
Original in French: Deux guerres locales
[Nota do Crítica Desapiedada]: O presente artigo foi traduzido para o português de Portugal por Júlio Henriques e disponibilizado na coletânea Internacional Situacionista: Antologia. Para uma análise global do “anticolonialismo internacionalista” da Internacional Situacionista, confira o artigo de Erick Corrêa: “O anticolonialismo internacionalista dos situacionistas“.
Duas Guerras Locais (1967)
A guerra israelo-árabe foi uma farsa representada pela história moderna perante a presunção de esquerda, que comungava no grande espectáculo do seu protesto contra a guerra do Vietname. A má consciência, que via na F.N.L. o campeão da “revolução socialista” contra o imperialismo americano, não pôde senão enredar-se e afundar-se nas suas insuperáveis contradições quando se tratou de optar por Israel ou Nasser[1]; através das suas polémicas burlescas, nem por isso deixou de proclamar que um ou outro tinha toda a razão e até que esta ou aquela das suas perspectivas era revolucionária.
Isto porque, ao emigrar para as zonas subdesenvolvidas, a luta revolucionária era objecto duma dupla alienação: por um lado, a duma esquerda impotente perante um capitalismo sobredesenvolvido que ela de modo algum pode combater, e, por outro, a das massas laboriosas dos países colonizados, que herdaram uns restos duma revolução desfigurada e tiveram de suportar os seus defeitos. A ausência de movimento revolucionário na Europa reduziu a esquerda à sua mais simples expressão: uma massa de espectadores que se extasiam sempre que os explorados das colónias empunham as armas contra os seus donos e senhores, não podendo impedir-se de ver nisso o nec plus ultra da Revolução. Da mesma maneira que a ausência da vida política do proletariado enquanto classe por si (e a nosso ver o proletariado é revolucionário ou não é nada) permitiu a esta esquerda tornar-se o cavaleiro da virtude num mundo sem virtude. Mas quando ela se lamenta, queixando-se da “ordem do mundo” como coisa em conflito com as suas boas intenções e mantém as suas pobres aspirações ante esta ordem, na realidade mostra-se afeiçoada a ele como à sua própria essência; e caso esta ordem lhe seja arrebatada e ela própria dela se exclua, com isso perde tudo. A esquerda europeia mostra-se tão pobre que, tal como o viajante no deserto aspira a uma simples gota de água, ela parece aspirar ao mero reconforto duma objecção abstrata. Pela facilidade com que se satisfaz, pode avaliar-se a amplidão da sua indigência. É estranha à História, tanto como o proletariado é estranho a este mundo; a má consciência é o seu estado natural, o espectáculo é o seu elemento, sendo o afrontamento aparente dos sistemas a sua referência universal: sempre e onde houver conflito, é o bem a combater o mal, a “Revolução Absoluta” contra a “Reação Absoluta”.
A adesão da consciência espectadora às causas estranhas continua a ser irracional, atolando-se os seus protestos virtuosos nos meandros da culpabilidade. A maior parte dos Comités Vietname, em França, desfizeram-se durante a “Guerra dos Seis Dias”, e nos Estados Unidos uma parte dos grupos de resistência à guerra contra o Vietname passaram também pela sua hora da verdade. “Não podemos ser ao mesmo tempo pelos vietnamitas e contra os judeus ameaçados de extermínio”, exclamam uns. “Quem é que pode lutar contra os americanos no Vietname, apoiando os seus aliados sionistas agressores?”, retorquem os outros, lançando-se todos nestas bizantinas discussões… Sartre não se saiu dessa. Na realidade, aquilo que toda esta gente condena são coisas que ela não combate efectivamente, e o que ela aprova, são coisas que não conhece. A sua oposição à guerra do Vietname confunde-se quase sempre com o apoio incondicional ao Vietcong, mas é sempre para todos de carácter espectacular. Os que se opunham de facto ao fascismo espanhol iam combatê-lo. Ainda não se viu nenhum destes opositores de agora ir lutar contra o “imperialismo ianque”. Todo um mostruário de tapetes voadores se apresenta à escolha dos consumidores da participação ilusória: o nacionalismo stalino-gaulista contra o Americano (a visita de Humphrey foi a única ocasião em que o P.C.F. manifestou com os fiéis que lhe restam); a venda do Correio do Vietname ou das brochuras publicitárias do Estado de Ho Chi Minh; e finalmente as manifestações pacifistas. Nem os Provos (antes da sua dissolução) nem os estudantes de Berlim souberam ultrapassar o quadro estreito da “ação” anti-imperialista.
A oposição à guerra nos Estados Unidos é desde o início mais séria, por ter defronte o inimigo real. No entanto, para uma parte da juventude ela significa a sua identificação mecânica com os inimigos aparentes dos seus inimigos reais; situação que acentua a confusão duma classe operária já submetida aos piores embrutecimentos e mistificações, contribuindo ainda para a manter neste estado de espírito “reacionário” que serve de argumento contra ela.
