As Origens do nacionalismo no proletariado – Herman Gorter

Este texto é uma seção da obra de Gorter “O Imperialismo, a Guerra Mundial e a Social-democracia”, traduzido pelo autor para o alemão em 1915. Esta versão está baseada na tradução inglesa do texto alemão, realizada por D. A. Smart em 1977 e publicada no livro “O marxismo de Pannekoek e Gorter” (Pluto, Londres). As separações em números romanos são desta edição.

I

Como o proletariado pode negar seus próprios interesses deste modo e pôr-se tão completamente a serviço da burguesia?

Se buscarmos a razão, nosso primeiro achado será que o proletariado ainda não sabe intervir contra a burguesia como uma só entidade internacional. E o segundo achado, será que o proletariado não sabe como lutar por objetivos superiores, de longo prazo, mas apenas por objetivos menores, de curto prazo. Esta é a causa da sua incapacidade de atuar em escala internacional na busca de objetivos de longo prazo, quando assim foi necessário fazê-lo. Não soube o que fazer. Numa palavra, a luta internacional pelo objetivo último, pelo socialismo, não significava nada para ele. Posto que a luta contra o imperialismo que domina o mundo é a luta contra a expansão do capital, é a luta contra a essência do capitalismo, é a luta pelo socialismo. Deste modo, é a falta de entendimento do proletariado internacional a responsável pela maneira como tem atuado. Primeiro e acima de tudo, a sua falta de entendimento. A classe operária em conjunto e o operário individual devem ter um alto nível de conhecimento para assumir a ação em escala internacional

O nacionalismo do proletariado tem uma natureza distinta do nacionalismo burguês. Para o burguês, a nação é a organização político-econômica cuja unidade e fortaleza lhe permitem fazer produtivo o seu capital, tanto em casa como no estrangeiro. Em casa, a nação governa os operários no seu interesse; no estrangeiro, defende os seus interesses pela força das armas e estende a sua influência para a sua causa. Esta é a base do nacionalismo burguês, que deste modo é muito ativo no seu caráter, assim como o é o capital do burguês. O operário, por outra parte, não tem capital, só recebe os seus salários. O seu nacionalismo é, por conseguinte, passivo, assim como é passivo para receber os salários. Mas a grande maioria dos operários, não obstante, vive pelo capital nacional. O capital nacional é, de fato, seu inimigo, mas é um inimigo que os alimenta. Assim, ainda que o trabalhador só seja nacionalista passivamente, é nacionalista e não pode ajudar sendo nacionalista enquanto não seja um verdadeiro socialista. Porque a nação, o capital da nação, é o fundamento da sua existência. E, por conseguinte, enquanto não for um socialista, não pode ajudar acreditando que o interesse do capital nacional é o seu próprio e que deve defendê-lo contra inimigos, porque o bem-estar do seu capital é também o seu próprio bem-estar. O nacionalismo do operário consiste numa série de sentimentos e instintos geralmente primitivos, que estão vinculados ao impulso de auto-preservação e estruturados ao seu redor. Em primeiro lugar, o instinto de preservar a sua existência mediante o trabalho, mediante os seus salários. E, conectado a isto, os sentimentos concernentes ao seu lar, à sua casa natal, à sua família, à tradição, ao costume, à lealdade, à localidade imediata, à sua gente, ao seu partido – e o instinto de conservar tudo isto, que vincula totalmente ao seu ego e que deste jeito está intimamente ligado ao impulso de auto-conservação. Quase moribundos na vida diária, a ameaça ou a sombra do perigo os desperta com uma força elementar, precisamente devido a esta conexão com o impulso de auto-conservação.

E se inflamam no lume da paixão, de ódio frente ao inimigo, de amor fanático pelo próprio país, quando o impulso de auto-preservação se alia com os instintos sociais de ligação e unidade com seus iguais – neste caso, os companheiros compatriotas, aqueles que são da mesma classe e nação. Requer-se um alto grau de conhecimento para que este instinto, estes sentimentos, sejam superados. Seja num momento dado, em qualquer momento ou sempre, e para que a luta de classe não seja abandonada pela luta em nome da nação. E assim o operário deve compreender que sob o capitalismo o nacionalismo está a lhe fazer um grande dano, muito mais do que as vantagens que proporciona. Deve compreender em que consistem o dano e as vantagens. Deve contrapesar uma coisa frente à outra. E este processo de pensar, este conhecimento, deve ser de tal qualidade, deve ter penetrado a sua consciência tão completamente, que não só supere os instintos de nacionalismo, mas que tome o seu lugar. Esta é uma tarefa extremamente difícil e que requer um período muito longo. Portanto, o operário deve compreender que o imperialismo governa toda a política, bem como ameaça à classe operária com a ruína e a fragmentação causando guerras intermináveis, que as guerras defensivas já não podem empreender-se sob o imperialismo, e por último e mais importante, que o imperialismo – e aqui coincide tão estreitamente com o nacionalismo a ponto de se fundir com ele – unifica a todos os capitalistas nacionais contra o proletariado mundial, o qual deve se unir contra eles. E que a luta contra o imperialismo é, por conseguinte, a luta pelo socialismo. O operário deve saber tudo isto. E não com palavras e frases ocas, com uma compreensão vazia, superficial e fugaz, mas com um conhecimento profundo e completo. O conceito deverá ter penetrado até mesmo nos ossos. Isto também é uma tarefa longa e cansativa. A desmitificação do imperialismo e a correspondente erradicação do nacionalismo são um poderoso passo adiante, um tremendo incremento na consciência e, assim, no desenvolvimento do proletariado militante.

