Nenhuma guerra é fácil de entender, nenhuma situação “geopolítica” é simples de entender. E, menos ainda, quando se assume que não há classes sociais no mundo: só restam países, lideranças e ideologias políticas. Assim, há quem apoie e justifique os massacres e o horror da guerra. São eles que esquecem ou querem esquecer que as guerras são feitas por dinheiro. Como apontam os camaradas da Rússia neste momento, por trás da guerra estão apenas os interesses daqueles que detêm o poder político, econômico e militar: “Para nós, trabalhadores, aposentados, estudantes, só traz sofrimento, sangue e morte. O cerco de cidades pacíficas, os bombardeios, a matança de pessoas não tem justificativa.” (ver panfleto: https://boletinlaovejanegra.blogspot.com/2022/03/no-la-guerra.html)
A guerra torna explícito o horror de uma sociedade baseada na acumulação e no lucro. É a paz capitalista por outros meios. O que está acontecendo na Ucrânia se soma às guerras e invasões que infelizmente não dão mais notícias (Palestina, Iêmen, Síria) e aos milhões de mortes por fome, miséria, trabalho, doenças evitáveis ou suicídio.
Nas zonas de conflito, somam-se mortes e sofrimentos devido a bombardeios, falta de água, comida, remédios, abrigo e energia. Assim como também acontece nos campos de refugiados, nas prisões, no front. Eles recrutam proletários de diferentes países para se massacrarem pelos interesses de seus exploradores e governantes, pelos interesses da burguesia! Eles aprisionam aqueles na Rússia que se opõem à guerra e a expressam pública e coletivamente. Eles militarizam e aumentam a intensidade do trabalho enquanto aguçam os ajustes. Isso é uma guerra! Estas são as guerras contra o proletariado!
A guerra é a esfera da destruição controlada, do desastre premeditado, da gestão e administração da morte e da miséria. Essa competição é inerente ao Capital. Os proletários lutam, morrem e sofrem no estado de guerra em nome de um ou outro bloco, quando nós proletários não temos pátria ou nação para defender. Como Marx apontou: “O trabalhador não é francês, nem inglês, nem alemão, pois sua nacionalidade é o trabalho, a escravidão livre, a venda de si mesmo e de seu próprio trabalho. Não é governado pela França, Inglaterra ou Alemanha, mas pelo capital. O ar de sua terra não é francês, nem inglês, nem alemão, mas o ar da fábrica. A terra que lhe pertence não é francesa, nem inglesa, nem alemã, mas aquela que fica alguns metros abaixo do solo. Dentro de um país, o dinheiro é a pátria do industrial”.
Apesar de tudo, há aqueles que, determinados a pertencer ou identificar-se com alguma facção capitalista, isto é, assassinos, justificam uma ou outra guerra, um ou outro ataque, um ou outro Estado. Com argumentos obsoletos, sejam eles stalinistas ou liberais, fascistas ou antifascistas, até mesmo anti-imperialistas, todos eles se concentram em sustentar a exploração e a opressão: o capitalismo.
Claro que existem diferenças, que eles são todos uma merda não significa que eles são a mesma merda: Zelensky, Biden, Putin, OTAN, os neonazistas ucranianos, os neonazistas russos. Os líderes dos Estados, seus conflitos e alianças, suas pazes e guerras, seus desenvolvimentos e destruições, suas ciências e religiões, sua ajuda humanitária e controles de segurança, todos servem a um único interesse: manter o domínio da paz social, que nada mais é do que a paz dos cemitérios.
Não há, nem houve, nem haverá dirigentes burgueses “bons” ou “maus”, partidos burgueses “bons” ou “maus”; nem faz sentido falar de nações ou estados “bons” ou “maus”. Ontem, hoje e amanhã, o interesse da classe burguesa está e sempre estará em guerra com o proletariado. Trabalho, exploração, miséria e guerra são as formas concretas desse interesse.
Na guerra e na paz eles nos ajustam “aos interesses do país”. Mas como dizemos há décadas e décadas em todos os continentes: o inimigo também está “no nosso próprio país”, é a “nossa” burguesia.
A força revolucionária do proletariado depende de sua capacidade de lutar contra as diferentes frações burguesas, contra as diferentes formas de dominação que o Capital emprega. É nesse sentido que diante de qualquer guerra burguesa, os revolucionários se solidarizam com seus pares de outras regiões e, assim como fizeram no passado, hoje levantam e sempre levantarão uma palavra de ordem internacionalista e revolucionária contra a guerra. Esses slogans podem não ter atualmente a força necessária para ser uma prática massiva do proletariado, mas não deixam de ser uma direção e uma perspectiva.
Na pacífica e mortuária Argentina, os governos nos ajustam para o bem do país, os falsos críticos nos dizem que o problema não é a burguesia local, mas o FMI. Falam-nos de “povo” como se nesta terra houvesse apenas interesses nacionais e não interesses de classe. Assim, eles querem nos domar para a paz e nos preparar para condições ainda piores, ou mesmo para a guerra. Na Ucrânia, a lei marcial foi decretada para reprimir todo tipo de ação considerada antipatriótica, desencadeando uma campanha violenta contra pessoas que roubam lojas ou participam de saques. No resto do mundo, o agravamento das condições de vida devido à guerra já começou. Tanto nos países diretamente envolvidos, em seus vizinhos na Europa, como no resto do mundo, quem arcará com os custos será o proletariado. Quando a “guerra” contra o vírus parecia terminar, outra começou. Uma nova justificativa para apertar o cinto. Na Argentina, na primeira semana de março, a farinha aumentou 52% em quatro dias. Desde o início do conflito, os preços da matéria-prima que é a base da má alimentação nesta região dispararam. E ainda há quem pense que decide o rumo do país porque vota a cada poucos anos.
Traduzido por Política Proletária, a partir da versão disponível em: http://boletinlaovejanegra.blogspot.com/2022/03/contra-la-guerra-capitalista.html.
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