Mais importante, a nosso ver, é a crítica de Guevara, por estar enraizada em lutas autênticas, embora peque por defeito. O Che é seguramente um dos últimos leninistas consequentes da nossa época. Porém, qual Epiménidas[2], parece ter dormido durante este último meio século para acreditar que ainda existe um “campo progressista” e que este se mostra estranhamente “enfraquecido”. Este burocrático e simpático revolucionário só vê assim no imperialismo o estádio supremo do capitalismo, em luta contra uma sociedade que é socialista apesar de ter alguns defeitos.
A deficiência da U.R.S.S, vergonhosamente reconhecida, parece cada vez mais “natural”. Quanto à China, segundo uma declaração oficial mantém-se “pronta a aceitar todos os sacrifícios nacionais para apoiar o Vietname do Norte contra os Estados Unidos (já que não apoia os operários de Hong-Kong) e constitui a mais sólida e segura retaguarda do povo vietnamita em luta contra o imperialismo”. Ninguém duvida, com efeito, que ao ser morto o último vietnamita, a China burocrática de Mao estará intacta. (Segundo o Izvestia, a China e os E.U.A. teriam estabelecido um acordo de não intervenção recíproca).
Nem a consciência maniqueísta da esquerda virtuosa nem a burocracia são capazes de ver a unidade profunda do mundo actual. A dialéctica é seu inimigo comum. A crítica revolucionária, quanto a ela, começa para além do bem e do mal; assenta raízes na História e tem como terreno a totalidade do mundo existente. De maneira alguma pode aplaudir um Estado beligerante ou apoiar a burocracia dum Estado explorador em formação. Antes de mais nada, impõe-se-lhe desvendar a verdade dos conflitos actuais, ligando-os à sua história, e desmascarar os inconfessados objectivos das forças oficialmente em luta. A arma da crítica serve como prelúdio à crítica das armas.
A coexistência pacífica das imposturas burguesa e burocrática acabou por prevalecer sobre a mentira dos seus afrontamentos; o equilíbrio do terror desfez-se em Cuba em 1962 com a debandada russa. Desde então, o imperialismo americano é senhor incontestado do mundo. E só o pode ser pela agressão, porque não tem possibilidade nenhuma de seduzir os deserdados, mais facilmente virados para o modelo russo-chinês. O capitalismo de Estado é a tendência natural das sociedades colonizadas, onde o Estado se constitui em geral antes das classes – no sentido histórico do termo. A eliminação total dos seus capitais e das suas mercadorias no mercado mundial é justamente a ameaça mortal que pesa sobre a classe possidente norte-americana e sobre a sua economia de livre empresa; e é também a explicação da sua fúria agressiva.
Desde a grande crise de 1929, a intervenção do Estado é cada vez mais notória nos mecanismos do mercado; a economia já não pode funcionar regularmente sem as despesas maciças do Estado, principal “consumidor” de toda a produção não comercial (sobretudo da indústria de armamento). Coisa que o não impede de se manter em crise e de ter sempre necessidade da expansão do seu sector público à custa do seu sector privado. Uma lógica implacável arrasta o sistema para um capitalismo cada vez mais controlado pelo Estado, engendrando graves conflitos sociais.
A profunda crise do sistema norte-americano reside na sua incapacidade de produzir lucros à escala social e de modo suficiente. Tem por isso de obter, no exterior, o que não pode fazer em casa, ou seja, aumentar a massa dos lucros proporcionalmente à massa dos capitais existentes. A classe possidente, que também possui mais ou menos o Estado, conta com as suas empresas imperialistas para realizar este sonho demente. Para esta classe, o capitalismo de Estado significa a morte, tanto como o comunismo; razão pela qual ela é por essência incapaz de ver qualquer diferença entre ambas estas coisas.
O funcionamento artificial da economia monopolista como “economia de guerra” assegura à política da classe dirigente, por enquanto, o apoio benevolente dos operários, graças ao pleno emprego e a uma abundância espectacular: “Actualmente, a proporção da mão-de-obra destinada a tarefas respeitantes à defesa nacional representa 5,2% da mão-de-obra americana total, contra 3,9% há dois anos […]. O número dos empregos civis no domínio da defesa nacional passou, em dois anos, de 3 000 000 a cerca de 4 100 000” (Le Monde de 17-9-67). Entretanto, o capitalismo de mercado sente obscuramente que ao estender o seu controle territorial atingirá uma expansão acelerada capaz de contrabalançar as exigências sempre crescentes da produção não lucrativa. A defesa encarniçada das regiões do mundo “livre” onde os seus interesses são amiúde mínimos (em 1959, os investimentos americanos no Vietname do Sul não ultrapassavam os 50 milhões de dólares), corresponde a uma estratégia que a longo prazo pensa poder transformar as despesas militares em simples gastos de funcionamento, assegurando aos Estados Unidos não só um mercado mas também o controle monopolístico dos meios de produção da maior parte do globo.