II

A nova propaganda necessária para lograr isto nesta nova fase do capitalismo é uma das tarefas mais sublimes, delicadas e frutíferas que podem ser realizadas em favor do proletariado. Contra o nacionalismo, contra o imperialismo, pelo socialismo. O proletariado nunca tinha feito nada disto antes. Sempre assumira a sua ação em escala nacional, nunca antes em escala internacional. E nunca antes tinha agido contra o imperialismo internacional. O proletariado nacional e, portanto, o proletariado internacional, nunca tinha experimentado a luta contra o imperialismo internacional. Havia, por suposto, grupos e indivíduos entre os operários de cada país, e, sobretudo na Alemanha, que tinham superado os instintos nacionais por meio do conhecimento e da intuição. A social-democracia erradicara estes instintos de certos corações. E estes grupos e indivíduos teriam lutado com gosto contra a guerra com todas as suas forças. Mas, em primeiro lugar, estes grupos e indivíduos estavam, na nossa estimativa, muito escassos em número. Inclusive na Alemanha. Em Inglaterra eram difíceis de encontrar[1], e de modo similar na França.

Em segundo lugar, eles não viram como poderiam combater a guerra. Mesmo aqueles que reconheceram os meios a usar contra a guerra, seguiram sem ver como colocá-los em prática. Como podemos ver, o único meio para combater a guerra imperialista é a ação nacional em escala de massas pelo proletariado, empreendida simultaneamente pelo proletariado internacional inteiro. Se estes grupos de operários tivessem reconhecido a maneira de comprometer-se em tal curso de ação, vendo-a claramente ante eles, teriam optado por ela, e não só isso, teriam levado com eles às grandes massas dos operários. Explicaremos abaixo as razões pelas quais não viram o caminho diante de si, por que não o reconheceram.

O que foi a história prévia da Internacional?

No começo era uma federação de sindicatos e grupos progressistas e socialistas. Os que expressavam brilhantemente os pensamentos e sentimentos dos grupos mais militantes, mais desenvolvidos da classe operária, particularmente na esfera da política exterior, dos problemas políticos europeus; os que pela primeira vez na história mundial, e para maravilha dos operários e terror da burguesia, se apoiaram uns aos outros em escala internacional; os que pela primeira vez na história mundial teceram uma ligação ao redor do proletariado inteiro; os que abertamente declararam o comunismo como a sua meta, que era uma luz resplandecente para os operários e o primeiro grande desafio à burguesia internacional, e que semearam a semente dos partidos do futuro. Um gênio veio ante eles, um semeador passou pelos países da Europa e América. Tinham um programa e um executivo, enviando-lhes as diretrizes que emanavam do cérebro de Marx e que iluminaram o caminho do futuro como brilhantes tochas; um executivo para dar-lhes direção. Mas as únicas ações mancomunadas em que se comprometeram foram manifestações. Depois de 1872, esta Internacional derrubou-se pela divisão interna, muito antes de poder fazer algo mais em conjunto, como uma entidade. Era ainda demasiado débil para a luta prática internacional; o período não estava ainda maduro para isto. Somente difundira a semente por distintos países. A partir dela, logo cresceram ali lentamente os partidos nacionais e os sindicatos. Uma grande época começava agora para os operários. Milhares de homens e mulheres inspirados pelos pensamentos de Marx e da Internacional, mergulharam entre os operários de cada país e predicaram o comunismo e o socialismo. Eram seus os melhores cérebros e os mais calorosos e apaixonados corações, os de caráter mais elevado e sublime. Pois a luta era dura e cheia de perigos; a resistência da burguesia obstinada; a recompensa material pequena ou nula. E os operários que escutavam eram os melhores, os mais militantes, os mais inteligentes, os mais valentes. E, ao mesmo tempo, todos eles mergulharam tanto na teoria quanto na prática. A política dos operários sustentava-se num grande objetivo teórico: a revolução. Assim era em muitos países da Europa: Alemanha, Áustria, França, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Espanha, Itália. Poderíamos chamar a este o período da revolução na teoria e na prática.

