Root & Branch, n. 1 (1970), pp. 31-33.
Root e Branch apresenta o grupo socialista libertário britânico Solidarity aos seus leitores americanos, anexando a declaração de princípios do grupo, Como a Vemos, abaixo.
Em todo o mundo, particularmente nos países capitalistas avançados na Europa Oriental e Ocidental e nos Estados Unidos, militantes nas fábricas, escritórios, escolas e bairros estão começando a articular uma visão comum do socialismo e da ação revolucionária. Em geral, eles imaginam uma sociedade em que a produção e a vida social sejam controladas por aqueles que executam o trabalho, não por aqueles que exploram o trabalho dos outros. Esta concepção de socialismo está ressurgindo após quase um século de luta da classe trabalhadora e dos movimentos sociais contra a sua dominação pelas elites políticas que reinterpretaram o socialismo à imagem das relações sociais capitalistas. Esses socialistas e partidos comunistas têm reproduzido em si as estruturas burocráticas e hierárquicas dos sistemas sociais que eles pretendem se opor.
Solidarity é um grupo de revolucionários britânicos. É um entre muitos que romperam com as políticas reformistas da velha esquerda. O Solidarity nasceu da desintegração do movimento comunista e do desenvolvimento de movimentos autônomos de estudantes e trabalhadores nos países capitalistas ocidentais, culminando nas revoltas dos estudantes e trabalhadores na França e na Itália em 1968-69. A Root and Branch concorda substancialmente com a seguinte declaração, embora não tenha relações organizacionais com o Solidarity.
Root e Branch espera promover a concepção de que o movimento revolucionário é a autoatividade e a auto-organização dos trabalhadores. Nós somos parte da luta deles, mas não aspiramos a liderá-los, nem os dirigir. Também não é nossa intenção fundar um novo movimento separado da classe. Os movimentos não surgem de ideologias, mas das condições da vida cotidiana.
SOLIDARITY
1. Em todo o mundo, a grande maioria das pessoas não tem controle sobre as decisões que afetam profundamente e diretamente suas vidas. Elas vendem sua força de trabalho, enquanto outros, que possuem ou controlam os meios de produção, acumulam riqueza, fazem as leis e usam toda a maquinaria do Estado para perpetuar e reforçar suas posições privilegiadas.
2. Durante o século passado, o padrão de vida dos trabalhadores melhorou. Mas nem o aumento do padrão de vida, nem a nacionalização dos meios de produção, nem a chegada ao poder dos partidos que reivindicam representar a classe trabalhadora, alteraram o status fundamental do trabalhador como trabalhador. Nem deram à maior parte da humanidade muita liberdade fora da produção. No Oriente e no Ocidente, o capitalismo continua sendo um tipo de sociedade desumana, onde a grande maioria é chefiada no trabalho e manipulada no consumo e no lazer. Propaganda e policiais, prisões e escolas, valores tradicionais e moralidade tradicional servem para reforçar o poder de poucos e convencer ou coagir muitos a aceitar um sistema brutal, degradante e irracional. O mundo “comunista” não é comunista e o mundo “livre” não é livre.
3. Os sindicatos e os partidos tradicionais da esquerda começaram a mudar tudo isso. Mas eles chegaram a um acordo com os padrões existentes de exploração. De fato, eles são agora essenciais se a exploração da sociedade continuar funcionando sem problemas. Os sindicatos atuam como intermediários no mercado de trabalho. Os partidos políticos usam as lutas e aspirações da classe trabalhadora para seus próprios fins. A degeneração das organizações da classe trabalhadora, ela própria o resultado do fracasso do movimento revolucionário, tem sido um fator importante na criação da apatia da classe trabalhadora, o que, por sua vez, levou a uma degeneração adicional de partidos e sindicatos.