Tudo, porém, contraria este projecto. Por um lado, as contradições internas do capitalismo privado: há interesses particulares que se opõem a este interesse geral da classe possidente no seu conjunto, tais como os dos grupos que enriquecem a curto prazo com encomendas do Estado (à cabeça dos quais se encontram os fabricantes de armas), ou as empresas monopolistas que a despeito da aversão investem em países subdesenvolvidos, onde a produtividade é muito baixa apesar da mão-de-obra barata, em vez de o fazerem na parte avançada do mundo – e sobretudo na Europa, sempre mais rendível que a saturada América do Norte. Este projecto, por outro lado, opõe-se aos interesses imediatos das massas deserdadas, cujo primeiro impulso consiste forçosamente na eliminação das suas camadas exploradoras – as únicas que podem assegurar aos E.U.A. uma qualquer infiltração.
Segundo Rostow, especialista do “crescimento” no Departamento de Estado, o Vietname, por ora, é apenas o campo experimental desta vasta estratégia – a multiplicar-se – que, para assegurar a sua paz exploradora, tem de começar por uma guerra de destruição – guerra esta pouco destinada a ver-se concluída. A agressividade do imperialismo americano não corresponde portanto à aberração dum mau governo, é uma necessidade para as relações de classes do capitalismo privado, o qual, caso um movimento revolucionário lhe não ponha fim, evolui inexoravelmente para um capitalismo tecnocrático de Estado. É neste contexto geral da economia mundial, que se mantém não dominada, que devemos inserir a história das lutas alienadas da nossa época.
A destruição das velhas estruturas “asiáticas” através da penetração colonial levou, por um lado, ao surgimento duma nova camada urbana, e, por outro, à pauperização crescente de largas fracções do campesinato sobreexplorado. Foi a junção destas duas forças sociais que constituiu o motor principal de todo o movimento vietnamita. Entre as camadas urbanas – pequeno-burguesas e até burguesas – formaram-se, com efeito, os primeiros núcleos nacionalistas, bem como o contexto do que seria, a partir de 1930, o Partido Comunista Indochinês. A adesão à ideologia bolchevique (na sua versão stalinista) acrescentou ao programa puramente nacionalista um programa essencialmente agrário, permitindo que o P.C.I. se tornasse o principal dirigente da luta anticolonial e enquadrasse a grande massa dos camponeses espontaneamente insurgidos. Os “sovietes camponeses” de 1931 foram a primeira manifestação deste movimento. Mas ao ligar o seu destino ao da III Internacional, o P.C.I. submeteu-se a todas as vicissitudes da diplomacia stalinista e às flutuações dos interesses nacionais e estatais da burocracia russa. A partir do 7º Congresso do Komintern (Agosto de 1935) “a luta contra o imperialismo francês” desapareceu do programa e foi a breve trecho substituída pela luta contra o poderoso partido trotskista. “No respeitante aos trotskistas, nenhuma aliança nem concessões; têm de ser desmascarados, para se ver o que de facto são: agentes do fascismo”. (Relatório de Ho Chi Minh ao Komintern, Julho de 1939). O tratado germano-soviético e a proibição dos P.C. de França e do Ultramar permitiram ao P.C.I. mudar de direcção: “O nosso partido considera que é uma questão de vida ou de morte […] lutar contra a guerra imperialista e a política de pirataria e de massacre do imperialismo francês (leia-se: contra a Alemanha nazi) […] mas lutaremos, ao mesmo tempo, contra os objectivos agressivos do imperialismo japonês”.
Pelo final da segunda guerra mundial, com a ajuda efectiva dos norte-americanos, a Vietmin[3] controlava a maior parte do território e era reconhecida pela França como única representante da Indochina. Foi nesta altura que Ho Chi Minh preferiu “cheirar um pouco a côdea francesa de preferência a comer toda a vida a dos chineses”, assinando, para facilitar a tarefa dos seus camaradas-senhores, o monstruoso compromisso de Março de 1946, que reconheceu o Vietname simultaneamente como “Estado livre” e como “parte constitutiva da Federação Indochinesa da União Francesa”. Este compromisso permitiu à França reconquistar uma parte do país e encetar, ao mesmo tempo que os stalinistas perdiam a sua parte do poder burguês em França, uma guerra de oito anos ao fim da qual a Vietmin entregava o Sul às camadas mais retrógradas da sociedade vietnamita e aos seus protectores, os norte-americanos, e conquistava definitivamente o Norte. Após ter procedido à eliminação sistemática dos elementos revolucionários que restavam (o último líder trotskista, Ta Tu Thau, fora assassinado em 1946), a burocracia vietmin instalou o seu poder totalitário sobre o campesinato, iniciando a industrialização do país no quadro dum capitalismo de Estado. O melhoramento da condição dos camponeses, decorrente das suas conquistas durante a longa luta de libertação, tinha, na lógica burocrática, de ser posto ao serviço do novel Estado, no sentido duma maior produtividade de que este ficava senhor incontestado. A aplicação autoritária da reforma agrária suscitou, em 1956, violentas insurreições e uma sangrenta repressão (sobretudo na própria província de Ho Chi Min). Os camponeses que tinham posto a burocracia no poder tornavam-se assim as suas primeiras vítimas. Uma “orgia de autocríticas” tentou, durante anos seguidos, fazer esquecer este “erro grave”.
