Original in French: Karl Marx et l’autogestion
Introdução por Aline Ferreira e Gabriel Teles
A palavra autogestão surge na Iugoslávia, em servo-croata samoupravlje, junção de samo (auto) e upravlje (gestão), depois traduzida para o francês como autogestion. O termo é introduzido na França para nomear a experiência iugoslava do final da década de 1950, cujo regime, liderado por Josip Broz Tito, se opunha parcialmente ao imperialismo do capitalismo estatal soviético. Assim, a palavra autogestão era empregada não apenas para se distinguir da burocracia soviética, mas também para delimitar a especificidade do regime titoísta, pautado na participação operária nas fábricas (controle operário) e pequenas propriedades privadas. Desse modo, durante o final da década de 1950 e início da década de 1960, a autogestão passa a ser entendida, na França, ainda nos termos expressos pela experiência iugoslava, como participação operária na cadeia produtiva, enquanto cogestão. Neste período o signo (autogestão) ainda não havia se encontrado com o seu significado (mudança radical da sociedade).
Mas é com o início do processo de radicalização da luta de classes no final do regime de acumulação conjugado (“capitalismo oligopolista transnacional”), especialmente no contexto francês de 1968, que o termo autogestão começa a esboçar uma mudança em seu significado, sendo utilizado tanto por intelectuais quanto por militantes (estudantes e trabalhadores), destoando do significado inicialmente adotado na Iugoslávia.
É a partir da recusa do capitalismo estatal soviético, bem como dos partidos políticos e sindicatos ditos comunistas (de lastro leninista), que intelectuais e militantes que participaram (direta ou indiretamente) do Maio de 68 passam a utilizar o termo autogestão enquanto determinação fundamental de um processo de transformação social. Há uma ressignificação do termo, já que o pretenso “caráter autogestionário” do regime iugoslavo se pautava apenas na questão da participação operária (cogestão), e não do conjunto das relações sociais. A autogestão, principal relação de produção daquilo que Marx (2011) chamou de “autogoverno dos produtores” (comunismo), torna-se antônimo de heterogestão, principal elemento das relações de produção capitalistas. Assim, a autogestão não significa a gestão no interior das relações de produção capitalistas, mas sim o núcleo de uma mudança radical; a sua determinação fundamental. Comunismo e autogestão tornam-se sinônimos, e a escolha deste último para expressar essa mudança se dá pela deformação do primeiro pelo pseudomarxismo, especialmente após a experiência soviética e a bolchevização dos partidos comunistas.
Yvon Bourdet, nesse contexto, foi um dos principais teóricos a manejar o conceito de autogestão como uma mudança radical da sociedade. É nesse processo que se desenvolve o marxismo autogestionário, expressão contemporânea do marxismo autêntico, sendo Bourdet o seu principal representante.
No presente texto, agora traduzido para o português, Bourdet demonstra que Marx defendia a ideia do que hoje chamamos de autogestão social. Ou seja, não se trata de um artigo que força anacronicamente o que Marx diria sobre a autogestão, mas sim que demonstra que esta ideia já estava ali presente sem que tivesse este nome que hoje atribuímos como “autogestão social” [Sobre essa questão, ler o texto Autogestão: Signo ou Ser]. Isso implica, necessariamente, no desvelamento de vários elementos que geralmente são atribuídos a Marx tanto por parte dos pseudomarxistas, como por parte dos anarquistas. Ou seja, aqui encontramos uma discussão que desmantela tanto o argumento bakuninista de que Marx seria autoritário com a sua ideia de “ditadura do proletariado” como uma fase de transição à associação livre de produtores (isto é, a autogestão social em nossas palavras), quanto a posição de tutela por parte dos bolcheviques que são avessos à auto-organização dos trabalhadores, destruindo-a. Assim, torna-se evidente a nítida diferença entre aquilo que os bolcheviques implementaram na União Soviética e aquilo que realmente Marx defendia. Portanto, o presente texto é de extrema importância e relevância na medida em que desmistifica a ideia de que leninismo é sinônimo de marxismo, desvelando a ideologia bolchevique, ou seja, na verdade, pseudomarxismo.
Para tanto, Bourdet não apenas se utiliza de textos, obras e cartas de Marx que remetem à autonomia e à auto-organização do proletariado, como também apresenta textos sobre as cooperativas e como elas só poderiam ser bem sucedidas sem vinculações com a burguesia e, portanto, deveriam estar necessariamente subordinadas ao processo revolucionário mais amplo (como na Comuna de Paris).
É preciso alertar, antes, sobre esta questão das cooperativas que Bourdet remete nos textos de Marx. O sentido que as cooperativas possui, contemporaneamente, é radicalmente distinto da forma como ela era encarada no século XIX num contexto de intensificação da luta de classes. Marx, apesar de reconhecer alguns avanços das cooperativas-fábricas (no contexto do cooperativismo revolucionário que hoje definitivamente não existe), foi bastante crítico de suas possibilidades em serem os instrumentos para a transformação radical.
“Mas o sistema cooperativista, limitado às formas elementares que os escravos assalariados podem desenvolver através dos seus esforços privados, jamais transformará a sociedade capitalista. Para converter a produção social em um sistema abrangente e harmonioso de trabalho livre, são necessárias mudanças sociais gerais, mudanças nas condições gerais da sociedade, que só poderão ser realizadas através da transferência do poder organizado da sociedade, isto é, do poder de Estado, das mãos dos capitalistas e proprietários de terras aos próprios produtores (MARX, 1975).”
Assim, no melhor dos casos, o cooperativismo apenas desenvolve um modo de produção semicapitalista. No contexto atual, na contemporaneidade, o cooperativismo é apenas uma ideologia tosca já integrada e subordinada ao modo de produção capitalista. No Brasil, essa discussão surge com a ideologia da economia solidária que se torna política estatal durante o governo Lula. Mas isso é assunto para outro texto. Boa leitura!
Karl Marx e a Autogestão – Yvon Bourdet
A palavra autogestão é de recente uso corrente, desde apenas uma década, e parece bem anacrônico justapô-la ao nome de Marx[1]. No entanto – para que aqueles que a ignoravam não imaginem que nos entregaremos a qualquer exercício escolástico de aproximação artificial do tipo “o que Platão pensaria hoje da televisão” – precisemos desde já que se Marx não emprega a palavra autogestão, ele se interessa (nós provaremos isso a partir de vários textos) ao que esta palavra designa e que se chamava então “cooperativas de produção”.
Certamente, o fato de que este termo (autogestão) só tenha aparecido recentemente não deixa de ser significativo. Ele testemunha, é claro, por uma parte, a ignorância do passado e é compreensível que certos anarquistas, fourieristas e proudhonistas, por exemplo, se irritem que muitos “conselhistas” ou “autogestionistas” acreditam ter encontrado algo de novo com uma palavra. Não deixa de ser menos, em contrapartida, que a necessidade de uma nova terminologia assinala pelo menos o desejo de uma demarcação com as doutrinas existentes. Mesmo que, agora, a maior parte dos anarquistas se mostrem preocupados com a ação da massa e os meios econômicos de transição, para muitos, com razão ou não, o termo anarquismo evoca mais a vontade de destruir os poderes em vigor do que tentar construir, a nível nacional ou internacional, uma organização de um tipo novo. No plano político, a ação deles aparece sobretudo negativa e suas tentativas de realizações positivas parecem limitar-se à reunião livre de pequenos grupos que buscam realizar, de uma maneira marginal, “um aumento imediato do gozo”. Não se trata aqui, no entanto, da busca de uma salvação egoísta; eles acreditam ser os fermentos ou os “detonadores” da revolução universal; mas o seu processo, ainda que “exemplar”, continua a ser a atividade de alguns pioneiros.
