em 1944. Assim que foi libertado, ele trabalhou para uma agência de inteligência americana (Counter-Intelligence Corps [Corporação de Contra Inteligência]) e também se filiou ao SED [Sozialistische Einheitspartei Deutschlands; Partido Único Socialista da Alemanha] em Berlim. Ele contribuiu, junto com Weiland e outros, para o renascimento em Berlim da SWV [Sozialwissenschaftliche Vereinigung; União Científico-Social], que reuniu círculos de discussão “para todos os socialistas livres”. Ele foi um dos fundadores do efêmero partido “titoísta” alemão (UAP) [Unabhängige Arbeiterpartei; Partido dos Trabalhadores Independentes] em 1951. Ele se aposentou em 1954, para viver em Tessin (Suíça), onde morreu.

[22] Zur Information (novembro de 1927), “Eine Frage, die keine sein dürfte“. Os “grevistas de encargos” foram excluídos pelo KAPD enquanto não se recusassem a voltar atrás em sua decisão.

[23] O Sétimo Congresso do KAPD em abril de 1928 observou, com alguma lucidez, que: “Pela primeira vez o partido buscou atrair trabalhadores com tradições parlamentares […] A experiência demonstrou, no entanto, que esta tentativa levou o partido a um fio de cabelo do colapso organizacional e da confusão política. O congresso declara: a integração das facções e um reforço numérico do partido nestas linhas não têm futuro”. Citado no KAZ (Berlim), nº 28, 12 de abril de 1928.

[24] Zur Information, novembro de 1927, “Einige Lehren” [Algumas Lições].

[25] Der Kommunistischer Arbeiter, nº 1, novembro de 1917, “Stimmem zum Parteistreit” [Vozes sobre a Disputa do Partido]. O órgão da oposição afirmou falsamente que o KAPN estava presente na sessão de 29 e 30 de outubro do comitê central do KAPD. Era, na verdade, o GIC, representado por Canne Meijer, como certo Lagebericht [relatório de situação] da polícia alemã atestou em novembro de 1927.

[26] Der Kommunistischer Arbeiter, nº 1, novembro de 1927.

[27] KAZ (Berlim), números 17 e 18, março de 1928, “Vermeintlicher oder tatsächlicher Opportunismus?” [Oportunismo pretenso ou real?].

[28] Bourrinet opta por traduzir o termo alemão Betriebsorganisationen (bedrijfsorganisatie, em holandês)por organizações de fábrica, ao passo que o sentido correto aqui é de organizações do local de trabalho ou da empresa. O mesmo vale para o termo Betriebskerne, mais bem traduzido como núcleo do local de trabalho ou de empresa.Seguimos as escolhas do autor no restante do texto, salvo quando nós indicamos a tradução de títulos de artigos diretamente do alemão ou do holandês entre colchetes. [N. T.]

[29] KAZ (Berlim), nº 13, março de 1928, “Eine Erwiderung” [Uma Réplica].

[30] Horner, “Prinzip und Taktik” [Princípio e Tática], Proletarier, números 7 e 8, julho e agosto de 1927.

[31] Proletarier, nº 7, julho de 1927.

[32] Ibid.

[33] Ibid.

[34] Proletarier, nº 8, agosto de 1927.

[35] Ibid.

[36] Ibid.

[37] Ibid.

[38] Proletarier, nº 10 e 11, novembro de 1927, “Realpolitik und Revolution. Eine Antwort an Genossen K. Horner” [Política Real e Revolução. Uma Resposta ao Camarada K. Horner], de Carl Schlicht.

[39] Carta de 19 de junho de 1929 do KAPD aos grupos de trabalhadores comunistas da Tchecoslováquia, na L’Ouvrier communiste, números 4/5, 1929. Nesta carta, o KAPD observou, não injustamente, que “A crise recente de nosso movimento mostra mais uma vez como a falta de atividade da classe trabalhadora significa agitação desorganizada do movimento revolucionário. Elas compensam a falta de atividade proletária de massas com demonstrações de habilidade e ‘sutileza tática’”.

[40] Ver Bourrinet (2017), Capítulo 7, Towards a New Workers’ Movement? The Record of Council-Communism (1933-5) [Rumo a um Novo Movimento Operário? O Passado do Comunismo de Conselhos (1933-1935)].

[41] PIC (em alemão), julho de 1931 (?), “Richtlinen über revolutionäre Betriebskerne“ [Diretivas sobre os núcleos de empresa]. Estas teses sobre os núcleos de fábrica revolucionários foram apresentadas como uma contribuição do GIC ao congresso dos “grupos Alarme” em Haia, em 5 de julho. Estes grupos anarquistas rejeitavam participação em lutas econômicas.