O número que tomava parte era ainda pequeno. Mas foi durante este período quando se conseguiu a maioria na maior parte dos países. Inclusive em termos de reformas. O assalto era tão selvagem e furioso, o assombro e terror da classe dominante tão grande, que concederam algumas reformas. As melhores reformas no sufrágio e a legislação social datam deste período em muitos países. Mas, em compensação, esta Internacional, estes partidos nacionais, só se preocupavam dos problemas nacionais, de objetivos menores, de curto prazo. Todos os melhores partidos nacionais se entregaram ao legalismo, à atividade parlamentar, às eleições; todos os sindicatos a melhoras nos salários e na jornada de trabalho, na proteção dos seus membros, etc. Por suposto, tinham um elevado programa socialista, ainda baseado no gênio de Marx. Mas isto era só teoria. Era só propaganda interna, não ação. Já não acontecia nada dentro dos partidos nacionais para situar a questão: capitalismo ou socialismo, reforma ou revolução. Este estado dos assuntos prolongou-se durante anos. Assim, a revolução tornou-se teoria e a reforma tornou-se prática. E nada aconteceu nesse período, nos fatos, para reivindicar o internacionalismo por parte dos partidos nacionais, para exigir que botassem de lado o seu nacionalismo. E assim, apesar de toda a teoria, apesar de toda a mais precisa e sincera propaganda, apesar de todas as boas palavras, a Internacional converteu-se num complexo de partidos que se esforçavam por melhoras, por eles próprios, por aqueles no seu mesmo ofício, pelos seus camaradas, pelos seus compatriotas. Não mais que isso. O socialismo internacional era só um slogan formidável. O seu internacionalismo não tinha nenhum aspecto prático.

Assim, inclusive no grande e heroico período dos pupilos de Marx e da velha Internacional, esse período revolucionário tanto na teoria como na prática que começou com Lassalle e, declinando gradualmente, acabou nos anos noventa do século XIX, a Internacional era um complexo de partidos no que cada um existia para si próprio, e que não estavam, portanto, preparados inclusive para manter-se unidos por qualquer ligação externa.

III

Um novo período sucedeu ao período de revolução na teoria e na prática nos países europeus que nos concernem. Atraídas pelo êxito dos partidos operários, as grandes massas operárias com sede de reformas aderiam. Aquelas que não eram as mais militantes, nem as melhores, nem as mais valentes. A média. As massas. Sob o capitalismo, as massas estão super-exploradas e privadas de desenvolvimento intelectual. A grande maioria delas só se interessa, só poderia envolver-se, nos problemas quotidianos: o trabalho, o pão, os pequenos ganhos. As massas eram arrastadas.

A luta também se tornara mais fácil. Os partidos operários tinham por fim assegurado seu reconhecimento. Governos e capitalistas cederam um pequeno campo, fizeram concessões aqui e ali. As grandes massas nacionais foram atraídas, sedentas de reformas. Somente por reformas. E este grande número começou a fazer sentir a sua influência. Com tais grandes números, o poder poderia ser ganho. Com tantos votos, tantos assentos no parlamento. Agora importava menos a qualidade dos votantes. Entre estas massas, nos sindicatos e partidos nacionais, a reforma converteu-se em tudo. Um nível de vida melhorado a meta. A teoria, a teoria revolucionária, foi arrojada pela borda. E com ela a Internacional inteira. Tais coisas converteram-se somente em ruído e palavras ocas. Então, fazendo uma teoria desta prática, emergiu o revisionismo: a doutrina que clama: “Operários! Operários da nação uni-vos por reformas! A reforma é tudo. Uni-vos também com a burguesia, com um segmento da mesma, então obterão muitas reformas mais.” E esta doutrina tomou raízes nas mentes destas massas, estes operários agora tão receptivos a ela, especialmente devido aos tempos de prosperidade, desde que um rio de ouro estava inundando Europa, após as ondas do ouro californiano e australiano, a onda de ouro do Transvaal, e os pensamentos de revolução encolheram cada vez mais nas suas mentes, substituídos pelos pensamentos de reformas. Foi assim que as massas evoluíram.

Então, surgiu outro tipo de dirigente. No começo, havia homens de princípios inspirados pelo ideal do socialismo, que não escamoteavam nenhum esforço por ele e tinham as mais elevadas expectativas de realizá-lo. Que tinham grande coragem, uma subjetividade e uma determinação e energia genuinamente revolucionárias. Que também, mesmo não sendo operários, tentavam extirpar o que havia de burguês neles, e pensar e sentir a si próprios completamente dentro das massas, dentro da classe operária. Que viveram ou tentaram viver, fazer realidade, o mais elevado ideal que podia formar-se duma classe operária emancipando-se a si mesma. Que dirigiram todos os seus atos, palavras e propaganda para este ideal. Com maior ou menor clareza eles pregaram a revolução aos operários. Assim eram Bebel, Guesde, Liebknecht, Plekhanov, Axelrod, Kaustky, Mehring, Labriola, Hyndman, Quelch, Domela Nieuwenhuis no seu primeiro período, e muitos outros. Mas quando o poder chegou, vieram outros. Os filantropos, os moralistas, o burguês bem educado, o ambicioso, o pouco escrupuloso, aqueles que enganaram as massas. Muitos com boas intenções e mentes débeis, que não sabiam nada de socialismo e da sua teoria. Gente que se enganava a si mesma. Políticos de carreira que fizeram do socialismo o seu negócio, a sua fonte de benefícios e dos seus meios de subsistência. E movidos por motivos filantrópicos, éticas burguesas, grandes aprendizagens, ambição, estupidez, ignorância, falta de caráter e de escrúpulos, ou de sentido comum, todos eles abraçaram o revisionismo.