O termo autogestão, pelo contrário, parece designar uma organização mais ampla, mais técnica e que, em todo caso, está ligada mais à produção que ao gozo. Assim, a reivindicação da autogestão parece mais próxima do projeto dos marxistas, mesmo que se aprofunde entre eles, aos olhos de quase todos, um abismo quase infinito, pois entende-se ordinariamente por “autogestão” a colaboração das autonomias, e por “marxismo” o tão conhecido centralismo democrático de Lênin cujas disfunções, desde mais de cinquenta anos, não colocam absolutamente nada em questão, já que todos os vícios do sistema são incansavelmente explicados pelos pretensos defeitos de personalidade dos dirigentes. Mesmo aqueles que aceitam dissociar o marxismo do stalinismo, do leninismo ou do trotskismo ainda persistem em estimar que os apelos que Marx fez à “violência parteira da história” e à “ditadura do proletariado” são incompatíveis com os métodos e os objetivos dos partidários da autogestão.
Para deixar isso mais claro, é então necessário tirar os textos de Marx da imundície acumulada não tanto pelas glosas dos teóricos como pelo efeito das “consequências” – de duração de meio século – da práxis dos partidos comunistas que pretendem encarnar a teoria de Marx. O que propomos é, portanto, como outros, uma releitura, mas não para projetar nas entrelinhas o que Marx não escreveu. Pelo contrário, é para dar ou retomar visibilidade aos textos esquecidos, negligenciados, rejeitados ou simplesmente jamais lidos.
I. Os meios da revolução segundo Marx
A obra de Marx é uma crítica da sociedade capitalista e sua vida é uma luta para acelerar o momento de expropriação dos expropriadores. No entanto, para muitos, a passagem da crítica teórica à ação política tem um problema: no capítulo XXXII do livro primeiro do Capital, lê-se: “a produção capitalista engendra ela mesma sua própria negação com a fatalidade que preside às metamorfoses da natureza”[2]. Por isso, aliás, só se retomava à conclusão da primeira parte do Manifesto Comunista que dava por “inevitável a eliminação da burguesia e o triunfo do proletariado”[3].
Por conseguinte, o “Que Fazer?” [de Lênin – GT] parece desprovido de sentido como muitas vezes foi notado: “os marxistas que anunciam a chegada inevitável do regime pós-capitalista pensam em um partido que lutaria para provocar um eclipse lunar”[4]. Igualmente, Lênin colocava na boca dos populistas dos anos 1894-1895 esta reflexão: “Se os marxistas consideram o capitalismo russo como um fenômeno inevitável (…), eles devem abrir uma loja de bebidas…”[5]. Esta “objeção” não tinha escapado a Marx que ele próprio tinha introduzido como piada[6], em um rascunho de artigo sobre O Capital que Engels devia se encarregar de publicar, sob um nome falso, em um jornal dirigido por Karl Mayer: “Quando ele (Marx) demonstra que a sociedade atual […] possui em si os germes de uma nova forma social superior, ele só mostra sobre o plano social o mesmo processo de transformação que Darwin estabeleceu nas ciências da natureza […]. O autor, de uma só vez, […] talvez apesar dele (sublinhado por Marx) tocou o sino da sentença de morte de todo o socialismo profissional…”[7]. A “refutação” desta “objeção” se encontrava já no prefácio do Capital quando Marx explicava que uma sociedade que tinha chegado “a descobrir a pista da lei natural que preside ao seu movimento (sublinhado por Marx) […] não pode nem superar em um salto, nem abolir por decretos as fases de seu desenvolvimento natural, mas pode abreviar o período da gestação e suavizar os males do parto”[8].
Encontramos aqui o célebre tema da violência concebida como a força “parteira de toda a velha sociedade em trabalho de parto”[9], ou como diz a vulgata da violência parteira da história. Por isso, precisa Marx: “a força é um agente econômico”. É então nivelar “o marxismo”, senão reduzi-lo, seja a uma ação política que ignoraria as fases do desenvolvimento natural, seja ao economismo presunçoso do laissez-faire. Certamente a força não pode “girar para trás a engrenagem da história”[10], mas os comunistas declaram “abertamente que eles só podem conseguir seus objetivos destruindo por meio da violência a antiga ordem social”[11]. Encontramos, assim, a famosa e controversa questão da “ditadura do proletariado”. Sabemos que Kautsky, por criticar os bolcheviques, afirma que Marx nunca teve, por assim dizer, preconizado uma tal ditadura, que tratava-se aqui de uma “pequena palavra”, escrita, “en passant”, em uma carta[12]. Na verdade, Marx falou várias vezes do papel e da necessidade de uma tal ditadura[13], mas a simples listagem e contabilidade dos textos não serve de muita coisa caso não se entenda o sentido, em Marx, da palavra “ditadura”. Em uma nota de 20 de outubro de 1920, Lênin caracteriza a ditadura como um poder que não reconhece “nenhum outro poder, nenhuma lei, nenhuma norma, de onde quer que eles venham (…) o poder ilimitado, extra-legal, apoiando-se na força, no sentido mais estrito da palavra, é isso a ditadura”[14]. E é uma tal ditadura que o proletariado deve exercer, seja ele minoritário ou majoritário na nação. Max Adler, ao contrário, distingue, cuidadosamente, “ditadura majoritária” e “ditadura minoritária”[15]: quando uma minoria oprime uma maioria, estamos na presença do despotismo que Marx sempre combateu, sob todas as formas; se Marx preconiza a ditadura do proletariado é porque ela não pode ser outra coisa que a força da maioria: “Todos os movimentos do passado foram feito por minorias ou beneficiaram minorias. O movimento proletário é o movimento autônomo da imensa maioria no interesse da imensa maioria”[16]. Para Marx, a revolução proletária será a última revolução possível; efetivamente, quando o proletariado, classe universal, tiver tomado o ‘poder’, logo não haverá mais classes e, por conseguinte, luta de classes entre elas: “A antiga sociedade burguesa, com suas classes e seus conflitos de classes, dará lugar a uma associação em que o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos”[17]. Notemos, en passant, que Marx dá assim a definição exata de uma sociedade autogerida. Quanto às vias e aos meios de passagem a esta dominação imensamente majoritária do proletariado, eles serão variáveis de acordo com as circunstâncias; a violência, nós a vimos, será muitas vezes necessária, mas não sempre; em seu discurso de 8 de setembro de 1872 aos operários de Amsterdam, Marx declara que “a América e a Inglaterra (podem) chegar ao socialismo por meios pacíficos”[18]. No prefácio à edição inglesa do Capital, em 1866, Engels assegura que não foi uma declaração de circunstância e que Marx havia expressado seu verdadeiro pensamento. Aliás, Engels escreveu ele mesmo, um pouco mais tarde (1891), que “pode-se conceber que a velha sociedade poderá evoluir pacificamente em direção a uma nova sociedade nos países em que a representação popular concentra nela todos os poderes” e mesmo, mais explicitamente, que “a república democrática (…) seja a forma específica da ditadura do proletariado”[19]. Precisando seu pensamento, na introdução, escrita em 1895, à Luta de classes na França, Engels afirmava que o uso ilegal da força armada não era mais um bom meio para o proletariado conquistar o poder e que mesmo “a burguesia e o governo” estando chegado um pouco “a ter mais medo da ação legal que da ação ilegal do partido operário”[20]. Ao afirmar isto, Engels tinha sem dúvida dado exagerada importância à célebre declaração de Olidon Barrot: “A legalidade nos mata!” e à experiência da Comuna de Paris que terminou com uma catástrofe sangrenta do proletariado. Seu ponto de vista foi em seguida muito genericamente contestado pelos marxistas[21].
