- Publicado em 1932
I. Só se pode compreender a filosofia hegeliana e o seu método dialético na sua conexão com a revolução.
- Historicamente ela saiu do movimento revolucionário da sua época.
- O seu papel foi traduzir no pensamento o movimento revolucionário do seu tempo.
- O pensamento dialético é revolucionário também quanto à forma:
a) Separação dos dados imediatos, ruptura radical com o que existe, inversão, novo começo.
b) Princípio da oposição e da negação.
c) Princípio da mudança e do desenvolvimento incessantes — do salto qualitativo. - Concorrentemente com o desenvolvimento ulterior da sociedade burguesa, a tarefa revolucionária desaparece inevitavelmente na filosofia e na ciência burguesa.
II. Não se pode criticar a filosofia hegeliana e o seu método dialético sem a conceber em conexão com o caráter histórico concreto do movimento revolucionário da sua época.
- Ela é uma filosofia, não da revolução em geral, mas da revolução burguesa dos séculos XVII e XVIII.
- Mesmo como filosofia da revolução burguesa, ela não exprime todo o processo desta revolução, mas apenas a sua conclusão última. Neste sentido é uma filosofia não da revolução, mas da restauração.
- Esta dupla determinação histórica manifesta-se sob a forma de uma dupla limitação do caráter revolucionário da dialética hegeliana:
a) Apesar da dissolução dialética de todos os elementos congelados, a dialética hegeliana conclui com uma nova congelação; congelação do próprio método dialético e, com ele, de todo o conteúdo dogmático do sistema filosófico sobre ele edificado por Hegel.
b) A ponta revolucionária contida no primeiro impulso do método dialético, Hegel, na síntese, reconduziu artificialmente ao “círculo”, ao restabelecimento do conceito da realidade imediata e à reconciliação com esta realidade, à glorificação do que existe.
III. Marx-Engels primeiro e Lênin depois deles “salvaram” a dialética consciente transferindo-a da filosofia idealista alemã para a concepção materialista da natureza e da história, da teoria revolucionária burguesa para a teoria revolucionária proletária. Este “salvamento por transferência” tem apenas — histórica e teoricamente — o caráter de uma transição. O que ele criou foi uma teoria da revolução proletária não como ela se desenvolveu sobre a sua base própria, mas pelo contrário, como ela acabava de sair da revolução burguesa, portanto uma teoria gravada sob todos os pontos de vista, quanto ao conteúdo e quanto ao método, com as marcas do jacobinismo, da teoria revolucionária burguesa.
O presente texto foi retirado do seguinte site: https://www.marxists.org/portugues/korsch/1932/mes/hegel.htm