Uma Questão de Poder (1969) – Solidarity

Publicado: em folheto da Solidarity, Julho de 1969
Transcrito: por Jonas Holmgren
Revisado: por George Poulados

Poucos de nós dirigem nossas próprias vidas. Isto é porque não temos controle sobre as principais decisões que nos afetam. Estas decisões são feitas por pequenas minorias que se autoperpetuam. Tal situação não pode ser “democraticamente” mudada. O que nossos governantes chamam de democracia é um sistema que opera para a própria proteção deles. Na medida em que essa “democracia” não é seriamente desafiada, sua posição dominante na sociedade é protegida.

Sua ameaça por meio do uso da violência é destinada a frustrar qualquer desafio. Isso está implícito na sua ampla força policial, nos tribunais e nas forças armadas, das quais eles controlam. A liberdade limitada que sua “democracia” nos permite, é ainda mais restrita ou totalmente reduzida quando quer que seu poder esteja seriamente ameaçado.

Eles detêm o poder para manutenção do seu poder. Esta é a chave para sua segurança. Eles determinam o tipo de educação fornecida, e os caminhos e meios de fornecê-la. Controlando o que e como as pessoas são ensinadas, aqueles que nos governam procuram preservar a estrutura da sociedade existente. Crianças são educadas primeiro por meio da família – isto é, através dos pais já condicionados. Então as fábricas de educação (escolas e universidades) assumem o controle. Seu objetivo é produzir pessoas determinadas a encaixar nesta sociedade “corrida de ratos”[1].

Trabalhadores criaram sindicatos e partidos políticos para mudar tudo isto. Mas pouco a pouco adotando padrões semelhantes de organizações aos de seus opressores, e concentrando-se a luta quase exclusivamente em melhorar as condições de trabalho e o padrão de vida, as verdadeiras intenções revolucionárias foram ignoradas. Os trabalhadores conquistaram vantagens materiais consideráveis, mas eles perderam o controle de suas próprias organizações. Hoje as hierarquias estão no controle. Elas não podem ser removidas, nem levadas de volta ao objetivo inicial de libertar as pessoas.

Aqueles que dominam a produção dominam a sociedade. Contanto que eles tenham sua forma de estabilidade industrial, o controle permanecerá em suas mãos. Este controle permite que eles continuem decidindo o que é para ser produzido, quem irá produzi-lo, onde, quando, como e em que quantidades. Tudo isso conflita com os interesses dos reais produtores – os trabalhadores. Aqueles que dirigem nossas vidas constantemente, procuram caminhos de ofuscar os conflitos e de manipular os trabalhadores em aceitar que somente a gestão é capaz de tomar essas decisões.

A hierarquia sindical auxilia-os nesta fraude. Enquanto agindo como intermediários no mercado de trabalho, os chefes sindicais fazem tudo o que podem para frustrar qualquer consciência nos trabalhadores de sua própria capacidade de dirigir a indústria. De fato, as chamadas organizações da classe trabalhadora são hoje uma essencial parte do sistema. A formação de novos sindicatos ou partidos não resolveria o problema. Nas condições de hoje, eles sofreriam o mesmo destino que os antigos.

Mas o sistema é contestado. Existe uma constante luta no qual o objetivo é a autogestão. Na grande maioria das disputas, os trabalhadores têm tomado verdadeiras decisões democráticas para agir sem o consentimento da burocracia sindical (as chamadas greves não oficiais). Esse é um dos sinais que a “estabilidade industrial” de nossos governantes está com dificuldades. A tensão é também visível nas fábricas de educação, onde os estudantes estão cada vez mais exigindo o direito de tomar decisões sobre questões fundamentais. Há muitos outros sinais da crise que está afetando todos os aspectos desta sociedade.

Solidarity participa nas lutas sempre que possível. Tentamos expor a verdadeira situação. Procuramos fortalecer a confiança dos trabalhadores em sua própria capacidade de gerir suas próprias vidas – no trabalho e fora dele. A confiança das pessoas nos outros para fazer coisas por elas, levou-as a consecutivas derrotas. Chegou a hora das vitórias! As vitórias dependem de as pessoas conscientemente tomarem ações por conta própria. Ajudar no desenvolvimento desta consciência é a única razão para a existência do Solidarity.


[1] [N.T.] O vídeo do britânico Steve Cutts, intitulado Happiness (“Felicidade”), ilustra bem o significado da “corrida dos ratos”, ao abordar de forma pessimista uma sociedade de ratos, na qual a competição social e os valores dominantes do capitalismo compõem a engrenagem fundamental. O vídeo de Steve Cutts está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=e9dZQelULDk&t=3s.

Traduzido por Rodrigo Aguiar e revisado por Felipe Andrade e Guilherme Fernandez.
A versão original que serviu como fonte desta tradução, encontra-se disponível em:
https://www.marxists.org/archive/brinton/1969/07/question-power.htm