Ao Proletariado Alemão!
O Partido Comunista da Alemanha (Liga Spartacus), fundado por Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht, Franz Mehring e outros, atingiu a sua bancarrota política e moral. Após a morte desses grandes pioneiros do proletariado internacional, uma camarilha de chefes ambiciosos e ávidos de poder, lançando mão a todos os meios de corrupção, aliou-se para sabotar a ideia da revolução proletária no interesse dos seus próprios fins egoístas e para fazer passar o partido pela passagem estreita do reformismo. Tal política teve como resultado a passagem da grande maioria dos membros à oposição radical contra o reformismo da Central da Liga Spartacus. Esta Central conseguiu excluir do partido todos os distritos do KPD que não queriam abandonar o seu combate intransigente contra as instituições contrarrevolucionárias do parlamentarismo, dos sindicatos e dos conselhos de empresa legais[1], e isto sem dar a tais distritos (o mais importantes do partido) a coesão de defenderem e fundamentarem o seu ponto de vista perante a instância suprema do partido, o congresso. Com tal atitude, a Central da Liga Spartacus provou que ela desejava a cisão do partido, pois a vontade revolucionária dos membros opunha-se às suas atividades contrarrevolucionárias[2].
A oposição até aqui existente constitui-se em Partido Comunista Operário da Alemanha. O Partido Comunista Operário da Alemanha não é um partido no sentido tradicional do termo. Não é um partido de chefes. O seu principal trabalho consistirá em apoiar na medida das suas forças o proletariado alemão no caminho que o conduz a libertar-se de toda e qualquer dominação dos chefes.
LIBERTAR-SE DA POLÍTICA DE CHEFES CONTRARREVOLUCIONÁRIA E TRAIDORA, EIS O MEIO MAIS EFICAZ PARA A UNIFICAÇÃO DO PROLETARIADO. Todavia o Partido Comunista Operário da Alemanha está consciente de que a unificação do proletariado, A UNIFICAÇÃO NO ESPÍRITO DA IDEIA DOS CONSELHOS, significa a própria finalidade da revolução.
Operários, camaradas! O Partido Comunista Operário da Alemanha é o mais resoluto combatente pela causa do proletariado alemão. Camaradas, fazei do nosso partido um partido capaz de agir, para que ele conduza o proletariado alemão à vitória.
VIVA A REVOLUÇÃO MUNDIAL!
VIVA A III INTERNACIONAL!
PARTIDO COMUNISTA OPERÁRIO DA ALEMANHA.
[1] Os conselhos de empresa legais: tendo em conta a formação generalizada de conselhos operários durante a “revolução democrática” de Novembro de 1918, a Constituinte de Weimar (eleita em 1919 após o esmagamento das primeiras insurreições proletárias) tinha assumido o compromisso de lhes reservar um espaço na constituição da Alemanha republicana. Com isto recuperava-se o que era mais recuperável nesses conselhos, na sua maioria social-democratas: a reivindicação de serem reconhecidos pelo Estado (burguês). A lei que institui os conselhos de empresa foi promulgada em Janeiro de 1920. Eram o equivalente dos “comitês de empresa”, criados na França depois da II Guerra Mundial. A esquerda comunista opunha-se a essa manobra de recuperação dos conselhos e por isso boicotou as eleições para esses organismos, participando apenas nos conselhos que se constituíam a partir de lutas revolucionárias: tal aconteceu durante a “Ação de Março” de 1921, quando foi liquidado o conselho operário ilegal das fábricas Leuna e foi substituído por um outro, ilegal, com uma direção de membros do KAPD. A direita comunista, pelo contrário, apoiada neste ponto por Lênin (a “Doença Infantil”) participou nessas eleições, reivindicando para os conselhos maior poder de decisão.
[2] Sobre o modo como se operou a cisão do KPD, ver introdução.
O presente texto foi retirado do seguinte livro: A Esquerda Alemã (1918-1921): “Doença Infantil” ou Revolução?, Denis Authier: Afrontamento, 1975.