[42] PIC (em alemão), março de 1931, “Die Unterscheide zwischen der Auffassung der IWW in Amerika und der AAU in Deutschland” [As diferenças entre as visões do IWW nos Estados Unidos e da AAU na Alemanha].

[43] “Over het vraagstuk van de partije” [Sobre a questão dos partidos], PIC, nº 7, maio de 1932. Todos os artigos anônimos de Pannekoek no PIC são destacados por asteriscos na coleção IISG em Amsterdã.

[44] Proletarier, nº 1, fevereiro de 1933. “Zur Frage der Partei” [Sobre a Questão do Partido], de Michael Blank. O autor do artigo, na última edição da revista teórica do KAPD, observou que “Agora, o camarada Pannekoek está tentando espalhar uma ideologia hostil ao partido com fundamentos marxistas”.

[45] Ver Bourrinet (2017), Capítulo 7, Towards a New Workers’ Movement? The Record of Council-Communism (1933-5) [Rumo a um Novo Movimento Operário? O Passado do Comunismo de Conselhos (1933-1935)].

[46] PIC, sem data (julho de 1931?), “Die Gruppe Internationaler Kommunisten Hollands zum Programmentwurf der AAU” [O Grupo Internacional de Comunistas da Holanda sobre o Programa Preliminar da AAU]. Esta edição continha dois textos de Pannekoek – anormalmente aparecendo sob seu nome real – sobre o conceito do partido como um “grupo de núcleo”. Uma edição de 19 de dezembro de 1931 – que pode ser encontrada no ISSG – contém diversos textos do GIC, tanto da maioria como da minoria, sobre a questão da “organização dupla” e a formação de frações nas unions. A minoria defendia a visão da AAU-E hostil a todos os partidos, sejam eles grupos de núcleo ou “organizações duplas”.

[47] PIC, 19 de dezembro de 1931, “Zur Frage der Doppelorganisation” [Sobre a Questão da Organização Dupla] (visão da maioria): “Nós chegamos assim à conclusão, em oposição à AAU-E, de que se deve deixar os membros da Union livres para se organizarem em partidos, precisamente porque nós somos a favor da livre expressão de opinião, pois nós queremos evitar que a luta política se torne uma luta por poder dentro da classe trabalhadora”.

[48] Kool (1970), p. 152. Entre eles, Ernst Pönisch (1903-1985?), carpinteiro em Pirna, próximo da tendência de Rühle, preso pelos nazistas em 1933 e depois felizmente libertado após uma tentativa de suicídio.

[49] Ver Arthur Michaelis, a personalidade mais proeminente da KAU, durante seu congresso de fundação: “Nós também somos uma vanguarda, uma elite […]” (KAU, 1932, p. 22). Todavia, existia ao lado desta visão uma concepção anticentralização. A KAU era uma organização decentralizada: seus órgãos estavam localizados em várias cidades diferentes.
Arthur Michaelis (1888-1942), escriturário em Berlim, prisioneiro de guerra, havia pertencido ao Rote Armee [Exército Vermelho] no Ruhr em 1920: ele era considerado – junto de Eric Kunze [(1895-?); pseudônimos: Sachs, Sackermann na Proletarier, depois de 1924] – o principal líder dos grupos de luta (Kampforganisationen) do KAPD, operando sob o disfarce de “associações de esportes de trabalhadores comunistas”. Por este motivo, ele foi condenado a vários anos na fortaleza, mas foi anistiado em 1924 [ver Ritter, 1979]. Judeu, Arthur Michaelis foi deportado com transporte de Berlim a Piaski Luterskie (Polônia) em 28/03/1942 e assassinado em Trawniki Lager. Ver: Gedenkbuch Berlins der jüdischen Opfer des Nationalsozialismus. ‘Ihre Namen mögen nie vergessen werden‘ [Livro de Memória de Berlim das vítimas judias do Nacional-Socialismo. “Seus nomes nunca podem ser esquecidos”], Edition Hentrich, Freie Universität, Berlin, 1995.

[50] Este escritório, dirigido por Karl Kraus, ex-membro da AAU-E, estava em contato com todo tipo de grupos, incluindo anarquistas e sindicalistas. A própria INO não hesitou em publicar textos destas correntes, ainda que ela não fosse comunista de conselhos. Em 1932, Jean Dautry (1910-1960), André Proudhommeaux (pseudônimos: André Jolibois e Cello) e Karl Kraus de Frankfurt publicaram a Correspondence internacionale ouvrière/Internacia Novaj Oficejo [Correspondência operária internacional/Novo Escritório Internacional] em Paris, Frankfurt e Nîmes.