Mas os mesmos acordos de Genebra permitiram aos Diem[4] instalar a sul do 17º paralelo um Estado burocrático, feudal e teocrático ao serviço dos grandes proprietários de terras e da burguesia ligada aos interesses estrangeiros. Este Estado, em poucos anos, irá liquidar todas as conquistas do campesinato, graças a algumas “reformas agrátias” apropriadas, ficando os camponeses do Sul, entre os quais uma parte nunca tinha deposto as armas, de novo submetidos à opressão e a uma intensa exploração. Foi a segunda guerra do Vietname. Também nesta ocasião a massa dos camponeses insurrectos, pegando de novo em armas contra os mesmos inimigos, encontram os mesmos chefes. A Frente Nacional de Libertação sucede à Vietmin, herdando as suas qualidades e os seus grandes defeitos. Ao assumir-se como campeão da luta nacional e da guerra camponesa, a F.N.L., desde o início, conquistou os campos, neles estabelecendo a base principal da resistência armada. São as suas vitórias sucessivas contra o exército oficial que provocam a intervenção cada vez mais maciça dos americanos, até reduzirem o conflito a uma declarada guerra colonial em que os vietnamitas se vêem em oposição a um exército invasor. A sua resolução na luta, o seu programa nitidamente antifeudal e as suas perspectivas unitárias são as principais qualidades do movimento. A luta da F.N.L. não sai, de modo nenhum, do quadro clássico das lutas de libertação nacional, mantendo-se o seu programa baseado num compromisso duma vasta coligação de classes, dominada pelo único objectivo de liquidar a agressão norte-americana (não é por acaso que ela rejeita a denominação de Vietcong – ou seja, comunistas vietnamitas -, insistindo no seu carácter nacional). As suas estruturas são as dum Estado em formação, visto nas zonas que domina recolher impostos e instituir o serviço militar obrigatório.
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Estas qualidades mínimas na luta, os objectivos e os interesses sociais que exprimem, estão totalmente ausentes no afrontamento que opõe Israel aos Árabes. As contradições específicas do sionismo, bem como as da sociedade árabe retalhada, acrescentam-se a uma confusão geral.
Desde as suas origens, o movimento sionista representava o posto duma solução revolucionária daquilo a que se chamava a questão judaica. Produto directo dum capitalismo europeu, o que ele visava não era a subversão duma sociedade que tinha necessidade de perseguir os judeus, era a criação duma entidade nacional judaica qui ficasse protegida das aberrações anti-semitas do capitalismo decadente; não era a abolição da injustiça, era a sua transferência. O que constitui o pecado original do sionismo é ter raciocinado sempre como se a Palestina fosse uma ilha deserta. O movimento operário revolucionário via a solução da questão judaica na comunidade proletária, ou seja, na destruição do capitalismo e da “sua religião, o judaísmo”, não podendo a emancipação do judeu fazer-se fora da emancipação do homem. O sionismo partia da hipótese inversa. É certa que o desenvolvimento contra-revolucionário deste meio século lhe deu razão, mas fê-lo da mesma maneira que o desenvolvimento do capitalismo deu razão às teses reformistas de Bernstein[5]. O êxito do sionismo, e corolariamente a criação do Estado de Israel, é um mero avatar do triunfo da contra-revolução mundial. Ao “socialismo num só país” correspondia a “justiça para um só povo” e a “igualdade num só kibutz”. A colonização da Palestina foi organizada com os capitais de Rothschild, e os primeiros kibutzes foram lançados graças à mais-valia europeia. Os judeus recriavam assim para si mesmos tudo de quanto haviam sido vítimas: o fanatismo e a segregação. Os que sofriam por serem tolerados na sua sociedade, iam lutar para se tornarem, noutro espaço, proprietários podendo dispor do direito de tolerar os outros. O kibutz não era uma superação revolucionária da “feudalidade” palestiniana, era uma fórmula mutualista de autodefesa dos trabalhadores-colonos judeus contra as tendências de exploração capitalista da Agência Judaica. Porque era o principal proprietário judeu da Palestina, a Organização Sionista definia-se como a única representante dos interesses superiores da “Nação Judaica”. Se acabou por reconhecer o direito a uma certa autogestão, foi por ter a certeza que esta estaria assente na expulsão sistemática do camponês árabe.