A revolução era algo maligno ou impossível, ou demasiado distante; a reforma possível e imediata, boa e vantajosa. Mas os operários eram demasiado débeis, carentes de compreensão, o seu voto no parlamento e nos conselhos municipais demasiado pequeno. Por isso tiveram que fazer compromissos com a burguesia! A velha guarda, os radicais, que reconheciam que os altos ideais revolucionários estavam enfraquecendo-se, expressou a sua oposição. Mas que bem isso fez? As massas mesmas estavam em todas as partes ansiosas por reformas, reformas em primeiro lugar e acima de tudo. Por isso escutavam os reformistas, e os argumentos dos idealistas radicais, que de fato eram incapazes de trazer a revolução, foram abandonados aos quatro ventos. E assim ocorreu que a teoria, a revolução, converteu-se mais e mais em coisa do intelecto, acerca da qual os melhores camaradas pensavam de vez em quando como acerca de algo sublime e grandioso, uma coisa do coração pela qual de vez em quando o fazia acelerar, mas a realidade quotidiana, que estava sempre presente, que as massas pensavam constantemente, dia e noite, converteu-se em prática: a reforma, noutras palavras. O movimento sindical, que luta somente por pequenos benefícios, que ganha unicamente pequenas concessões dos patrões realizando contratos com eles, acelerou este processo consideravelmente. Os reformistas eram agora eleitos para os executivos de todos os sindicatos. Apareciam em todas as partes nos executivos de partido, nas juntas de redação dos periódicos, nos conselhos municipais e nos parlamentos. Cedo formaram a maioria por todos os lados, e na maioria dos países a única força dirigente. Mas tanto no movimento sindical como nos partidos políticos são os dirigentes, os membros do parlamento e os presidentes, ou seja, indivíduos, que ganham as vitórias no parlamento, nos conselhos municipais, frente aos outros partidos e nas negociações com os patrões, inclusive se tal vitória é só aparente. O centro de gravidade deslocou-se deste modo das massas para os dirigentes. Formou-se uma burocracia operária. E a burocracia é conservadora desde o princípio.

As massas, preocupadas por completo pelo desejo de benefícios no lugar da revolução, foram reforçadas nisto pelos seus dirigentes. Elas abandonaram esta última para perseguirem tais avanços e tornaram-se negligentes e torpes. E quanto menos ativas se tornavam as massas, mais perdiam a visão da sua meta e mais os dirigentes se consideravam como os suportes do movimento. Eles começaram a crer cada vez mais que a ação proletária dos operários consistia primariamente nas táticas e compromissos que eles concebiam e que os únicos meios disponíveis para os próprios operários eram a cédula de voto, a contagem das subscrições, e uma luta ou manifestação sindical de vez em quando. Que as massas eram realmente passivas e dirigidas e eles próprios a força ativa. Esta é a segunda fase do movimento socialista, que segue à primeira fase da revolução na teoria e na prática. Poderia ser denominada como o período de reforma na teoria e na prática[2]. Isto foi o que aconteceu na Inglaterra no Partido Trabalhista; na França, aonde os socialistas inclusive chegaram a ministros; Na Bélgica, onde a campanha de massas pelo sufrágio universal foi sufocada; Na Holanda, onde se forjaram laços com o liberalismo; Na Itália, onde os socialistas se venderam aos radicais; Na Alemanha, onde se prosseguiu com uma política de moderação e foi estrangulada a campanha de massas pelo sufrágio na Prússia; Na Suécia, Dinamarca, Suíça, em todas as partes de maneira particular, determinada pelas condições políticas e econômicas, mas em todas as partes com o mesmo resultado: o desvio do proletariado pela via das reformas menores, a sujeição aos dirigentes, a renúncia à ação autônoma de massas.

