O artigo a seguir foi originalmente publicado como uma carta de Anton Pannekoek a J. A. Dawson, editor do jornal australiano Southern Advocate for Workers Councils. O artigo apareceu sob o título dado por Dawson na edição No 42, publicada em fevereiro de 1948. Esta versão é uma reimpressão retirada de Pannekoek and the Workers’ Councils, Ed. Serge Bricianer.
Nos tempos atuais, de submissão crescente dos trabalhadores à poderosa tirania do Estado, é natural que seja direcionada mais simpatia ao anarquismo, com a sua propaganda da liberdade. Assim como a social-democracia, sua oponente, o anarquismo teve suas raízes no capitalismo do século XIX. Um tirou sua necessidade da exploração e competição capitalista, o outro da completa escravização e supressão da personalidade; um encontrou sua força na necessidade de organização e sua propaganda, o outro na necessidade da liberdade e de sua propaganda. Uma vez que a primeira foi sentida de forma mais imediata e arrebatadora pelos trabalhadores, a social-democracia ganhou as massas e o anarquismo não podia competir com ela. Agora ressurgindo sob o capitalismo de Estado, ele parece ter melhores chances. Mas temos que ter em mente que ambos carregam igualmente as marcas de sua origem a partir das condições primitivas do século XIX. O princípio da liberdade, se originando das condições burguesas do capitalismo nascente, liberdade de comércio e de empreendimento, não é adequado para a classe operária. Os problemas ou objetivos para os operários devem combinar liberdade e organização. O anarquismo, ao estabelecer a liberdade como sua finalidade, esquece que a sociedade dos trabalhadores livres só pode existir através de um forte sentimento de comunidade como o caráter proeminente resultante da associação dos produtores. Este novo caráter, emergindo como forte solidariedade nas lutas operárias, já é a base da organização – sem coerção vinda de cima. A organização que se autoconstrói (self-made organization) pela livre associação dos trabalhadores é ao mesmo tempo a base de sua liberdade pessoal, ou seja, de seu sentimento como livres senhores do seu próprio trabalho. A liberdade como conteúdo principal do anarquismo pode despertar fortes simpatias neste momento, mas ela constitui apenas uma parte, nem sequer fundamental, do objetivo da classe operária, que é expresso pelo autogoverno e autodeterminação por meio da organização dos conselhos. Parece, então, que nos tempos atuais há no anarquismo uma certa proximidade com a ideia dos conselhos operários, especialmente onde ele envolve grupos de trabalhadores. Mas a velha doutrina anarquista pura é demasiado estreita para ser de algum valor para a luta de classes no presente.
Publicado em Red and Black Notes #18, outono de 2003, este artigo foi arquivado em libcom.org a partir do site da Red and Black Notes.
Traduzido por Alexandre Guerra, a partir da versão disponível em: https://libcom.org/library/anarchism-not-suitable-anton-pannekoek.