Quanto à Histadrut[6], esta, desde a sua criação em 1920, ficou submetida à autoridade do sionismo mundial, ou seja, o exacto oposto da emancipação dos trabalhadores. Os trabalhadores árabes estavam estatutariamente dela excluídos, consistindo com frequência a actividade desta organização em proibir as empresas judaicas de os empregar.
O desenvolvimento da luta triangular entre árabes, sionistas e ingleses irá evoluir com vantagem para os segundos; graças à paternidade activa dos norte-americanos (a partir da segunda guerra mundial) e à bênção de Stálin (que via em Israel a constituição do primeiro bastião “socialista” no Médio Oriente, mas ao mesmo tempo queria livrar-se de certos judeus incómodos), o sonho herzliano[7] rapidamente se concretizou, sendo o Estado judaico arbitrariamente proclamado. A recuperação de todas as formas “progressistas” de organização social e a sua integração no ideal sionista tomou desde logo possível que os mais “revolucionários” trabalhassem, de consciência tranquila, para a edificação do Estado burguês, militarista e rabínico em que se tornou o Israel moderno. O sono prolongado do internacionalismo proletário voltou a engendrar um monstro. A injustiça fundamental cometida contra os árabes da Palestina virou-se de imediato contra os próprios judeus: o Estado do povo eleito não passava duma vulgar sociedade de classes onde se tinham reconstituído todas as anomalias das velhas sociedades (divisões hierárquicas, oposições étnicas entre asquenazes e sefarditas, perseguições racistas contra a minoria árabe, etc.). A central sindical voltou a deparar ali com a sua função normal de integrar os operários numa economia capitalista, de que aliás se tornou o principal proprietário, empregando mais assalariados do que aqueles que tem o próprio Estado. A Histadrut constitui actualmente a vanguarda da expansão imperialista do jovem capitalismo israelita (Solel Boneh, uma importante sucursal da Histradut no ramo da construção civil, investiu em 1960-66 180 milhões de dólares em África e na Ásia e emprega 12 mil operários africanos).
E como o Estado nunca poderia ter nascido sem a intervenção directa do imperialismo anglo-americano e a ajuda maciça do capitalismo financeiro judaico, só pode agora equilibrar a sua economia artificial com a ajuda das mesmas forças que o criaram (o défice da balança de pagamentos é igual a 600 milhões de dólares, ou seja, mais do que o rendimento médio dum trabalhador árabe para cada habitante israelita). A partir da instalação das primeiras colónias de imigrados, os judeus constituíram, paralelamente à sociedade árabe económica e socialmente atrasada, uma sociedade moderna de tipo europeu; a proclamação do Estado permitiu concluir este processo com a expulsão pura e simples dos elementos do atraso. A particularidade de Israel reside em ser o bastião da Europa no âmago dum mundo afro-asiático. E deste modo se tornou duplamente estrangeiro: à população árabe, reduzida ao estado permanente de refugiados ou de minoria colonizada, e à população judaica que por um momento nele viu a realização terrena de todas as ideologias igualitárias.
Isto, porém, não se deve apenas às contradições da sociedade israelita; desde o princípio, a situação agravou-se constantemente, alimentada como foi pelo ambiente árabe, incapaz, até agora, de pôr nisto um começo de solução real.
Desde o início do mandato britânico, a resistência árabe na Palestina foi inteiramente dominada pela classe possidente, ou seja, pelas classes dirigentes árabes e seus protectores britânicos. O acordo Sykes-Picot pôs fim a todas as esperanças do nascente nacionalismo árabe, submetendo a região, sabiamente retalhada, a uma dominação estrangeira que está longe de ter acabado. As mesmas camadas que asseguravam a servidão das massas ao Império Otomano puseram-se ao serviço da ocupação britânica, tornando-se cúmplices da colonização sionista (pela venda, a preços muito elevados, das suas terras). O atraso da sociedade árabe ainda não permitia a emergência de novas direcções mais avançadas, acabando os levantamentos populares espontâneos por deparar com os mesmos recuperadores: os caciquismos “feudais-burgueses” e a sua mercadoria, a união nacional.
A insurreição armada de 1936-39 e a greve geral de seis meses (a mais longa da História) foram decididas e executadas apesar de oposição de todas as direcções dos partidos “nacionalistas” árabes. Espontaneamente organizadas, tiveram uma vasta amplidão, obrigando a classe dirigente a aderir ao movimento e, desse jeito, a tomar a sua direcção. Mas esta, se o fazia, era para o refrear, levando-o à mesa das negociações e aos compromissos reaccionários. Só a vitória deste levantamento, nas duas derradeiras consequências, teria ao mesmo tempo podido liquidar o mandato britânico e o projecto sionista de constituir um Estado judaico. O seu revés anunciava, a contrario, as futuras catástrofes e, de modo terminante, a derrota de 1948.