Os partidos operários da França, Inglaterra, Alemanha, de cada país, converteram-se em partidos de massas somente interessados nos problemas nacionais, menores. Mas as causas do militarismo e do imperialismo, que demandavam todo o dinheiro disponível, não permitiam que se conseguisse durante mais tempo as reformas menores. Contudo, os reformistas prometeram ainda mais reformas. E isto desmoralizou ainda mais as massas. Pois nada é tão desmoralizante e destrutivo como fazer falsas promessas às massas. Enquanto, efetivamente, nada acontece, e as massas esperam, no entanto, credulamente pelas reformas. Mas o imperialismo internacional cresceu mais e mais, arrogantemente. E tornou-se mais e mais necessário abordar os problemas internacionais, globais, em lugar dos problemas menores, nacionais. E assim, sem querê-lo realmente, mais pelo instinto do que pelo conhecimento lúcido, todos estes partidos já corrompidos pelo reformismo ganharam a nova Internacional, a concha vazia que todos conhecemos tão bem e que agora se tem desmoronado. O olhar desta poderosa classe mundial – que submeterá a todas as forças da terra, da natureza e da sociedade a si própria – fora orientado pelos reformistas para a consecução duma paga de uns quantos centavos mais e para uma legislação trabalhista pouco frequente e inadequada para serem estes os seus únicos objetivos. Dirigiram a atenção dos operários – da classe que haverá de vencer o poder mundial mais poderoso que já existiu – com palavras finas que os seus inimigos usam para enganá-los, e lhes chamou a crer nestas palavras e a formar alianças com o capital e os seus suportes: bancos, consórcios (trusts), o imperialismo. Esta classe poderosa foi domesticada por uns quantos dirigentes ambiciosos, estreitos de mente e ignorantes. Caiu vítima da sua própria falta de entendimento e mentalidade servil. Algo que já aconteceu milhares de vezes no passado ocorreu de novo: as massas foram enganadas para serem convertidas em serventes dos seus governantes. Não deve ter tido êxito, porque esta classe deve agora verdadeiramente conquistar um poder indisputado, sem títulos. Contudo, a burguesia teve êxito outra vez, foi capaz de consegui-lo por meio dos reformistas: por meio do Partido Social-democrata.

IV

Há reformistas que chegam a dizer que estão a favor da expansão capitalista, a favor das colônias e das esferas de influência, a favor das políticas coloniais. Não param para pensar se esta é a via para que o proletariado se faça consciente como classe, maduro para a revolução, revolucionário e socialista nas suas mais íntimas e profundas sensibilidades. Só se preocupam com conveniências temporais: do capitalismo. As políticas coloniais, o colonialismo nacionalista, imperialismo em outras palavras, e daí na sua forma de guerra imperialista, podem trazer à nação, à burguesia nacional, enormes benefícios através da expansão de capital que gera. Gera novo investimento de capital, estimula a indústria, incrementa a riqueza. Melhora o comércio, o transporte, em resumo toda a vida econômica da nação, num grau extraordinário. Por suposto, se o proletariado o acompanha, também significa um declive na consciência de classe das massas e, ao longo do processo, a derrota do proletariado, pois para este significa opressão severa, impostos e militarismo, guerra e divisão. Mas isto não detém os reformistas. Entretanto, o capital está crescendo e florescendo. Esta é a razão pela qual muitos reformistas, os reformistas burgueses, são suportes das políticas colonialistas e, deste modo, imperialistas. Por exemplo: Schippel e Calwer na Alemanha; Vandervelde, que endossou a anexação do Congo pela Bélgica; Van Kol, que aceitou a missão de levar além o imperialismo do governo holandês, e assim sucessivamente. Outros reformistas estão a favor de políticas colonialistas por causa dos benefícios imediatos e menores que proporcionam ao proletariado, sem atentar para as consequências no futuro.

Nós temos visto que essas políticas colonialistas, e deste modo o imperialismo, podem proporcionar benefícios em curto prazo e em pequena escala para grupos individuais de trabalhadores. Proporciona-lhes trabalho e pagamento. Também os pequeno-burgueses, os pequenos patrões e proprietários de lojas, recebem as migalhas dos benefícios do imperialismo. Por isso os reformistas pequeno-burgueses alemães, Bernstein, Noske, etc., estão a favor das políticas colonialistas; Por isso na Holanda pequeno-burgueses reformistas como Troelstra, Vliegen, o grupo parlamentar, a direção inteira e quase a totalidade dos membros do SDAP estão a favor das políticas colonialistas e se opõem à autonomia e à liberdade incondicional para as Índias; Por isso, em cada país do mundo que possui colônias (Inglaterra, Alemanha, Holanda, França, Bélgica, e inclusive aqueles que buscam o comércio mundial, a influência mundial, o poder mundial, Itália, EUA, Austrália, etc.) certo número de dirigentes e a maioria dos operários estão a favor de políticas coloniais, ou seja, a favor do imperialismo. Deste modo, é precisamente o colonialismo que os revisionistas fomentaram. E foi a partir do colonialismo que eles prometeram aos operários grandes vantagens. E os operários preocupados com a sua própria vantagem, alinharam-se com eles! A área precisa da política da qual o imperialismo depende – a política colonial – foi adotada desde os reformistas através dos trabalhadores, foi aceita pelos operários. Mas imperialismo significa nacionalismo.