De qualquer forma, permanece da leitura de todos estes textos que Marx e Engels nem sempre mantiveram a mesma teoria no que concerne aos meios de passagem ao socialismo e, melhor ainda, eles defenderam explicitamente que era preciso se adaptar às circunstâncias. Isso não quer dizer que para eles seja suficiente esperar, como já lembramos e como a polêmica de Marx contra Bakunin bem mostrou. Não se trata aqui de abordar profundamente a comparação entre marxismo e anarquismo[22], mas somente na perspectiva do presente foco. O que tratamos, efetivamente, é de especificar como Marx concebe a sociedade, uma vez desfeita a opressão capitalista, e por quais meios podemos acelerar esta liberação. Ora, as notas escritas em 1874 por Marx, na margem do livro de Bakunin Estatismo e anarquia são, nesse sentido, muito esclarecedoras[23]. A partir dessas notas, podemos restituir o seguinte diálogo (sem mudar uma palavra, naturalmente, do texto de ambos):
Bakunin – “Os alemães são em torno de 40 milhões. Todos os 40 milhões, por exemplo, serão membros do governo?”
Marx – “Certainly! Porque a coisa começa pelo self-government da comuna”.
Bakunin – “Então não haverá governo, não haverá Estado, mas se há um Estado, haverá governantes e escravos (…) Este dilema na teoria marxista se resolve facilmente. Por governo do povo, eles (os marxistas – não! Interrompe Marx, é Bakunin que o pretende) entendem o governo do povo com a ajuda de um pequeno número de dirigentes eleitos pelo povo.
Marx – Asno! É verborragia democrática, divagação política! A eleição é uma forma política (…) que depende (…) das relações econômicas entre os eleitores; logo que as funções cessem de ser políticas:
1- não existe mais função governamental;
2- a repartição das funções gerais se torna uma coisa de ofício, e não confere nenhum poder;
3- a eleição não tem nada do caráter político atual”
Bakunin – “O sufrágio universal para todo o povo…”
Marx – “Todo o povo no sentido atual da palavra é uma pura quimera”
Bakunin – “A noção de ‘representantes do povo’ constitui ‘uma mentira sob a qual se esconde o despotismo da minoria governante (sublinhado por Bakunin) tanto mais poderosa quanto ela se afigura a expressão da suposta vontade do povo”.
Marx – “Sob a propriedade coletiva, a suposta vontade do povo dá lugar à vontade real do cooperativo”.
Vemos bem, por este diálogo, que, tratando-se de objetivos últimos, Bakunin tem uma briga ruim com Marx; este último admite muito bem que a organização social pelos técnicos da autogestão (cooperativas) decorre de um ofício mas não confere nenhum poder. Precisa-se no entanto reconhecer a Bakunin uma visão profética, porque apesar das denegações de Marx, os marxistas-leninistas realizaram – a partir do centralismo democrático – exatamente as funestas predições de Bakunin: “despotismo de uma minoria governante tanto mais poderosa quanto ela se afigura a expressão da suposta vontade do povo”. Por outro lado, Marx continua indiretamente a causa da deformação bolchevique por sua teoria de etapa de transição. Se, efetivamente, o que é preciso visar é o autogoverno da sociedade em seu conjunto e se desta fato, como escreve Marx na mesma nota sobre Bakunin: “o Estado popular de Liebknecht (…) é uma inépcia”, não é menos verdade que o proletariado segundo Marx, “durante o período da luta pela derrubada da antiga sociedade, age ainda sob a base desta antiga sociedade e, por conseguinte, (…) durante este período de luta, ele emprega para sua emancipação meios que desaparecerão após esta emancipação”. São estes meios – impostos pela sociedade de classe e pretensamente provisórios – que Bakunin recusa prudentemente, porque, sob pretexto de liberar o proletariado da dominação burguesa, institui-se uma nova dominação política, em um sentido, pior que a precedente. Então o que fazer? Segundo Marx, aqui a resposta a Bakunin: “Daqui, Bakunin conclui que não se deve fazer nada… que deve-se esperar o dia da liquidação geral (sublinhado por Marx), o último julgamento”. Não é preciso dizer que Bakunin, por sua vez, faria um escândalo diante desta “dedução” de Marx[24]. Estão aqui as leis da polêmica. O que somente nos interessa aqui é a contradição sublinhada por Bakunin entre o objetivo final de Marx (sociedade homogênea sem classe) e os meios impuros que ele acreditava ser indispensáveis de utilizar para desmantelar a máquina opressiva da burguesia. As pombas não podem nem convencer nem vencer os abutres se, em um primeiro momento, elas não atacam os abutres com a violência dos abutres. Aquele que mantém suas mãos brancas não tem mãos. Marx se coloca assim em oposição ao axioma do evangelho: os humildes herdarão a terra que foi retomada pelos partidários atuais da não-violência, aqueles que só têm armas de flores (amor e paz) ou que, reunidos em torno do Pentágono, esperam a saída da terra pelos seus pensamentos associados à fé que move montanhas. São aqui, dizer-se-á, gentis sonhadores, mas Marx continua não estando, também, satisfeito pela obrigação política de lutar contra os burgueses com armas parecidas com as deles. Por isso, aliás, não se preconizava exatamente uma tal imitação. Ele não queria que se seu “partido” fosse um partido como os outros, nem sua ação um conjunto de pequenas artimanhas no segredo dos aparelhos “diretores”. Os trabalhadores deveriam, segundo Marx, autogerir suas lutas. É um tema constante que aflora, com uma periodicidade, em seus escritos e em seus atos. A julgar por estes breves lembretes: em 1848, “o movimento proletário é o movimento da imensa maioria”[25]; em 1864, “a emancipação da classe operária deve ser obra da própria classe operária”[26]; em 1866 “a obra da Associação Internacional é de generalizar e de unificar os movimentos espontâneos da classe operária, mas não de prescrever ou impor a eles um sistema doutrinário qualquer que seja”[27]; em 1868 “a Associação Internacional dos Trabalhadores (…) não é filha nem de uma seita nem de uma teoria. Ela é o produto espontâneo do movimento proletário”[28]; em 1871, após a Comuna, “seria ignorar completamente a natureza da Internacional apenas falar de instruções secretas vindo de Londres (…) de algum centro pontifical de dominação e de intriga (…). De fato, a Internacional não é de modo algum o governo da classe operária, é um vínculo, não é um poder”[29]. Em 17 de setembro de 1879: “Nós formulamos, durante a criação da Internacional, o lema de nosso combate: a emancipação da classe operária será obra da própria classe operária. Não podemos, por conseguinte, avançar em conjunto com pessoas que declaram abertamente que os operários são demasiados incultos para se libertarem eles próprios, e que eles devem ser liberados por cima, ou seja, por grandes e pequenos burgueses filantrópicos”[30].