Este representou o toque de finados da “burguesia feudal” como classe dirigente do movimento árabe. Foi também a oportunidade de a pequena-burguesia chegar ao poder e constituir, com os quadros do exército desfeito, o motor do movimento actual. O seu programa era simples: a unidade, uma certa ideologia socialista e a libertação da Palestina (o Regresso). A tripla agressão de 1956 proporcionou-lhe a melhor ocasião de se consolidar como classe dominante e de descobrir um líder-programa na pessoa de Nasser, exposto à admiração colectiva das massas árabes desapossadas de tudo. Era agora ele a sua religião e o seu ópio. Mas a nova classe exploradora tinha os seus próprios interesses e os seus objectivos autónomos. As palavras de ordem que tornaram popular o regime burocrático militar do Egipto eram em si mesmas deficientes, sendo este regime incapaz de as realizar. A unidade árabe e a destruição de Israel (umas vezes invocada como liquidação do Estado usurpador e outras como expulsão pura e simples até ao mar) estavam no centro desta ideologia-propaganda.
O que inaugurou a decadência da pequena-burguesia árabe e do seu poder burocrático foram antes de mais nada as suas próprias contradições internas, bem como a superficialidade das suas opções (Nasser, o Baas[8], Kassem e os partidos ditos comunistas nunca deixaram de lutar uns contra os outros, através de compromissos e alianças com as forças mais duvidosas).
Vinte anos após a primeira guerra da Palestina, esta nova camada acaba de provar a sua total incapacidade para resolver o problema palestiniano. Sobreviveu graças às suas promessas dementes, porque só a alimentação permanente do pretexto israelita lhe permitia sobreviver, impotente como se via para dar uma qualquer solução radical aos inúmeros problemas interiores: a questão palestina continua a ser a chave das grandes transformações árabes. É à volta dela que os conflitos rodam e nela que toda a gente comunga. É ela a base da solidariedade objectiva de todos os regimes árabes. É ela que concretiza a “união sagrada” entre Nasser e Hussein, Faiçal e Boumedienne, o Baas e Aref.
A última guerra veio dissipar todas as ilusões. A absoluta rigidez da “ideologia árabe” viu-se pulverizada em contacto com a realidade efectiva igualmente dura, mas permanente. Os que falavam de fazer a guerra não a queriam nem a preparavam; e os que só falavam de se defenderem, estavam de facto a preparar a ofensiva. Cada um destes campos seguia a sua própria inclinação: a burocracia árabe, a da mentira e da demagogia, os senhores de Israel, a da expansão imperialista. Foi como elemento negativo que a Guerra dos Seis Dias teve uma importância capital, visto ter revelado todas as fraquezas e as taras secretas daquilo que se pretendeu apresentar como “a revolução árabe”. A “poderosa” burocracia militar egípcia desfez-se em dois dias, desvendando de chofre a verdade das suas realizações: o pólo em redor do qual se operaram todas as transformações socioeconómicas, o exército, fundamentalmente não mudara. Por um lado, pretendia transformar tudo no Egipto (e até em toda a zona árabe), e por outro fazia quanto podia para nada mudar no seu seio, nos seus valores e hábitos. O Egipto de Nasser é ainda dominado pelas forças pré-nasserianas, a sua “burocracia” é um magma sem coerência nem consciência de classe, apenas cimentado pela exploração e a partilha da mais-valia social.
Quanto ao aparelho político-militar que governa a Síria baasista, este encerra-se cada vez mais no extremismo da sua ideologia. A diferença é que a sua fraseologia já não engana ninguém (excepto Pablo![9]); toda a gente sabe que ele não fez a guerra, que entregou a frente de combate sem resistência, visto ter preferido ficar com as melhores tropas em Damas para a sua própria defesa. Os que consumiam 65% do orçamento sírio para defender o território desvendaram definitivamente o seu cínico embuste. Em suma, ela mostrou mais uma vez, aos que ainda precisavam disso, que a União Sagrada com os Hussein só podia levar à catástrofe. A Legião Árabe retirou-se logo no primeiro dia, e a população palestiniana, que teve de suportar durante vinte anos o terror policial dos seus verdugos, viu-se desarmada e desorganizada perante as forças de ocupação. O trono hachemita partilhara, desde 1948, a colonização dos palestinianos com o Estado sionista. Ao abandonar a Cisjordânia, entregava a este último os processos instaurados pela polícia sobre todos os elementos revolucionários palestinianos. Mas os palestinianos sempre souberam que havia pouca diferença entre as duas colonizações, sentindo-se hoje mais à vontade na resistência à nova ocupação.
