Do Chile nos chegam informações sobre a luta proletária em outro 11 de setembro. Na noite de 2 de setembro em La Pincoya, bairro onde assassinaram militantes proletários em 98, estouram os primeiros confrontos. As batalhas na rua contra a repressão foram importantes e um dos tantos passos que levou à marcha do domingo 8. Nesse dia o Partido “Comunista” e a Assembleia de Direitos Humanos organizam uma marcha para o cemitério; o proletariado extravasa completamente o quadro pacifista e de integração estatal desta manifestação, expressando seu ódio de classe a respeito de diferentes representantes das instituições do estado: ataca bancos, partidos, igrejas, companhia de telefones, dispositivos de segurança (Assembleia dos Direitos Humanos, Partido “Comunista”, etc.) que pretendiam frear a violência proletária,… Também aparecem panfletos de militantes proletários que não somente atapetaram os paralelepípedos da marcha, mas toda Santiago: “A 29 anos do golpe fascista, derrubemos as torres da impunidade de assassinos e torturadores!”[1] “Setembro negro: Ação direta!” “Todos somos presos do Estado!”, “A barrikada fecha a rua, mas abre o kaminho!”, “Kontra o estado, o capital e a violência policial: Kriar resistência e luta social!” e nas muralhas se pinta “Nem pátria nem fronteiras, revolução proletária” “Luta social internacional”. Com estas palavras de ordem, os militantes comunistas expressavam a verdadeira significação da luta proletária e do combate por formular claramente sua direção revolucionária: Lutar contra seu “próprio” Estado, pela destruição do Capitalismo.
Dia 10, as lutas diretas deram-se nos arredores dos campus universitários de Macul con Grecia, contra a polícia e os meios de comunicação. Durante estes confrontos aparecem palavras de ordem que atacam a democracia e reivindicam o comunismo e por isso a anarquia: “Contra a democracia das maiorias, a insubmissão das minorias!” “Pelo komunismo, pela anarkia, ke este mundo se arrebente!”
Dia 11 levantaram-se barricadas em La Pincoya, Villa Francia, La Victoria, setores de Ñuñoa, Macul y Peñalolen, Lo Hermida (recorde-se que neste bairro deu-se um dos confrontos mais combativos contra a UP), em toda Santiago e em outras cidades.
Enquanto o mundo cidadão mantinha um minuto de silêncio pelo outro 11 de setembro (o made in USA), o proletariado no Chile e outros países rompia a união sagrada em defesa do estado e atacava a propriedade privada, gritando e riscando as ruas com palavras de ordem contra a relação assalariada e o terror na vida cotidiana.
Enquanto o Partido Socialista organizava, como todos os anos, sua homenagem a Salvador Allende, diferentes militantes atacaram esses social-democratas em frente ao monumento de Salvador Allende sabotando o ato. Enquanto o Partido “Comunista”, e as associações de Direitos Humanos organizavam marchas pacíficas de submissão cidadã, o proletariado rompia o enquadramento destas organizações e assumia sua ação direta.
Frente a isso, a Vice-presidente da Agrupação de Familiares de Presos e Desaparecidos, Mireya García, que representa bem a democracia bem pensante não pôde ocultar sua indignação cidadã frente à ruptura de classes que se expressa na rua: “Estou profundamente doída pelo que se sucedeu ontem, creio que definitivamente se perdeu o controle; nós vínhamos render homenagem a nosso presidente Salvador Allende, a nossas vítimas. O 11 de setembro tem que ser um dia de recolhimento, de reflexão, de respeito, e se transformou num dia de brigas partidárias que realmente são lamentáveis e vergonhosas… ninguém tem direito de chamar o outro de inconsequente, de imoral, de vendido”.
Os companheiros no Chile expressam um aniversário em total contraposição com estas posições, dizendo que o aniversário do “golpe genocida perpetrado por Pinochet em 11 de setembro de 1973 foi muito superior ao de anos anteriores. Talvez jogou algo a favor o cerco informativo da imprensa burguesa, que ocultou nossa realidade histórica, mostrando só o ocorrido em Nova York com as torres e os Alqaeda e tudo isso…. a imprensa burguesa silenciou a contrarrevolução sangrenta, com as imagens das torres se desaprumando… é que nossos companheiros mortos denunciam forte demais a verdadeira natureza do regime, que joga ao consenso em momentos de tranquilidade para seguir dominando, mas mal sua dominação é questionada, surgem a violenta e brutal repressão para erigir depois a “pax” burguesa. Nossos mortos recordam que ao final, o capitalismo se sustenta em nosso sangue. Para que isso não se esqueça, e por nossa justa e lógica indignação, muitos camaradas saíram à rua a lutar e a recordar que nossa luta segue vigente, até vencer ou morrer, iluminando nossas ruas com o formoso lume das barricadas. E em geral a imprensa burguesa fez um cerco em torno de nossas lutas, mostrando só os ranhentos discursos do baboso do Bush, mas nos bairros populares a luta se acende, em que pese o que mostre a imprensa. Hoje (dois dias depois dos confrontos) aparecem algumas notícias só do ponto de vista “policial”: número de baleados, danos à propriedade, etc…. Mas é verdade, todo este ânimo e combatividade deve ser canalizado de forma orgânica, deve tomar corpo num projeto de luta global contra o capitalismo e que contenha em cernes os elementos de reconstrução comunista da sociedade”.
A burguesia pretende exorcizar a ação do proletariado com suas campanhas terroristas (baseadas no antiterrorismo). A resposta proletária em vários rincões do mundo e particularmente no Chile, expressam a crítica proletária não só à atual campanha estatal, senão à toda a sociedade burguesa. Frente ao terror organizado da burguesia, contra as campanhas antiterroristas e a mobilização dos proletários em defesa do terror do estado, o proletariado mundial responde lutando contra a burguesia em toda parte.
[1] A catalogação do golpe de Pinochet como fascista, que os companheiros utilizam não nos parece correta, porque esconde que foi possibilitado pela política de terrorismo democrático, porque tende a opor fascismo e democracia, ao mesmo tempo em que esconde que Pinochet foi possibilitado e preparado pelo governo de Allende.
Disponível em: http://www.gci-icg.org/portuguese/index_portuguese.html.