Dez Teses do Marxismo Hoje – Karl Korsch

* Zen These über Maxismus heute (1950). Redigidas e difundidas em 1950 como esquema de uma conferência pronunciada em Zurique (razão porque são designadas também como Teses de Zurique) por ocasião da viagem de Korsch a Europa, onde pronunciou conferências em Hannover, Berlim, Basiléia e Zurique presencialmente, nunca foram publicadas pelo autor. Apareceram pela primeira vez impressas em francês na Revista Arguments, em 1959, e após em seu original alemão Alternative, VIII, 1965, n° 41, pp 89-90. (Nota do editor mexicano).

1.

Já não há sentido em propor a pergunta sobre em que medida é na atualidade teoricamente válida e praticamente aplicável a doutrina de Marx e Engels.

2.

Todas as tentativas de restaurar a doutrina marxista como um todo e em sua função original de teoria da revolução social da classe operária constituem na atualidade utopias reacionárias.

3.

Isso não obstante, para o bem ou para o mal, elementos importantes da doutrina marxista conservam ainda hoje sua validez com função e perspectivas diversas. Também estímulos importantes da prática do movimento operário marxista de épocas anteriores têm entrado nas diversas práticas atuais dos povos e de classes.        

4.

O primeiro passo para a reconstituição de uma teoria e de uma prática revolucionária consiste em romper com a pretensão do marxismo de monopolizar a iniciativa revolucionária e sua direção teórica e prática.

5.

Marx é hoje apenas um dos muitos percussores, fundadores e prosseguidores do movimento socialista da classe operário. Igualmente importantes são chamados “socialistas utópicos” desde Thomas Moore até nossos dias. Igualmente importantes são os grandes rivais de Marx como Blanqui ou irredutíveis adversários como Proudhon e Bakunin. Não menos importantes são finalmente, desenvolvimentos ulteriores tais como: o revisionismo alemão, o sindicalismo francês e o Bolchevismo russo.

6.

Os pontos particularmente críticos do marxismo são:

  1. a dependência prática das condições políticas e econômicas pouco desenvolvidas da Alemanha e dos demais países da Europa centro-oriental onde adquiriu importância política;
  2. adscrição incondicionada às formas políticas da revolução burguesa;
  3. aceitação incondicionada da situação avançada inglesa como modelo de desenvolvimento futuro para todos os países e condição objetiva preliminar para a passagem ao socialismo. Além disso;
  4. as consequências de suas repetidas tentativas, convulsas e desesperadas, por destruir essas condições.

7.

Destas condições resulta:

  1. a sobreestimação do Estado como instrumento determinante da revolução social;
  2. a identificação mística do desenvolvimento da economia capitalista com a revolução social da classe operária;
  3. o problemático desenvolvimento ulterior desta primeira forma da teoria marxista da revolução com o enxerto artificioso de uma teoria da revolução comunista em duas fases e desenvolvida em parte contra Blanqui, em parte contra Bakunin – teoria que cancela do movimento atual a emancipação da classe operária, deslocando-a em direção a um futuro indeterminado.

8.

É aqui onde se enxertou o desenvolvimento leninista ou bolchevique do marxismo; e é desta forma como o marxismo foi transportado à Rússia e à Ásia. Contemporaneamente se tem realizado à transformação do socialismo marxista de teoria revolucionária em ideologia que pode ser posta e tem sido posta a serviço dos mais diversos objetivos.

9.

Sob este ponto de vista devem ser criticamente entendidas as duas revoluções russas de 1917 e de 1928; sob este ponto de vista devem ser determinadas também as funções diversas que o marxismo desempenha hoje na Ásia e em escala mundial.

10.

A possibilidade por parte dos trabalhadores de determinar a produção e a própria vida não nasce recuperando as posições abandonadas da chamada livre concorrência, abolida pelos mesmos proprietários monopolistas dos meios de produção, sobre os mercados nacionais internos e sobre o mercado mundial. Essa possibilidade só pode ser o resultado da intervenção planificada de todas as classes hoje excluídas da produção, tendencialmente regulada em todas as partes de maneira monopolista e planificada.

Tradução de Nanci Jorge. Artigo extraído da Edição Mexicana “Teoria marxista e ação política” dos Cadernos do Passado e Presente. Transcrito por Rodrigo Aguiar, a partir da versão disponível em: Revista Teoria e Política, número 13, ano 1990.