Por meio dos reformistas, dos sociais-democratas, dos partidos social-democráticos nacionais e da própria Internacional, os operários aceitaram o imperialismo que se insinuava cada vez mais próximo, que ameaçava com a guerra, a morte, a derrota e a divisão, que tinha que assassiná-los, destruí-los e debilitá-los infinitamente como indivíduos e como classe. Este imperialismo, estas políticas coloniais que, mediante o fomento do militarismo e uma provável sucessão interminável de guerras, tinham que ser levados adiante por todas as reformas para o presente e para os anos por vir[3]. E assim, nos anos de imperialismo que precederam à guerra, a Internacional aceitou o seu afundamento por parte da burguesia e de si própria. Os operários que só desejam vantagens imediatas devem aceitar as políticas colonialistas, e assim concordar com o imperialismo e o nacionalismo, pois são estes que prometem vantagens imediatas.

Só aqueles que olham além, que reconhecem que as políticas colonialistas trazem finalmente mais dano do que ganho, e especialmente aqueles que compreendem que dividem e fragmentam o proletariado, em resumo, só aqueles que pensam e sentem de um modo autenticamente socialista revolucionário, podem se opor ao imperialismo nacionalista apesar das vantagens que proporciona. Só aqueles que ainda aprofundam mais, e reconhecem que esse imperialismo une todos os capitalistas do mundo contra o proletariado, só eles podem erradicar por completo o nacionalismo dos seus corações e unir-se com o proletariado mundial numa só fraternidade, numa só luta revolucionária contra o capital mundial. Mas o reformismo e o revisionismo significavam que toda visão lúcida, profunda e teórica, e toda sensibilidade revolucionária, internacionalista, tinham se dissipado.

Foi assim que o reformismo provocou que os operários, já demasiado circunscritos aos problemas menores, chegassem a estar ainda mais atados a estes últimos. Foi assim que o reformismo, ao perseguir as reformas menores, foi o causador de que os operários, já demasiado nacionalistas, se tornassem ainda mais nacionalistas. Foi ele que provocou que os operários cedessem às políticas coloniais, inclusive quando o imperialismo se insinuava mais próximo. Foi ele o causador de que a atenção dos operários fosse desviada, quando o imperialismo se aproximava, de modo que permaneceram desprevenidos a respeito dele. Foi assim, através do reformismo, que a orientação internacional da Internacional em cada país, e os próprios operários – independentemente das suas próprias concepções e dos seus protestos – se tornaram na realidade nacionalistas, imperialistas, e inclusive, com a ameaça de guerra, chauvinistas. Os reformistas e o reformismo, junto com a ignorância, são responsáveis pela rendição do proletariado ao imperialismo, à guerra mundial, ao seu próprio afundamento. Do seu fracasso em defender-se e fortalecer-se mediante a resistência, dando em troca as boas vindas ao seu próprio debilitamento com júbilo e inclusive com entusiasmo. Foram exclusivamente atrás das reformas e, precisamente por que já não buscavam a revolução, trouxeram debilidade, ruína e divisão para si. Só se preocuparam com os problemas nacionais e precisamente por isso se fizeram nacionalistas e imperialistas. Só se preocuparam com reformas dentro da nação e precisamente por causa disto foram alcançados pela violência internacional do imperialismo.

Quando consideramos que todos estes diversos partidos somente agiram em escala nacional – que não se tinha apresentado até então nenhuma oportunidade para a união, a ação internacional, como um todo, contra o capital; que a luta pelos objetivos nacionais se mantinha, por conseguinte, na pequena e confinada área da nação, que não costumava ter-se a percepção da luta de todo o proletariado contra o capital como um todo, que esta luta era a única que se empreendia; então reconhecemos isso como aquele grande cataclismo mundial entre capital e trabalho, aproximado e carreado pelo imperialismo, que situa a totalidade da classe obreira contra a totalidade do capital mundial numa só frente. A classe operária seguia sem ser consciente disto e continuava olhando para os seus próprios interesses insignificantes e mesquinhos dentro da sua própria pequena esfera nacional.

Apenas umas poucas publicações de partido na Alemanha ensinaram ao proletariado o que é o imperialismo. A maioria, a publicação principal Vorwarts e também o jornal científico Die Neue Zeit, fizeram o melhor que podiam para não demonstrar o imperialismo como o eixo ao redor do qual girava a política, e assim não o converteram no eixo, no foco central da atenção e da ação do proletariado. E pelo que sabemos, não houve um único órgão em outros países com a exceção da Tribuna em Holanda, que o fizesse.

Os revisionistas: os Bernsteins, os Adlers, os Vanderveldes, os Jaures, os Vliegens, os Brantings, para nomear somente os melhores entre eles – tinham concentrado a atenção do proletariado em problemas menores. Os operários preocupavam-se de teses: da imposição de contribuições mais favoráveis, das aposentadorias para os operários – amiúde a sua única esperança – da possibilidade de uma aliança com os liberais, os progressistas ou os radicais para obter uma melhor legislação eleitoral… Olhavam os dirigentes, os parlamentos, e não faziam nada eles mesmos. A salvação havia de chegar dos dirigentes, dos parlamentos. Lenta, mas inexoravelmente, o imperialismo aproximou-se mais. Primeiro ocupou o Egito, depois o Transvaal, depois a China[4]. A Alemanha, a pátria do capital, estava rodeada por poderes hostis. Os operários não o advertiram. Sabe você, leitor, o que é o imperialismo? É a forma mais elevada da luta de classes que já existiu. Por isso é também a refutação mais completa, mais inequívoca do revisionismo, a refutação com o golpe de misericórdia.