Marx nunca quis estar à frente de um partido que representasse apenas uma parte da classe operária; desde 1848 ele afirmava: “Os comunistas não formam um partido distinto face aos outros partidos operários. Eles não têm interesses distintos daqueles do proletariado em seu conjunto”[31]. Em uma carta a Freiligrath, Marx acrescenta: “sob o vocábulo partido, eu quero dizer partido no grande sentido histórico”, ou seja, a causa do conjunto do proletariado. Não se trata de desfilar em estrados ou em comícios, mas de compreender, de fazer compreender e, com isto, de acelerar o movimento histórico da sociedade de classe em direção à sua superação. Os falatórios e as pequenas intrigas da vida política dos partidos sempre irritaram Marx; como ele escrevia a Engels em 11 de fevereiro de 1851, ele estava irritado de ser assim levado a validar indiretamente as tomadas de posição, a sentir-se vinculado a declarações “de antas” e passar por ridículo. Dois dias mais tarde, em 13 de fevereiro de 1851, Engels responde: “nós temos a ocasião de mostrar que não precisamos nem de popularidade nem do ‘suporte’ de partido algum (…). Como pessoas como nós, que fugimos como a peste de situações oficiais, poderíamos ser de um partido? Que pouco nos importa um partido, a nós que cuspimos na popularidade?”. Vemos frequentemente nestas cartas apenas a marca de uma irritação passageira. A prova, digamos, que são apenas acessos de mau humor, é que Marx aderiu em seguida, em 1864, à Associação Internacional dos Trabalhadores. Justamente, eis aqui o que Marx pensa disso, em uma carta a Engels, de 26 de dezembro de 1865: “Quanto à Associação Internacional, ela me pesa como um íncubo e ficarei feliz em me livrar dela”. Marx não assiste ao congresso de Bruxelas em 1868, pensando ser mais útil à classe operária ao continuar sua obra teórica. Ele aplicava assim a recomendação dada por Engels, dezessete anos mais cedo: “o essencial é que nos imprimam”[32]. Não virá à mente de ninguém que, nesta fala, Marx ou Engels visavam uma glória literária qualquer. Mas o movimento autônomo da emancipação proletária é, ao mesmo tempo, uma tomada de consciência e esta última se torna logo um fator complementar do movimento de emancipação. Certamente, “a arma da crítica não pode substituir a crítica das armas, a força material deve ser superada pela força material. Mas a teoria se transforma, ela também, em força material, logo que ela se apodera das massas”[33].
É portanto nos próprios locais de trabalho que os operários devem compreender concretamente as modalidades de exploração de sua força de trabalho pela classe dominante. O papel do teórico é de tornar visível a eles este invisível cotidiano como Galileu explicou o movimento aparente do sol, abalando ao mesmo tempo, como nunca, a mitologia religiosa anterior. Quem é que não compreende que, por conseguinte, para Marx, militar não é um jogo de estratégia nos estados-maiores do comitê federal ou do comitê central, com a pretensão de comandar, do exterior, a mão de obra. Os trabalhadores são os únicos capacitados não apenas para organizar, para autogerir, suas lutas, mas também para instaurar, mesmo no seio da antiga sociedade, as novas estruturas de uma cooperação igualitária e fraternal que não precisa de chefes nem de dirigentes. Em seu Speech on the Anniversary of the People’s Paper, em 19 de abril de 1856, Marx salientou que as revoluções resultam mais de causas econômicas e de descobertas científicas e técnicas que da ação dos supostos “líderes”; ele disse, efetivamente: “Vapor, eletricidade e máquina de tecelagem tinham um caráter mais perigoso que os cidadãos Barbès, Raspail e Blanqui eles próprios”[34]. Quinze anos mais tarde, a Kugelmann que contestava, em uma carta de 15 de abril de 1871, a oportunidade de insurreição da Comuna porque a derrota privaria “de novo os operários de seus chefes”, Marx respondeu, no dia 17 do mesmo mês: “A desmobilização da classe operária teve uma infelicidade muito maior que a perda de um número qualquer de ‘chefes’” (O próprio Marx colocou entre aspas a palavra chefe). Assim, não se pode insistir mais do que Marx a capacidade de auto-emancipação da classe trabalhadora que pode não apenas autogerir seu combate, mas também autogerir a produção, o que é de acréscimo o meio mais radical de suprimir a alienação e a exploração. Assim, nesta dialética, a realização do objetivo final não se separa da execução dos meios específicos para alcançá-lo. A autogestão das lutas é uma condição para a autogestão da produção e vice-versa. Certamente esta conquista de autonomia ativa só pode ser progressiva e impura como Marx explicava a Bakunin, mas a tarefa do revolucionário é de esclarecer esta tarefa, de se “meter” nisso. Logo que a organização que pretende ser libertadora se torna um tipo de instituição exterior, que funciona como instrumento de luta para os operários no lugar de ser um esboço da nova organização da produção ela própria, Marx se desinteressa e padece de fazer parte disso. Não tem nem como distinguir autogestão das lutas e autogestão da produção, pois estas duas formas de emancipação se condicionam reciprocamente.
Mas se dirá, talvez, que isso são apenas deduções a partir de uma “montagem hábil” de alguns textos. É necessário, então, ver mais precisamente o que o próprio Marx disse a fundo sobre esse debate, já que ele também abordou isso em um grande número de textos que as interpretações de diversos aparelhos de partidos políticos marxistas deixaram na escuridão.
II. O movimento cooperativo e Marx
Os leitores muito parciais da obra marxiana, com base na crítica do socialismo e do comunismo utópicos da terceira parte do Manifesto comunista, concluem facilmente que Marx condenou toda antecipação intelectual de uma outra sociedade, que ele se limitou à análise científica da sociedade capitalista de seu tempo. Como, por outro lado, Fourier e Owen são citados dentre os “utopistas” e que o movimento cooperativo, e, hoje, o movimento “autogestionista” os reivindicam, entre outros, [conclui-se que Marx] era hostil às cooperativas e por conseguinte à autogestão. Vejamos mais precisamente, tendo textos de embasamento, o que realmente se passa.
É preciso primeiro observar que, mesmo na crítica do Manifesto Comunista a condenação dos utopistas está longe de ser sem nuances[35]. Marx explica primeiro “o ascetismo universal” retrógrado e “o igualitarismo vulgar” dos primeiros escritos (de Babeuf por exemplo) pelo fato de que o proletariado “se encontrava ainda em um estado embrionário, faltando as condições materiais de sua emancipação[36]. Assim o que Marx denuncia não é a previsão como tal, mas seu exercício individual e em más condições, o que poderia apelar à substituição: quer-se, por “intervenções pessoais”, tirar da imaginação “o que o movimento social não produz”. É a primeira forma deste “substituísmo” que Rosa Luxemburgo e Trotsky relacionarão ao autor de Que fazer?. No lugar de adotar as formas espontâneas da luta operária concreta, eles fazem planos ou, como diz Marx, “à organização gradual e espontânea do proletariado em classe, eles querem substituir sua ficção de uma organização da sociedade”.
Quem vê apenas esta crítica dos “utopistas” se apresenta igualmente bem, senão melhor, contra certos ativistas atuais que creem ser porta-vozes revolucionários da classe operária que discursam nos arredores das usinas; eles como pioneiros, logo deduzimos de Marx, se assemelham àqueles que Marx chamava de “alquimistas da revolução” que “improvisam uma revolução sem as condições de uma revolução”[37].
Em segundo lugar, a crítica do utopismo no Manifesto Comunista, Marx o precisa bem, se endereça menos aos autores dos sistemas utópicos que “ainda eram revolucionários” que a “seus discípulos que formam, por outro lado, apenas seitas reacionárias”. Em vez de estudar e de seguir “a evolução histórica do proletariado, eles se agarram às velhas concepções de seus mestres”. Marx denuncia vigorosamente o marginalismo deles, e, mais uma vez, sua crítica não concerne somente os grupos do século XIX, quando ele nota que, para viver seus sonhos, “eles são forçados a fazer um chamado à caridade dos corações e subvenções da burguesia”; mesmo que às vezes, hoje, a chamada às subvenções não sejam, ao mesmo tempo, uma chamada aos corações, permanece o fato de que eles levam uma existência parasitária e que frequentemente se alimentam de migalhas ou pequenos furtos às custas da sociedade de consumo que eles condenam. O mais grave é que podemos legitimamente nos perguntarmos como eles poderiam subsistir de outro modo; eles sobrevivem à medida em que a crítica radical deles permanece economicamente insignificante. Marx ainda observa que eles “se opõem com obstinação a todo movimento político dos trabalhadores” que parece a eles inspirado por “uma cega falta de fé”. Em resumo, o que Marx recusa é a obstinação do sonho dogmático sem ligação séria com os dados históricos. Por outro lado, este estudo atento da realidade social, Marx está longe de desejar que ele continue limitado a uma descrição factual de curto prazo. É preciso saber colocar em perspectiva os dados, discernir o avesso de algo decorado. Nesse âmbito, os escritos dos pretensos utopistas “contêm-se também (precisa Marx, sempre nesta terceira seção da terceira parte do Manifesto Comunista) elementos críticos. Eles atacam a sociedade existente em todos os seus fundamentos. Eles puderam assim fornecer materiais preciosos para educar os trabalhadores. “Porque – e as palavras que seguem têm uma importância decisiva para apreciar o ponto de vista de Marx sobre o grau de oportunidade de uma certa dose de utopia – “eles têm formulações positivas sobre a sociedade futura”. (Sublinhado por nós).