[51] O núcleo do comunismo de esquerda dinamarquês se formou em 1924 em torno dos Andersen-Harilds, pai e filho. O pai havia vivido com sua família na Alemanha. Membro primeiro do SPD, depois do USPD e, finalmente, do KPD, ele havia sido expulso da Alemanha em 1922. Ele saiu do PC dinamarquês na metade dos anos 1920. Com seu filho Harald, ele entrou em contato com o comunismo de esquerda holandês e alemão depois de 1926, formando o núcleo de um KAPD dinamarquês. (Ver a Collection [Coleção] Canne Meijer, IISG, mapas 70, 96 e 240). Ambos haviam tentado criar uma “organização de livres pensadores proletários” dinamarquesa. Esta era um discordância considerável com o comunismo de esquerda alemão, que era hostil a estes tipos de formação. Depois de 1933, o GIK [GIC] se tornou um elo essencial na atividade clandestina da esquerda comunista alemã (ver Bourrinet, 2017, Capítulo 7). Informações fornecidas por Gerd Callesen, Copenhague, Arbejderbevaegelsens Bibliotek og Archiv (ABA) [Biblioteca e Arquivo do Movimento Operário], em uma carta a Philippe Bourrinet, 1º de março de 1984.

[52] Marxistisk Arbejder-Politik, “órgão para o Raads-Kommunismen [comunismo de conselhos]”, nº 2, maio de 1932.

[53] “Brief aus Ungarn” [Carta da Hungria], in Kampfruf [Grito de Luta], órgão da KAU, nº 12, julho de 1932. De acordo com uma circular do Escritório de Informações Internacional, o MBKSZ estava em contato com o IWW. O grupo húngaro também estava em estreita articulação com os comunistas de conselho búlgaros (ver: “An alle Gruppen der internationalen Rätekommunisten” [A todos os grupos comunistas de conselhos internacionais], in Rundschreiben [Circular], nº 3, 15 de junho de 1932). A carta pode ser encontrada nos arquivos de Harild Andersen-Harild na Arbeiderbevargelsens Bibliotek ob Archiv (ABA), Copenhague.

[54] P.M. (Paul Mattick), “Unsere Auffassung” [Nossa Concepção], in Rätekorrespondenz [Correspondência Conselhista], nº 8, 1931, revista teórica do movimento unionista em Chicago:
“O partido organiza todos os revolucionários consistentes, mesmo aquele de origem burguesa, que se filiam a nós. Ele reagrupa todas as forças revolucionárias que não se baseiam no local de trabalho. Ele se organiza segundo o local de moradia; ele é mais uma organização militar do que uma de propaganda, embora uma não possa excluir a outra. Ele se declara sem reservas a favor da AAU, isto é, a favor da eliminação do partido durante a tomada de poder pelos conselhos […] Até este momento, o partido cumpre a função de tropas de choque […] Sem a AAU, o KAP não é nada; sem o KAP, a AAU renuncia a um importante aspecto da luta de classes. Nós só podemos recomendar à conferência [aquela de dezembro de 1931] a renovação da aliança com o KAP, assim como nós pressionamos o KAPD a ouvir a acelerar esta aliança. Se o KAPD nas fábricas se tornar enraizado na base da ditadura de partido, em oposição à ditadura dos conselhos, nós devemos rejeitá-lo automaticamente. Só então a necessidade de um novo partido estaria em pauta”.
Deve se notar que Paul Mattick, ao rejeitar qualquer visão fabriquista e sublinhar a necessidade do partido revolucionário, ainda não era um “conselhista”. A visão do partido como “tropas de choque” era aquela do KAPD no começo dos anos 1920; porém, a afirmação de que o partido deve se dissolver após a tomada do poder demonstra uma separação da posição do KAPD sobre a função do partido.

[55] Ver Bourrinet (1999), Capítulo Dois.