V

A teoria revisionista nunca tinha sido tal em nenhum momento. Kautsky desfizera-se rapidamente dela, e para bem. Nada veio da moderação da luta de classes, do que ela previra: a sua teoria de socavar o capitalismo; as grandes expectativas que acariciava de consórcios de desarme, das classes medias, do neoliberalismo. A sua teoria carecia de fundamento. Os revisionistas simplesmente se retiraram ao domínio da prática para enganar os operários e envenená-los com o ópio de esperanças vãs. Mas esta prática, a única que lhes resta, esta prática de imperialismo, revolveu-se e agarrou-nos pelo pescoço, e golpeou-nos até a morte.

Simplesmente considere como se desenvolveu o processo, leitor. Ali estavam os operários de todas as terras ocupados com os sublimes planos traçados para eles pelos reformistas. Com as suas propostas de seguro nacional e de impostos, a legislação eleitoral e as aposentadorias que os liberais haveriam de ajudar-lhes a obter. O que não se fez para conseguir inclusive o menor passo adiante! Os socialistas chegaram a ministros, formaram-se pactos com os liberais, a social-democracia arrastava-se na porcaria, suavizava as suas próprias campanhas, expulsava os marxistas! Todas as partes estavam fervendo com a atividade em pequena escala. Como pequenos gnomos, os milhares de parlamentares ocupados com seu trabalho e as massas, nos seus milhões, esperando como expectadores. E o que estava se aproximando? O afundamento. A morte. Para milhões de operários, suas crianças, esposas, pais e mães. Era o estancamento, o declive, a morte da sua organização, durante o longo período que vinha. Os revisionistas, os Troelstras, os Sudekums, os Scheidemanns, os Anseeles, os Turatis, os Franquea, os Macdonalds, desfilando diante da burguesia, prometeram votar qualquer coisa (inclusive os créditos de guerra!), visitaram príncipes, chefes do exército, prometendo montanhas douradas aos operários, um progresso impressionante, democracia, de tal forma que os operários os elegeram para conselheiros municipais, ministros, membros do parlamento, e lhes deram carta branca; e, lenta, mas inexoravelmente, a primeira autêntica guerra mundial entre os grandes poderes imperialistas aproximou-se. Os revisionistas prometeram reformas para o presente. A reforma veio: a morte. Os revisionistas prometeram a democracia operária, a igualdade tinha que vir. E veio na igualdade da morte; pois capitalistas e operários são certamente iguais na morte. Os revisionistas prometeram o sufrágio universal se as massas confiassem somente nos liberais. E os liberais concederam o sufrágio aos operários: Na morte! Os mortos, os milhares de operários mortos, levantavam suas vozes em protesto.

Os revisionistas prometeram a conciliação das classes, se os operários seguissem somente as suas táticas. A guerra une todas as classes na morte! O revisionismo também prometeu a reconciliação da humanidade e o desarme! Os povos da terra enfrentam-se uns aos outros por linhas de milhares de kilômetros de longo, eriçando-se com armas e gotejando sangue. Os revisionistas prometeram a moderação da luta de classes: a guerra mundial, o imperialismo praticado por cada país, é a forma mais aguda de luta de classes que já existiu desde que o capitalismo surgiu. Os revisionistas prometeram as vantagens das políticas colonialistas: foi o colonialismo que levou ao afundamento. Os revisionistas prometeram a reforma para o futuro: após esta guerra há a ameaça duma nova guerra, de novas corridas armamentistas. E, portanto, de quebra e afundamento, e de nenhuma reforma. Uma classe que fica vinte anos sendo ensinada a confiar na burguesia já não pode combatê-la.

Entretanto, os revisionistas, junto com os partidos burgueses, prometeram progresso aos operários. O que fazem é pavimentar o caminho para o afundamento do proletariado deslumbrando os operários. Este é o culminar da decepção revisionista e não havia nada que o evitasse. Mas também significa o afundamento do revisionismo, da luta dirigida somente para os benefícios imediatos. É o afundamento da segunda fase, reformista, da luta dos operários. Pois os reformistas não compartilham meramente com os capitalistas e com a ignorância dos operários a culpa pela nossa impotência, confusão e covardia presente; pelo nacionalismo, o patriotismo e o imperialismo atuais do proletariado; pela miséria, a divisão e a debilidade presentes; eles também compartilham a culpa, a responsabilidade, o delito por tudo o que virá depois da guerra: a debilidade que se prolongará por anos, miséria, impossibilidade de reformas, necessidade de começar a luta pela revolução novamente com um proletariado muito debilitado e quiçá desmoralizado. Se ao menos as perdas, a destruição, a miséria e todas as consequências da guerra significassem que os trabalhadores seriam expurgados dos reformistas e de todos dessa laia!