Entre estas “formulações positivas”, Marx cita o desaparecimento do antagonismo entre cidade e campo, a abolição da família, da indústria privada, do trabalho assalariado, a transformação do Estado em uma simples administração da produção etc. Esta posição de Marx junto de uma certa abertura à utopia não é objeto de uma escolha contestável; ela é a própria condição de toda observação crítica da sociedade existente; ninguém está satisfeito do que é e a crença da mudança pressupõe um estado melhor no passado (se ele é reacionário) ou no porvir (se ele é revolucionário). Portanto, não podemos “ficar sem profetizar” se nos ocuparmos da política. Porque, como observa Karl Kautsky, mesmos aqueles que “predizem que as coisas continuarão na mesma durante ainda muito tempo não se dão conta que eles profetizam”[38]. A miopia dessas pessoas se passa abusivamente por realismo; como bem mostrou Ernst Bloch, não sabemos ver a realidade da “categoria da possibilidade”[39], só queremos ver uma relação conceitual, enquanto que ela é uma determinação que porta o porvir em um objeto real ele próprio, em conformidade com a estrutura deste objeto. É nesse sentido que podemos, sem verborragia, falar de “utopia concreta” e compreender, como ainda diz Bloch, que “o que nos pertence situa-se à frente”. É bem isso o que Marx tinha compreendido desde 1844, ele escrevia, efetivamente, na apresentação dos Anais franco-alemães, que se não se devia “antecipar o mundo dogmaticamente”, não se devia deixar de encontrar “o mundo novo[40] pela crítica do mundo antigo” (…). “Veremos então, continuava Marx, que, desde muito tempo, o mundo possui o sonho de uma coisa que lhe falta consciência para possuir realmente. Veremos que não se trata de fazer um grande traço entre o passado e o futuro, mas de realizar as ideias do passado. Veremos enfim que a humanidade não começa por uma nova obra, mas realiza seu antigo trabalho com conhecimento de causa”[41]. Certamente, outrora, os althusserianos teriam rido de nos ver citar um Marx muito jovem e que “não era ainda marxista”… Infelizmente para eles, Marx escrevendo O Capital (em sua maturidade) demonstrou também neste ponto a continuidade de seu pensamento, citando Owen várias vezes e de modo favorável[42].
Estas indicações sumárias bastarão aos leitores de boa fé para questionar o dogmatismo da “vulgata marxista” em relação a uma pretensa condenação sem abertura e sem nuances do utopismo em Marx. O plano de fundo assim restituído não é mais do que mostrar as figuras da concepção marxista da cooperação[43].
a) O movimento cooperativo (autogestionário) enquanto abertura de uma brecha na sociedade capitalista
No livro I do Capital[44], e em seguida no livro III[45], Marx cita a Society of Equitable Pioneers, fundada em 1844 pelos discípulos de Robert Owen, em Rochdale, nos entornos de Manchester. Primeiro uma sociedade cooperativa de consumo, logo ela se tornou uma cooperativa operária de produção. Antes de lembrar o que Marx pensa destas empresas, podemos citar a estupefação dos observadores burgueses diante dessas usinas que poderiam se passar por capitalistas. “Um jornaleco inglês arquiburguês, diz Marx, o Spectator de 26 de maio de 1866, reporta que na sequência do estabelecimento de uma espécie de sociedade entre capitalistas e operários na Wirework Company de Manchester, o primeiro resultado aparente foi uma diminuição repentina de prejuízos. Os operários não viam por que eles destruíriam a propriedade deles, e o prejuízo é talvez, com as más dívidas, a maior fonte de perda para as manufaturas. Este mesmo jornaleco descobre, nos testes de cooperativa de Rochdale, um defeito fundamental: “Eles demonstram que as associações operárias podem conduzir e administrar com sucesso lojas, fábricas em todos os ramos da indústria e, ao mesmo tempo, melhor extraordinariamente a condição dos trabalhadores, mas!… mas não se vê muito bem qual lugar elas deixam ao capitalista? Que horror!”[46] Marx se contenta em acrescentar. Mais adiante, no livro III, abandonando o gênero humorístico, Marx observa que “a produção capitalista chegou a um ponto em que o trabalho de direção, completamente separado da propriedade do capital, está a correr pelas ruas, de tal modo que, de agora em diante, o capitalismo não precisa mais preencher esta função”[47]. Marx não considera que “o trabalho de direção” possa dar à luz a uma nova camada social que, sem possuir formalmente os meios de produção, não seria menos bem sucedida em preencher as funções burguesas de exploração e alienação da força de trabalho. Ele compara esta direção àquela de um “chefe de orquestra” que pode exercer sua função sem ser proprietário dos instrumentos musicais e que não tem de “se ocupar do salário de seus músicos”. Para ele, a retirada do capitalista equivale à supressão do poder alienante e expropriador. Por conseguinte, com a supressão da dominação capitalista, Marx parece supor que a única alternativa é a associação igualitária da cooperativa. Efetivamente, para ele, não apenas “as cooperativas de produção dão a prova que o capitalista se tornou (…) supérfluo como agente de produção”[48], mas, reflexão ainda mais importante: “na cooperativa de produção, o caráter contraditório do trabalho de direção desaparece já que o diretor é retribuído pelos trabalhadores no lugar de representar, diante deles, o capital”[49]. Trata-se aqui, sem dúvidas, do erro histórico mais grave de Marx, quero dizer, a superestimação da mudança que deveria resultar da retirada do circuito dos capitalistas privados.