[56] O KAPD continuou suspeitando tanto da corrente de Bordiga como da oposição francesa. Ele tinha uma tendência de identificá-los com a corrente de Korsch, a qual ele rejeitava como oportunista. Em 1926, o KAPD sublinhou a indecisão da corrente bordiguista, enquanto observava que ela estava fora da linha oficial da Internacional Comunista: “Bordiga era uma pequena exceção na Itália; de vez em quando ele fazia críticas corretas, sem ser capaz de indicar a si mesmo a estrada revolucionária exata” (Zur Information, nº 5, abril de 1926). A fração de Bordiga havia começado como uma corrente revolucionária real.
“No solo do PC Italiano, começou a se desenvolver – de uma forma espontânea – uma linha real da esquerda internacional. A influência que o camarada Bordiga continuou a exercer neste movimento preveniu o desenvolvimento real desta linha, que inevitavelmente procurou retornar à posição da fração antiparlamentar abstencionista de 1919, uma vez que esta última era uma transgressão. A atividade de Bordiga deixou muitos trabalhadores emigrados adormecidos na imobilidade e na completa indiferença; isso os acorrentou ao carrinho da mecânica disciplina de partido da Terceira Internacional e, consequentemente, ao oportunismo”.
Porém, a fração bordiguista tinha de ser distinguida do resto da oposição francesa. Esta última estava mais à direita do que a corrente de Korsch: “Nós vemos claramente que os grupos da oposição francesa adotaram praticamente a mesma linha que Karl Korsch na Alemanha, ainda que nós tenhamos que dizer que eles estão ainda mais à direita”. Depois no mesmo artigo, o KAPD fala ironicamente sobre o lado “gracioso” e eclético de uma “oposição pequeno burguesa” que “voa de uma flor ideológica a outra”. O KAPD atribuiu isto, de maneira um tanto adequada, a uma “estreiteza nacional” que é “um tanto característica dos grandes teóricos do movimento operário, de Proudhon a Jaurès” e explica esta “leveza ideológica” da oposição francesa (“Aus der Internationale: Frankreich” [Fora da Internacional: França], in- KAZ (Berlim), nº 13, 1929).

[57] O grupo austríaco existia desde 1928: ele havia se formado na sequência da insurreição dos trabalhadores em Viena em 1927 (“Die KAP in Österreich” [O KAP na Áustria], KAZ, nº 43, junho de 1928. Kurt Weisskopf (1907-1985), KAPista tcheco-alemão em Praga, viveu em Londres depois de 1938 e trabalhou na agência Reuters, usando o sobrenome de sua esposa – Dowson. Ele publicou um livro, The Agony of Czechoslovakia 38/68 [A Agonia da Tchecoslováquia 38/68] (Londres, Elek Books Ltd., 1968), publicado em francês com um título diferente: Coups de Prague 1938-1968 [Golpes de Praga 1938-1968] (Paris, Presses de la Cité, 1968).

[58] Ver “Die KPD in Tchechoslowakei” [O KPD na Tchecoslováquia], in- KAZ, nº 4, janeiro de 1929. Ver também Spartakus, Zeitschrift für den Kommunismus [Revista pelo Comunismo], Praga, nº 1, janeiro de 1932.

[59] Ver Bourrinet (2017), Capítulo 7, Towards a New Workers’ Movement? The Record of Council-Communism (1933-5) [Rumo a um Novo Movimento Operário? O Passado do Comunismo de Conselhos (1933-1935)].

[60] Ver Cornelissen, Harmsen & de Jong (1965).

[61] “Het Anti-oorlogscongres der 3º Internationale” [O congresso antiguerra da 3ª Internacional], in- Spartacus, órgão da LAO [Linksche Arbeiders Oppositie; Oposição de Esquerda dos Trabalhadores], nº 7, 23 de setembro de 1932. O KAPD havia apoiado o Exército Vermelho em 1920 durante a Guerra Rússia-Polônia.

[62] O discurso de 1922 de Bukharin: “Os Estados proletários podem forjar alianças militares com Estados burgueses? […] Nós podemos concluir uma aliança militar com uma burguesia para esmagar, por meio deste Estado burguês, outra burguesia […]” Este mesmo líder da Internacional Comunista acrescentou: “Com esta forma de defesa nacional, de aliança militar com Estados burgueses, é o dever de camaradas nesses países construir um bloco para a vitória” (Internacional Comunista, 1923, p. 240).

[63] “As massas populares da Lituânia têm uma grande tarefa diante de si: defender a independência de seu país […] Se armem para repelir os imperialistas poloneses […] Soldados do Exército Lituano! Levantem-se para defender a independência da Lituânia […] Abaixo à conquista da Lituânia pelo imperialismo polonês […]” (Inprecorr, nº 71, 1927, p. 1620).

[64] “De Radenbijeenkomst in Den Haag” [O Congresso dos Conselhos em Haia], in- PIC, nº 19, 1932.