4. Os sindicatos e partidos políticos não podem ser reformados, “capturados” ou convertidos em instrumentos de emancipação da classe trabalhadora. Não pedimos, no entanto, a proclamação de novos sindicatos, que nas condições de hoje sofreriam um destino semelhante aos antigos. Também não pedimos que militantes rasguem suas carteiras do sindicato. Nossos objetivos são simplesmente que os próprios trabalhadores decidam sobre os objetivos de suas lutas e que o controle e a organização dessas lutas permaneçam firmemente em suas próprias mãos. As formas que essa autoatividade da classe trabalhadora pode assumir variarão consideravelmente de país para país e de indústria para indústria. Seu conteúdo básico não.
5. O socialismo não é apenas a propriedade e o controle comuns dos meios de produção e distribuição. O socialismo significa igualdade, liberdade real, reconhecimento recíproco e uma transformação radical de todas as relações humanas. É a “autoconsciência positiva do homem”. É a compreensão do homem sobre seu ambiente e sobre si mesmo, seu domínio sobre seu trabalho e sobre as instituições sociais que ele possa precisar criar. Esses não são aspectos secundários, que seguirão automaticamente à expropriação da velha classe dominante. Pelo contrário, são partes essenciais de todo o processo de transformação social, pois sem eles nenhuma transformação social genuína ocorrerá.
6. Uma sociedade socialista só pode, portanto, ser construída a partir de baixo. As decisões relativas à produção e ao trabalho serão tomadas pelos conselhos operários compostos por delegados eleitos e revogáveis. As decisões em outras áreas serão tomadas com base na discussão e consulta mais ampla possível entre o povo como um todo. Essa democratização da sociedade, até às suas raízes, é o que entendemos por “poder operário”.
7. Para os revolucionários, a ação significativa é o que aumenta a confiança, a autonomia, a iniciativa, a participação, a solidariedade, as tendências igualitárias e a autoatividade das massas e o que quer que ajude na sua desmistificação. Ação estéril e prejudicial é o que reforça a passividade das massas, sua apatia, seu cinismo, sua diferenciação através da hierarquia, sua alienação, sua dependência de outras pessoas para fazer coisas por elas e o grau em que elas podem ser manipuladas por outras pessoas – até por aqueles que supostamente agem em seu nome.
8. Na história, nenhuma classe dominante jamais renunciou ao seu poder sem luta e é improvável que nossos atuais governantes sejam uma exceção. O poder só será tirado deles através da ação consciente e autônoma da grande maioria das pessoas. A construção do socialismo exigirá compreensão e participação em massa. Por sua estrutura hierárquica rígida, por suas ideias e por suas atividades, os tipos de organizações social-democratas e bolcheviques desencorajam esse tipo de entendimento e impedem esse tipo de participação. A ideia de que o socialismo pode de alguma forma ser alcançada por um partido de elite (por mais revolucionário que seja) que atue em nome da classe trabalhadora é absurdo e reacionário.
9. Não aceitamos a opinião de que a própria classe operária somente pode alcançar uma consciência sindical. Pelo contrário, acreditamos que suas condições de vida e suas experiências na produção constantemente conduzem a classe operária a adotar prioridades e valores e a encontrar métodos de organização que desafiam a ordem social estabelecida e o padrão de pensamento estabelecido. Essas respostas são implicitamente socialistas. Por outro lado, a classe operária é fragmentada, despojada dos meios de comunicação e suas várias seções estão em diferentes níveis de conhecimento e consciência. A tarefa da organização revolucionária é ajudar a dar à consciência proletária um conteúdo explicitamente socialista, prestar assistência prática aos trabalhadores em luta e ajudar aqueles em diferentes áreas a compartilhar experiências e se relacionar um com o outro.
10. Não nos vemos como mais uma liderança, mas simplesmente como um instrumento da ação da classe trabalhadora. A função do SOLIDARITY é ajudar todos aqueles que estão em conflito com a atual estrutura social autoritária, tanto na indústria quanto na sociedade em geral, a generalizar sua experiência, fazer uma crítica total de sua condição e de suas causas, e desenvolver a consciência revolucionária de massa necessária para que a sociedade seja totalmente transformada.
Traduzido por Felipe Andrade a partir das seguintes versões:
https://libcom.org/library/point-view-solidarity e http://libcom.org/library/as-we-see-it-solidarity-group.