Certamente, Marx vê bem que a função técnica da coordenação é, para o capitalista, um pretexto para acrescentar a este útil papel um poder de dominação: “Entre as mãos do capitalista, escreve ele, a direção não é somente esta função especial que nasce da natureza mesma do processo cooperativo ou social, mas ele é ainda, e eminentemente, a função de explorar o processo…”[50]. Mas Marx não vê que o proprietário burguês não é o único que pode ser bem sucedido nesta operação. Certamente, este erro era inevitável de acordo com os próprios princípios de Marx, uma vez que o teórico não pode antecipar o movimento real do desenvolvimento histórico. Marx cai assim no erro que denunciou nos “utopistas”, ou seja, que deduz logicamente a liberação dos trabalhadores de que o chefe não representará mais o capital. Ora, a observação das pretendidas transformações das relações de produção desde 1917 no país que “expropriou os expropriadores” mostra – o que Marx não podia observar – que não é suficiente que o chefe não represente mais o capital para que a contradição da heterogestão desapareça[51]. No entanto, a justificativa de que o chefe – emanação do Estado burocrático – passa a representar o povo inteiramente é já, ao menos formalmente, um questionamento da direção de uma classe por outra. Para esconder o seu poder, a nova classe dirigente julga necessário dissimular sob a ficção de uma sociedade homogênea, democraticamente centralizada. É nesse sentido que as cooperativas, ainda que imperfeitas, constituíam no entanto uma brecha no sistema capitalista existente; é o próprio Marx que emprega esta imagem, mais recentemente retomada por Claude Lefort, a propósito do movimento iniciado em maio de 1968[52]. Lê-se, efetivamente, n’O Capital: “Quanto às cooperativas operárias, elas representam, no interior do antigo sistema, a primeira brecha feita nele, ainda que elas reproduzissem necessariamente, e em todo o lugar, na sua organização real, todos os defeitos do sistema existente. No entanto, nas cooperativas, o antagonismo entre o capital e o trabalho se encontra superado, ainda que seja ainda sob uma forma imperfeita: enquanto associação, os trabalhadores são o seu próprio capitalista, isso quer dizer que eles utilizam os meios de produção para valorizar o seu próprio trabalho”[53]. Como veremos mais à frente, não apenas Marx sublinha a imperfeição destes novos modos do trabalho humano, como descreverá diversas formas de “recuperação”. Que ele não tenha “previsto” todas estas formas, não muda nada na clareza do princípio enunciado da auto-organização e da auto-exploração (no sentido de valorização) do trabalho humano. Para que não se acredite que nós inventamos toda esta interpretação sobre um texto desenterrado dos rascunhos do livro III d’O Capital, é útil citar os textos redigidos por Marx e publicados em vida no quadro da Associação Internacional dos Trabalhadores. Aqui primeiramente um trecho da Carta Inaugural de 1864: “Queremos falar do movimento cooperativo e sobretudo das manufaturas cooperativas montadas, com muito esforço e sem nenhuma ajuda, com alguns “braços” audaciosos. O valor destas grandes experiências sociais não pode ser sobrevalorizado. Por ações e não por especulações, elas provaram que a produção sobre uma grande escala, e em acordo com as exigências da ciência moderna, pode funcionar sem que uma classe de mestres empregue uma classe de “braço” (…) que o trabalho assalariado, como a escravidão, como a servidão, não é senão uma forma transitória e inferior, destinada a desaparecer diante dos trabalhadores associados…”[54]. Está claro, para todos, a partir destas linhas, que a revolução das relações de produção ainda deve ser feita nos Estados que suprimiram os capitalistas privados. Se Marx se enganava deduzindo (como ele diz que não tem que fazer) por “especulação” que esta supressão seria decisiva e colocaria fim ao trabalho assalariado, não é menos verdade que o que ele visava – para além do meio que julgava eficaz – era bem uma nova organização de trabalhadores associados que formariam uma sociedade sem classes. Ulteriormente, dois anos mais tarde, nas resoluções, escritas de próprio punho, para o primeiro congresso da A.I.T. de Genebra, em 1866, Marx tomava partido claramente em uma das controvérsias mais ardentes ainda hoje, ou seja, sobre a questão da eficácia das tentativas de autogestão enquanto meio revolucionário. A polêmica é, efetivamente, esta aqui: uma auto-organização igualitária da sociedade é certamente desejável como objetivo último, mas as tentativas de auto-organização, na sociedade de opressão atual, longe de serem meios de emancipação seriam uma causa de enfraquecimento; a autogestão só pode ser instaurada após a revolução, em vez disso, mas serve antes ao proletariado na atual luta de classes. Neste debate Marx toma posição com a maior clareza: “Nós reconhecemos o movimento cooperativo como uma das forças transformadoras da sociedade presente, fundada sobre o antagonismo de classes. Seu grande mérito é de mostrar praticamente que o sistema atual de subordinação do trabalho ao capital, despótico e pauperizador, pode ser suplantado pela associação dos produtores livres e iguais (…). Nós recomendamos aos operários de encorajar a cooperativa de produção em vez da cooperativa de consumo, esta última toca apenas a superfície do sistema econômico atual, a outra, ataca a base”[55]. Asseguradamente, sobre este ponto também, Marx poderia ter se enganado; não é menos importante saber qual foi exatamente seu ponto de vista e que ele manteve o mesmo interesse, até o fim de sua vida, pelas sociedades cooperativas. Efetivamente, três anos antes de sua morte, Marx redigiu um questionário que teve 25000 exemplares e que foram enviados às sociedade operárias, aos grupos e círculos socialistas, a todos os jornais franceses e de maneira mais geral a todas as pessoas que solicitaram. Ele era composto por 101 questões. A questão número 98 era a seguinte: “Há sociedades cooperativas em seu trabalho? Como elas são dirigidas? Elas empregam operários de fora da mesma maneira que os capitalistas o fazem? Envie os estatutos e as regras”[56]. Compreende-se, certamente, pela própria formulação da questão, que Marx via bem que poderia haver aqui uma cooperativa e uma cooperação, e que sua eficácia revolucionária, segundo ele, pressupunha condições muito precisas (e nós veremos isso adiante).
b) Operações e “recuperação” das cooperativas
Esta “vigilância” de Marx em direção às “habilidades” de diversos poderes é bem colocado em evidência pela seguinte questão do questionário citado: “Existe, no meu trabalho, ateliês onde as retribuições de operários são pagas em parte sob o nome de salários e em parte sob o nome de pretensa co-participação nos lucros? Compare as somas recebidas por estes operários e aquelas recebidas pelos outros em que não existe uma pretensa co-participação…”[57]. Interrogação pertinente ainda hoje e que deveria ser suficiente para mostrar o risível da polêmica de frações gaullistas neste assunto. Mas Marx não tinha esperado 1880 para perceber que as cooperativas, em certos casos, não apenas não tinha nenhum valor revolucionário mas faziam o jogo da classe dominante. Em uma carta a Engels de 13 de fevereiro de 1865, ele escrevia, em efeito, de forma bastante clara: “O governo prussiano não tolera nem as coalizões nem os sindicatos operários. É evidente. Em contrapartida, conceder subsídios governamentais (sublinhado por Marx) a algumas miseráveis sociedades cooperativas, é bom para os seus negócios sujos. Os empregados do governo vão meter mais o nariz onde não são chamados, haverá controle de ‘novos’ fundos, corrupção dos operários mais zelosos, todo o movimento será castrado”. É por isso, apontará um pouco mais tarde Marx: “os membros da classe dominante que são suficientemente inteligentes para compreender a impossibilidade de perpetuar o sistema atual – e eles são numerosos – se tornaram discípulos importantes e barulhentos da produção cooperativa”[58]. Portanto, quando ele lê no programa dito de Gotha que “o Partido Operário Alemão reclama o estabelecimento de cooperativas de produção com a ajuda do Estado”, Marx estremece; para ele, as sociedades cooperativas “não tem valor senão enquanto criações autônomas dos trabalhadores e não sejam protegidas nem pelo governo, nem pela burguesia”[59]. Porque, para ele, a classe operária é revolucionária ou ela não é nada[60].
Mas estamos aqui aparentemente em plena contradição: estas cooperativas cujo dinamismo revolucionário Marx havia proclamado, como elas podem ser tão facilmente “recuperadas” por aqueles que, no início, se assustaram? É preciso explicar por que “nobres arrogantes, os declarados filantropos da classe burguesa, economistas sutis começaram de repente a elogiar de forma nauseante o sistema de trabalho cooperativo, que tentaram em vão matar à nascença, escarnecendo-o como uma utopia de sonhadores ou estigmatizando-o entre os socialistas como uma blasfêmia”[61]?. Esta razão Marx a conhecia, é claro, e ele diz isso várias vezes.
c) A condição para um desenvolvimento revolucionário do movimento cooperativo é que ele atinja a dimensão nacional
Na Carta Inaugural, primeiramente, em 1864 “por excelente que esteja em seus princípios”, e tão útil que ela surja na prática, a cooperação dos trabalhadores, se permanece circunscrita em um círculo estreito, se alguns operários somente fazem esforços ao acaso e individualmente, então esta cooperação nunca será capaz de parar os monopólios que crescem em progressão geométrica; ela não será capaz de liberar as massas, nem mesmo de diminuir de maneira perceptível o fardo de sua miséria. (…) Para que as massas laboriosas sejam emancipadas, a cooperação deveria tomar uma amplitude nacional, e, por conseguinte, seria preciso incentivá-la com meios nacionais”[62]. Em outras palavras, isso quer dizer que a autogestão da produção só pode ser, ao mesmo tempo, a destruição do Estado. Isso surge claramente na resolução sobre o “trabalho cooperativo” do primeiro congresso da A.I.T., em Genebra, em 1866: “O sistema cooperativo restrito às formas minúsculas originárias dos esforços individuais de escravos assalariados é impotente a transformar por ele próprio a sociedade capitalista. Para converter a produção social em um largo e harmonioso sistema de trabalho cooperativo, as mudanças gerais são indispensáveis.”