[65] O grupo de Haia era um pequeno grupo e trabalhadores cujas principais “personalidades” eram Arie Bom, do KAPN, e Rinus Pelgrom (1902-1960), que pertencera à LAO. Cajo Brendel, futuro membro do grupo Daad en Gedachte [Ação e Ideia], que sobreviveu até 1998, foi membro do grupo de Haia a partir de 1934.

[66] INO – Presse-Korrespondenz, nº 23, 1º de dezembro de 1932.

[67] Para a história da LAO, à qual Marinus van der Lubbe se filiou ou trabalhou com, ver Karasek (1980).

[68] Ver Bourrinet (2017), Capítulo 7, Towards a New Workers’ Movement? The Record of Council-Communism (1933-5) [Rumo a um Novo Movimento Operário? O Passado do Comunismo de Conselhos (1933-1935)].

[69] Panfletos antiparlamentares foram distribuídos pelo GIC, pela LAO e pelo grupo Radencommunist: 3 mil cópias de Kiest Kobuz onze man! [Elejam Kobuz, o nosso homem!] e um panfleto (anônimo) de Pannekoek, De arbeiders, het parlament em het communisme [Os trabalhadores, o parlamento e o comunismo] foram distribuídos em 1933.

[70] Logo, o KAZ escreveu em 1932:
“Uma Frente Única com ‘toda e cada uma’ dessas pessoas esquece completamente todo e cada um dos atos do SPD desde 1914; isto significaria esquecer o mar de sangue proletário – nada menos que aquele derramado pela peste castanha – que o SPD derramou nos interesses do capital […] o fascismo não é o contrário da democracia burguesa: pelo contrário, ele é sua continuação por outros meios. Todo partido que tem uma política burguesa, mesmo que se possa encontrar grupos de trabalhadores em suas fileiras, é um cúmplice do fascismo e, ao mesmo tempo, uma de suas frações. Uma frente única com estes cavalheiros, pelo único motivo de que eles afirmam defender os “interesses dos trabalhadores”, é abandonar o socialismo e empurrar os trabalhadores no comboio fascista” (de “Einheitsfront und Einheitsfrontstaktik” [Frente Única e Tática da Frente Única] in- KAZ (Berlim), nº 7, julho de 1932).
Embora o Kampfruf, o órgão da KAU, tivesse a mesma posição que o KAPD, localmente algumas seções da KAU se entregaram à tentação da frente única antifascista. Assim, em 1932, a seção de Leipzig se juntou ao SAP [Sozialistische Arbeiters Partei; Partido dos Trabalhadores Socialistas da Alemanha] numa frente antifascista. O mesmo aconteceu com a seção Prina na Saxônia (ver KAZ, nº 7, julho de 1933), junto do SPD e do KPD.

[71] Gustav Noske (1868-1946), membro do SPD que serviu como Ministro de Defesa da República de Weimar entre 1919 e 1920 e que suprimiu violentamente as revoltas dos trabalhadores em 1919. [N. T.]

[72] Ver KAPD (1932), p. 7.

[73] KAPD (1932).

[74] Ibid.

[75] Panfleto do GIC: De Beweging van het kapitalistisch bedrijfsleven (“O Movimento da Indústria Capitalista”), outubro de 1932, p. 34-35. O autor era B. A. Sijes.

[76] Anônimo (Pannekoek), “De omwenteling in Duitsland” [A revolta na Alemanha], PIC, nº 9, abril de 1933.

[77] Ver Bourrinet (1999), capítulos três e quatro.

[78] Depois da análise da Internacional Comunista, o KPD declarou, assim, em 1930: “O avanço do fascismo não é de modo algum o sinal do refluxo do movimento proletário, mas, pelo contrário, a contrapartida de seu crescimento revolucionário, o acompanhamento necessário à maturação de uma situação revolucionária” (Rote Fahne, 15 de junho de 1930). Assim, o nazismo foi considerado a última etapa necessária da revolução. Nós sabemos qual foi o resultado prático desta “teoria” na situação alemã […] Antes do GIC, o KAPD já havia demonstrado claramente em 1928 o significado real do fascismo: “É besteira definir o fascismo como um meio de defesa [do capital] contra a ameaça persistente da ação de massas proletária. É mais a consequência de uma deficiência do proletariado, que, por causa da pressão econômica que nasceu dos relacionamentos do pós-guerra, havia iniciado a insurreição. Seu papel é acelerar a reconstrução capitalista”: KAZ, nº 48, 1928. Como a esquerda italiana, a esquerda alemã demonstrou a interpenetração do fascismo e da democracia: “A democracia se fascistiza, ela prontamente faz alianças com ditadores; e os ditadores se disfarçam com a democracia”: KAZ (Berlim), nº 7, 14 de fevereiro de 1931.