O autor deste artigo e o partido a que pertence advertiu o proletariado do seu país há muitos anos. Ele e os membros do seu partido mantiveram-se firmes até o irromper da guerra em incontáveis reuniões, publicações e artigos de periódico sobre o imperialismo, de que todas as bonitas promessas da burguesia e dos revisionistas se converteriam em nada, porque o militarismo e as políticas colonialistas tragariam todo o dinheiro disponível, colocariam fim a todo progresso, fariam os impostos mais onerosos, e que com toda probabilidade a guerra mundial chegaria, instaurando um período de guerras mundiais. Por isto condenamos particularmente a confraternização com partidos burgueses, que não poderia conseguir nada. Eis a razão pela qual fomos excluídos do Partido socialdemocrata holandês e obrigados a fundar um partido próprio. Foi a causa do imperialismo que buscávamos combater, e que eles apoiavam, que nos expulsou do partido social-democrata. Os operários podem ver agora quem tinha razão.


[1] As razões da guerra, para a oposição do Partido Trabalhista Independente na Inglaterra, são de natureza pequeno-burguesa. É a pequena burguesia inglesa, que acredita que Inglaterra já tem colônias suficientes.

[2] Como já temos dito, foi durante esta fase, coincidindo aproximadamente com o levantamento do imperialismo, quando se produziram as menores reformas, pelo menos nos países imperialistas poderosos, isto é, na Alemanha, França, Holanda, Bélgica. Inglaterra, como veremos, constitui uma exceção. Ainda que se lograssem melhoras significativas na legislação durante os períodos revolucionários, agora somente se produzem raramente. Holanda é um bom exemplo disto. A primeira maré da revolução trouxe melhoria significativa na lei eleitoral. A propagação da revolução na teoria e na prática afiançou a legislação do seguro de acidentes, que cobre a invalidez dos operários pelo seu trabalho em 70 por cento dos seus salários sem qualquer contribuição da sua parte. No período de reformas, os pobres – não os operários, mas os pobres – obtiveram a promessa de dois florins por semana, desde que fossem muito pobres, se comportem bem e que a paróquia o reconheça. Uma forma de socorro para os pobres, noutros termos. Dos direitos às esmolas, isto é o que significa a substituição da revolução pela reforma. O mesmo se viu na Alemanha: a legislação social foi assegurada utilizando táticas radicais, e de nenhum modo mediante o uso de táticas reformistas. De modo semelhante, na Bélgica, a extensão do sufrágio através das táticas revolucionárias e nada através das táticas reformistas. E o que conseguiram Millerand, Briand, Viviani na França? Poderia perguntar-se como é que o reformismo floresce sob o imperialismo quando o imperialismo, de fato, torna a reforma impossível. A resposta é que na concepção dos reformistas, o socialismo e o movimento operário se resumem à luta por reformas. Não podem imaginar qualquer outro movimento operário. Quanto menos reformas conseguem, mais devem conjurar por reformas fingidas, por mais reformas devem alardear e lutar. De outro modo a sua existência junto ao movimento operário – tal como o concebe – seria vã, não seria nada. Ainda mais sob o imperialismo, precisamente porque torna a reforma impossível.

[3] Havia sociais-democratas que queriam simplesmente votar os créditos de guerra para obter as reformas, reformas que o imperialismo lhes nega de fato; assim, por exemplo, o SDAP em Holanda.

[4] França e Inglaterra ganharam a representação no gabinete egípcio em virtude dos empréstimos com que o Canal de Suez fora financiado; Bretanha utilizou uma revolta contra esta influência em 1881-82 como desculpa para estabelecer um ‘condomínio’ com a monarquia egípcia. Esta última estava, na prática, subordinada ao cônsul geral britânico, Lord Cromer. Em 1880-81 a colônia boer independente do Transvaal rechaçou uma tentativa britânica de anexá-lo. Após a descoberta de ouro no Witwatersrand, se lhes negou aos imigrantes britânicos a plena cidadania e as suas demandas foram feitas retroceder pelo governo britânico. O Transvaal uniu forças com o Estado Livre Alaranjado contra Bretanha, e após a derrota na guerra boer, foi anexado pela última em 1900. O século dezenove tardio viu a competição entre os poderes europeus e o Japão por esferas de influência na China. Inglaterra, França, Rússia e Japão adquiriram privilégios comerciais, portos e províncias: Birmânia, Anam (Indo-China), a província de Amur, as ilhas de Ryuku. A Alemanha entrou tardiamente na luta por centros comerciais. Em 1900-01 uma força expedicionária europeia esmagou a rebelião de Boxer contra a influência estrangeira e exigiu um alto preço nas indenizações de guerra. Após a guerra russo-japonesa de 1905, os dois países dividiram a Manchúria entre eles. [Nota do tradutor para o inglês]

O presente texto foi traduzido pelo coletivo Resistência Autonomista, disponível em: http://resistindo.org/caderno-formacao-2-qual-comunismo/.