Estas mudanças nunca serão obtidas sem o emprego das forças organizadas[63] da sociedade. Então, o poder de Estado, arrancado das mãos dos capitalistas e proprietários fundiários, deve ser usado pelos próprios produtores”[64]. Cinco anos mais tarde, durante a Comuna de Paris, Marx desenvolve, em outro tom, é verdade, o mesmo tema: “(A Comuna)” queria fazer da propriedade individual uma realidade, transformando os meios de produção, a terra e o capital, hoje essencialmente meios de subjugação e de exploração do trabalho, em simples instrumentos de um trabalho livre associado. Mas é comunismo, é “o impossível” comunismo! (…). Mas se a produção cooperativa não deve continuar a ser um engodo e uma armadilha; se ela deve derrubar o sistema capitalista; se o conjunto de associações cooperativas deve regrar a produção nacional de acordo com um plano comum, tomando-a, assim, sob sua própria direção e colocando fim à anarquia constante e às convulsões periódicas que são o destino inevitável[65] da produção capitalista, o que seria, senhores, senão o comunismo, o muito possível comunismo?”[66].
Enfim, em 1875, Marx confirma de novo o mesmo ponto de vista nas Glosas marginais sobre o programa do partido operário alemão dito de Gotha: “A emancipação do trabalho exige as transformações dos meios do trabalho em propriedade comum da sociedade; e que o conjunto das atividades seja regulamentada por meio de cooperativas”[67]. E um pouco mais longe, no mesmo texto: “Os operários querem instaurar as condições da produção cooperativa em escala social e primeiramente, neles, em escala nacional. Este fato apenas significa uma coisa: os operários trabalham para alterar as condições de produção atuais. Isso nada tem a ver com a criação de sociedades cooperativas com ajuda do Estado”[68].
Parece-me que tudo deve estar bastante claro agora: as cooperativas autogeridas são as primeiras realizações concretas da “utopia” de uma sociedade sem classes; mas estas cooperativas não podem verdadeiramente se desenvolver, conforme sua essência, enquanto subsistir um Estado central, dominador ou mesmo protetor. É toda uma outra organização igualitária e cooperativa da sociedade em seu conjunto que constituirá a revolução.
É certo que, sobre esta ou outras questões, podemos não partilhar os pontos de vista de Marx. O presente desenvolvimento histórico não fez nenhum apelo ao argumento de autoridade. No entanto, muitas vezes, são “os revolucionários profissionais” que se apoiam abusivamente sobre a autoridade de Marx para criticar a autogestão. Outros negam aos “marxistas” a possibilidade de serem partidários consequentes da extensão nacional do sistema cooperativo. A uns e a outros, que não estariam inteiramente satisfeitos com a sua certeza, os textos aqui reunidos poderiam dar a possibilidade de uma nova interrogação.
[1] No entanto, Pero Darnjanovic já publicou na revista Praxis (1962, 1, pp. 39-54) um artigo intitulado: “As concepções de Marx sobre a autogestão social”. O autor sustenta que “a autogestão é imanente à classe operária e ao seu movimento de libertação”. Ele se refere a Marx que parece – desde seus escritos de juventude em que denuncia o indivíduo abstrato aniquilado pelo Estado – ter sempre pensado que somente as associações autônomas dos produtores poderão realizar a verdadeira liberdade. Infelizmente, em seu artigo, Pero Damjanovic continua alusivo e não dá as referências precisas dos textos nos quais ele se apoia. Parece-nos também que ele deixa de lado aspectos importantes.
[2] Ed. sociales, livre 1, tome III, p. 205. Voir aussi t. 1, p. 19.
[3] Bibliothèque de la Pléiade, économie, 1, p. 173.
[4] Boukharine, L’Économie mondiale et l’impérialisme, p. 131. Não é preciso dizer que Boukharine apresenta este “argumento” como um “sofisma”.
[5] L’impérialisme, stade suprême du capitalisme oeuvres complètes, t. XXII, p. 291.
[6] “Em relação ao ‘jornal’ da Suábia, seria divertido enganar o amigo de Vogt, este Mayer suábio” (Carta de Marx a Engels de 7 de dezembro de 1867).
[7] Ibid.
[8] Pléiade, t. 1, p. 550.
[9] Ibid., (chap, XXXI) p. 1213.
[10] Manifeste communiste, Pléiade, p.171. Ver o mesmo tema no Anti-Duhring éd. sociales, pp. 204-205. Desse modo, as forças ditas reacionárias só podem ter um papel de freio.
[11] Último parágrafo do Manifesto Comunista. Ver também a carta de Engels a Marx de 23 de outubro de 1846.
[12] Karl Kautsky, Die Diktatur des Proletariats, Vienne, 1918, p. 20. A carta a qual Kautsky menciona designa as “Glosas marginais ao programa do Partido operário alemão”, dito Programa de Gotha, enviadas a W. Bracke em 5 de maio de 1875.
[13] H. Draper reuniu onze textos – catorze se contarmos a parte os variantes – que se referem a esta questão (« Marx and the Dictatorship of the Proletariat », in Cahiers de 1 ‘/.S.E.A., série S (6) sept. 1962, pp. 5-73).
[14] Contribution à l’histoire de la question de la dictature, œuvres complètes, Moscou, 1961, t. 31, p. 363.
[15] Max Adler, Démocratie politique et démocratie sociale, Paris, Ed. Anthropos, 1970, p. 140
[16] Manifeste communiste, Pléiade, p. 172. Ver também as observações anti-blanquistas de Marx em Les luttes de classes en France, éd. Sociales, pp. 42, 99, 102.
[17] Manifeste communiste, Pléiade, p. 183.
[18] Lênin faz alusão a este texto na sua polêmica contra Kautsky e ele tenta explicar pela ausência “do militarismo e da burocracia”, nos anos 70, na Inglaterra e na América (La révolution prolétarienne et le rénégat Kautsky, Oeuvres complètes, Moscou, 1961, t. 28, pp. 243, 247).
[19] Critique du programme d’Erfurt, éd. sociales, pp. 86-87. Em O Estado e a Revolução (Oeuvres complètes, t. 25, p. 480), Lênin atenua este texto, sublinhando seu caráter abstrato já que, diz ele, Engels escreve que podemos somente “conceber” ! esta evolução pacífica.
[20] Ed. sociales, p. 17.
[21] Ver Rosa Luxemburgo em Le programme de la ligue Spartacus; Kautsky, em Le chemin du pouvoir éd. Anthropos, 1969, p. 162; Otto Bauer diversos textos, em Otto Bauer et la Révolution Paris, C.D.I., 1968.
[22] Para uma visão panorâmica sobre isso, ver nosso livro Communisme et marxisme, capítulo 3.