[79] Anônimo (Pannekoek), “De omwenteling in Duitsland”, PIC, nº 9, abril de 1933.

[80] Ibid.

[81] Ibid.

[82] Ibid.

[83] Esta campanha de boicote havia sido lançada internacionalmente por grupos “socialistas de esquerda” e anarquistas. Ela acompanhou a formação de “comitês antifascistas”.

[84] Anônimo (Pannekoek), “De omwenteling in Duitsland”, in- PIC, nº 9, abril de 1933.

[85] Ibid.

[86] Ver Bourrinet (1999)

[87] Van der Lubbe tinha contatos pessoais e políticos com Piet van Albada, estudante de medicina, irmão do astrônomo Bruun van Albada, o pedreiro e antigo membro do CPN Simon Harteveld e os irmãos Izaak (Sjaak) – motorista de táxi – e Jacobus (Koos). Quem era ativo no GIC em Leiden era Axel Koefoed, que estava encarregado dos vínculos internacionais. Segundo um antigo membro do GIC, Lieuwe Hornstra, Van der Lubbe “não tinha contato com o GIC”. Pessoalmente, com pessoas como Koos de Vink, por exemplo, certamente: mas não em termos de organização”; citado em Karasek (1980), p. 81.

[88] O testemunho de Weiland parece muito dúbio. A AAU e a KAU não tiveram contato com Van der Lubbe e a LAO. Ver Jassies (2004).

[89] As tentativas de representar Van der Lubbe como um “agente nazista” foram “demolidas” pelo “Livro Vermelho” (Roodboek), editado por Lo Lopes Cardoso, um antigo membro do KAPN, e publicado em 1933: ver Dekker, Lopes Cardoso, Verduin e Van Agen (1983). Ver também M. Kubina (2001), p. 113-126, sobre os breves (e informais) contatos entre a KAU e Van der Lubbe.
Não obstante, segundo Alfred Weiland, cujo testemunho é contraditório, Van der Lubbe tinha estado em contato com o estudante Wilfried von Oven (1912-2008), que era membro da “esquerda” do SA [Sturmabteilung; Destacamento Tempestade]e que tinha tido no passado (1932) um breve contato com um círculo da AAU em Berlim. Nos anos 1990, von Oven negou qualquer contato com Van der Lubbe. Em 1936, von Oven, nazista convicto, foi voluntário na “Legião Condor” durante a guerra civil na Espanha; em 1943, ele se tornou conselheiro pessoal de Goebbels. Depois da Guerra, ele se tornou correspondente de imprensa da América do Sul do Der Spiegel. Ele permaneceu nazista e publicou um livro sobre o Destacamento Tempestade em 1998: Mit ruhig festem Schritt: Aus der Geschichte der SA [Com um Passo Sossegadamente Firme: Sobre a História do Destacamento Tempestade]. Ele era ativo na extrema direita, publicando o fascista Plata Ruf [Grito da Prata] na Argentina em 1998. Ver M. Kubina (2001).
Na opinião do historiador Alexander Bahar e do psicólogo Wilfried Kugel, o título de cujo livro se traduz como “O Fogo do Reichstag: Como a História é Criada?” (Bahar & Kugel, 2001), Van der Lubbe havia sido conduzido pela SA para dentro do edifício:
“Em 27 de fevereiro de 1933, às 20 horas, um grupo de comando de pelo menos três e no máximo dez homens do Destacamento Tempestade liderado por Hans Georg Gewehr entrou no porão do palácio do presidente do Reichstag. O grupo pegou as substâncias incendiárias depositadas ali e usou a passagem subterrânea para ir do palácio do presidente do Reichstag ao edifício do Reichstag, onde eles prepararam a assembleia em particular com um líquido de auto-inflamação, o qual eles provavelmente haviam misturado no saguão. Após certo período de latência, o líquido iniciou o incêndio na assembleia. O grupo realizou sua fuga através da passagem subterrânea e do porão do palácio do presidente do Reichstag (e possivelmente também através do porão adjacente que levava ao edifício dos funcionários do governo e dos equipamentos) para a rua pública Reichstagufer. Göring entrou no edifício em chamas do Reichstag no mais tardar às 21 horas e 21 minutos, presumivelmente a fim de proporcionar um disfarce para a retirada do grupo de comando […] Van der Lubbe foi levado ao Reichstag pelo Destacamento Tempestade exatamente às 21 horas e eles lhe deram acesso ao edifício. O som de vidro quebrando, que foi observado por testemunhas e que se deveu supostamente a Van der Lubbe quebrando vidraças para entrar no edifício, provavelmente visava apenas chamar a atenção do público. O holandês foi sacrificado como a única testemunha disponível”.
Esta tese não é capaz de convencer todo historiador imparcial, pois ela parece ser produto de testemunhos dúbios. Ver Jassies (2002).
Van der Lubbe constantemente negou que qualquer conspiração estivesse por detrás do incêndio: “Quanto à questão de se eu agi sozinho, eu declaro enfaticamente que foi esse o caso” (Marinus van der Lubbe, depoimento à polícia, 3 de março de 1933).
Em 1967, o tribunal de marca de Berlim rompeu com o veredito de Leipzig e condenou Van der Lubbe post mortem a oito anos de prisão por “tentativa de incêndio com invasão domiciliar”. Em 1980, o mesmo tribunal em Berlim promulgou um veredito de inocente, veredito que foi derrubado pelo tribunal de Kassel em 1983.
Um documentário holandês de Joost Seelen, de 1998, foi dedicado a Marinus: Water en vuur (“Água e fervor”). De roerige geschiednis rond Marinus Van der Lubbe(1909-1934) [A história turbulenta de Marinus van der Lubbe], Zuidenwind Filmprodukties, Breda, 90 minutos, VHS. Em fevereiro e junho de 2000, uma placa comemorativa em homenagem a Van der Lubbe foi erguida duas vezes em Berlim, a primeira delas tendo sido roubada.