Do outro lado, Israel tornou-se o que os árabes, antes da guerra, lhe censuravam: um Estado imperialista, comportando-se como as mais clássicas forças de ocupação (terror policial, dinamitagem das casas, lei marcial permanente, etc.). E no interior desenvolve-se um delírio colectivo dirigido pelos rabinos em prol do “direito imprescritível de Israel às fronteiras bíblicas”. A guerra veio suspender todo o movimento de contestação que as contradições desta sociedade artificial engendravam (em 1966, houve várias dezenas de motins e não menos de 277 greves só em 1965), provocando também uma adesão unânime em torno dos objectivos da classe dominante e da sua ideologia mais extremista. Por outro lado, serviu para reforçar todos os regimes árabes não implicados no afrontamento armado. Boumedienne pôde assim, a 5000 km, participar sossegadamente no redobrar de promessas e pôr a aplaudir-lhe o nome a multidão argelina diante da qual não se atrevia a apresentar-se na véspera. E serviu ainda, finalmente, para obter o apoio duma Organização de Resistência palestiniana completamente stalinizada (“devido à sua política anti-imperialista”). Faiçal, em troca de alguns milhões de dólares, obtém o abandono do Iémene Republicano e a consolidação o seu trono – e por aí fora.
Como sempre, a guerra, quando não é civil, só pode congelar o processo da revolução social; no Vietname do Norte, provoca a adesão, nunca obtida, das massas camponesas à burocracia que a explora. Em Israel, liquida durante um longo período qualquer oposição ao sionismo; dando-se nos países árabes o reforço – momentâneo – das camadas mais reaccionárias. As correntes revolucionárias não podem de modo algum identificar-se com tais coisas. A sua tarefa está na outra ponta do movimento actual, porque tem de ser a sua negação absoluta.
É evidentemente impossível, agora, obter uma solução revolucionária para a guerra do Vietname. Trata-se antes de mais nada de pôr fim à agressão norte-americana para deixar desenvolver-se, de forma natural, a verdadeira luta social do Vietname, ou seja, permitir aos trabalhadores vietnamitas dar de novo de caras com os seus inimigos internos: a burocracia do Norte e todas as camadas possidentes e dirigentes do Sul. A retirada dos americanos significa de imediato o domínio de todo o país pela direcção stalinista; é a solução inelutável. Porque os invasores não podem prolongar indefinidamente a sua agressão; sabe-se desde Talleyrand que se pode fazer tudo com as baionetas, excepto uma coisa: usá-las como assento. Não se trata pois de apoiar incondicionalmente (ou de modo crítico) o Vietcong, mas de lutar consequentemente e sem concessões contra o imperialismo norte-americano. O papel mais eficaz é agora o dos revolucionários americanos que promovem e praticam a deserção em larga escala (perante a qual a resistência à guerra a Argélia, em França, foi uma brincadeira de crianças). Porque a raiz da guerra do Vietname encontra-se nos Estados Unidos, e é ali que se impõe extirpá-la.
Ao contrário da guerra norte-americana, a questão palestina não tem de imediato uma solução perceptível. Não é praticável nenhuma solução a curto prazo. Os regimes árabes só podem desabar sob o peso das suas contradições, e Israel ficará cada vez mais prisioneiro da sua lógica colonial. Todos os compromissos que as grandes potências e os seus aliados respectivos procuram arranjar, só podem ser contra-revolucionários. O status quo bastardo – nem paz, nem guerra – vai provavelmente predominar durante um longo período, durante o qual os regimes árabes terão o destino dos seus antecessores de 1948 (e provavelmente, num primeiro tempo, em proveito das forças declaradamente reaccionárias). A sociedade árabe que segregou toda a espécie de classes dominantes, caricaturas de todas as classes historicamente conhecidas, tem agora de segregar as forças que hão-de exprimir a sua subversão total. A burguesia dita nacional e a burocracia árabe herdaram todas as taras destas duas classes, sem nunca terem conhecido as suas realizações históricas nas outras sociedades. As futuras forças revolucionárias árabes, que deverão nascer dos escombros da derrota de Junho de 1967, saberão que nada têm em comum com qualquer dos regimes árabes existentes, nem nada a respeitar nos poderes constituídos que dominam o mundo actual. É em si mesmas e nas experiências recalcadas da história revolucionária que hão-de encontrar o seu modelo. A questão palestiniana é séria demais para ser entregue aos Estados, ou seja, aos coronéis. Toca de muito perto as duas questões fundamentais da revolução moderna, a saber, o internacionalismo e o Estado, para que alguma força existente lhe possa dar a solução adequada. Só um movimento revolucionário árabe decididamente internacionalista e anti-estatal pode simultaneamente dissolver o Estado de Israel e ter por si a massa dos seus explorados. No mesmo processo social, só ele poderá dissolver todos os Estados árabes existentes e criar unificação árabe através do poder dos Conselhos de Trabalhadores.