[23] Konspekt von Bakunin Buch, « Staatlichkeit und Anarchie», in Marx – Engels Werke, Dietz, Berlin, t. 18, p.634 et sq., parcialmente traduzido por Rubel em Pages de Karl Marx… Paris, Payot, 1970, t. 2, pp.178-180.
[24] Zola coloca na boca de Souvarine uma das “respostas” possíveis dos anarquistas, “Vosso Karl Marx está ainda querendo deixar agir as forças naturais. Sem política, sem conspiração, não é? Tudo para um grande dia, e unicamente para o aumento dos salários… Deixe-me em paz com vossa evolução! Acenda as chamas nos quatro cantos das cidades…” Émile Zola, Germinal, Fasquelle, Paris (Livre de Poche). Livre de Poche, p. 138.
[25] Manifeste communiste, Pléiade, p. l 72.
[26] Statuts de l’Association internationale des travailleurs, lbid., p. 469.
[27] Révolutions du premier congrès de l’A.I.T., Genève, 1866 (Pléiade, t. l, p. 1469).
[28] Citado por M. Rubel, in : Cahiers de l’I.S.t:.A., N. 8, août 1964, p. 4.
[29] Ibid. p. 4, ver também, em anexo, a reprodução das duas negações, publicadas por Marx no Times de 22 de março de 1871 e de 4 de abril do mesmo ano. Thorez ele próprio cita esta fórmula de Marx, tirada da crítica do programa de Gotha: “A ação internacional das classes operárias não depende, de nenhum modo, da existência da Associação Internacional dos Trabalhadores” (Fils du Peuple, Paris, 1960, p. 210).
[30] Carta circular endereçada por Marx e Engels aos chefes da social-democracia alemã (citado por M. Rubel, in Cahiers de /’l.S.E.A., nov. 1970, p. 2013.)
[31] Le Manifeste communiste, La Pléiade, p. 174. Sobre a concepção marxiana de partido, ver Maximilien Rubel, « Remarques sur le concept du parti prolétarien chez Marx », in Revue française de sociologie, 1961, II, 3 e nosso artigo: « Démocratie, classe et parti d’après Max Adler», in : Arguments, 1962, pp. 25-26.
[32] Carta de 13 février de 1851, Cortès, Paris, t. 2, p. 48.
[33] Introduction à la critique de la philosophie hégélienne du droit, 1844.
[34] Tradução de Rubel in La Nef, N. 43, juin 1948, p. 67.
[35] Há uma vasta literatura sobre o utopismo e sobre as utopias. Contentemo-nos aqui de nos remeter ao texto de Max Adler: « L’utopisme chez Marx et Engels », précédé d’un avertissement : « La question de l’utopie chez Max Adler », in : Economie et Société, cahiers de l’I.S.E.A., t. IV, N. 11, nov. 1970, pp. 2069-2096. Ver também, no mesmo número, as pontuações de M. Rubel, notadamente na p. 2097.
[36] Reencontramos, quase palavra por palavra, o mesmo tema, em um dos rascunhos da Adresse à la Commune de Paris, redigida mais de vinte anos mais tarde, na primavera de 1871.
[37] Neue Rheinische Zeitung; 1850, trad. Rubel, Pléiade, Oeuvres, économie, 1, p. 1588.
[38] Le Chemin du pouvoir, p. 41.
[39] «Sur la catégorie de la possibilité », in : Revue de métaphysique et de morale, janvier-mars 1958.
[40] Sublinhado por nós; no seguinte deste estudo, as palavras sublinhadas, nos textos de Marx, exceto nas indicações contrárias, são feitas por nós.
[41] Marx· Engels Werke, Dietz, Berlin, 1858, t. 1, p. 343. (Traduction de M. Rubel, Pages de Karl Marx … Paris, Payot, 1970, t. 1, p. 68.)
[42] Ver Le Capital, livre I, Pléiade, 1, pp. 631, 833, 987, 996, note a, e também, na mesma edição, Adresse inaugurale, p. 466 ; Salaire prix et plus-value, p. 488; e enfim, no livro III do Capital, Pléiade, Il, p. 913.
[43] Para isso, fomos ajudados pelos textos de Marx reúnidos por Thomas Lowit, in : Etudes de Marxologie (6), Cahiers de l’l.S.E.A., N. 129, sept. 1962, pp. 79-98.
[44] Pléiade, I p. 870.
[45] Pléiade, II, p. 913.
[46] Le Capital livre Ier, chap, 13 (Pléiade, I, p. 870).
[47] Le Capital livre III (Pléiade, Il, p. 1147).
[48] Ibid. p. 1147. Mesma observação, p. 1149.
[49] Le Capital, livre Ier, Pléiade, t. I, p. 870.
[50] Ibid., p. 1148.
[51] Ver sobre este assunto nossas análises em La délivrance de Prométhée, chap, Ill, « La démocratie du centralisme démocratique » ; chap.IV, « Les contradictions de l’hétérogestion ».
[52] Edgar Morin, Claude Lefort, Jean-Marx Coudray – Mai 1968: La Brèche, Paris, Fayard, 1968, p. 144. Marx emprega também esta imagem em uma carta a J. B. Schweitzer, de 13 de fevereiro de 1865.
[53] Livro Ill d’O Capital, Pléiade, Il, p. 1178.
[54] Pléiade, Economie, t. 1, p. 466.
[55] Resolução do primeiro congresso da A.I.T., reunido em Genebra, em setembro de 1866. In: Marx, Oeuvres, Economie, t’ 1, p. 1469.
[56] O questionário, publicado sem nome de autor, na La Revue socialiste (N. 4, de 20 de abril de 1880) faz a seguinte menção em uma carta de Marx a Sorge: “Eu redigi (…) o ‘Questionário’ que, impresso primeiramente na La Revue socialiste, foi difundido a um grande número de exemplares por toda a França” (5 de novembro de 1880, Paris, Costes 1950, t. 1, pp. 253-254). O texto da enquete sociológica é reproduzido por M. Rubel dans la Pléiade, Economie, T. 1, pp. 1527-1536.
[57] Ibid., p. 1536.
[58] A Guerra Civil na França, 1871, Ed. Sociales, Paris, 1953, p. 46.
[59] Pléiade, t. I, pp. 1426-1428.
[60] Carta de Marx a J. B. Schweitzer, de 13 de fevereiro de 1865. Esta passagem é copiada por Marx em sua carta de 18 de fevereiro de 1865 (Ed. Costes, t. 8 de la Correspondance Karl Marx-Fr. Engels, p. 165).
[61] Carta Inaugural da A.I.T. (1864).
[62] Pléiade, p. 467.
[63] A expressão de “forças organizadas” não inclui necessariamente a violência, nem a exclui, bem entendido, se repararmos, ao mesmo tempo, que trata-se de “arrancar” o poder e mesmo de quebrá-lo (Carta a Kugelmann, de 12 de abril de 1871). Sobre a questão do uso da violência, ver a primeira parte deste artigo.
[64] Pléiade, t. 1, p. 1469.
[65] Acredita-se muitas vezes que os textos sobre o colapso inevitável do capitalismo só se encontram nas análises científicas do capitalismo. Vê-se aqui que, no estudo no calor do momento de uma sublevação proletária, Marx defende o mesmo tema que não lhe parece, portanto, incompatível com a ação revolucionária.
[66] A Guerra Civil na França, 1871, Ed. Sociales, Paris, 1963, p.46.
[67] Pléiade, t. I, p. 1416 et 1719.
[68] Ibid., pp. 1427-1428.
O texto foi publicado em: Revue Autogestion et Socialisme (Nº 15, março de 1971). A tradução foi realizada por Aline Ferreira a partir da versão disponível em: https://archivesautonomies.org/IMG/pdf/autogestion/autogestion/autogestion-n15.pdf. A revisão foi feita por Gabriel Teles.
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