[90] L’Humanité, 17 de dezembro de 1933.

[91] O Münzenberg Trust [Truste de Münzenberg] foi uma organização de mídia construída por Willi Münzenberg que incluía jornais, revistas, estúdios e distribuidoras de cinema de esquerda, entre outros. [N.T.]

[92] A tradução francesa do Roodboek pode ser encontrada, com numerosos testemunhos dos camaradas de Van der Lubbe, na Revue anarchiste [Revista anarquista], nº 19, março de 1934: “Van der Lubbe et les mensonges du Livre brun (avec témoignages et pièces justificatives)” [Van der Lubbe e as mentiras do Livro Marrom (com testemunhos e documentos justificativos)].

[93] André Prudhommeaux (1902-1968) foi parte deste comitê na França, o qual publicou numerosos documentos em francês, tais como Marinus Van der Lubbe: prolétaire ou provocateur [Marinus van der Lubbe: proletário ou provocador] (Van Agen, 1933), reimpresso como panfleto em setembro de 1971 pela “Librairie La Vielle Taupe”. Este panfleto – de um trabalhador do setor têxtil, Age van Agen, foi publicado primeiro em holandês.
Leo Hornstra havia sido membro do CPH até 1927. Psicanalista e poeta frísio, ele se tornou comunista de conselhos depois de 1928. Em 1958 ele se converteu ao catolicismo. Morando na Frísia, depois de 1960, ele se denominou um “nacionalista frísio”.
Maurits Dekker não estava ligado ao movimento comunista de conselhos. Autodidata, nascido na classe trabalhadora judaica de Amsterdã, poeta, depois romancista. Ele começou a publicar em 1923 (Homo cantat). Em 1926, ele publicou um romance no qual a humanidade está sujeita ao poder das máquinas e do Estado. Em 1929, uma vez que seus romances eram negligenciados pelos críticos, ele publicou um famoso romance sob o pseudônimo “Boris Robazki” (Waarom ik niet kankzinnig ben [Porque eu não sou louco]). Ele conquistou renome como um “romancista social”. Em 1933, ele foi – com Jacques Gans, Jef Last e Frans Goedhart – um importante iniciador da associação holandesa de escritores proletários Links Richten [Apontando para a Esquerda], a qual publicou em 1932-33 um periódico com o mesmo nome. Dekker, ex-companheiro de viagem do CPN que apoiava Van der Lubbe, foi denunciado como “pequeno burguês” pelo Partido Comunista e Jef Last dentro da Links Richten. Literariamente ativo, Dekker escreveu romances sobre a revolta dos Mendigos Holandeses. Depois de escrever um panfleto contra Hitler em 1937, ele foi condenado a uma multa em 1938 por “ofender um chefe Estado amigável” (sic). Após a guerra, ele recebeu prêmios pela literatura. Fora da Holanda, ele ficou conhecido por seu romance histórico Beggar’s Revolt [Revolta dos Mendigos] e, sobretudo, por seu drama de 1950 The world has no waiting room [O mundo não tem sala de espera], uma peça sobre a responsabilidade de cientistas atômicos depois de Hiroshima, que foi traduzida para muitos idiomas.
Ver Donkersloot (1963), p. 94-98; BWN (1989); e Sicking (1994).