[1] Gamal Abdel Nasser (1918-1970), o mais influente político de Estado do Egipto moderno, assente num populismo pragmático e autocrático, no pan-arabismo e na cooperação com a U.R.S.S. A derrota militar na guerra com o Estado de Israel, em Junho de 1967, a que aqui se alude, levando à ocupação de uma quinta parte do território egípcio, foi uma rude provação na carreira de Nasser, que passará a apoiar a organização de resistência palestiniana Al Fatah.
[2] Alusão a Epiménidas de Cnossos (século VI?), “homem divino” da Grécia arcaica, perito em rituais antigos, xamã que legou oráculos, poesias religiosas e épicas. A alusão refere-se à lenda que lhe atribui mais de cinquenta anos de dormition numa caverna de montanhas consagradas ao Zeus de Creta.
[3] Frente para a Independência do Vietname, organizada em 1941 graças à união do Partido Comunista Indochinês com elementos nacionalistas.
[4] Alusão a Ngô Dinh Diem (1901-1963), chefe do governo no Vietname do Sul (capital Saigão) de 1955 a 1963, ano em que foi executado durante um golpe de Estado. Na sequência dos acordos de Genebra de 1954, estabelecidos entre a França e a República Democrática do Vietname do Norte (capital Hanoi), Diem, líder dos nacionalistas de direita e apoiado pelo governo dos Estados Unidos, impõe condições drásticas: nenhumas conversações com “os comunistas”, estabelecimento no Sul dum bastião capaz de bloquear qualquer novo avanço dos partidários de Ho Chi Min. Esta orientação consolida-se em 1956, preparando o terreno para a intervenção estadunidense, encetada em Fevereiro de 1965 com bombardeamentos intensivos do Vietname do Norte pela aviação americana. A guerra do Vietname só terminará em Abril de 1975, com a vitória do Norte, dando-se a reunificação em 1976, com o nome de República Socialista do Vietname. A guerra anticolonial durara trinta anos.
[5] Referência a Eduard Bernstein (1850-1932), socialista alemão de origem judaica. Secretário de Engels e seu executor testamentário, Bernstein será o criador da corrente chamada revisionismo, pondo em causa a teoria marxista no que esta tem de revolucionária. A partir do seu livro de 1899, Socialismo Teórico e Social-Democracia Prática, Bernstein irá articular uma nova estratégia reformista: o socialismo não se baseia na expropriação dos capitalistas, o proletariado tem de saber gerir as empresas. A esquerda do movimento socialista alemão, nomeadamente Rosa Luxemburg, opor-se-á com veemência a esta “teorização” das tendências colaboracionistas.
[6] Central sindical israelita. A sua originalidade consiste em ter exercido um quase monopólio de todo o movimento sindical (ainda nos anos 80, mais de 75% da população laboriosa estava nela filiada) e de, ao mesmo tempo, ser o maior empregador do país, ao ter organizado, em sessenta anos, o maior cartel de empresas, e controlando, directa ou indirectamente, uns 50% da economia. O seu papel político decorria da sua importância económica integradora.
[7] Apesar de judeu “assimilado”, Theodor Herzl (1860-1904), advogado e jornalista, nascido em Budapeste e criado em Viena, foi o verdadeiro conceptor do Estado de Israel. O seu livro, O Estado Judaico – Para uma Solução Moderna da Questão Judaica, publicado em alemão em 1896, ao apresentar uma utopia racionalista que exaltava o êxodo organizado dos Judeus de todos os países com vista a edificarem, em terra virgem, um modelo de sociedade socialista, expunha pela primeira vez uma solução praticável. A partir do I Congresso Judaico Internacional, convocado por Herzl e realizado em Basileia, em 1897, a Organização Sionista Mundial passou a constituir-se como um governo em potênica. Herzl, porém, não propunha ainda a Palestina como pátria ancestral, nem sequer o hebreu como língua colectiva; Israel esteve para ser implantado no Uganda, então colónia britânica, ou noutras regiões, porque Herzl se opunha a uma ocupação ilegal. Foi a mais forte tendência do sionismo, a russa, promotora da infiltração na Palestina iniciada desde há décadas pelos “Amantes de Sião” e difusora do hebraísmo, que acabou por levar a melhor.
[8] Baas (“Ressurreição”), ou Partido Socialista do Renascimento Árabe, organização síria e iraquiana de esquerda, apoiante e rival de Nasser no contexto da constituição, em 1958, da República Árabe Unida (Egipto e Síria).
[9] Alusão a Michel Raptis, conhecido com o pseudónimo de Pablo. Dirigente da IV Internacional, Pablo foi um dos responsáveis pela chamada táctica do “entrismo”, elaborada em 1951, que recomendava a entrada dos militantes trotskistas nas organizações operárias, stalinistas ou reformistas, na eventualidade duma nova guerra mundial. Esta concepção, rejeitada pela maioria da secção francesa da IV Internacional, levava com frequência os seus seguidores a uma grande falta de lucidez, como no caso aqui referente ao partido Baas.
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