[94] O GIC não se associou com este comitê, mas permitiu que alguns de seus membros, como Lieuwe (Leo) Hornstra, o fizessem.

[95] A KAU parece ter defendido esta posição. Não se sabe quanto ao KAPD.

[96] Lehmann, membro dos “grupos de trabalhadores comunistas” em exílio em Paris, escreveu na Revue anarchiste nº 19, de março de 1934:
“Somente um ato audacioso – repetido e acompanhado por atos similares – poderia salvar a situação. Assim [Van der Lubbe] pôs fogo no Reichstag como um sinal de uma nova ordem social […] Porém, para os líderes do KPD e do SPD, o ato de Van der Lubbe foi uma desculpa para sua própria inutilidade e falência política. É por isso que eles se negam tão obstinadamente a reconhecer a ação de Van der Lubbe como um ato revolucionário”.
A posição da esquerda comunista italiana era um tanto similar e tão ambígua quanto: “Os comunistas nunca participaram destes espetáculos unânimes contra atos terroristas e – em cada uma das vezes – eles silenciam o coro das lamentações hipócritas e exonerações covardes e podem, em determinadas circunstâncias, não proclamar sua oposição por princípio a atos terroristas. Isso pode ser jogar o jogo do inimigo, o qual explora estes eventos a fim de extirpar dos cérebros da classe trabalhadora a ideia da necessidade da violência”. Mas a esquerda comunista italiana não assumiu uma posição explícita sobre o caso individual de Van der Lubbe: comunistas “não têm o dever de se pronunciar a favor ou contra: eles têm o dever de explicar que diante dos assassinatos dos trabalhadores por social-democratas ou fascistas, um gesto proletário contra o Reichstag definitivamente não tem maior importância do que um tijolo arremessado num mar de sangue operário” (Van der Lubbe: les fascistes exécutent, socialistes et centristes applaudissent” [Van der Lubbe: os fascistas executam, socialistas e centristas aplaudem], Bilan, Bruxelas, nº 3, janeiro de 1934).

[97] Todas as citações de Spartacus, nº 19, março de 1933.

[98] De brand in het Rijksdaggebouw. De meening van de Int. Communisten en KAP’ers” [O incêndio no edifício do Reichstag. A opinião dos membros da Internacional Comunista e do KAP”], Spartacus, nº 19, 9 de março de 1934.

[99] Verklaring [Explicação], in- De Arbeidersraad, Amsterdã, 2 de outubro de 1933.

[100] Este foi o caso com os Korpers. Frits Kief (1908-1976), técnico eletricista de origem alemã, era o marido de Rosa Korper (irmã de Bram Korper) e escrevia na revista anarquista semanal De Arbeider. Ele se filiou à Resistência Holandesa durante a guerra. Depois de 1945, jornalista; ele foi editor da revista De Vlam [A Chama] (1946-1952), continuação legal da revista socialista-pacifista clandestina De Vonk [A Faísca] (1941-1945). Ele foi ativo até 1959 no PvdA [Partij van de Arbeid; Partido do Trabalho] – em uma tendência de esquerda (“Sociaal-Democratisch Centrum” – SDC [Centro Social-Democrata]) – o qual ele então deixou. Ele se tornou membro do PSP (Partido Socialista Pacifista) em 1965, então um propagandista do “movimento dos livre pensadores”. (Ver: H. de Liagre Böhl, “Kief, Carl Friedrich (1908-1976)”, in- Biografisch Woordenboek van Nederland 4 [BWN] (1994).

[101] Spartacus, nº 19, 9 de março de 1933. O panfleto do GIC também foi traduzido para o francês na Revue anarchiste, nº 19, Paris, março de 1934, p. 41-42.

[102] Panfleto do GIC, em Spartacus, nº 19, 9 de março de 1933.

[103] Pannekoek, PIC nº 7, março de 1933. O texto de Pannekoek sobre Van der Lubbe foi publicado em 1983 pela Comsopolis de Leiden.

[104] Ibid.

[105] Ibid.

[106] Ibid.

[107] Durante os anos 1930, alguns indivíduos como Frits Kiet participaram de ações individuais de “expropriação” e foram presos. Ver AA. VV. (1984), p. 197-198.

Traduzido por Thiago Papageorgiou.

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